INTRODUÇÃO:A medicação de escolha na maioria das infecções otorrinolaringológicas em pediatria, é sempre um antibiótico. Porém, em vista da necessidade imediata de administração, estas substâncias têm sido usadas de diferentes maneiras e em diversas formas, sem que houvesse maior divulgação de suas qualidades e das conseqüências que podem trazer ao organismo da criança, tais como alteração da flora intestinal, fenômenos alérgicos ou, nas aplicações parenterais, trauma psicológico, devido ao impacto causado pela dor.
OBJETIVO:A finalidade deste trabalho clínico, foi estudar a tolerabilidade e eficácia do Estearato de Eritromicina, por via oral, em pacientes pediátricos com infecções otorrinolaringológicas diversas, contribuindo com isto, na terapia dos processos infecciosos da especialidade, evitando o uso de aplicações intramusculares ou endovenosas, em pacientes com menos de 12 anos de idade.
PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS E MICROBIOLÕGICAS DA SUBSTÂNCIA EM ESTUDO:
Eritromicina é o nome genérico do antibiótico derivado do Streptomyces erythreus, e pertence ao grupo dos heterósidos macrolídeos. É um composto básico, com peso molecular 733,9, e sua fórmula estrutural é a seguinte:
Fig. 1 - Estrutura Química da eritromicina.
A Eritromicina base, forma sais prontamente em presença de ácidos. Seus derivados: estearato; etil-succinato e estolato, são fracamente solúveis em água, o que diminui sua inativação pelo suco gástrico, podendo ser usados por via oral (6) (7).
A eritromicina vem se mostrando, durante todos estes anos de uso, como um derivado eficaz e seguro (1) (2) (3) (9) (20) e bem aceito pelas crianças, nas suas formas de administração (11).
CH3
0 estearato de eritromicina, desde sua introdução, raramente levou ao aparecimento de efeitos colaterais, e não induziu quadros de toxicidade hepática, renal ou sanguínea, como atesta a extensa literatura mundial a este respeito (4) (5) (10) (12) (13) (14) (17) (18) (19) (23) (24) (28) (29). Entretanto, o estolato de eritromicina é citado em diversas publicações, relativamente a sua potencial hepatotoxicidade e fenômenos de colestase intra hepática (18) (31) (32) (33) (34) (35) (36) (37).
A eritromicina é altamente ativa contra bactérias gram-positivas, agindo muito bem contra Estafilococos, Estreptococos, Pneumococos (5) (8) (13) (14) (15) (21) (22) (25) (26) (27) (30); mesmo em baixas concentrações, inibe outros microorganismos, exibindo efeitos predominantemente bacteriostáticos. Alguns autores postulam também uma ação bactericida para a eritromicina (8) (16), ressaltando com isto, diminuição da possibilidade de desenvolvimento de resistência bacteriana (5) (10) (16).
0 espectro antimicrobiano da eritromicina compreende os seguintes germes: (espectro "in vivo").
Bacteroides fragilis, Clostridium sp., CI. perfringens, CI. tetani, Corynebacterium sp., Coryneb. diphtheriae, Diplococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Neisseria gonorrhoeae, N. Meningitidis, Staphylococcus aureus, Streptococcus sp., Streptocor :us (anaeróbios) sp., Streptococcus (Grupo A), Streptococcus (B-hemolítico), Streptococcus pyogenes, Streptococcus viridans, Treponema pallïdum, Proteus mirabilis, Mycoplasma sp., Mycoplasma pneumoniae, Mycoplasma hominis, Chlamydia trachomatis, Actinomyces israelii.
MATERIAl:Este estudo abrangeu 50 crianças com idade entre 2 e 12 anos com infecções otorrinolaringológicas agudas.
MÉTODOS:Contribuíram neste trabalho vários pediatras e assistentes da disciplina de otorrinolaringologia da Universidade Federal do Paraná.
Os diagnósticos foram efetuados pela sintomatologia, otoscopia, radiografias, e nos casos de amigdalites e rinites foram reconhecidos os germes através de exame bacterioscópico. Por se tratarem de casos agudos, não foram efetuados antibiogramas. Para observarmos a ação da eritromicina em crianças com infecções otorrino laringológicas agudas, utilizamos a forma estearato por via oral, nas doses clássicas de 30 a 50 mg por kg de peso, ao dia, fracionadas a cada 6 horas. A duração do tratamento oscilou entre 4 a 7 dias. A observação da eficiência do antibiótico foi feita clínica e laboratorialmente, quando necessário, e o resultado final, foi classificado como:
MUITO BOM: Melhora imediata do quadro clínico com desaparecimento de sintomas e sinais em 2 dias.
BOM: Melhora rápida dos sintomas e sinais com desaparecimento de sintomas e sinais em 4 dias.
REGULAR: Persistência de 1 dos sinais clínicos, em intensidade discreta após 4 dias de tratamento.
SEM EFEITO: Não houve melhora clínica em relação ao quadro inicial.
CASUÍSTICA:No quadro I podemos observar os casos incluídos, segundo idade e sexo.
QUADRO I Idade e sexo da casuística estudada.
No-quadro II temos as patologias encontradas na casuística:
QUADRO II Diagnósticos clínicos da casuística estudada (50 casos)
No quadro III encontram-se os dados referentes ao exame bacterioscópico dos casos de amidalites e renites.
QUADRO III Bacterioscopia realizada em 21 pacientes
RESULTADOS:Os resultados obtidos com o uso de estearato de eritromicina neste estudo podem ser observados no quadro IV.
QUADRO IV Resultados nos pacientes estudados
É possível verificar a incidência de 94% de resultados bastante favoráveis, (muito bons e bons) e 6% de resultados regulares (melhora clínica, porém, persistência de apenas 1 dos sinais: secreção-catarral discreta, após 4 dias de tratamento).
Nos 50 pacientes observados, a tolerância ao estearato de eritromicina foi muito boa e em nenhum dos casos ocorreram fenômenos do tipo perturbações gastrintestinais ou reações alérgicas. Nos casos de n° 6 e 28, houve aparecimento de náuseas discretas, sem ocorrência de vômitos, não sendo necessário suspender a medicação.
CONCLUSÕES:
No estudo por nós efetuado, em 50 crianças, o estearato de eritromicina por sua eficácia terapêutica e por não apresentar efeitos colaterais, mostrou ser o antibiótico de 1 1 escolha nas infecções otorrinolaringológicas agudas em pediatria.
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Endereço dos Autores:
Bruno Figueiras, 266 80.000 - Curitiba/PR.
* Prof. Titular da disciplina de otorrinolaringologia da Universidade Católica e Universidade Federal do Paraná.
** Monitor da disciplina de otorrinolaringologia da Universidade Federal do Paraná.
Material cedido para ensaio, pela Diretoria Médica de Abbott Laboratórios do Brasil Ltda.