Versão Inglês

Ano:  2001  Vol. 67   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 22 a 27

 

Tempo de Permanência de 164 Tubos de Ventilação Timpânicos em 82 Pacientes com Fissura Palatina.

Permanence Time of 164 Ventilation Tympanic Tubes in 82 Cleft Palate Pacients.

Autor(es): Douglas S. R. Morales*,
José R. G. Testa**,
Arnaldo Guilherme***,
Yotaka Fukuda****.

Palavras-chave: fissura palatina, otite média serosa, inserção de tubo de ventilação

Keywords: cleft palate, seromucinous otitis, ventilation tubes insertion

Resumo:
Introdução: Pacientes com fissura labiopalatina apresentam várias moléstias de ouvido, nariz e garganta. A presença de otite média serosa (OMS) é considerada quase universal, em pacientes com fissura de palato.A fissura pode ser classificada, em relação ao forame incisivo, em: preforame, transforame e posforame. A OMS atinge mais os grupos fissura transforame (FT) e fissura posforame (FPF). Pacientes com fissura são tratados por equipe multidisciplinar; desta forma, o cirurgião plástico realiza a palatoplastia e o otorrinolaringologista, quando o problema é OMS, realiza a timpanotomia, com colocação de tubo de ventilação de média duração. Objetivo: Este estudo observa o tempo de permanência do tubo de ventilação em pacientes com fissura. Material e métodos: Foram observados 82 pacientes (164 orelhas) com fissura transforame direita (FTD), fissura transforame esquerda (FTE), fissura transforame bilateral (FTB) e FPF, podendo estar com ou sem correção do palato (palatoplastia). Foram empregados testes estatísticos, para comparar os diversos subgrupos (Kruskal-Wallis, Whimey e Wilcoxon). Pacientes com fissura (FT e FPF) que foram submetidos à palatoplastia apresentaram o tempo de permanência do tubo de ventilação menor em relação aos sem palatoplastia. Quando analisado em relação à fissura transforame unilateral (FTU), homolaterais e contralaterais, o tempo de permanência do tubo não apresenta diferença estatisticamente significativa. Comparando-se FTB e FTU, observou-se que, em média, o tempo de permanência é superior para grupo FTB (com e sem palatoplastia). Confrontando-se os grupos FT e FPF, a média do tempo de permanência foi maior para este último (com e sem palatoplastia). Resultados: Pode observar que o tempo de permanência do tubo de ventilação na membrana timpânica está relacionado ao processo inflamatório local; desta forma, existem eventos que podem facilitar ou inibir o processo inflamatório: a colocação de tubo de ventilação permite a drenagem de efusão (crônica) da cavidade timpânica: a palatoplastia permite um mecanismo de abertura ativa da tuba auditiva aumentando-se a luz devido à ação dos músculos tensor e elevador do véu palatino: a manipulação local poderia levar (de forma aguda) a um processo inflamatório local, assim como a infecção cirúrgica, explicando-se assim os casos de eliminação mais rápida do tubo. Pacientes com fissuras mais amplas não apresentavam estase de secreção em rinofaringe, até antes da palatoplastia. O tempo de duração do tubo de f ventilação timpânico (de média duração) tipo Armstrong em pacientes com fissura (FTD, FIE, FTB e FPF) foi de, em média, 223 e 279 dias, t quando com ou sem palatoplastia, respectivamente. De modo geral, o tubo de ventilação permanece 251 dias em pacientes com fissura (transforame ou posforame).

Abstract:
Introduction: Pacients with deft palates have seromucinous otitis media (OMS), that's considerate almost universal in cleft palate pacients. The cleft may be classified in: preforame, transforame and posforame. The OMS occours with bigger frequency in pacients with transforame and posforame clefts. Cleft palate pacients (CPP) are treated by a team of health profissionals; the otolaryngologist treat OMS, with a tympanotomy with a insertion of a ventilation tympanic tube. Objective: This work saw the permanence time of the tympanic tubes in pacients with cleft palate. Material and method: 164 ears (82 pacients) were analysed, with or without palate plastic surgery (PPS). Statisticiam tests (Kruskal Wallis, Whitney and Wilcoxon) were used to compare the diferents subgroups. Results: Pacients with PPS Nave the permanence time of the tympanic tube smaller than the pacients without PPS. When the permanence of the tympanic tube in pacients with unilateral transforame cleft were analysed, the tubes homo and ipsilateral weren't diferents. When we compared clefts uni and bilateral, the permanence time was superior in the group bilateral (with-or without PPS). We compared too transforame and posforame clefts; the time was superior in the group posforame (with and without PPS). We could look that the permanence time of the ventilation tympanic tubes in tympanic membrane was related to the local inflammatory process; than, that's events to facilite or prejudice this inflammatory process: the colocation of ventilation tympanic tubes permits the better draining of seromucinous secretion of the media ear; the PPS permits a mechanism of oppenig of the Eustachian tube, getting arise the oppenig of its cavity, due the action of the muscles tensor and elevator of the palate. Pacients with big clefts don't have stopped secretion in the nasopharynge. The permanence time of ventilation tubes the kind Armstrong in pacients with cleft palate was, in media, 223 and 279 days, when with and without PPS, respectely. Generally, the ventilation tympanic tube stayed at tympanic membrane for about 251 days in cleft palate pacients studied.

