Ano: 1996 Vol. 62 Ed. 1 - Janeiro - Fevereiro - (11º)
Seção: Relato de Casos
Páginas: 80 a 82
Hipoplasia de Seio Maxilar: Relato de Dois Casos.
Maxillary Sinus Hipoplasia: Report of Two Cases.
Autor(es):
Priscila Bolgar *
Adriane Iurck Zonato **
Ossamu Butugan ***
Aroldo Miniti ****
Palavras-chave: hipoplasia, seio maxilar
Keywords: hipoplasia, maxillary sinus
Resumo:
Os autores apresentam dois casos de hipoplasia de seio maxilar em crianças que apresentavam várias radiografias simples com velamento de seio maxilar unilateral. Estavam sendo acompanhadas pelo pediatra com diagnóstico de sinusite crônica, tendo sido submetidas a vários tratamentos com antibióticos, antihistamínicos e corticóides. O diagnóstico somente foi firmado quando foi realizada a tomografia computadorizada. Enfatiza-se a importância da realização de tomografia computadorizada nos casos de suspeita de sinusite crônica para a diferenciação diagnóstica.
Abstract:
The authors present two cases of maxillary sinus hipoplasia in children that had several plain X Rays showing unilateral maxillary sinus opacification. They were been treated by pediatrician forchronic sinusitis with antibiotics, antihistaminics and steroids. The diagnostic was made only with the CT scan. The importance of the scan realization is emphasized in lhe cases of chronic sinusitis to right diagnosis.
INTRODUÇÃO
A hipoplasia de seio maxilar é rara alteração anatômica e desenvolvimento dos seios paranasais. O diagnóstico da ipoplasia do seio maxilar pode ser feito através de adiografia simples, sendo o diagnóstico de certeza pela tomografia computadorizada (1). O desenvolvimento embriológico do seio maxilar inicia-se no 4° mês de gestação como uma invaginação da mucosa do centro do meato médio, com extensão desta para dentro do osso maxilar. Após o nascimento, o seio maxilar continua seu desenvolvimento. No recém nascido, não é rotineiramente visualizado ao RX simples; aos 6 anos de idade, o soalho do antro está ao nível do corneto médio e somente aos 15 anos de idade está totalmente desenvolvido (2).
Karmody et al.(3) estudaram 750 pacientes com anomalia de desenvolvimento de seio maxilar através de radiografias simples, encontrando aplasia em 0,4%, hipoplasia bilateral em 7,2% e hipoplasia unilateral em 1,7%. Descreveram que o seio maxilar com aplasia ou hipoplasia aparece opacificado ao RX simples, o assoalho da órbita apresenta-se rebaixado, causando aumento da órbita ipsilateral, e a parede entre a fossa nasal e o seio hipoplásico está lateralmente deslocada.
Milczuk at a1.(4) revisaram tomografias computadorizadas de 114 pacientes que tinham sido operados através de cirurgia endoscópica funcional e encontraram 20 pacientes (17,5% ) com
Hipoplasia do seio maxilar, sendo 18 unilaterais e 2 bilaterais. Os principais achados tomográficos que acompanhavam a hipoplasia foram: alteração da mucosa sinusal na totalidade dos casos, deslocamento lateral do processo uncinato em forma de "C", ausência de processo uncinato e alargamento de órbita.
Michel et al. (1) descreveram 3 pacientes com hipoplasia de seio maxilar unilateral, chamando atenção para o fato de todos apresentarem depressão do soalho do seio frontal e do soalho da órbita, aumento do volume da órbita ipsilateral e deslocamento da parede lateral do nariz. O aumento orbitário encontrado nos pacientes com hipoplasia do seio maxilar pode levar ao diagnóstico errôneo de tumores orbitários, e o deslocamento lateral da fossa nasal pode simular destruição óssea, sendo então a tomografia computadorizada importante para afastar essas suspeitas (5).
O objetivo deste trabalho é descrever dois casos de hipoplasia de seio maxilar em crianças com o diagnóstico de sinusite crônica, tendo sido submetidas a várias terapias medicamentosas em vão. Descrevemos o estudo tomográfico e discutimos o diagnóstico diferencial na suspeita de sinusite crônica rebelde ao tratamento clínico.
Figura 1. Rx simples de seios da face (Waters), mostrando opacificação total do seio maxilar esquerdo.
Figura 2. Hipoplasia do seio maxilar esquerdo vista em corte coronal de tomografia computadorizada.
RELATO DE CASO
Caso 1: MSA, 04 anos, masculino, atendido ambulatorialmente devido a quadro de amigdalites de repetição e obstrução nasal, acompanhadas de rinorréia aquosa e prurido nasal. Apresentou, em uma das consultas, sintomas de infecção de vias aéreas superiores e exame físico com amigdalite purulenta e secreção amarelada em fossas nasais. Foi solicitado RX de seios da face, que mostrou velamento de seio maxilar esquerdo, com seio maxilar direito normal (Fig. 1). A imagem radiológico permaneceu inalterada apesar dos tratamentos com antibioticoterapia, e por este motivo solicitou-se tomografia computadorizada que mostrou a hipoplasia do seio maxilar esquerdo (Fig. 2).
