Versão Inglês

Ano:  1996  Vol. 62   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Relato de Casos

Páginas: 342 a 346

 

Hemangioma de Laringe - Relato de um Caso.

Hemangioma of the Larynx - A Case Relate.

Autor(es): Marcos Antônio Nemetz*;
Christine Aparecida Kindermann**;
Andréa Ruiz Alegria**;
Eduardo Martignago**;
Anderson Augusto Merckle ***.

Palavras-chave: Laringe, neoplasias, hemangioma

Keywords: Larynx, neoplasmas, hemangioma

Resumo:
Os autores apresentam um caso de hemangioma de laringe volumoso, em paciente adulto do sexo feminino, pediculado na região interaritenóidea, diagnosticado por videolaringoestroboscopia. O tratamento cirúrgico utilizado foi a microlaringoscopia de suspensão. Dada a infreqüência desta doença, foi feita a revisão da literatura, comparando-a com o caso em estudo.

Abstract:
A case of a volumous larynx hemangioma in a female adult patient is presented. The diagnosis was by video laryngoscopic and stroboscopic examination. The tumor was in the posterior and lateral larynx wall, and the treatment was surgical endoscopicremoval of the lesion. A literature revision is made comparing with the presented case.

INTRODUÇÃO

Os hemangiomas de laringe são geralmente classificados em duas variedades: os da infância e os dos adultos (1).

Os hemangiomas da infância representam 10% do total e localizam-se quase sempre abaixo das cordas vocais. Podem representar neoplasia verdadeira ou malformação e, na metade das vezes, estão associadas a lesões cutâneas (2, 3, 6). Clinicamente, estas lesões tendem a ser assintomáticas ao nascimento, apresentando ao redor da sexta semana ao sexto mês de vida grau variado de desconforto respiratório. A criança, geralmente, apresenta estridor que pode ser respiratório ou difásico. Pode apresentar, também, rouquidão e disfagia (4).

O desconforto respiratório pode variar de dia para dia - isto é atribuído à variação de pressão venosa na lesão. O raio-X mostra, geralmente, estreitamento sub-glótico. O diagnóstico
é confirmado por laringoscopia direta. A biópsia é, geralmente, desnecessária e perigosa (2,6).

O tratamento do hemangioma no grupo pediátrico é muito difícil e, normalmente, resulta em estenoses. Sua indicação é limitada, sendo que alguns regridem espontaneamente em um ano, nos adultos, os sintomas como rouquidão, tosse, dispnéia e hemoptises geralmente são discretos e de longa duração. Quando os sintomas são intensos, faz-se necessária a remoção. A mesma pode ser feita via endoscópica, por laringofissura ou mesmo com laringectomias parciais ou totais.

RELATO DE UM CASO

C. C. D., 56 anos, sexo feminino, cor branca, natural de Blumenau - SC; com história de incômodo na garganta há vários anos, notando piora do quadro há 1(um) mês com sensação de irritação, queimor, pigarro e, ocasionalmente, disfonia. Através da videolaringoestroboscopia, visualizou-se uma tumoração vascular na laringe, pediculada, de aproximadamente 2 cm de diâmetro, implantada na face posterior da aritenóide esquerda e região interaritenóidea, com projeção para o seio piriforme, obliterando-o parcialmente. Restante do exame ORL normal (Figura 1).

A paciente foi submetida à microlaringoscopia de suspensão, com remoção da tumoração, via endoscópica até o pericôndrio, preservando-o.

À microscopia, os cortes histológicos revelaram mucosa com epitélio pavimentoso estratificado mole, apresentando cório edemaciado ou mixóide, com focos de hemorragia recente, e múltiplos vasos sangüíneos de diversos diâmetros e espessura de sua parede, confirmando a hipótese diagnóstico de hemangioma de laringe.

No sétimo dia do pós-operatório, observou-se a completa remoção tumoral, discreto edema e camada de fibrina, com ótima evolução (Figura 2).






Figura 1. Videofibrolaringoscopia - Hemangioma de Laringe.



Figura 2. Videofibrolaringoscopia - Aspecto do sétimo dia pósoperatório.



DISCUSSÃO

O hemangioma de laringe, em adulto, é patologia rara, mais comum no sexo masculino; os sintomas são pobres sendo, na maioria das vezes, encontrado como achado casual. O tratamento endoscópico normalmente é suficiente.

Segundo a Tabela 1, em aproximadamente, 40%(quarenta por cento) dos pacientes, o hemangioma foi encontrado de forma casual. Em revisão do período de 1955 a 1982 do "EYE AND EAR HOSPITAL OF PITTSBURG" e do "PRESBYTERIAN - UNIVERSITY HOSPITAL" ocorreram 5(cinco) casos, sendo 4(quatro) masculinos e 1(um) feminino, com idade média variando de 17 a 67 anos. Os sintomas predominantes foram: odinofagia- 2, disfagia-1 e, em outros dois, o achado foi casual. Quanto à localização, a ponta da epiglote foi o local mais acometido (dois casos), a prega glosso-epiglótica (um caso) e a região arítenoepiglótica, com seio piriforme em dois casos.

O tratamento endoscópico foi realizado em 3(três) casos, sendo que, nos outros dois, houve necessidade de acesso externo. Dada a baixa freqüência desta doença, principalmente em adultos, não é possível padronizar a conduta. Porém, sempre que possível, a via endoscópica deverá ser a forma escolhida.

CONCLUSÃO

O hemangioma de laringe, em adulto, é doença relativamente rara.

A sintomatologia é inespecífica, sendo a fibrolaringoscopia o método mais eficaz no diagnóstico.

A maioria destas lesões pode ser removida por via endoscópica.

No caso apresentado, instituiu-se esta estratégia de tratamento com cura total da lesão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. SWEETZE R, T. H.- Hemangioma of the larinx. Laryngoscope, 31: 797-801,1921.
2. THOMAS, R.L. - Non-epitelial tumours of the larynx. J. Laryngol. Otol., 93: 1131-1141, 1979.
3. MINITI, A.; BENTO, R.F.; BUTUGAN O. - Otorrinolaringologia - Clínica e Cirúrgica, Ed. Livraria Atheneu, São Paulo, 1993. 220-221
4. BATSAKIS, J.G. - Tumours of the head and neek, clinical and pathological considerations. 2.ª edição. Ed. Williams & Wilkins, Baltimore, USA, 1979.
5. JONES, S.R.; MYERS, E.N. & BARNES, I,. - Benign neoplasms of the larynx. Otolaryngol. Clin. North Am., 17: 151178, 1984.
6. CLELAND, W.J.D. & RIDINE, M.B. - Subglotic hemangiomas in infantis, J. Otolaryngol., 15 119-123, 1986.




* Professor auxiliar da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia da Universidade Regional de Blumenau (FURB).
** Acadêmicos do 6° ano de Medicina da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e estagiários da Seção de Cirurgia da Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Santa Isabel.
*** Acadêmico do 4° ano de Medicina da Universidade Regional de Blumenau (FURB).

ENDEREÇO: Clínica Marcos Antônio Nemetz - Rua Marechal Floriano Peixoto, 300-S1. 24- Blumenau -SC- Cep. 89010-500-Fone: (047) 326-3790 - Fax: (047) 326-0417.

Artigo recebido em 21 de novembro de 1995.
Artigo aceito em 19 de janeira de 1996.

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