INTRODUÇÃO

Pacientes com fissura de lábio e palato, fissura de lábio e fissura de palato devem ser acompanhados desde o nascimento. Segundo Modolin e colaboradores (1988), entre os indivíduos da raça branca, um em cada mil apresentam fissura congênita de lábio, lábio e palato e palato. A incidência é consideravelmente menor na etnia negra e maior entre os de etnia amarela.

Pacientes com fissura palatina e lábio-palatina são acompanhados por equipe multidisciplinar e rotineiramente atendidos por otorrinolaringologista, pois há grande incidência de moléstias relacionadas à especialidade. Os pacientes apresentam dificuldade no fechamento total da boca, e de deglutição; pode haver refluxo nasal de alimentos e líquidos. As vias aéreas superiores e inferiores são comprometidas, alterando a fisiologia da respiração e deglutição. A fala também é comprometida, podendo apresentar rinolalia aberta, disfonia e insuficiência velofaríngea; há também anomalias de oclusão e posição dos dentes; e, em geral, têm-se alterações na morfologia nasal. A função da tuba auditiva anormal acarreta otite média (aguda, de repetição, serosa, crônica supurativa e colesteatomatosa) e perda auditiva condutiva. Segundo Oberascher e Albegger (1992), o sintoma típico da otite média serosa (OMS) é a perda auditiva condutiva. OMS é a presença de secreção (efusão) dentro da cavidade timpânica e que, segundo Paradise (1976), virtualmente é reconhecida como uma complicação universal em pacientes com fissura de palato. Doyle, Cantekim e Bluestone (1980) estudaram pacientes com fissura de palato e concluíram que crianças com fissura de palato têm a habilidade de abrir ativamente a tuba auditiva diminuída, sendo esta uma evidência da inabilidade em equilibrar as pressões, tanto para positivo quanto para negativo.

Berlin e colaboradores (1971) descrevem a classificação mais utilizada para o estudo e tratamento destes pacientes: a classificação de Spina, que leva em consideração a embriogênese, tendo-se fissura posforame, fissura transforame (unilateral ou bilateral) e fissura preforame (unilateral ou bilateral) (Figura 1).

Bluestone (1975) refere em seu artigo que otite média pode ser resultado de uma disfunção tubária, de uma inflamação da orelha média ou de ambas. Em pacientes com fissura de palato a obstrução é funcional e relacionada ao mecanismo de abertura da tuba auditiva, desencadeada pelo músculo tensor do véu palatino.

Becker, Naumann e Pfaltz (1994) referem que o tratamento desses pacientes deve envolver uma equipe multidisciplinar com otorrinolaringologista, cirurgião plástico, pediatra, geneticista, ortodontista, cirurgião dentista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista e assistente social. Cada equipe conta com um arsenal de técnicas especializadas no tratamento do paciente com fissura de lábio e palato.



Figura 1. Esquema ilustrativo dos diferentes tipos de fissura, com aspecto oro-nasal e corte axial no nível do palato: A - fissura preforame esquerda, B - fissura preforame direita, C - fissura preforame bilateral, D - fissura transforame esquerda, E - fissura transforame direita, F - fissura transforame bilateral, G - Fissura posforame.



Quando há fissura de lábios, a correção se dá entre o terceiro e sexto mês de vida, pela técnica de queiloplastia primária; às vezes, há necessidade de um reparo cirúrgico final, a queiloplastia secundária, que é realizada entre o 14°e 16° mês de vida. As fissuras de palato (duro ou mole) são corrigidas entre o quarto e o nono mês de vida, sendo denominada palatoplastia primária. Também pode ser necessária uma segunda cirurgia, a palatoplastia secundária, a ser realizada durante o primeiro ano de vida. Se o nariz apresenta necessidade de rinoplastia, em geral aguarda-se pelo menos o 16q ano de vida. Procedimentos ortodônticos, quando necessários, são realizados a partir do quinto ano de vida. Em relação à fala, 70% dos casos apresentam sucessos com esses procedimentos. Alguns pacientes continuam apresentando insuficiência velofaríngea, sendo necessária a faringoplastia, cuja função é garantir o retorno da função do curto, imóvel e insuficiente palato mole o mais próximo possível do normal.

Pacientes com fissura palatina apresentam otite média serosa com muita freqüência (Paradise, 1976), de difícil resolução. A implantação de tubo de ventilação é preconizada nesses casos, sendo recomendado o uso de tubos de maior duração (Quante, Esser e Strauss, 1976), tipo Armstrong. Crianças submetidas a timpanotomia com implantação do tubo de ventilação apresentam melhora com relação à perda auditiva, os atrasos de linguagem e possíveis déficits intelectuais (Paradise, 1976).

O atendimento de pacientes com fissura motivaram o estabelecimento dos objetivos deste estudo: mensurar o tempo de permanência do tubo de ventilação tipo Armstrong, em pacientes com fissura posforame e transforame, e observar se há relação entre o lado da fissura transforame e o tempo de permanência dos tubos de ventilação homolateral e contralateral à fissura.

MATERIAL E MÉTODO

Na Fundação para o Estudo das Deformidades Crânio-Faciais, em sua unidade ambulatorial e hospitalar da grande São Paulo, que presta atendimento a portadores de fissura (preforame, transforame e posforame), fizeram parte do estudo 191 pacientes, com idade variando entre quatro meses e 30 anos. Destes, 82 foram abordados cirurgicamente, sendo 56 pacientes do sexo masculino e 26 do feminino, e submetidos a um protocolo de pesquisa, que foi analisado e aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo. O diagnóstico de OMS foi realizado por exame otorrinolaringológico, audiometria tonal limiar, audiometria vocal e imitanciometria (timpanometria e reflexos estapedianos). Estes pacientes foram submetidos à timpanotomia (uni ou bilateral) com colocação de tubo de ventilação (Armstrong) e acompanhados durante pelo menos um ano - os quais, na data do fechamento dos dados, apresentavam-se da seguinte forma em relação ao protocolo:

o 84 pacientes, com colocação de tubo de ventilação bilateral, com extrusão dos tubos até a data do encerramento de coleta de dados (destes, dois apresentavam fissura preforame); e 82 pacientes com fissura transforame (164 orelhas).

- 13 pacientes com timpanotomia unilateral e extrusão do tubo até o encerramento (13 orelhas).

- Quatro pacientes com colocação de tubo de ventilação bilateral, com extrusão de um tubo e permanência do outro, até o encerramento (oito orelhas).

- 11 pacientes com colocação do tubo de ventilação bilateral e que, no encerramento, não havia sido extruso (22 orelhas).

- Nove pacientes com colocação do tubo de ventilação bilateral e que, no encerramento, um tubo tinha sido extruso e outro mantinha-se (18 orelhas).

- Os demais pacientes não participaram da pesquisa para esta tese, pois apresentavam menos de um ano de seguimento (32 pacientes), ou por não se enquadrarem no protocolo (35 pacientes), por abandono do tratamento ou pela presença de outras malformações na face.

Os 82 pacientes (164 orelhas) que foram submetidos à timpanotomia bilateral, e apresentavam fissura transforme, foram analisados em subgrupos:



TABELA 1 - Número de pacientes (82), de acordo com a localização da fissura (transforame direito; transforame esquerdo, transforame bilateral; e pós forame) - e a presença de correção: (C) com e (S) sem.

Legenda: FTD - Fissura transforame direita; FTE - Fissura transforame esquerda; FTB - Fissura transforame bilateral; FPF Fissura pós forame



- Fissura transforame direita (FTD) (corrigida e não corrigida: 13 pacientes).

- Fissura transforame esquerda (FIE) (corrigida e não corrigida: 29 pacientes).

- Fissura transforame bilateral (FTB) (corrigida e não corrigida: 20 pacientes).

- Fissura pós forame (FPF) (corrigida e não corrigida: 20 pacientes).

- Desta forma, estes 82 pacientes foram subdivididos conforme a Tabela 1.

