Versão Inglês

Ano:  1998  Vol. 64   Ed. 6  - Novembro - Dezembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 598 a 602

 

Estudo Multicentrico Aberto do Uso de Cefprozil no Tratamento de Sinusite Aguda em Pediatria.

An Open Multicenter Study of the Use of Cefprozil for the Treatment of Acute Sinusitis in Children.

Autor(es): Shirley Shizue Nagata Pignatari*,
Callil K. Farhat**.

Palavras-chave: cefalosporina, sinusite aguda, cefprozil

Keywords: cephalosporin, acute sinusitis, cefprozil

Resumo:
O cefprozil é uma nova cefalosporina oral de segunda geração, ativa contra os principais patógenos responsáveis pela sinusite aguda, como o Streptococcus pneumoniae, inclusive cepas com resistência intermediária à peniclina, e o Haemophilus influenzae, incluindo os produtores de -lactamases. No presente estudo, os autores avaliaram a eficácia e tolerabilidade do cefprozil no tratamento de 191 crianças com idade entre seis meses e 12 anos, portadoras de sinusite aguda. Em um estudo aberto multicêntrico, o diagnóstico clínico foi baseado em critérios pré-estabelecidos da história clínica, exame físico e radiológico. O cefprozil foi prescrito por dez dias (30 mg/kg/dia em duas tomadas), e os pacientes foram reavaliados nos dias 4-6 e 10-15 após o início do tratamento. Os resultados mostraram que a sintomatologia rapidamente regrediu na maioria dos casos. O índice de cura ou melhora foi de 97,72%, com resolução total dos sintomas em 78,59% dos casos. Os efeitos adversos foram referidos em 4,6% dos pacientes, limitando-se a distúrbios gastrointestinais leves ou moderados (náuseas, diarréia e vômitos). Nenhum caso de reação adversa séria foi relatado.

Abstract:
In order to validate the efficacy and safety of cefprozil, a second generation oral cephalosporin, active against the two majors pathogens in acute sinusitis - S. pneumoniae, includng strains with intermediate resitance to penicilin, and betalactamase producing strains of H. influenzae-, the authors evaluated the results of the treatment in 191 children, with ages between six months and 12 years. The diagnosis of acute sinusitis was based on a standardized history, physical examination and roentgenograms. Cefprozil was prescribed for 10 days (30 mg/ kg/day B.I.D). The patients were reevaluated at days 4-6 and 10-15 after the first day of treatment. Overall, most of the patients presented good and fast improvement of symptoms. After 10 days of treatment, the improvement or cure was of 97.72% with complete resolution of the symptoms in 78.59% of the patients, Overall, minor adverse reactions were observed in 4.6% of the children (vomit and/or diarrhea). No serious adverse event was reported.

INTRODUÇÃO

As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) ocorrem na população infantil com a freqüência ele cinco a oito episódios par ano, e estima-se que cerca ele 5°/u destes episódios possam se complicar com um quadro de sinusite bacteriana aguda1.

Clinicamente, a suspeita de sinusite aguda é levantada quando os sinais e sintomas respiratórios (rinorréia purulenta anterior e posterior, obstrução nasal, tosse e eventualmente febre) excedem o período ele sete a dez dias sem melhora do estado geral. A hipótese ele sinusite aguda também deve ser cogitada quando o quadro respiratório alto apresenta-se riais intenso já nos primeiros dias (febre alta e secreção mucopurulenta abundante)2.

Os patógenos mais freqüentes na sinusite aguda são o Streptococcuspneunioniae e o Haemopbilus influenzae, e a escolha do tratamento clinico com antimicrobianos deve visar sempre a atuação contra esses microorganismos3. Em decorrência da crescente emergência de bactérias resistentes aos antimicrobianos comumente utilizados na prática médica, especialmente às penicilinas, sulfas e a eritromicina, a escolha correta da medicação tem se tornado de grande responsabilidade e um desafio aos profissionais que atuam na área da saúde infantil.

Vários ensaios clínicos têm sido realizados no tratamento da sinusite aguda, utilizando-se diferentes antimicrobianos, com porcentagem de sucesso em torno de 80%4, 5. Não encontramos, na literatura consultada, dados em relação ao uso ele cefprozil no tratamento de sinusite aguda na população pediátrica, embora esse antimicrobiano já tenha sido utilizado cora sucesso no tratamento de otite média aguda em crianças6. O cefprozil é uma cefalosporina oral de segunda geração, sabidamente atuante nos germes produtores de lactamase e nos Gram negativos, e com espectro ele ação que inclui os patógenos mais freqüentes na sinusite aguda.

O presente estudo teve por finalidade avaliar a eficácia clínica e a tolerabilidade ao cefprozil no tratamento de 191 crianças portadoras de sinusite aguda.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Foram avaliadas 191 crianças com sinusite aguda, com idade entre seis meses e 12 anos, atendidas em vários centros de saúde espalhados pelo País.