Caso 2 : CLR, 06 anos, masculino, com quadro clínico de obstrução nasal constante, que piorava ao contato com pó: apresentou, durante a investigação, RX de cavum com hipertrofia leve de adenóide e RX de seios da face com velamento de seio maxilar direito. Segundo a mãe, a criança era alérgica à penicilina. Realizaram-se dois tratamentos com antibioticoterapia, antihistamínico e lavagem nasal com soro fisiológico. O paciente melhorou da obstrução nasal, porém permaneceu com velamento de seio maxilar direito ao RX. Devido à permanência do aspecto radiológico, tomografia computadorizada de seios da face foi realizada, onde observou-se hipoplasia de seio maxilar direito com espessamento de mucosa sinusal (Fig. 3).
DISCUSSÃO
A assimetria do seio maxilar com parcial ou total opacificação em RX simples pode levar a diagnóstico incorreto de sinusite crônica. Seios pequenos unilaterais levam a vários tratamentos com antibióticos, descongestionantes e corticóides (6). Nos casos descritos, as crianças receberam pelo menos três séries de antibioticoterapia, sendo que além dos efeitos adversos causados pela própria droga, tanto a criança como os familiares sofreram estresse emocional, criando insegurança no relacionamento médico-paciente.
Milczuk et al.(4) afirmam que o seio maxilar hipoplásico é mais susceptível a quadro infeccioso, provavelmente relacionado à anatomia aberrante do processo uncinato ipsilateral que impediria o "clearence" mucociliar. Acreditamos, porém, que a hipoplasia de seio maxilar é achado radiológico, e sem dúvida sugerimos mais estudos radiológicos em pacientes que apresentam sintomas nasais.
Figura 3. Criança de 7 anos de idade que vinha sendo tratada clinicamente de sinusite crônica. a. Tomografia computadorizada em corte axial, revelando seio maxilar direito hipoplásico. b. Corte coronal de tomografia computadorizada onde observa-se, além da hipoplasia de seio maxilar, velamento de parte das células etmoidais à direita.
Fica a dúvida se, na população em geral, ou seja, naquela sintomas sinusais, a freqüência é a mesma.
A tomografia computadorizada do nariz e seios paranasais permite avaliação detalhada da anatomia do complexo sinusal e das estruturas adjacentes como a órbita e fossa nasal, sendo mandatória na avaliação pré-operatória da cirurgia endoscópica, fornecendo além do diagnóstico de certeza, reparos anatômicos para a cirurgia.
É importante que radiologistas, otorrinos, oftalmologistas e pediatras estejam familiarizados com as ações de desenvolvimento do seio maxilar para que não ocorram diagnósticos errôneos e tratamentos desnecessários.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
1. MODIC,M.T.; WEINSTEIN,M.A.; BERLIN,A.J.; HESNEAU,P.M. - Maxillary Sinus Hipoplasia Visualized with Computed Tomography. Radiology 135:383-385,1980.
2. DAVID W.B. - Anatomy of the Nasal Accessory Sinuses in Infancy and Chilhood. Ann Otol Rhinol Laryngol 27: 940-967,1918.
3. KARMODY C.S.; CARTER B.; VINCENT M.E. - Developmental Anomalies of the Maxillary Sinus. Trans Am Acad Ophthalmol Otolaryngol 84(1):723-728,1977.
4. MILCZUK,H.A.; DALLEY,R.W.; WESSBACHER, F.W.; RICHARDSON,M.A. - Nasal and Paranasal Sinus Anomalies in Children with Chronic Sinusitis. Laryngoscope 103:247-252,1993.
5. ROGERS F.L. - Disorders of the Head and Neck Syllabus (Second Series). American College of Radiology 12:128-137,1977.
6. JONAS I.; MANN W. -. Misleading X-Ray Diagnosis due to Maxillary Sinus Asymmetries. Laryngol Rhinol Otol (Stugg)55:905-913,1976.
* Doutora em Otorrinoloringologia pela FMUSP, Médica Assistente do HC da FMUSP.
** Médica Residente da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do HC da FMUSP.
*** Professor adjunto da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do HC da FMUSP.
**** Professor titular da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do HC da FMUSP.
Trabalho Realizado na Disciplina de Oftalmologia e Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e LIM 32.
Endereço dos autores: Av. Eneas de Carvalho Aguiar 255, 6° andar, São Paulo-SP,
CEP 05403-000
Artigo recebido em 21/08/95.
Artigo aceito em 30/09/95.