RESULTADOS

O tempo de duração dos tubos de ventilação timpânicos (tipo Armstrong) em pacientes com fissura foi anotado, tendo-se por limites as datas de colocação e de extrusão do tubo. A partir destes dados, observou-se pelo teste estatístico de Wilcoxon que o tempo de permanência de tubos de ventilação em pacientes com fissura transforame unilateral não diferiam quando se analisava se estavam em posição homolateral ou contralateral à fissura; assim, pode se analisar em um único grupo denominado fissura transforame unilateral.

A partir da média do tempo de permanência do tubo de ventilação timpânico (em dias), em pacientes com fissura transforame unilateral (FTU)~ fissura transforame bilateral (FTB) e fissura posforame (FP) em relação à presença ou ausência de palatoplastiam, obteve-se a Tabela 2.

DISCUSSÃO

Foram analisados 82 pacientes (164 orelhas), que apresentaram extrusão bilateral dos tubos de ventilação de média duração (Armstrong) e apresentava FTD, FTE, FTB e FPF.



TABELA 2 - Média do tempo de permanência do tubo de ventilação (em dias) em pacientes com FTU, FTB e FPF, em relação à presença de palatoplastia.

Legenda: FTU - Fissura transforame unilateral; FTB - Fissura transforame bilateral; FPF - Fissura pós forame.




Estes grupos de pacientes foram subdivididos em com e sem palatoplastia (Tabela 1). O tempo de permanência do tubo de ventilação dos pacientes que apresentavam fissura transforame unilateral (FTD ou FTE), foi agrupado em homolateral e contralateral à fissura, quando em pacientes com palatoplastia (Tabela 2) e em pacientes sem palatoplastia. O teste estatístico de Wilcoxon foi aplicado nos dados da Tabela 2 e demonstrou que não há diferença signifiva entre as colunas homolateral e contralateral, possibilitando agrupa-las e mantendo a divisão em pacientes com fissura transforame unilateral (FTD ou FTE) submetidos à palatoplastia e pacientes com fissura transforame unilateral (FTD ou FTE) sem palatoplastia. Este fato nos permite pensar que as alterações anatômicas relacionadas à fissura transforame unilateral acarretam, do ponto de vista funcional, o mesmo acometimento em ambas orelhas, pois o tempo de permanência do tubo de ventilação na membrana timpânica está associado à migração epitelial (Lopes Filho, 1984). Assim, o processo inflamatório gerado pela efusão da OMS seria um fator estimulador local, acarretando uma proliferação epitelial mais rápida. Como tanto o lado homolateral quanto o contralateral não apresentavam diferença significativa, percebe-se que o grau de cometimento é o mesmo, apesar da fissura apresentar-se unilateral no palato duro, diferindo do encontrado por Casselbrant e colaboradores (1985) em estudos com macacos rhesus, nos quais o palato foi aberto, mostrando que a tuba do lado aberto apresentou sua função severamente acometida. Esta diferença pode ser devida ao fato de pacientes com fissura já apresentarem um mecanismo de adaptação desde o nascimento, não sendo uma alteração aguda.

Apesar de ser esperada uma diferença entre a média do tempo de permanência do tubo de ventilação em pacientes com fissura transforame unilateral com palatoplastia e a média dos pacientes com fissura transforme unilateral sem palatoplastia, isso não foi observado: os dois grupos são confrontados pelo teste estatístico de Mann-Whitney e observa-se que não há diferença, significativa entre os dois grupos (P=0,642), encontrando-se as médias próximas (225 e 221 dias). Este fato pode nos levar a pensar que a palatoplastia não teria uma ação direta no mecanismo de abertura da tuba auditiva durante o primeiro ano de seguimento destes pacientes. Em decorrência disso, encontram-se tempos de permanência parecidos nos dois grupos. Em pacientes com fissura pós forame (FPF), a presença ou não de palatoplastia demonstra ser um fator importante na orelha média, pois o tempo médio de permanência do tubo de ventilação na membrana timpânica destes pacientes varia muito. Os pacientes com palatoplastia apresentaram tempo de permanência menor (242 dias, em média), em relação aos sem palatoplastia (317 dias, em média). Surge então um problema: como explicar a diferença da média do tempo de permanência do tubo de ventilação neste grupo (FPF) e a não existência de diferença quando se observa fissura transforame unilateral em relação à presença, de palatoplastia. Então, observou-se média do tempo de permanência do tubo de ventilação em pacientes com fissura transforame bilateral, tendo-se também uma média, maior para o grupo sem palatoplastia (289) dias, contra 203 dias para o grupo com palatoplastia. Uma das hipóteses seria que após a palatoplastia a estase de secreção no nível da rinofaringe seria maior (comparativamente ao período anterior à cirurgia), alterando a fisiologia local. Pacientes submetidos à palatoplastia apresentam tempo de permanência do tubo de ventilação timpânico menor do que os que se verificam em indivíduos que ainda não foram operados (sem palatoplastia): 226 dias contra 232 dias para os pacientes com fissura transforame unilateral; 242 contra 317 dias para os pacientes com fissura transforame bilateral e 203 contra 289 dias para os pacientes com fissura transforame bilateral. Este fato não foi encontrado na literatura. O motivo provável dessa diferença, entre grupos submetidos a palatoplastia e grupos sem palatoplastia, deve estar relacionado ao processo inflamatório local (topografia de rinofaringe e orofaringe), devido à manipulação cirúrgica do palato, no qual estão inseridos os músculos tensor e elevador do véu do palato, que apresenta a outra inserção na cartilagem da tuba auditiva, o que possivelmente facilite o mecanismo de abertura ativa da tuba auditiva, pós palatoplastia. Assim, acreditamos que alguns fatores podem, concomitantemente, estarem exercendo influência sobre a orelha média:

O tubo de ventilação permite a drenagem da efusão contida na orelha média (fator de diminuição do processo inflamatório crônico na orelha média). Segundo Dhillon (1988), pacientes que apenas corrigiram a fissura de palato, permaneceram com OMS; e, segundo Frable e colaboradores (1985), pacientes com fissura de palato corrigida só melhoram da OMS após a colocação de tubo de ventilação timpânico.

A palatoplastia pode funcionar como fator facilitador para o mecanismo de abertura ativa da tuba auditiva, também alterando a fisiologia local, por inserir os músculos do palato mais próximos à posição anatômica normal, sendo um fator para aumentar a luz tubária durante o mecanismo de abertura ativa e tornando a tuba menos colapsável. Segundo Doyle e colaboradores (1980), crianças com fissura de palato têm uma habilidade diminuída em abrir a tuba auditiva, devido à inabilidade do músculo tensor do véu do palato. Para Bluestone e colaboradores (1975), pacientes com fissura de palato corrigida equilibram melhor a pressão positiva quando exercida sobre a orelha média. Ambos os procedimentos, devido à manipulação local, podem aumentar o processo inflamatório local de maneira aguda, além da possibilidade e infecção. Ambos os procedimentos, devido a manipulação, podem aumentar o processo inflamatório local de maneira aguda, além da possibilidade de infecção.

Desta forma, estes dois procedimentos implicam em três fatores (dois facilitadores da diminuição do processo inflamatório crônico e um estimulador de processo inflamatório agudo) - que, associados às alterações anatomofuncionais locais e gerais de cada paciente resultam numa diminuição do processo inflamatório local, com alteração do tempo de permanência do tubo de ventilação. Segundo Takahashi e colaboradores (1994), pacientes com fissura de palato apresentam a tuba auditiva mais colapsável. A palatoplastia parece agir justamente neste fator, apresentando a partir de então (da palatoplastia) a possibilidade de abrir a tuba auditiva pela ação do músculo tensor do véu do palato. Para Falk e colaboradores (1984), a disfunção tubária em pacientes com fissura de palato é constituída pela combinação da falência no mecanismo de esvaziamento da orelha média, na inspiração nasal e da falência secundária à abertura da tuba auditiva, com inabilidade para equalizar a pressão negativa da inspiração nasal.

Quanto à média do tempo de permanência do tubo de ventilação de pacientes com fissura transforame (unilateral e bilateral) em relação a pacientes com fissura pós forame, ambos grupos sem palatoplastia, observa-se que o tempo de duração é consideravelmente menor no grupo com fissura transforame (245 dias, em média), do que no grupo com fissura pós forame (317 dias, em média), possivelmente por apresentarem menor estase de secreção nasal. Segundo Hutton e colaboradores (1993), a mucina presente em secreção de rinofaringe de pacientes com fissura de palato tem unidades glicopeptídeas aumentadas, tornando-se hidrodinamicamente mais pesada do que em crianças com anatomia normal; esta seria uma forma de provar que a estase de secreção, em pacientes com fissura, constitui uma das causas de um longo processo inflamatório.

