Versão Inglês

Ano:  2004  Vol. 70   Ed. 5  - setembro-outubro - (16º)

Seção: Relato de Caso

Páginas: 688 a 690

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Rinolito: relato de caso e revisão de literatura

Rhinolith: case report and literature review

Autor(es): Heráclio Villar R. Cavalcanti1,
Giordania Gomes Campos2,
Tatiana Silveira Velasco2,
Polliana Ferraz Rego2,
Alencar Polimeni Benetti3

Palavras-chave: rinolito, sinusite crônica, obstrução nasal, rinorréia unilateral.

Keywords: rhinolith, chronic sinusitis, nasal obstruction, unilateral rhinorrhea.

Resumo:
Os autores relatam um caso de obstrução nasal unilateral, rinorréia purulenta e infecção crônica em um mulher de 57 anos causada por rinolito. A patologia mais freqüentemente encontrada em associação com rinolitíase é a sinusite crônica. A rinolitíase é uma concreção calcária estratificada visível ao exame radiológico. O rinolito pode ser um achado acidental em alguns pacientes. Rinolitos são raros e podem ter várias apresentações clínicas. O tratamento de escolha é remoção cirúrgica. Um alto índice de suspeição é necessário para o correto diagnóstico.

Abstract:
The authors report one case of a 57-year-old woman who for many years had a unilateral nasal obstruction; purulent rhinorrhea and chronic infection both caused by rhinolithiasis. The disease most frequently seen in association with rhinolithiasis is chronic sinusitis. The rhinolithiasis is a calcareous concretion formed in layers visible by X-rays. The rhinolith was discovered incidentally in some patients. Rhinoliths are rare and can have various clinical presentations. The treatment of choice is surgical removal. A high index of suspicion is required for the diagnosis of such a forgotten entity.

INTRODUÇÃO

A rinolitíase é uma infecção rara que se caracteriza pela presença na fossa nasal de concreções calcáreas depositadas progressivamente ao redor de um corpo estranho não diagnosticado1-3. Participam do processo de calcificação fatores físico-químicos e mecânicos (alterações do pH, supersaturação e estase de secreções, alterações do fluxo aéreo, infecção e inflamação).4

Muitas crianças têm o hábito de colocar pequenos objetos na cavidade nasal, provocando obstrução e rinorréia.5 Estes corpos estranhos podem ser de origem mais freqüentemente exógena, tais como vegetais, metais, materiais plásticos, etc. ou de origem endógena mais raramente, tais como muco, dentes, coágulos, etc.

À medida em que o rinolito aumenta de volume, surgem fenômenos de obstrução nasal e rinorréia purulenta, por vezes acompanhada de epistaxes, fetidez, cefaléia, etc.6,7. A rinorréia purulenta fétida unilateral é patognomônica de corpo estranho nasal até que se prove o contrário.

O objetivo deste trabalho é apresentar uma caso de rinolito em uma mulher adulta atendida em nosso serviço e fazer uma breve revisão de literatura.

RELATO DE CASO

MJS, feminina, 57 anos, natural de Niterói, RJ, foi atendida em nosso serviço com queixa de obstrução nasal a esquerda, dispnéia, cacosmia e rinorréia purulenta à esquerda há vários anos. A paciente relatava vários tratamentos anteriores para sinusite (sic). HPP: Na infância, por volta dos 7 anos de idade, a paciente dizia ter sido levada por diversas vezes ao Pronto Atendimento devido a presença de rinorréia bilateral sendo efetuado tentativa de remoção de corpo estranho nasal, sem sucesso. Naquela época, foi indicada remoção cirúrgica sob anestesia geral, que foi negada pela família.

A rinoscopia anterior revelou rinorréia purulenta à esquerda e visualização de massa acinzentada. A endoscopia nasal, além da referida rinorréia, evidenciou massa amorfa, de consistência endurecida na topografia de meato inferior próximo às áreas 4 e 5 de Cottle e demais estruturas visualizadas sem alterações.

Foi solicitado de imediato exame tomográfico dos seios paranasais como consta da rotina do serviço.

A tomografia computadorizada revelou presença de imagem com densidade cálcica no terço posterior da fossa nasal esquerda e seios paranasais normotransparentes. (Figuras 1 e 2).

Diante dos resultados obtidos confirmamos nossa hipótese diagnóstica de rinolito, sendo então indicada exérese cirúrgica. Realizada por via endoscópica. (Figuras 3 e 4)

Após 2 meses de acompanhamento clínico ambulatorial, foi realizada endoscopia nasal de aspecto normal. A paciente encontra-se assintomática até o presente momento. (Figura 5)

DISCUSSÃO

O rinolito se desenvolve na luz da fossa nasal a partir de um núcleo cuja origem é exógena ou endógena. Ao redor deste núcleo produz-se processo inflamatório e supuração provocando o enclausuramento do corpo estranho.

Os rinolitos são geralmente unilaterais, porém não necessariamente únicos; de coloração cinza ou negra, mais ou menos arredondados, com irregularidade de superfície que lhe conferem aspecto coraliforme. Seu tamanho e peso são variáveis. A composição é variável: fosfato de cálcio, compostos orgânicos, carbonato de cálcio, fosfato de magnésio e água. E sofre influência das condições de vida do paciente como, por exemplo, da composição do ar inalado e da poluição ambiental; e da natureza do corpo estranho.



