Ano: 1994 Vol. 60 Ed. 1 - Janeiro - Março - (4º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 19 a 21
Avaliação da Efetividade do Audioscope 3tm da Welch Allynr como Método de Triagem de Acuidade Auditiva.
Evaluation of the Efectiveness of the Welch Allynr Audioscope 3'm as an Auditive Screening Method.
Autor(es):
Manoel de Nóbrega(1),
Christiane Ayello(2),
Liliane D. Pereira(3);
Marisa F. de Azevedo(3),
Luiz A. Lopes(4),
Yara Juliano(5);
Neil F. Novo(5),
Fernando J. de Nobrega(6).
Palavras-chave: surdez, audição, audiometria
Keywords: deafness, hearníng, audiometry
Resumo:
Através de uma equipe multidisciplinar, foi testada a validade da utilização da Audioscope 3'm da Welch Allyn' como método de Triagem Auditiva. Os resultados obtidos foram comparados ìt Avaliação audiológica convencional. Foram avaliadas 129 crianças de 3 a 10 anos de idade, divididas em três Grupos: A - Sem patologia de orelha média (O.M.); B - Com patologia de O.M. e C - Somatória da população. Obtivemos um bom fndice de sensibilidade e especificidade, principalmente na freqüência de 1 KHz, identifscando patologias da O.M. (91,0%) e baixo índice de falsos (-) (4%) no Grupo B. O Audioscope3'" revelouseprático, de fácil manejo e interpretação, avaliando um grande número de crianças em curto espaço de tempo, constituindo um procedimento adequado para Triagem Auditiva em Unidades Básicas de Saúde, creches e escolas.
Abstract:
The effective ness of the Welch Allyn Audioscope as an auditive Screening method was evaluated by a multi professional group. Results were compared to those of conventional auditive Screening. 129 children, 3-10 years of age, were evaluated after being divided in 3 groups: A - without middle ear-pathologies (MEP), B - with MEP and C- the sum of those studied. Satisfactoty sensibility and specificity rates were obtained, specially in the 1 KHz frequency, with identification of MEP (91%) and low rate of false negatives (4% in 1 KHz) its the group of children with MEP. The Audioscope 3'm is practical, easy to handle and real It makes it possible to evaluated large number of children in a short time span and its use constitutes all adequate procedure for Screening in Health Care Units, Day Care Centers and Schools.
INTRODUÇÃO
Estudos têm demonstrado uma associação significativa entre a ocorrência de perdas auditivas de grau leve a moderado decorrentes de episódios repetidos de Otite Média Aguda nos primeiros anos de vida, e alterações de Linguagem ou do Processo Educacionalz'4,6,1,s. Estas crianças tendem a apresentar diferenças siginificativas de desempenho ao serem comparadas com crianças sem história de alterações a nível de orelha média na infância, principalmente em atividades de precepção auditiva, memória auditiva, aquisição de linguagem oral e progresso escolar.
As consequências da perda auditiva, decorrentes da presença de líquido na orelha média, podem ser ainda agravadas quando associadas a baixo nível sócio-econômico, ambiente de estimulação lingüística e educacional reduzida ou condições precárias de saúde' 6,8.
Portanto, tendo como base a série de estudos relatados, torna-se imperioso a detecção precoce e tratamento adequado das alterações da Orelha Média, procurando-se evitar ou minimizar as perdas auditiva, principalmente na população de baixo nível sócioeconômico. Muitas vezes, esta situação de reconhecimento d perda da audição é difícil de ser realizada por ser necessário encaminhamento da criança para centros especializados. Assim, a utilização de um equipamento de fácil transporte, com custo adequado e com bom resultado poderia soro ideal para atuar, pelo menos, como método de triagem na Avaliação da Acuidade Auditiva.
OBJETIVO
Comparar os resultados obtidos com o Audioscope 3°m da Welch Allynl, portátil, com o audiômetro convencional MAICO MA 41, para verificar sua aplicabilidade em triagem auditiva.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
Foram avaliadas 129 crianças de 3 a 10 anos de idade, sendo 216 orelhas (84%) testadas: 55 do sexo masculino e 53 do sexo feminino e 42 orelhas (16%) não testadas (21 crianças).
Todas as crianças foram submetidas a uma avaliação otorrino-laringológica, pediátrica e audiológica, no mesmo dia da testagem.
A avaliação otorrinolaringológica constou de anamnese e otoseopia; a pediátrica de exame físico e estado nutricional; a audiológica de audiometria tonal convencional, utilizando-se o audiômetro MAICO MA 41 (padrão ANSI-69) e testagem com o Audioscope 3'm da Welch Allyn (figura 1). Cada etapa da avaliação audiológica foi realizada por diferentes examinadores, de forma que cada um desconhecia os resultados obtidos pelos demais.
O procedimento utilizado na Avaliação Audiológíca Convencional seguiu os moldes propostos por ALBERNA7, P.M. et al'.
O Audioscope 3,1 utilizado dispõe de quatro freqüências sonoras (500, 1000, 2000 e 4000 Hz) em três diferentes intensidades (20, 25 e 40 dB/NA padrão ANSI-69) e de um tom-teste inicial de 60 dB/NA em 1000 Hz. A avaliação foi realizada cm sala sem tratamento acústico, assegurando sua aplicabilidade em ambientes comuns. O aparelho é introduzido no meato acústico externo, ocluindo - o permitindo a visualização da membrana timpânica. A instrução é dada através da demonstração, fazendo-se com que a criança associe o estímulo sonoro a um ato motor. O exame é iniciado, sendo verificada a presença de respostas aos diferentes estímulos sonoros, em ordem decrescente de intensidade. Das 258 orelhas testadas, apenas 216 (84%) puderam ser incluídas nesta pesquisa e, portanto, analisadas. As restantes 42 orelhas (26%) não apresentavam acuidade suficiente para responder ao teste.
A população estudada foi dividida em três grupos segundo a presença de comprometimento de orelha média (O.M.). Desta forma, o Grupo A foi constituído de crianças sem patologia de O.M.; o Grupo B de crianças com patologias de O.M., e Grupo C a somatória da população.
Através da Avaliação Audiológica Convencional, utilizando o critério de normalidade proposto por NORTHEN, foi possível caracterizar a acuidade auditiva dos três grupos estudados. Desta forma, a acuidade do Grupo A- sem patologia da O.M., é demonstrado através da ocorrência de limiares normais e alterados para cada freqüência sonora.
RESULTADOS
A comparação dos resultados obtidos pela Audiometria Tonal Convencional e Audioscope 3,1 foi analisada estatisticamente nos três grupos, determinando-se a efetividade, especificidade, sensibilidade, valor preditivo positivo e negativo, falso positivo e negativo, seguindo a proposta de NORTHEN.
Na TABELA 1 é apresentado o Grupo A - sem patologia de O.M. e limiares auditivos obtidos pela Audiometria Tonal Convencional; na TABELA 2, o Grupo B - com patologia de O.M. e limiares auditivos obtidos; naTABELA3,o Grupo C-Somatória da população total e limiares auditivos obtidos.TABELA 1: GRUPO A - sem patologia de O.M.
TABELA 2: GRUPO B - com patologia de O.M.
TABELA 3: GRUPO C - Somatória da população.
CÁLCULO DA EFETIVIDADE
Na TABELA 4 apresentam-se os resultados da efetividade, ou seja, da compatibilidade entre os dois procedimentos de Avaliação para as quatro freqüências sonoras testadas em cada grupo (A, B, C).
A efetividade variou de 54,9 a 71,5% em todas as freqüências sonoras, sendo superiora 61 % em todos os grupos nas freqüências de 2000 a 4000 Hz. Estes resultados foram maiores do que os obtidos por GILBEMEYERe col., 1985.TABELA 4: CÁLCULO DA EFETIVIDADE
TABELA 5: CÁLCULO DA SENSIBILIDADE
TABELA 6: CÁLCULO DA ESPECIFICIDADE
TABELA 7: CÁLCULO DA VALOR PREDITIVO POSITIVO (+) E NEGATIVO (-)
TABELA 8: CÁLCULO DOS ÍNDICES DE FALSO POSITIVO (+) E NEGATIVO (-)
CÁLCULO DO VALOR PREDITIVO POSITIVO (+) E NEGATIVO (-)
O valor preditivo negativo, isto é, a probabilidade de o indivíduo ser normal, e o valor preditivo positivo, probabilidade do indivíduo ter sua acuidade auditiva alterada, podem ser observados na TABELA 7.
