Versão Inglês

Ano:  2001  Vol. 67   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 196 a 201

 

Anatomia Cirúrgica do Canal Redondo.

Surgical Anatomy of the Round Canal.

Autor(es): Fernando Hayashi*,
Flávio M. Amado**,
João A. C. Navarro***,
Marcos L. Navarro****.

Palavras-chave: osso esfenóide, canal redondo, nervo maxilar

Keywords: sphenoid bone, round canal, maxillary nerve

Resumo:
Introdução: O acesso cirúrgico às regiões profundas da cabeça requer bom conhecimento de sua topografia e variações anatômicas. Forma de estudo: Experimental anatomico. Material e método: No presente estudo, procurou-se o melhor conceito para a formação óssea que conduz o nervo o maxilar do endocrânio ao exocrânio, se forame ou canal redondo. Buscou-se, também, averiguar a presença e freqüência de ramificações desse nervo em sua trajetória intra-óssea, na asa maior do esfenóide. Em observações osteológicas diretas e através de moldes de silicone (permilastic), de 32 crânios, encontrou-se um canal redondo em todos os casos, nos quais o comprimento apresentou-se igual ou maior que 1 mm. Resultados: A presença de ramificações do nervo maxilar no interior do canal redondo foi pesquisada em 29 hemi-cabeças de adultos, formolizadas e desmineralizadas, nas quais a região do canal redondo foi dissecada ao microscópio, constatando-se a presença de ramificações intra-canal em 15 (51,72%) dos casos. Esses ramos apresentaram direções medial em nove (60%) casos; lateral, em quatro (26,67%); e inferior, em dois (13,33%) casos. Em uma (6,67%) das peças foram encontrados três ramos, muito delgados.

Abstract:
Introduction: The access to the deep areas of the head requires a precise knowledge of it's topography and anatomic variations. Study design: Anatomical experimental. Material and method: In this study we searched the best denomination to the osseous formation that leads the maxillary nerve from the endocraneous to the exocraneous, if round foramen or round canal. Were made direct observations and through silicone (permilastic) moulding. We also verify the existence and frequence of ramifications of this nerve in it's intraosseous path in the sphenoid bone. Branches of the nerve in the canal were searched in 29 half adult heads, wich were demineralized and kept in formol. Results. The round canal regions were dissecated using a microscope and small maxillary nerves branches were found into the round canal in 15 (51,72%) of the cases. Branches had medial direction nine (60%), lateral four (26,67) and inferior two (13,33°/a). In one (6,67%) specimen three thinner branches were found.

INTRODUÇÃO

A crescente utilização do microscópio nas cirurgias das regiões profundas da cabeça e o aprimoramento dos recursos diagnósticos através de imagens têm requerido constantes revisões da anatomia craniofacial1, 8, 11, 13. Conseqüentemente, alguns conceitos têm sido revistos, sugerindo modificações de nomenclatura e, em alguns casos, de localização e relação das estruturas anatômicas.

O elemento ósseo, denominado forame redondo, forame redondo maior, ou canal redondo, conduz o nervo maxilar do endo para o exocrânio, mais precisamente para o interior da fossa pterigopalatina

É bilateral, localizado na asa maior do esfenóide, pouco abaixo da fissura orbital superior, anterior aos forames oval e espinhoso e lateral ao corpo do esfenóide.

O termo forame redondo3, 4, 5, 7, 9 ,10, 14, 17 foi encontrado na maioria dos autores consultados; enquanto que canal redondo somente foi referido por alguns12, 18, 19, 20. O canal redondo é evidenciado quando se observa pela parede lateral do seio esfenoidal, onde com freqüência se apresenta saliente8, 11, 13. Nas expansões laterais desse seio, no interior da asa maior do esfenóide, o canal redondo pode ser envolvido, tornando-se bastante notável.

Como canal, dispõe-se de posterior para anterior e de medial para lateral, levemente inclinado para baixo, abrindo-se, anteriormente, na fossa pterigopalatina. Apresenta também margem regular no plano coronal, pelo lado da fossa, enquanto a cranial é biselada no sentido ínfero-superior, acompanhando a inclinação da parede cranial da asa maior do esfenóide.

O presente trabalho objetiva verificar a freqüência do canal redondo e a existência de ramificações do nervo maxilar no seu interior, que penetrariam em canalículos ósseos a partir das paredes do respectivo canal.

MATERIAL E MÉTODO

Foram utilizados 32 crânios macerados, sem as respectivas calvárias, nos quais os forames/canais foram medidos em moldes obtidos com silicone (permilastic), com um "top" metálico apoiado na abertura endocranial do forame redondo, a partir da qual as medidas foram realizadas, utilizando-se um paquímetro Maub (Figuras 4 e 5). Considerou-se canal o forame de comprimento igual ou superior a 1 mm (Lang)8 (comprimento igual ou maior que 1 mm (Lang)8).

Nas observações em material cadavérico foram utilizadas 29 hemi-cabeças de adultos, formolizadas a 10% e desmineralizadas em ácido nítrico a 5%.

As dissecções do nervo maxilar, desde a sua origem ganglionar até o interior do canal redondo e respectiva emergência na fossa pterigopalatina, foram realizadas pela fossa média do crânio, utilizando-se microscópio cirúrgico MC-900 (D. F. Vasconcellos), com objetiva de 200 mm e oculares de 12, 5 mm.

A dura-máter da fossa média do crânio ao redor do forame redondo foi removida, assim como a metade superior do forame/canal, expondo-se o epineuro e procurando-se, cuidadosamente, por ramos e canalículos, a partir do nervo maxilar e do canal redondo, respectivamente. Na seqüência, o nervo maxilar foi seccionado próximo à sua entrada no forame/ canal, no endocrânio, e deslocado levemente, nos diferentes planos, à procura de ramificação intracanal.

RESULTADOS

Nas observações osteológicas diretas e através das moldagens, foi considerado canal redondo o forame cuja extensão, na grande asa do esfenóide, apresentou-se igual ou maior que 1 mm. Sendo assim, verificou-se em todos os 32 (100%) casos a ocorrência de um canal redondo e não de um forame (Figuras 1 e 2).

O canal redondo mais longo, com 7 mm, foi observado em dois (6,25%) casos e o mais curto, com 1 mm, em três (9,35%) casos, com 3,8 mm, em média.

Quanto ao diâmetro do canal redondo, o maior alcançou 5 mm, em um (3,12%) caso e o menor, 2,5mm, em dois (6,25%) casos, com média de 3,27 mm.

Em todas as 29 (100%) dissecções confirmou-se a existência de um canal redondo (Figura 6). Em 15 (51,72%), o nervo maxilar apresentou ramificação no interior do canal redondo, constituída de ramos acessórios, em número de um a três, muito delgados (Figuras 3 e 7).

Quando único, o ramo acessório apresentou direção medial em nove (60%), lateral em quatro (26,67%) casos e, em dois (13,33%), para inferior (Tabela 1).

Em quatro (26,67%) casos encontrou-se o nervo zigomático-orbital originando-se no interior do canal redondo, a partir da superfície superior do nervo maxilar (Figura 8).

Em apenas um (3,44%) caso encontraram-se três ramos acessórios no canal, todos direcionadas a medial (Tabela 2).

DISCUSSÃO

Conceituado na Nomina Anatômica e referido pela grande maioria dos autores como forame redondo, esse importante elemento anatômico é na realidade um verdadeiro canal. Descrito por alguns autores3, 4, 11, 12, foi por nós ratificado nesse trabalho. Apresenta uma abertura endocranial localizada na asa maior do esfenóide, ao lado do corpo do esfenóide e, por anterior, na junção dessa asa com o processo pterigóide do mesmo osso, na parte mais superior e lateral da fossa pterigo-palatina. A trajetória póstero-anterior, médio-lateral e póstero-inferior do canal redondo, faz com que sua abertura na parede posterior da fossa pterigopalatina seja mais lateral e inferior em relação à endocranial. Esse canal serve de trânsito ao nervo maxilar e suas respectiva artéria e veia.



Figura 1. Fossa média do crânio, lado esquerdo: 1. Fissura orbital superior; 2. Canal redondo estreito e alongado; 3. Asa menor do esfenóide; 4. Seio esfenoidal.



