Versão Inglês

Ano:  2001  Vol. 67   Ed. 4  - Julho - Agosto - (12º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 527 a 529

 

Resultados da Técnica Cirúrgica Endoscópica Endonasal para Dacriocistorrinostomia.

Results of the Endoscopic Endonasal Surgical Technique for Dacryocystorhinostomy.

Autor(es): Patsy P. V. Iturralde*,
Fábio O. Reis*,
Rigoberto A. Oliveira Michel Cahali**,
Richard L. Voegels***.

Palavras-chave: cirurgia endonasal, dacriocistorrinostomia, dacriocistites

Keywords: endonasal surgery, dacryocystorrhinostomy, dacryocystitis

Resumo:
Introdução: O advento da cirurgia endoscópica possibilitou o desenvolvimento desta via no tratamento da obstrução do ducto lacrimonasal. Formado estudo: Clínico retrospectivo. Objetivo: O objetivo deste estudo é expor a nossa experiência com a dacriocistorrinostomia endoscópica endonasal no tratamento das dacriocistites. Material e método: Foram estudados, retrospectivamente, 18 pacientes, submetidos ao trata mento cirúrgico devido à obstrução do ducto lacrimonasal no período de março 1998 a março 2000. Com relação à etiologia, nove foram classificados como idiopáticos, quatro, iatrogênicos; quatro, recidiva de dacriocistorrinostomia via externa; e um, pós-traumático. Os sintomas incluíam epífora, secreção purulenta e edema do saco lacrimal. Foram realizadas dacriocistografia e tomografia de seios paranasais em todos pacientes. Resultados: Os pacientes foram acompanhados, em média, durante o período de um ano, com melhora dos sintomas em 94,4% dos casos, restando apenas um caso com persistência de epífora menos intensa do que no pré-operatório. Conclusões: O alto índice de sucesso cirúrgico deste procedimento, aliado ao melhor resultado estético e ausência de complicações, evidencia que a técnica endoscópica endonasal para dacriocistorrinostomia é, eficaz, fisiológica e deve ser considerada no tratamento destes pacientes.

Abstract:
Introduction: The advent of endoscopic endonasal surgery provided a new alternative for the treatment of nasal lachrymal duct obstruction. Study design: Clinical retrospective. Aim: The objective of the present study was to report our experience with the approach in the treatment of dacryocystitis. Material and method: We conducted a retrospective study of 18 patients submitted to surgical treatment due to obstruction of the nasal lachrymal duct during the period of March 1998 to March 2000. Regarding the etiology of dacryocystitis, nine patients were classified as idiopathic, four as iatrogenic, four as recurrent after external dacryocystorhinostomy and one as posttraumatic. The symptoms included epiphora, purulent secretion and edema of the lachrymal sac. Dacryocystography and tomography of the paranasal sinuses were performed in all patients. Results: The patients were followed in average for one year, with resolution of the symptoms in 94.4% of the cases. In only one case there was persistent epiphora after surgery, although less intense than preoperatively. Conclusions: In our experience endoscopic endonasal dacryocystorhinostomy has high success rates associated with excellent aesthetic results, without any major complication. There is enough evidence that endoscopic endonasal dacryocystorhinostomy is effective and physiological and it should be considered the first option in the surgical treatment of these patients.

INTRODUÇÃO

Como advento da cirurgia endoscópica, possibilitou-se um grande avanço nas técnicas endonasais de desobstrução das vias lacrimais.

A abordagem externa descrita por Toti em 190412 é a técnica mais conhecida e desenvolvida atualmente pelos oftalmologistas.

A abordagem endonasal foi proposta por Caldwell (1893)1 e desenvolvido por West (1910)8.

O desenvolvimento das técnicas cirúrgicas endonasais (Rouviere e colaboradores, 1981, Kennedy, 1985, Mc Donogh, 1992, El Khoury and Rouvier,1992)3 melhorou o conhecimento anatômico sino-órbitonasal, apresentando-se a dacriocistorrinostomia endonasal como a alternativa de escolha nos casos de obstrução do ducto lácrimonasal por evitar cicatrizes externas na face.

O objetivo deste estudo é apresentar a nossa experiência com dacriocistorrinostomia endonasal endoscópica, expondo os resultados obtidos através da utilização desta técnica.

MATERIAL E MÉTODO

Foi realizado um estudo retrospectivo de 18 pacientes com diagnóstico de obstrução do ducto lácrimonasal, que foram submetidos a dacriocistorrinostomia via endoscópica num período de dois anos, de março de 1998 a março de 2000.