Todas as crianças foram submetidas a avaliação clínica geral e específica padronizadas.

O diagnóstico de SA foi realizado pelo quadro clínico, tendo sido considerados: rinorréia mucopurulenta, dor à compressão nos seios da face, congestão nasal, tosse, febre e avaliação da atividade da criança. A radiografia simples de seios paranasais, nas incidências clássicas de Waters e Caldwell, foi realizada nas crianças acirra ele um ano de idade, quando o diagnóstico não pôde ser estabelecido clinicamente. Os sinais e sintomas foram classificados, ele acordo com a intensidade em: ausente, leve, moderado e intenso. As radiografias foram consideradas positivas quando apresentavam opacificação total, nível líquido ou espessamento mucoso ele pelo menos 4 min.

Foram excluídas do estudo crianças menores de seis meses ele idade e aquelas com antecedentes de insuficiência renal, síndrome ele má absorção e doenças imunossupressoras, e as que receberam antibióticos sistêmicos até duas semanas antes do tratamento.

Após a obtenção elo consentimento pelos responsáveis na primeira consulta (V1), as crianças foram medicadas cora cefprozil na dose de 30 mg/kg/dia em duas tomadas (a cada 12 horas) por um período ele 10 dias.

O controle da resposta clínica ao tratamento foi obtido pela avaliação da presença ou ausência (te sinais e sintomas, em visitas realizadas entre os dias 4-6 (V2) e 10-15 (V3) a partir do início do tratamento. Considerou-se cura o total desaparecimento dos sinais e sintomas; melhora, sinais e sintomas reduzidos significantemente mas não totalmente resolvidos; e falha, sinais e sintomas persistentes ou agravados na segunda ou terceira visita.

Os possíveis eventos adversos relacionados ou não ao uso da medicação foram verificados por relato espontâneo cios responsáveis ou dos próprios pacientes nas visitas V2 e V3.

RESULTADOS

Características gerais dos pacientes

Foram avaliadas 191 crianças, cora idade entre seis meses e 12 anos, com média de idade de 5,19; 101(53,16%) eram do sexo feminino; e 89 (46,84%), do sexo masculino. (Não foi obtida informação quanto ao sexo em um caso). A maioria das crianças - 165 (86,39%) - era da raça branca.

Freqüência e intensidade dos sinais e sintomas

Rinorréia mucopurulenta

Todos os pacientes (100,00%) apresentaram na primeira consulta rinorréia purulenta de grau moderado. Na segunda visita esta informação foi obtida em 176 pacientes; e, destes, 39 (22,16%) não apresentavam mais rinorréia, que era ele intensidade leve em 77 (43,75%). Dos 177 pacientes com informação sobre rinorréia na ultima consulta, apenas 15 (8,46%) persistiam com rinorréia, sendo 11 de leve intensidade e quatro de intensidade moderada (Tabela 1).








Dor à compressão dos seios da face

Esta informação foi obtida em 191 pacientes na primeira consulta (VI), em 168 na segunda visita (V2) e em 169 na terceira (V3). Todos os 191 pacientes (100,00%) apresentaram dor de intensidade moderada inicialmente. Na segunda visita, 101 (60,12%) dos pacientes não apresentavam mais o sintoma; e na última consulta (V3), 162 (95,86%) já não o apresentavam. Sete pacientes (4,15%), persistiram com dor à compressão dos seios da face ao final do tratamento (Tabela 2).

Congestão nasal

Dos 191 pacientes, a informação sobre este sintoma foi obtida em 184 na primeira consulta (V1), em 176 na segunda visita (V2) e em 175 na última avaliação (V3).
Em V1, 177 (96,20%) crianças apresentavam congestão nasal; em V2, 74 (42,05%); e na última avaliação, apenas 13 pacientes (7,43%) persistiam com congestão nasal de intensidade leve (Tabela 3).

Febre

Dos 191 pacientes avaliados, a informação sobre febre foi obtida na primeira consulta (V1) em 184 crianças; e na segunda e terceira visitas (V2 e V3) em 172 crianças. Entre estes pacientes, a febre estava presente em 147 ( 79,89%) das crianças na primeira avaliação. Na segunda visita (V2), 153 pacientes (88,95%) não apresentavam mais febre; e na última consulta apenas três pacientes (1,74%) persistiram com febre (Tabela 4).








Avaliação da atividade geral do paciente

Dos 191 pacientes, a informação sobre a avaliação da atividade foi obtida em 178 na primeira consulta (V1); em 169 na segunda consulta (V2); e em 17(7 crianças na última consulta (V3). A atividade encontrava-se reduzida em 127 (71,35%) dos pacientes na primeira avaliação. já na segunda e terceira visitas, 124 (73,37%) e 166 (97,65%) pacientes, respectivamente, apresentaram atividade normal (Tabela 5).

