INTRODUÇÃOOs hemangiomas de laringe são geralmente classificados em duas variedades: os da infância e os dos adultos (1).
Os hemangiomas da infância representam 10% do total e localizam-se quase sempre abaixo das cordas vocais. Podem representar neoplasia verdadeira ou malformação e, na metade das vezes, estão associadas a lesões cutâneas (2, 3, 6). Clinicamente, estas lesões tendem a ser assintomáticas ao nascimento, apresentando ao redor da sexta semana ao sexto mês de vida grau variado de desconforto respiratório. A criança, geralmente, apresenta estridor que pode ser respiratório ou difásico. Pode apresentar, também, rouquidão e disfagia (4).
O desconforto respiratório pode variar de dia para dia - isto é atribuído à variação de pressão venosa na lesão. O raio-X mostra, geralmente, estreitamento sub-glótico. O diagnóstico
é confirmado por laringoscopia direta. A biópsia é, geralmente, desnecessária e perigosa (2,6).
O tratamento do hemangioma no grupo pediátrico é muito difícil e, normalmente, resulta em estenoses. Sua indicação é limitada, sendo que alguns regridem espontaneamente em um ano, nos adultos, os sintomas como rouquidão, tosse, dispnéia e hemoptises geralmente são discretos e de longa duração. Quando os sintomas são intensos, faz-se necessária a remoção. A mesma pode ser feita via endoscópica, por laringofissura ou mesmo com laringectomias parciais ou totais.
RELATO DE UM CASOC. C. D., 56 anos, sexo feminino, cor branca, natural de Blumenau - SC; com história de incômodo na garganta há vários anos, notando piora do quadro há 1(um) mês com sensação de irritação, queimor, pigarro e, ocasionalmente, disfonia. Através da videolaringoestroboscopia, visualizou-se uma tumoração vascular na laringe, pediculada, de aproximadamente 2 cm de diâmetro, implantada na face posterior da aritenóide esquerda e região interaritenóidea, com projeção para o seio piriforme, obliterando-o parcialmente. Restante do exame ORL normal (Figura 1).
A paciente foi submetida à microlaringoscopia de suspensão, com remoção da tumoração, via endoscópica até o pericôndrio, preservando-o.
À microscopia, os cortes histológicos revelaram mucosa com epitélio pavimentoso estratificado mole, apresentando cório edemaciado ou mixóide, com focos de hemorragia recente, e múltiplos vasos sangüíneos de diversos diâmetros e espessura de sua parede, confirmando a hipótese diagnóstico de hemangioma de laringe.
No sétimo dia do pós-operatório, observou-se a completa remoção tumoral, discreto edema e camada de fibrina, com ótima evolução (Figura 2).
Figura 1. Videofibrolaringoscopia - Hemangioma de Laringe.
Figura 2. Videofibrolaringoscopia - Aspecto do sétimo dia pósoperatório.
DISCUSSÃOO hemangioma de laringe, em adulto, é patologia rara, mais comum no sexo masculino; os sintomas são pobres sendo, na maioria das vezes, encontrado como achado casual. O tratamento endoscópico normalmente é suficiente.
Segundo a Tabela 1, em aproximadamente, 40%(quarenta por cento) dos pacientes, o hemangioma foi encontrado de forma casual. Em revisão do período de 1955 a 1982 do "EYE AND EAR HOSPITAL OF PITTSBURG" e do "PRESBYTERIAN - UNIVERSITY HOSPITAL" ocorreram 5(cinco) casos, sendo 4(quatro) masculinos e 1(um) feminino, com idade média variando de 17 a 67 anos. Os sintomas predominantes foram: odinofagia- 2, disfagia-1 e, em outros dois, o achado foi casual. Quanto à localização, a ponta da epiglote foi o local mais acometido (dois casos), a prega glosso-epiglótica (um caso) e a região arítenoepiglótica, com seio piriforme em dois casos.
O tratamento endoscópico foi realizado em 3(três) casos, sendo que, nos outros dois, houve necessidade de acesso externo. Dada a baixa freqüência desta doença, principalmente em adultos, não é possível padronizar a conduta. Porém, sempre que possível, a via endoscópica deverá ser a forma escolhida.
CONCLUSÃOO hemangioma de laringe, em adulto, é doença relativamente rara.
A sintomatologia é inespecífica, sendo a fibrolaringoscopia o método mais eficaz no diagnóstico.
A maioria destas lesões pode ser removida por via endoscópica.
No caso apresentado, instituiu-se esta estratégia de tratamento com cura total da lesão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. SWEETZE R, T. H.- Hemangioma of the larinx. Laryngoscope, 31: 797-801,1921.
2. THOMAS, R.L. - Non-epitelial tumours of the larynx. J. Laryngol. Otol., 93: 1131-1141, 1979.
3. MINITI, A.; BENTO, R.F.; BUTUGAN O. - Otorrinolaringologia - Clínica e Cirúrgica, Ed. Livraria Atheneu, São Paulo, 1993. 220-221
4. BATSAKIS, J.G. - Tumours of the head and neek, clinical and pathological considerations. 2.ª edição. Ed. Williams & Wilkins, Baltimore, USA, 1979.
5. JONES, S.R.; MYERS, E.N. & BARNES, I,. - Benign neoplasms of the larynx. Otolaryngol. Clin. North Am., 17: 151178, 1984.
6. CLELAND, W.J.D. & RIDINE, M.B. - Subglotic hemangiomas in infantis, J. Otolaryngol., 15 119-123, 1986.
* Professor auxiliar da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia da Universidade Regional de Blumenau (FURB).
** Acadêmicos do 6° ano de Medicina da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e estagiários da Seção de Cirurgia da Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Santa Isabel.
*** Acadêmico do 4° ano de Medicina da Universidade Regional de Blumenau (FURB).
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Artigo recebido em 21 de novembro de 1995.
Artigo aceito em 19 de janeira de 1996.