Figura 1. TC pré-operatória corte coronal: material de densidade cálcica no meato inferior da fossa nasal esquerda.



Figura 2. TC pré-operatória corte axial: material de densidade cálcica ocupando o terço posterior da fossa nasal esquerda.



Figura 3. Intra-operatório: rinolito de cor acinzentada envolto em mucosa polipóide sangrante ao toque.



Figura 4. Rinolito após remoção.



Figura 5. 2º mês de pós-operatório - fossa nasal de aspecto normal.



O diagnóstico é realizado por intermédio da rinoscopia anterior, podendo muitas vezes induzir a erros, pois o rinolito banhado em exsudatos purulentos e recoberto de brotos mucosos vegetantes e congestos, poderá simular seqüestro de natureza sifilítica, tumor maligno ou sinusite fúngica. Às vezes o rinolito pode ser assintomático, sendo encontrado em exames complementares de rotina8,9. Podem ser diagnosticados através das suas complicações como, por exemplo, perfuração septal, ulcerações na mucosa nasal, osteomielite dos ossos nasais e/ou sinéquias mucosas.

Os principais diagnósticos diferenciais são feitos com lesões osteogênicas ou odontogênicas. É necessário descartar as seguintes afecções: osteoma, granuloma, seqüestro de osteomielite, carcinoma, condrossarcoma e osteossarcoma.

Os rinolitos são incomuns em pacientes pediátricos10, ao passo que corpos estranhos nasais são freqüentemente encontrados em crianças. Na maioria das vezes as crianças omitem a introdução de corpos estranhos no nariz, temendo uma repressão dos familiares. Dessa forma, há uma maior possibilidade destes corpos estranhos virem a se transformar em rinolitos nos adultos.

O tratamento se baseia na remoção do rinolito. A indicação de remoção cirúrgica sob anestesia geral é reservada para rinolitos de grande volume ou quando é necessária a reparação de uma fístula oro-nasal.

Como complicação da cirurgia temos as ulcerações do epitélio nasal que evoluem para a cicatrização completa e a formação de sinéquias entre o corneto e o septo nasal11.

O diagnóstico do caso em questão foi facilitado pela história clínica, exame otorrinolaringológico minucioso e exames complementares.

CONCLUSÃO

A rinolitíase é uma patologia rara que pode ter várias formas de apresentação. Um alto índice de suspeição clínica é necessário para o diagnóstico, como também a utilização de exames radiológicos. O tratamento de escolha é a remoção cirúrgica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Davy-Chédauté F, Jézéquel JA. In: Encyclopedie Medico Chirurgicale. Edição 2000; Paris: Ed. Scientifiques et Médicales Elsevier SAS. p. 20-390-A-101 a 5.
2. Moulonguet L, Brette M D, Monteil JP. Ann Otolaryngol Chir Cervicofac 1995; 112(8):406-9.
3. Celikkanat S, Turgut S, Ozcan I, Balyan FR, Ozden C. Rhinolithiasis. Rhinology 1997 Mar; 35(1):39-40.
4. Aguayo V, Martín A, Soto C, Araceli I. Rinolitiasis: presentación de un caso. Rev Méd IMSS mayo-jun 1996; 34(3):207-9.
5. Endo LH, Montenegro MCS. Tratado de Otorrinolaringologia. V. 3. 1ª ed. Editora Rocca; 2003:175-80.
6. Hungria H. Otorrinolaringologia. 8ª ed. Editora Guanabara Koogan; 2000:79-85.
7. Balatsouras D, Eliopoulos P, Kaberos A, Economou C. Rhinolithiasis: an unusual cause of nasal obstruction. Rhinology 2002 Sep; 40(3):162-4.
8. Royal AS, Gardner RE. Rhinolithiasis: an unusual pediatric nasal mass. Pediatr Radiol 1998 Jan; 28(1):54-5.
9. Kharoubi S. Rhinolithiasis associated with septal perforation. A case report. Acta Otorhinolaryngol Belg 1998; 52(3):241-5.
10. Hadi U, Ghossaini S, Zaytoun G. Rhinolithiasis: a forgotten entity. Otolaryngol Head Neck Surg 2002 Jan; 126(1):48-51.
11. Brown WBS, Ballantyne J, Groves J. Diseases of Ear, Nose and Throat, Volume 1, 2ª Ed. London: Editora Butterwortlis; 1965.

1 Staff da Clínica de Otorrinolaringologia do HGB.
2 Residentes do 3º ano da Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Bonsucesso (HGB - Rio de Janeiro).
3 Chefe da Clínica de Otorrinolaringologia do HGB.
Instituição: Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Bonsucesso - Rio de Janeiro.
Endereço para Correspondência: Dra. Giordania Gomes Campos - Rua José Higino, nº 30 Tijuca Rio de Janeiro 20520-200
Tel (0xx21) 2238-4493 - Fax: (0xx21) 2572-6513
Artigo recebido em 26 de março de 2003. Artigo aceito em 05 de junho de 2003.

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