Avaliação da eficácia do cefprozil no tratamento da sinusite aguda (SA)

Dos 191 pacientes incluídos no estudo, a avaliação final dos investigadores não foi relatada em oito casos (4,19%). Entre os 183 casos relatados, 179 (97,81%) foram considerados curados ou com melhora clínica, ocorrendo falha em quatro casos (2,19%) (Tabela 6).

Avaliação da tolerabilidade ao cefprozil

Efeitos adversos foram relatados em nove pacientes (4,60%), na sua totalidade representados por distúrbios gastrointestinais (náuseas, vômitos e diarréia), de intensidade leve ou moderada. Apenas um paciente necessitou interromper o tratamento devido a ocorrência de evento adverso.

DISCUSSÃO

Os principais objetivos do tratamento da sinusite aguda são a erradicação da bactéria no interior da cavidade sinusal, prevenir a cronificação e as complicações, particularmente as orbitárias na população infantil, e aliviar os sinais e sintomas decorrentes deste quadro infeccioso agudo. Habitualmente, a terapia inclui antimicrobianos selecionados empiricamente, uma vez que os estudos que estabelecem a eficácia do antimicrobiano, através de aspirados e cultura de material obtido dos seios da face no pré e pós-tratamento para demonstrar a erradicação do patógeno, são problemáticos, devido à necessidade de procedimentos invasivos, nem sempre considerados necessários e éticos.

Considerando a elevada incidência de cepas de Haemophilus influenzae produtoras de -lactamases e das cepas emergentes de Streptococcus pneumoniae resistentes à penicilina, atualmente os antimicrobianos que se mostram eficazes contra estes patógenos in nitro são considerados potencialmente úteis no tratamento das afecções, como a sinusite aguda, freqüentemente causadas por estes microorganismos. Nesses antimicrobianos estão incluídos os macrolídeos, a amoxicilina-clavunato e, entre cefalosporinas de segunda geração, o cefprozil3.








No presente estudo, o cefprozil foi utilizado para o tratamento de 191 crianças portadoras de sinusite aguda, administrado por via oral na dose de 30 mg/kg/dia em duas tomadas por um período de 10 dias.

O alívio dos sinais e sintomas foi bastante evidente e significativo no decorrer do tratamento. A coriza nasal purulenta, presente em 100% dos pacientes no início do estudo, estava praticamente ausente ao final do período de tratamento. Entre os pacientes que se queixavam de dor à compressão dos seios da face (100% dos casos), mais que 50% já apresentavam melhora após 4-6 dias de acompanhamento, e cerca de 95% dos pacientes não apresentavam este sintoma ao final do tratamento. Outro dado importante foi referente à congestão nasal. Dos 184 pacientes cuja informação foi obtida, 96,201/o apresentavam este sintoma inicialmente. Na segunda visita, a congestão nasal encontrava-se ausente em mais da metade das crianças; e em mais de 90% delas na última consulta. Resultados semelhantes foram observados para tosse, febre e atividade geral do paciente.

Das 191 crianças incluídas neste estudo, a informação sobre a resposta clínica não foi relatada em oito casos. A avaliação da resposta clínica pôde ser realizada em 183 crianças. Destas, 179 (97,81%) obtiveram cura ou melhora significativa com o tratamento instituído, e 144 (78,69%) estavam cola total desaparecimento cios sinais e sintomas. A falha terapêutica ocorreu em quatro pacientes (2,19%).

Os resultados apresentados mostram que o cefprozil é urna excelente opção no tratamento elas sinusites agudas na população infantil, com alta porcentagem de sucesso no tratamento clínico, e pode ser considerado uma droga segura, não tendo sido observado qualquer efeito adverso grave ou diferente daqueles normalmente referidos ao uso de outras cefalosporinas administradas por via oral.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BERG, O.; CARENFELT, C.; RYSTEDT, G. - Ocurrence of Asymptomatic Sinusitis in Common Cold and Other ENT Infections. Rhinolotay, 24:223, 1986.
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5. HUCK, W.; REED, B. D.; NELSEN, R. W. - Cefaclor vs. Amoxicillin in the Treatment of Acate, Recurrent and Chronic Sinusitis. Arch. Fam. Med., 2: 497, 1993.
6. ROSENFELD, R. M.; VERTREES, J. E.; CARR, J. - Clinical Efficacy of Antimicrobial Drugs for Acate Otitis Media: Metaanalysis of 5,400 Children from Thirty-three Randomized Trials. J. Pediatr., 124: 355-367, 1994.




* Doutora pela UNIFESP - EPM. Chefe do Setor de Otorrinolaringologia Infantil da COF - Hospital Professor Edmundo Vasconcelos.
** Professor Titular do Departamento de Pediatria (Disciplina de Infectologia Pediátrica) - UNIFESP - EPM. Coordenador Sênior do Estudo.

Endereço para correspondência: Dra. Shirley S. N. Pignatari-Rua Vergueiro, 3645-Apto. 808-Vila Mariana-04101-300 São Paulo/ SP.
Artigo recebido em 18 de junho de 1998. Artigo aceito em 13 de outubro de 1998.

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