Houve predomínio de pacientes do sexo feminino em relação ao masculino (13:5) com idades entre 3 e 69 anos, com média de 41,5 anos.

As etiologias das dacriocistites são demonstradas na Tabela 1; e o quadro clínico, na Tabela 2.

Todos os pacientes foram avaliados com endoscopia nasal, dacriocistografia e tomografia computadorizada dos seios paranasais.

O procedimento cirúrgico foi realizado com endoscópio rígido 4 mm de 0 graus, identificando o saco lacrimal por transiluminação após canalização com fibra óptica flexível tamanho padrão 20, pelo canalículo lacrimal inferior. Realizou-se então uma incisão da mucosa nasal levantando um flap pediculado posteriormente, expondo o osso que recobre o saco lacrimal, que é brocado ou retirado com laser, seguindose a remoção,do fap mucoso. Realizou-se controle de hemostasia, aspiração do sangue e de secreções e irrigação do ducto. Rotineiramente, coloca-se uma sonda de silicone (Crawford) pelos canalículos lacrimais superior e inferior, fixada na mucosa do septo nasal com fio Nylon 5-0. Usualmente, o tubo é retirado em. 4 a 8 semanas após o ato cirúrgico.

Os pacientes que precisaram de outro procedimento além da dacriocistorrinostomia estão descritos na Tabela 3.

Como medicação pós-operatória, foi prescrito colírio de corticóide ocular durante 10 dias, spray de corticóide nasal durante o primeiro mês e lavagem nasal com soro fisiológico durante seis meses.



TABELA 1 - Etiologia das dacriocistites.



TABELA 2 - Quadro clinico das dacriocistites.



RESULTADOS

Os pacientes foram acompanhados durante um ano, sempre com controle endoscópico no primeiro mês, tendo-se o cuidado com a remoção de crostas ou sinéquias intranasais.

Houve uma melhora dos sintomas em 17 pacientes (94,4% dos casos), sendo que um (5,6%) apresentou apenas persistência da epífora; porém, menos intensa que no pré-operatório. Não houve complicações intra-operatórias. O tubo de silicone foi retirado no período de 4 a 8 semanas após a cirurgia, dependendo do grau de tolerância de cada paciente.

DISCUSSÃO

O objetivo da dacriocistorrinostomia é desenvolver uma adequada drenagem do fuxo lacrimal intranasal.

As causas da obstrução do ducto lácrimonasal podem, ser infecciosas, pós-cirúrgicas, traumáticas ou idiopáticas. Á avaliação pré-operatória inclui quadro clínico caracterizado por epífora, secreção purulenta, edema do saco lacrimal e dor ocular; exame endoscópico nasal procurando possíveis fatores de insucesso cirúrgico (sinusopatias maxilo-etmoidais, acentuado desvios septais, hiperplasia de corneto médio ou sinéquias na fossa nasal); dacriocistografia (que demonstra o nível da obstrução) e tomografia computadorizada dos seios paranasais (que permite avaliação do estado geral da cavidade nasal e seios paranasais assim como a espessura do osso lacrimal, visando a um melhor planejamento cirúrgico).



TABELA 3 - Cirurgias complementares.



A obstrução do ducto lácrimonasal pode ser abordada eficientemente, via externa pelo oftalmologista, ou endonasal, pelo rinologista.

Cada vez mais, vem se prefirindo a técnica endoscópica, pelo menor trauma cirúrgico, ausência de incisões na pele, inexistência de retrações cicatriciais decorrentes da dissecção externa e a preservação dos ligamentos palpebrais e estruturas do canto medial da órbita,conservando, assim, os mecanismos fisiológicos da bomba lacrimal3-10.

A técnica de Toti, em mãos experientes, indica um índice de sucesso de 90%, sendo que os métodos endonasais têm um índice de sucesso de 95%15, correspondendo ao demonstrado em nosso estudo.

A técnica cirúrgica que utilizamos13 baseia-se na remoção do osso que cobre o saco lacrimal, com broca o laser, divergindo de outras quanto à remoção do flap mucoso, pois outros autores preferem preservar este retalho, para formar a fístula com a mucosa do saco lacrimal, pela simples aposição de mucosas6.

A respeito de casos de recidiva, a dacriocistorrinostomia endonasal é tecnicamente mais simples, já que a osteotomia já foi realizada, e a operação consiste em remover apenas a porção obstruída do saco lacrimal.