Figura 2. Fossa média do crânio, lado direito: 1. Fissura orbital superior; 2. Asa menor do esfenóide; 3. Canal redondo amplo e curto.



Figura 3. Fossa média do crânio, lado direito: 1. Fissura orbital superior, 2. Asa menor do esfenóide, 3. Canal redondo amplo, alongado e com furaminas em sua parede ínfero-medial, 4. Forames acessórios ou emissários na base do crânio.



Figura 4. Fossa média do crânio, hemi-cabeça do lado esquerdo: 1. Conteúdo do canal redondo tracionado para cima; 2. Fossa pterigopalatina; 3. Canal redondo; 4. Asa maior do esfenóide.



Figura 5. Fossa média do crânio, hemi-cabeça do lado esquerdo: 1. Conteúdo do canal tracionado para cima; 2. Canal redondo amplo; 3. Delgado ramo do nervo maxilar em direção à pare- o de ínfero-medial do canal redondo, onde penetra em canalículo; 4. Asa maior do esfenóide.



TABELA 1 - Dimensões do canal redondo em crânios adultos, através moldes de elastômero, com paquímetro (mm).



TABELA 2 - Ocorrência e freqüência de ramos do nervo maxilar, no interior do canal redondo, e suas respectivas direções, observadas em dissecções
de hemi-cabeças.



A presença de canalículos a partir da parede desse canal e a ocorrência de delgados, ramos do nervo maxilar, que neles penetram em direção ao corpo do esfenóide, não tem sido referida na literatura.

O diâmetro médio do canal redondo ósseo foi de 3,27 mm; o comprimento apresentou média bilateral de 3,8mm.



Figura 6. Fossa média do crânio, hemi-cabeça do lado esquerdo. 1. Conteúdo do canal redondo tracionado para cima; 2. Fossa pterigopalatina; 3. Canal redondo; 4. Asa maior do esfenóide.



Figura 7. Fossa média do crânio, hemi-cabeça do lado esquerdo: 1. Conteúdo do canal tracionado para cima; 2. Canal redondo amplo; 3. Delgado ramo do nermo maxilar em direção à parede ínfero-medial do canal redondo, onde penetra em canalículo; 4. Asa maior do esfenóide.



Figura 8. Fossa média do crânio, hemi-cabeça do lado esquerdo. Nervo maxilar delgado em seu trajeto desde a fossa média, através do canal redondo, até à fossa pterigopalatina; 1. Inserções do músculo temporal no interior da fossa pterigopalatina; 2. Nervo maxilar; 3. Nervo zigomático-orbital; 4. Fossa pterigopalatina; 5. Parede inferior do canal redondo, por onde penetra delgado ramo cio nervo maxilar.



Nas 29 (100%) dissecções, observou-se a ramificação do nervo maxilar no interior do canal redondo em 15 (51,72%) casos.

CONCLUSÕES

O canal redondo foi encontrado em todos os casos, tanto nas observações osteológicas diretas e através das moldagens quanto nas dissecções.

O canal redondo apresentou extensão máxima de 7,0 mm e mínima, de 1,0 mm, com a média de 3,8 mm.

O maior diâmetro do canal redondo foi de 5,0 mm; e o menor, de 2,5 mm, com a média de 3,27 mm.

O nervo maxilar ramificou-se no interior do canal redondo em 15 (51,72%) casos, em ramos muito delgados, com trajetória medial em nove (60%), lateral, em quatro (26,67); e, inferior, em dois (6,25%), penetrando em canalículos acessórios, localizados nas parede homônimas do respectivo canal.

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* Cirurgião Dentista, Residente do HRAC-USP, na área de Implantodontia.
** Cirurgião Dentista.
*** Professor Titular da Disciplina de Anatomia da Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo.
**** Acadêmico da Faculdade de Medicina da PUC-CAMP.

Endereço para correspondência: Prof. Dr. João Adolfo Caldas Navarro - Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo - Departamento de Ciências Biológicas - Disciplina de Anatomia - Alameda Dr. Octávio Pinheiro Brisola, 9-75 - 17012-901 Bauru/ SP.
Artigo recebido em 1° de setembro de 2000. Artigo aceito em 7 de dezembro de 2000.

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