Ano: 1998 Vol. 64 Ed. 2 - Março - Abril - (1º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 103 a 106
Polinose na Região do Planalto Médio - RS.
Pollinosis in Medium Plateau Region - RS.
Autor(es): João A. T. Kurtz*.
Palavras-chave: polinose, febre do feno, teste cutâneo, rinite alérgica, conjuntivite alérgica, asma brônquica
Keywords: pollinosis, hay fever, skin test, allergic rhinitis, allergic conjunctivitis, bronchial asthma
Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo avaliar a presença e incidência da polinose na região do Planalto Médio - RS. Foi realizado o prick test em 258 pacientes e o maior número de casos de rinoconjuntivite alérgica a pólens de gramíneas, com ou sem asma brônquica, ocorreu nos meses de outubro e novembro. Assinala-se, com este trabalho, que a polinose é patologia cada vez mais freqüente em determinadas regiões do sul do Brasil; e o prick test, junto com os sinais e sintomas do paciente, meio eficaz e prático de diagnóstico dessa entidade.
Abstract:
The present work's objective is to evaluate the presence and incidence of pollinosis in Medium Plateau Region - RS. A prick test was fulfilled in 258 patients and the most number cases of allergic rhinitis and conjunctivitis a grasses pollens with or without brochial asthma, happened in october and november. It was demonstrated with this work that pollinosis is a pathology that is becoming quite frequent in certain regions of souvh Brazil, and the prick test with patient's signs and symptoms is a efficient and practical way of diagnosis of this entity.
INTRODUÇÃO
A polinose ou febre do feno não é provocada pelo feno. É reação alérgica do tipo 1 da classificação de Gell e Coombs, mediada por IgE, onde os alérgenos são:
* Gramíneas forrageiras ou selvagens, plantas anemófilas que polinisam através do vento. Espécies:
- Holcus lanatus ou erva lanar ou capim veludo;
- Dactylís glomerata ou capim pé ele galinha;
- Lolium perenne ou azevém ou erva castelhana ou joio castelhano;
- Phleum pratense ou capim rabo de rato ou capim rabo de gato ou capim da manada ou capim do rebanho;
- Poa pratensis ou capim do campo ou capim de junho;
- Festuca pratensis ou capim do prado.
* Gramíneas cultivadas, não provocam polinose. Espécies:
- Avena sativa ou aveia;
- Hordeum vulgare ou cevada;
- Secale cereale ou centeio;
- Triticum sativum ou trigo.
* Plantas entomófilas que polinisam através de insetos, raramente provocam polinose. Exemplo:
- Ligustrum lucidum ou alfeneiro.
A polinose é freqüente em determinadas regiões dos Estados Unidos e Europa. Nos três Estados do Sul do Brasil (RS, SC e PR) existem evidências de aumento da incidência desta patologia. O objetivo do estudo foi avaliar a presença e incidência da polinose na região do Planalto Médio - RS.
Polinose no Brasil
Os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná possuem características geográficas e climáticas que propiciam o surgimento da polinose, uma vez que apresentam inverno rigoroso e primavera exuberante. Com o desmatamento, houve transformação do ecossistema: substituição da flora nativa por plantas forrageiras de potencial alergênico. Destas, a principal é o Lolium, um capim que cresce fácil e desordenadamente.
As gramíneas devem ser consideradas em conjunto pelo médico, uma vez que existe reação cruzada entre as espécies. O tamanho dos pólens varia de 20 a 100 milimicras de diâmetro.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram vistos e feitos prick tests em 258 pacientes entre os meses de julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro dos anos de 1995 e 1996. Os pacientes que tinham pápulas ++++ ou +++++ para gramíneas no prick test apresentavam rinoconjuntivite alérgica em 100% dos casos e asma brônquica associada em 10%. A idade variou de 5 a 65 anos, 87% eram adultos; 13%, crianças.
Foto 1.
A rinoconjuntivite alérgica caracterizou-se por: prurido nasal, no canto interno do olho e faringe, coriza aquosa, obstrução nasal, espirros em salva, edema e hiperemia da conjuntiva ocular, lacrimejamento e hipertrofia de cornetos nasais sem palidez, a menos que tenha rinite perene concomitante (20% dos pacientes) (Foto 1).
A asma brônquica caracterizou-se por: tosse, sibilos expiratórios e hiper-reatividade brônquica, e o diagnóstico foi feito por queda de 20% ou mais no peak flow.
Skin prick test ou teste cutâneo de leitura imediata
o Realizado na face anterior do antebraço direito dos 258 pacientes avaliados. Técnica utilizada: puntura com agulha descartável B-D 13x4,5.
- Material usado do laboratório Alergomed - Merck.
- Controle negativo: solução de soro fisiológico com fenol a 0,5% e glicerina a 50%.
- Controle positivo: cloridrato de histamina 1:1.000.
- Mistura de gramíneas (Holcus lanatus, Dactylisglomerata, Lolium perenne, Phleum pratensis e Festuca pratensis) concentração: 10.000 PNU/ml.
- Pápulas ++++ ou +++++: teste altamente positivo, onde as pápulas são maiores que o controle positivo histamina;
- Veja a Foto 2.
RESULTADOS
Na Tabela I, são apresentadas as porcentagens mensais de prick test, com pápulas ++++ ou +++++ para gramíneas; a maior incidência ocorreu nos meses de outubro e novembro.
DISCUSSÃO
O presente trabalho está baseado no prick test. Sabe-se, hoje, que ele tem nível de sensibilidade diagnóstica igual ou superior às provas de dosagem de IgE específica, uma vez que nele são administrado ao paciente alérgenos diferentes e o seu sistema imunológico, via IgE, reconhece a qual ele é alérgico. Enquanto que nas provas de dosagem de IgE específica, este reconhecimento é feito através de provas laboratoriais, que são mais passíveis de erro técnico ou de interpretação.
Foto 2.
Deve se salientar o fato de que pacientes que tinham somente rinite sazonal (alérgico ao pólen) não apresentavam palidez de mucosa, e que esta era encontrada naqueles que tinham, também, rinite perene (alérgico ao ácaro). Este - fenômeno, provavelmente, - acontece porque, para haver palidez de mucosa, é necessário edema constante desta e não somente na primavera.
Em vista dos achados clínicos, freqüência sazonal, características geográficas e climáticas e confirmação de positividade pelo prick test, a polinose é patologia freqüente e bem determinada na região do Planalto Médio - RS, com maior pico de incidência nos meses de outubro e novembro.
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* Médico Otorrinolaringologista e Alergista.
Trabalho apresentado e distinguido com Menção Honrosa Especial na VIII Jornada Sul - Brasileira de Otorrinolaringologia - Canela/ RS, 1997.
Endereço para correspondência: Rua Moron, 1403 - cjto. 21 - CEP 99010-032 - Passo Fundo/ RS - Telefone/ Fax: (054) 313-1188.
Artigo recebido em 3 de setembro de 1997. Artigo aceito em 25 de outubro de 1997.