CONCLUSÕES

O alto índice de sucesso (94,4%) da técnica cirúrgica endoscópica endonasal para dacriocistorrinostomia demonstra que se trata de um procedimento altamente eficaz. O fato da ótima visualização do campo cirúrgico durante todo o procedimento a caracteriza como uma técnica fisiológica, além de evitar a ruptura do ligamento cantal interno e lesão das estruturas do canto interno do olho, assim como a cicatriz antiestética da face, que resultam da técnica externa. Possibilita também procedimentos cirúrgicos combinados, como septoplastia, sinusectomia ou polipectomia, quando for o caso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CALDWELL, G. W. - Two New Operations for Obstructions of the Nasal Duct With Preservation of the Canaliculi. Am. J. Ophthalmol.. 10: 189. 1893.
2. ELIE E.; REBEIZ, M. D.; STANLEY, M. SHAPSHAY, M. D.; JOSEPH, H.; BOWLDS, M. D.; MICHAIL, M.; PANKRATOV, M. S. - Anatomic guidelines for dacryocystorhinostomy. Laringoscope, 102: (10), 1992.
3. ELOY, P.; BERTRAND, B.; MARTINEZ, M.; HOEBEKE, M.; WATELET, J. B.; JAMART, J. - Endonasal dacryocystorhinostomy: Indications, technique and results. Rhinology, 33 (4): 229-233, 1995.
4. H. HALIS UNLU, FIGEN GOVSA, CEMIL MÜTLU, ALI VEFA YUCETURK, YILMAZ SENYILMAZ. -Anatomical guidelines for intranasal surgery of the lacrimal drainage system. Rhinology Mar, 35 (1):11-5, 1997.
5. JAVATE, R. M.; CAMPOMANES, B. S. A. JR.; CO, N. D.; DINGLASAN, J. L. JR.; GO, C. G.; TAN, E. N.; TAN, F. E. - The endoscope and the radiofrequency unit in DCR surgery. Ophtalmic Plastic and Reconstructive Surgery, 11 (1): 54-58, 1995.
6. MANNOR, G.; MILLMAN, A. L.- The prognostic value of preoperative dacryocystography in endoscopic intranasal dacryocystorhinostomy. American journal of ophthalmology, 113(2): 134-137, 1992.
7. METSON R. - Endoscopic surgery for lacrimal obstruction. Otolaryngol Head and Neck Surgery, 104: 473-479, 1991.
8. RICE D. Endoscopic intranasal dacryocystorhinostomy results in four patients. Arch Otolaryngol Head and Neck Surgery, 116.1061, 1990.
9. SCHAUSS, F.; WEBER, R.; DRAF, W.; KEERL, R.- Surgery of the lacrimal system. Acta oto-rhino-laryngologica belg., 50(2): 143-146, 1996.
10. SERDAHL CL, CRAIG EB, CHOLE RA. - Nasolacrimal duct obstruction after endoscopic sinus surgery. Arch. Ophthalmol., 108:391-3, 1990.
11. STAMBERGER H. - Endoscopic endonasal surgery: concepts in treatment of recurring rhinosinusitis. II. Surgical technique. Otolaryngol. Head and Neck Surgery, 94.- 147-56, 1986.
12. TOTI A. ZUM princip, zur techniq und zur deschicte der dacrocystorhinostomie. Z. Augenheilkd, 23:232-239, 1910.
13. VOEGELS L. RICHARD, CAHALI B. MICHEL, MATAYOSHI SUZANA, BUTUGAN OSSAMU, MINITI AROLDO. - Dacriocistorrinostomia endonasal, Rev. Bras. Otorrinolaringologia, 65(1). 44, 1999.
14. WEST J. A window resection of the nasal duct in cases of stenosis. Trans. Am. Ophthalmol. Soc., 12: 659, 19.
15. WERNER HOSEMANNMD; MANFRED WEIDENBECHER, MD; WOLFGANG BUHR, MD. - Endoscopic endonasal dacryocystorhinostomy: Results in 56 patients. Ann. Otol. Rhinol. Laryngol., 103: 363-6, 1994.




* Médico Residente da Disciplina de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
** Médico Pós-Graduando da Disciplina de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
*** Professor Doutor da Disciplina de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Trabalho realizado na Divisão de Clinica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Endereço para correspondência: Priscilla Vasquez Iturralde - Rua Apeninos, 539 - Apto 71 - Aclimação - 01533-000 São Paulo/ SP.
Telefone: (0xx11) 284-6576 - E-mail: ppvic@zipmail.com.br
Trabalho apresentado como pôster no 35° Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, realizado em 18 de outubro de 2000, em Natal/ RN.
Artigo recebido em 7 de março de 2001. Artigo aceito em 16 de abril 2001

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial