Versão Inglês

Ano:  1994  Vol. 60   Ed. 1  - Janeiro - Março - (14º)

Seção: Relato de Casos

Páginas: 66 a 68

 

Pólipo Solitário de Esfenóide com Extensão Coanal

Sphenoid Sinus Solitary holype with Nasopharynx Extension

Autor(es): Antonio Carlos Cedin (1),
Fatima Regina Abreu Alves (2),
Renato Adam Mendonça (3)

Palavras-chave: Seio esfenóide, pólipos nasais

Keywords: Sphenoid sinus, nasal polyps

Resumo:
Os autores apresentam um caso de pólipo solitário de esfenóide esquerdo, com extensão coanal, em paciente feminina, 18 anos, branca, cuja única sintomatologia era obstrução progressiva em fossa nasal ipsilateral e dificuldade à deglutição. O caso foi estudado por T .C. eM.R., tendo sido operado por técnica microcirúvgica endonasal (esfenoidotomia) com remoção total do tumor. Reveste-sede interesseporsuaparticularidade e raridade, assim como pelo diagnóstico diferencial com outras patologias locais.

Abstract:
The authors present a case of leftsphenoid sin us solitary polype with nasophatynx extensãn. The patient was a 18 years old white female who showed a prggresive obstruction in the ipsilateral nostril and difficulty in deglution. The case was studied by computed tomography and magnetic resonance anda transphenoidal microsurgety was performed. The tumor was fully removed. This is an important study for its particular it´s sand because it´s notso common. It is also important for the differencial diagnoses when compared with other local pathologies.

INTRODUÇÃO

Menos de 3% das lesões inflamatórias dos seios paranasais envolve o esfenóide primariamente e o carcinoma de esfenóide ocorre em menos de 0,05% das patologias malignas sinusais'.

Tipicamente os pacientes com patologias de esfenóide apresentam-se com história longa de cefaléias retro-orbitárias e podem ter déficits de pares cranianos associados'.

RELATO DE CASO

O caso relatado a seguir reveste-se de interesse por sua particularidade e raridade; assim como pelo diagnóstico diferencial com outras patologias locais.

D.M.R., 18 anos, sexo feminino, branca, procedente da Bahia; veio referindo obstrução nasal progressiva à esquerda, há 3 anos. Operada há 2 anos, com retirada de "pólipo nasal", permaneceu assintomática por aproximadamente 3 meses. Negava sangramento nasal e vinha apresentando disfagia e massa com crescimento progressivo em orofaringe, há 6 meses. Com cefaléia frontal e retro-orbitária latejante e diminuição do olfato. Não havia nenhuma alteração na história familiar e na patologia pregressa.

O exame neurológico mostrava-se normal, exceto pela hiposmia. Ao exame ORL observou-se tumoração de consistência firme, vindo da rinofaringe em direção à hipofaringe, não sangrante ao toque, e pólipo violáceo ocupando a fossa nasal esquerda.

Massa isolada e heterogênea de esfenóide esquerdo foi observada na CT, com progressão para a rinofaringe, orofaringe e narina esquerda. Não havia comprometimento das paredes ósseas do seio esfenóide. A MR confirmou os achados tomográficos e salientou a presença de vaso significativo no interior da massa, porém sem origem aparente. (Fig.1, 2, 3 e 4)


Submetida a microcirurgia por acesso transnasoesfenoidal, observamos exteriorização da massa pelo óstio, com fácil descolamento e retirada completa do tumor, constatando-se a integridade das paredes do esfenóide esquerdo. Ampliado o óstio do seio esfenóide esquerdo. O sangramento foi facilmente controlado com processo de eletrocoagulação. A peça encaminhada a anatomia patológica consistia em uma estrutura polipóide medindo 7,2 x 2,4 em, com superfície externa lisa e castanha, sendo o tecido elástico e gelatinoso aos cortes. À microscopia os cortes histológicos revelaram fragmentos de mucosa respiratória, estando o revestimento colunar substituído em grande parte por epitélio plano estratificado metaplásico; o córion estava dissociado por processo inflamatório, caracterizado por abundante edema, congestão vascular e infiltrado linfo-plasmocitário difuso com numerosos eosinófilos de permeio. A evolução no pós-operatório foi satisfatória. CT, 4 meses após, revelou-se normal. (Fig. 5 e 6).

DISCUSSÃO

O seio esfenóide é relativamente pouco afetado, quando comparadoaos demais seios paranasais, sendo ainda mais acometido por processos inflamatórios do que tumorais.

A sintomatologia é vaga e não específica; os estudos retrospectivos revelam que cefaléia é o sintoma mais comum, sendo na maioria dos pacientes de localização retro-orbitária, a seguir em região frontal e menos freqüentemente difusa, queixa esta presente nos casos inflamatórios e tumorais1,2,3,4,5,6. Nossa paciente referia, além da cefaléia, obstrução nasal e disfagia, visto que o tumor ocupava a narina esquerda e estendia-se à orofaringe.

Alterações visuais são o 2° sintoma mais comum, sendo observado com maior freqüência nos pacientes com tumores de esfenóide do que naqueles que apresentam processos inflamatórios1. O VI par é o mais comumente afetado, de acordo com as séries de revisão da literatura1,4,5. Porém outros pares estão também envolvidos: II, III, IV e V. Nossa paciente não apresentava alterações visuais e o único achado neurológico era hiposmia.

Podemos estabelecer uma correlação anátomo-clínica entre o pólipo coanal solitário de Killian, que se origina da mucosa do antro maxilar e se exterioriza pelo óstio em direção à cóana. No caso por nós apresentado o tumor é primário do seio esfenóide esquerdo, se exterioriza através do óstio em direção à cóana, ramifica-se para a narina esquerda com aspecto gelatinoso e violáceo e ocupa toda a nino e orofaringe com aspecto metaplásico, atingindo grandes dimensões. À maneira do pólipo de Killian, este também se desenvolveu por estímulo desconhecido.

Mas, frente a uma lesão tumoral de esfenóide, recomendase a lembrança de que há muitos outros tumores primários, raros, benignos e malignos, incluindo aqueles originados de estrutura adjacente. Podemos citar, sem necessidade de nos aprofundarmos: adenoma pituitário ectópico com glândula hipófise anterior normal', "Brown tumor" de esfenóide como apresentação de hiperparatireoidismo primário9; Prolactinoma Ectópico no Interior de seio esfenóide; sarcoma granulocítico intracranianos rabdomíossarcoma de esfenóide condrossarcoma de esfenóide; papiloma invertido associado a carcinoma escamoso patologias inflamatórias com evolução semelhantes a tumor (mucoceles, patologias de origem fúngica, etc. Nas séries de Pearlman e na de Harbison o carcinoma de células escamosas foi o tumor de esfenóide mais comum.

Os achados das tomografias computadorizadas nos pacientes com tumores de esfenóide mostram que é raro que as paredes ósseas estejam intactas; observando-se freqüentemente extensão da massa, o que é raro nas patologias inflamatórias. Nossa paciente apresenta paredes ósseas intactas à CT, no entanto com extensão da massa à narina esquerda, rino e orofaringe.



Figura 1 - Massa em fossa nasal esquerda e rinotaringc. Seio maxilar esquerdo com espessamento mucosa



Figura 2 - Massa de esfenóide esquerdo - paredes ósseas intactas.



Figura 3 - Massa de esfenóide com progressão para rinofaringe e orofaringe.



CONCLUSÃO

A patologia do seio esfenóide deve ser considerada em todos os pacientes que apresentam cefaléia vaga ou não usual. Tanto o exame dos nervos cranianos quanto a CT devem ser precocemente realizados no processo diagnóstico.

Uma vez que observamos tumor no seio esfenóide, abre-se um leque diagnóstico que somente será esclarecido pela avaliação neurológica, exames laboratoriais, tomografia computadorizada, endoscopia e biópsia. De posse desses dados é que será decidida a melhor abordagem cirúrgica e a conduta terapêutica.

O caso por nós apresentado reveste-se de interesse por sua raridade, uma vez que são infreqüentes as patologias isoladas de seio esfenóide. Entre as patologias tumorais que acometem o seio esfenoidal, podemos considerar a possibilidade de ocorrência de patologia benigna, semelhante àquelas que acometem os seios maxilares, como o pólipo solitário de Killian, a exemplo deste caso.



Figura 4 - Notar a presença de vaso no interior da massa.



Figura 5 - Peça cirúrgica.



Figura 6 - Quatro meses de pós-operatório.



REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

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(1) Médico da Clínica ORL - Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo
(2) Médica ORL - Prefeitura do Município de São Paulo
(3) Médico Radiologista da Medimagem - Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo
(3) Apresentado no XXX Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e XXIII Congresso Brasileiro de Endoscopia Peroral.

INSTITUIÇÃO:
Clínica ORL - Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo Rua Maestro Cardím, n° 770

Artigo aceito em 15 de outubro de 1993.

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