Os mesmos grupos de fissura aparecem em pacientes que foram submetidos a palatoplastia, sendo porém menores entre os pacientes com fissura transforame (221 dias em média) do que nos pacientes com fissura pós forame (242 dias). Em ambos os grupos (com e sem palatoplastia), a presença do procedimento cirúrgico no palato acarretou um menor tempo de permanência do tubo de ventilação na membrana timpânica.

Pacientes com fissura transforame unilateral apresentam um tempo de duração do tubo de ventilação maior (226 dias, em média) do que nos com fissura transforame bilateral (203 dias, em média), ambos com palatoplastia. Nos pacientes sem palatoplastia, o tempo de permanência é maior entre os pacientes com fissura transforame bilateral (289 dias, em média) do que nos pacientes com fissura transforame unilateral (232 dias, em média). Como explicar esta diferença? Provavelmente, pacientes com fissura transforame bilateral sem palatoplastia apresentam um processo inflamatório crônico local menor do que os pacientes com fissura transforame unilateral, pois os com FTB não apresentam estase de secreções nas fossas nasais e rinofaringe, devido à grande abertura que comunica ambas as fossas nasais com a cavidade bucal e orofaringea, enquanto que nos pacientes com fissura transforame unilateral uma das fossas nasais apresenta este fator de estase, que invariavelmente leva a um processo inflamatório crônico. Esta relação se inverte após a palatoplastia, pois no paciente com fissura transforame unilateral uma das fossas nasais já está cronicamente adaptada à situação de não manter comunicação com a cavidade bucal e orofaríngea, enquanto que no paciente com FTB ambas as fossas nasais passarão por um mecanismo de adaptação de funcionamento após a palatoplastia. O tempo de 203 dias em média para FTB (C), contra 226 dias (em média) para FTU (C), pode ser explicado pela cronicidade de uma mucosa local sem estase, com processo inflamatório menor na FTB diminuindo o tempo de duração.

As médias dos três grupos de fissura (FTU, FTB, FPF) em relação à pesença ou não de palatoplastia: apesar de se tratar de grupos diferentes, pode se totalizar uma média final de cada grupo, obtendo-se uma média global para pacientes com fissura que foram submetidos a palatoplastia (223 dias) e que ainda não foram submetidos a palatoplastia (279 dias). Segundo Weigel e colaboradores (1989), tubo de ventilação Armstrong permanece menos de um ano na membrana timpânica de pacientes sem fissura de palato. A média dessas médias (251 dias ou aproximadamente oito meses) representa uma noção clínica global do tempo de permanência do tubo de ventilação nos pacientes com fissura.

O estudo de 82 pacientes com fissura (posforame e transforame) permitiu, do ponto de vista clínico, observar que o tempo de permanência do tubo de ventilação em pacientes com fissura e correção do palato foi de 223 dias, nos sem correção de 279 dias; e, de um modo geral, o tubo de ventilação timpânico permanece em média 251 dias e possibilitou concluir que:

1) o tempo de permanência do tubo de ventilação timpânico é superior nos pacientes que ainda não foram submetidos a palatoplastia;

2) comparando-se o tempo de permanência dos tubos, em relação ao lado da fissura (quando transforame unilateral), pôde-se observar que não há diferença entre o homolateral e contralateral à fissura;

3) analisando-se FTB e FTU, em relação à presença de palatoplastia, o tempo de permanência foi maior no grupo FTB;

4) quando comparadas as fissuras transforame às posforame, nos grupos com e sem palatoplastia, na fissura posforame o tubo de ventilação permaneceu mais tempo.

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* Mestre pela Disciplina de Otorrinolaringologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - Escola Paulista de Medicina (EPM).
** Professor-Doutor pela UNIFESP-EPM.
*** Professor-Doutor da Disciplina de Otorrinolaringologia da UNIFESP-EPM.
**** Livre-Docente e Chefe da Disciplina de Otorrinolaringologia da UNIFESP-EPM.

Trabalho apresentado no 35° Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, recebendo Menção Honrosa. Trabalho desenvolvido na Disciplina de Otorrinolaringologia do Departamento de Otorrinolaringologia e Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina.
Endereço para correspondência: Douglas S. R. Morales - Disciplina de Otorrinolaringologia - UNIFESP-EPM - Rua Botucatu , 740 - Vila Clementino 04023-900 São Paulo /SP - Telefone: (0xx11) 5549-7041.
Artigo recebido em 15 de agosto de 2000. Artigo aceito em 20 de outubro de 2000.

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