Versão Inglês

Ano:  1977  Vol. 43   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 29 a 36

 

ESTEARATO DE ERITROMICINA NAS INFECÇÕES OTORRINOLARINGOLÓGICAS EM PEDIATRIA.

Autor(es): * Leonidas Mocellin
** Marcos Mocellin

INTRODUÇÃO:

A medicação de escolha na maioria das infecções otorrinolaringológicas em pediatria, é sempre um antibiótico. Porém, em vista da necessidade imediata de administração, estas substâncias têm sido usadas de diferentes maneiras e em diversas formas, sem que houvesse maior divulgação de suas qualidades e das conseqüências que podem trazer ao organismo da criança, tais como alteração da flora intestinal, fenômenos alérgicos ou, nas aplicações parenterais, trauma psicológico, devido ao impacto causado pela dor.

OBJETIVO:

A finalidade deste trabalho clínico, foi estudar a tolerabilidade e eficácia do Estearato de Eritromicina, por via oral, em pacientes pediátricos com infecções otorrinolaringológicas diversas, contribuindo com isto, na terapia dos processos infecciosos da especialidade, evitando o uso de aplicações intramusculares ou endovenosas, em pacientes com menos de 12 anos de idade.

PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS E MICROBIOLÕGICAS DA SUBSTÂNCIA EM ESTUDO:

Eritromicina é o nome genérico do antibiótico derivado do Streptomyces erythreus, e pertence ao grupo dos heterósidos macrolídeos. É um composto básico, com peso molecular 733,9, e sua fórmula estrutural é a seguinte:



Fig. 1 - Estrutura Química da eritromicina.




A Eritromicina base, forma sais prontamente em presença de ácidos. Seus derivados: estearato; etil-succinato e estolato, são fracamente solúveis em água, o que diminui sua inativação pelo suco gástrico, podendo ser usados por via oral (6) (7).

A eritromicina vem se mostrando, durante todos estes anos de uso, como um derivado eficaz e seguro (1) (2) (3) (9) (20) e bem aceito pelas crianças, nas suas formas de administração (11).
CH3
0 estearato de eritromicina, desde sua introdução, raramente levou ao aparecimento de efeitos colaterais, e não induziu quadros de toxicidade hepática, renal ou sanguínea, como atesta a extensa literatura mundial a este respeito (4) (5) (10) (12) (13) (14) (17) (18) (19) (23) (24) (28) (29). Entretanto, o estolato de eritromicina é citado em diversas publicações, relativamente a sua potencial hepatotoxicidade e fenômenos de colestase intra hepática (18) (31) (32) (33) (34) (35) (36) (37).

A eritromicina é altamente ativa contra bactérias gram-positivas, agindo muito bem contra Estafilococos, Estreptococos, Pneumococos (5) (8) (13) (14) (15) (21) (22) (25) (26) (27) (30); mesmo em baixas concentrações, inibe outros microorganismos, exibindo efeitos predominantemente bacteriostáticos. Alguns autores postulam também uma ação bactericida para a eritromicina (8) (16), ressaltando com isto, diminuição da possibilidade de desenvolvimento de resistência bacteriana (5) (10) (16).

0 espectro antimicrobiano da eritromicina compreende os seguintes germes: (espectro "in vivo").

Bacteroides fragilis, Clostridium sp., CI. perfringens, CI. tetani, Corynebacterium sp., Coryneb. diphtheriae, Diplococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Neisseria gonorrhoeae, N. Meningitidis, Staphylococcus aureus, Streptococcus sp., Streptocor :us (anaeróbios) sp., Streptococcus (Grupo A), Streptococcus (B-hemolítico), Streptococcus pyogenes, Streptococcus viridans, Treponema pallïdum, Proteus mirabilis, Mycoplasma sp., Mycoplasma pneumoniae, Mycoplasma hominis, Chlamydia trachomatis, Actinomyces israelii.

MATERIAl:

Este estudo abrangeu 50 crianças com idade entre 2 e 12 anos com infecções otorrinolaringológicas agudas.

MÉTODOS:

Contribuíram neste trabalho vários pediatras e assistentes da disciplina de otorrinolaringologia da Universidade Federal do Paraná.