O valor preditivo positivo foi maior no Grupo B para todas as freqüências sonoras testadas, com exceção de 500 Hz, possivelmente pela influência de ruído ambiental, visto que o teste com o Audioscope 3 foi realizado em sala sem tratamento acústico.
CÁLCULO DOS ÍNDICES DE FALSO POSITIVO (+) E NEGATIVO (-)
Prosseguindo a análise, foram calculados os índices de Falsos(+)e Falsos (-) apresentados na TABELA 8.
Obtiveram-se índices inferiores a 14% de Falsos (-) para todas as freqüências testadas, o que demonstra boa aplicabilidade como proecdimento de triagem. Entretanto, os índices de Falsos (+) foram mais elevados, situando-se entre 20,0 e 42,0%, o que continua assegurando a validade deste procedimento.
CONCLUSÃO
O aparelho Audioscope 3,1 revelou-se prático, de fácil manejo e interpretação, podendo ser utilizado e interpretado por pessoal não especializado, avaliando um grande número de indivíduos em um curto espaço de tempo, constituindo um procedimento adequado para Triagem Auditiva em Unidades Básicas de Saúde, creches c escolas. Considerando-se que a validade de um teste de triagem é determinada pela compatibilidade dos seus resultados em relação à Avaliação convencional, os resultados obtidos neste trabalho classificam o procedimento como Bom para Triagem Auditiva. A associação deste procedimento à triagem Impedanciométrica pode vir a constituir uma boa alternativa de triagem audiológica.
CÁLCULO DE SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE
Na TABELA 5 apresentam-se os resultados do cálculo da sensibilidade, ou seja, a capacidade de identificar a patologia no indivíduo que a tem.
Os resultados apresentados na TABELA 6 referem-se a Especificidade, ou seja, a identificação de indivíduos sem patologia de O.M. quando eles não a têm.
A Sensibilidade foi maior para indivíduos do Grupo B - com patologia de O.M., enquanto a Especificidade foi maior no Grupo A sem alteração de O.M.. Observamos também que a Sensibilidade variou de 75,0 a 91,0% no Grupo B e a Especificidade variou de 63,0 a 98,0% no Grupo Á, assemelhando-se aos achados de BUHRER e col., 1985.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
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(1) Médico Especialista em Otorrinolaringologia (ORL) pela SBORL, Mestrando do Depto de ORL e Distúrbios da Comunicação Humana (D.C.H.) da Escola Paulista de Medicina (EX.M.).
(2) Fonoaudióloga Especialista pelo Depto de O.R.L./D.C.H. da E.P.M. ***Professoras Adjuntas do Depto de O.R.LJD.C.H. da E.P.M.
(4) Médico Pós-Graduando da Disciplina de Nutrição e Metabolismo do Depto de Pediatria da E.P.M.
(5) Professores Adjuntos da Disciplina de Bioestattstica do Depto de Medicina Preventiva da E.P.M.
(6) Professor Titular do Depto de Pediatria da E.P.M.
Trabalho realizado em conjunto pelos Deptos de ORL/D.C.H. e Pediatria da E.P.M., com o apoio da Disciplina de Bioestatlstica do Depto de Medicina Preventiva da E.P.M.
Trabalho apresentado nos seguintes Congressos: XXVI Cong. Bras. de Pediatria, Belo Horizonte - MG, outubro de 1989;1 Cong. Internacional de Fonoaudiologia, III Cong. Bras. de Fonoaudiologia, Fortaleza - CE, outubro de 1989; VIII Reunião da Soc. Bras. de Otologia, Caldas Novas - MG, dezembro de 1989.
Dr. Manoel de Nóbrega
Rua Rio Grande, 670 - V. Mariana - CEP 04018-001 São Paulo - Capital Fax: (011) 872-1001
Artigo aceito em 30 de abril de 1993.