Os diagnósticos foram efetuados pela sintomatologia, otoscopia, radiografias, e nos casos de amigdalites e rinites foram reconhecidos os germes através de exame bacterioscópico. Por se tratarem de casos agudos, não foram efetuados antibiogramas. Para observarmos a ação da eritromicina em crianças com infecções otorrino laringológicas agudas, utilizamos a forma estearato por via oral, nas doses clássicas de 30 a 50 mg por kg de peso, ao dia, fracionadas a cada 6 horas. A duração do tratamento oscilou entre 4 a 7 dias. A observação da eficiência do antibiótico foi feita clínica e laboratorialmente, quando necessário, e o resultado final, foi classificado como:

MUITO BOM: Melhora imediata do quadro clínico com desaparecimento de sintomas e sinais em 2 dias.
BOM: Melhora rápida dos sintomas e sinais com desaparecimento de sintomas e sinais em 4 dias.
REGULAR: Persistência de 1 dos sinais clínicos, em intensidade discreta após 4 dias de tratamento.
SEM EFEITO: Não houve melhora clínica em relação ao quadro inicial.

CASUÍSTICA:


No quadro I podemos observar os casos incluídos, segundo idade e sexo.


QUADRO I Idade e sexo da casuística estudada.



No-quadro II temos as patologias encontradas na casuística:


QUADRO II Diagnósticos clínicos da casuística estudada (50 casos)



No quadro III encontram-se os dados referentes ao exame bacterioscópico dos casos de amidalites e renites.


QUADRO III Bacterioscopia realizada em 21 pacientes



RESULTADOS:

Os resultados obtidos com o uso de estearato de eritromicina neste estudo podem ser observados no quadro IV.


QUADRO IV Resultados nos pacientes estudados



É possível verificar a incidência de 94% de resultados bastante favoráveis, (muito bons e bons) e 6% de resultados regulares (melhora clínica, porém, persistência de apenas 1 dos sinais: secreção-catarral discreta, após 4 dias de tratamento).

Nos 50 pacientes observados, a tolerância ao estearato de eritromicina foi muito boa e em nenhum dos casos ocorreram fenômenos do tipo perturbações gastrintestinais ou reações alérgicas. Nos casos de n° 6 e 28, houve aparecimento de náuseas discretas, sem ocorrência de vômitos, não sendo necessário suspender a medicação.

CONCLUSÕES:

No estudo por nós efetuado, em 50 crianças, o estearato de eritromicina por sua eficácia terapêutica e por não apresentar efeitos colaterais, mostrou ser o antibiótico de 1 1 escolha nas infecções otorrinolaringológicas agudas em pediatria.

BIBLIOGRAFIA:

1. BADARACCO, J.; MANSILA, E. - Infecções otorrinolaringológicas em pediatria, tratados com etilsuccinato de eritromicina - Sem. Med. (B.Aires) 132:1283, 1968.
2. ROAICE, L.; VAZ, A.; BARROS, J.; SOUZA, N. - O etilsuccinato de eritromicina associado a um broncosecretolltico em pediatria - Folha Med. - Rio de Janeiro - 71:655,,1975.
3. EVERETT, M.T. - Antibiotics in Tonsillitis - Practitioner, 210:421, 1973.
4. MINITI, A.; PAIVA, L.J.; GENSHIRO, A.A.; OLIVEIRA, D.K. - Estudo comparativo do estearato de eritromicina, 250 e 500 mg em infecções otorrinofaringolaringicas - Folha Med. 64:131, 1972.
5. MINITI, A.; GAMA RODRIGUES, J.J.; LUKAISUS, I.G,; GELAS, P.A.R. - Estudo comparativo de atividade antibiótica em infecções bacterianas na prática hospitalar - 0 Hospital 76:479, 1969.
6. KIRBY, W.M.M.; MAPLE, F.M.; O'LEARY, B. - Erythromycin serum concentrations following administration in acid-resistant tablets.- Antibiotic and Chemother. 5:473, 1953.
7. SYLVESTER, J.C.; JOSSELYN, L.E. - Absorption of Erythomycin Antibiot. B Chemother. 9:930, 1953.
8. GRIGSBY, M.E.; JOHNSON, B.J.; SIMMONS, G.W. - Some laboratory and clinical experiences with Erythromycin - Antibiot. £t Chemother. 3:1029, 1953.
9. FIGUEIREDO, A.M.; MARQUES, E.F. - Emprego do lactobionato de eritromicina por via venosa como terapêutica de ataque no tratamento de quadros infecciosos de Pronto Socorro - Folha Med. 62:107, 1971.
10. JACKSON, D.; THOMAS, H.B. - The clinical and bacteriological assessment of a Twice daily formulation of Erythromycin stearate: A general practice study - J. Int. Med. Res. 3:77, 1975.
11. JONES, D.J.; KRONEMER, N. - Parents Response to a drug study. A clinical study of the acceptabiliity and
efficacy of pediatric forms of Erythromycin. Clin. Pediat. 4:137, 1965.
12. TIDWELL, R.A.; LEWIS, D. - Erythromycin prophylaxis: a four year study - Antibiotic Med. I3 Cin. Therapy 7:395, 1959.
13. ROMANSKY, M.J.; NASON, J.P.; DAVIS, D.S.; RITTS Jr, R.E. - Clinicai spectrum of Erythromycin as evaluated in two hundred sixty patients - J. Amer. Med. Ab. 164:1197, 1957.
14. MAY, J.A. - The effectiveness of Erythromycin in the treatment of office patients. Northw. Med., 63:376, 1964.
15. FINLAND, M. - Antibiotics for staphylococcal infections - Med. Cin. N. Amer., 42:1179, 1958.
16. PRINTZ, P.A.; REISER, P.; FLORIO, A. - A comparative study of Erythromycin and Tetracycline in common bacterial infection. Clin. Med., 71:1037, 1964.
17. RUBENSTEIN, V.G. - Erythromycin in Therapy and prophylaxis - Northw. Med. pag. 65:303, 1966.
18. BILLOW, B.W.; THOMPSON, E.A.; STERN, A.,. Flòrio, A. - A clinical study of Erythromycin: a comparative evaluation of several salts Curr. Ther. Res. 6:381, 1964.
19. SHUBIN, H.; GLASKIN, A. - Erythromycin therapy in acute bacterial infections. Clin. Med. 72:513, 1965.
20. COHEN, J.R.; SHUMAN, H.H.; BLAKE, A.; PLOTKIN, L.H. - Empirical use of Erythromycin in pediatric office practice Clin. Med. 72:341, 1965.
21. GRIFFITH, R.S.; BLACK, H.R. - Erythromycin - Pediat. Clin. North Amer. 8:1115, 1961.
22. PALVA, T.; HALLSTRON, 0. - Bacteriology of chronic otitis media Arch. Otolaryng. 82:359, 1965.
23. PUGLIESE, W.M.; MESCHES, D.N.; WIERSUM, J.; HENRIQUEZ, C.L.; KRIVDA, J.F. - Double-blind study: Cleocin palmitate and Erythromycin pediatric in otitis media in children. Curr. Ther. Res. 1:31, 1972..
24. PERALTA, W.E. - Evaluación clinica dei Estearato de Eritromicina en pacientes con infecciones agudas de Ias vias respiratórias superiores e inferiores - El Dia Médico. (B.Aires) - 29:844, 1969.
25. MENON, A.D.; SIMON, S.P.; FERREIRA, R.A. - Ensaio clínico terapêutico de eritromicina, sob a forma de uma nova suspensão para administração oral a cada 12 horas, em diferentes infecções otorrinolaringológicas. Rev. Bras. Clin. Terap. 12:447, 1974.
26. COYAS, A.; ADAMOPOULOS, G. - Suggestions on the conservative treatment of Otitis Media - Int. Surg. 45:300, 1966.
27.DADSWELL, J.V. - Bacteriological findings in acute otitis media-Lancet 1:243, 1967.
28. BJORKWALL, T. - Local Treatment with antibiotics in cases of maxillary sìnusitis - Acta Otolaryng. (Stockholm) 224:338, 1967.
29. GANANÇA, M.M. - 0 uso de supositórios de Eritromicina no tratamento das infecções otorrinolaringológicas da infância. 0 Hospital. 73:1215, 1968.
30.DAWES, J.D.K. - Chemotherapy in infections of the ear, nose and throat. Practtioner 207:735, 1971.
31.DERRICK, C.W.; DILLON, H.C. - Erythromicin in therapy for streptococcal pharyngitis - Am. J. Dis. Child. 130:175, 1976.




Endereço dos Autores:
Bruno Figueiras, 266 80.000 - Curitiba/PR.

* Prof. Titular da disciplina de otorrinolaringologia da Universidade Católica e Universidade Federal do Paraná.
** Monitor da disciplina de otorrinolaringologia da Universidade Federal do Paraná.

Material cedido para ensaio, pela Diretoria Médica de Abbott Laboratórios do Brasil Ltda.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial