Ano: 1983 Vol. 49 Ed. 3 - Julho - Setembro - (6º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 37 a 39
USO DA DURA- MATER EM TIMPANOPLASTIA
Autor(es):
AROLDO MINITI
JOSÉ CELSO RODRIGUES DE SOUZA
OSWALDO LAERCIO MENDONÇA CRUZ
LAMARTINE JUNQUEIRA PAIVA
INTRODUÇÃO
Vários materiais têm sido empregados como enxerto na cirurgia reconstrutiva da membrana timpânica. Fáscia temporal, membrana timpânica obtida em cadáver (homoenxerto), esclera e pericárdio são alguns exemplos. Aceita-se, atualmente, que os enxertos homólogos são os preferíveis. A razão disto é a melhor integração deste material com os tecidos do ouvido médio e externo do receptor, não ocorrendo reação tipo corpo estranho, menor incidência de infecção, com maior sucesso reconstrutivo e funcional.
Dentro desta perspectiva, a dura-máter apresenta-se como um material de enorme viabilidade nas cirurgias reparadoras do ouvido médio, pois, além de ser enxerto homólogo, possui características de preparo e manuseio que superam, em praticidade, a fáscia temporal que é o material mais largamente utilizado.
Uma vez que em nosso serviço, empregando-se a dura-máter, os índices de "pega" do enxerto e fechamento da perfuração têm sido superponíveis àqueles obtidos com a utilização da fáscia temporal, a proposição deste estudo foi analisar o resultado funcional que se pode esperar utilizando-se aquele material. Sessenta e cinco casos, em que houve sucesso, do ponto de vista reconstrutivo, foram selecionados para então analisar-se o ganho auditivo.
Os resultados, também sob este aspecto, mostraram-se muito satisfatórios confirmando nossa opinião de que a dura-máter é o material recomendado em timpanoplastias.
MATERIAL E MÉTODOS
Seleção dos Casos: Sessenta e cinco pacientes portadores de seqüela de otite média crônica foram selecionados para timpanoplastia. Após a inspeção cirúrgica do ouvido médio ter revelado mucosa e cadeia ossicular normais, a cirurgia realizada em todos os casos foi a timpanoplastia tipo 1.
A via utilizada foi a endoaural, na maioria dos casos, reservando-se a via retroauricular para os casos em que a via endoaural apresentava-se limitada. A seguir, preparação do retalho tímpano-meatal de grande dimensão, após incisão da pele do conduto auditivo externo, e, deslocamento subperiostal até o anulotimpânico. Abertura do ouvido médio com elevação do ânulo e inspeção da cavidade timpãnica. Colocação do enxerto de dura-máter sob o cabo do martelo, sob os restos da membrana eventualmente existentes e sob o retalho. Quando a perfuração localizava-se ou estendia-se mais anteriormente, um retalho anterior era realizado.
Preenchimento da caixa e do conduto externo com gelfoam. Curativo externo oclusivo para via endoaural. O tempo de acompanhamento variou de dois meses a dois anos.
Preparação e Conservação da Dura-Máter: Retirada de cadáver fresco, cuja causa mortis não tenha sido infecciosa.
A meninge das regiões frontal e parietal são, normalmente, as que melhor se prestam para enxertia por serem mais lisas e regulares. A dura-máter de criança apresenta, como vantagem adicional, menor espessura. Após a remoção faz-se lavagem exaustiva em água corrente, eliminando-se os restos teciduais e o sangue eventualmente existentes.
Em seguida, imersão em glicerina pura em frasco estéril-hermeticamente fechado, onde é deixada por 60 dias, quando apresenta-se apta para o uso.
Tabela 1 - Dados obtidos para cada paciente.
RESULTADOS
A tabela I mostra em detalhe os resultados obtidos. Foram estudados 65 pacientes: 33 do sexo feminino e 32 do sexo masculino.
A idade variou entre cinco e 59 anos, com média de 24,16 anos.
Quanto à recuperação do "gap" audiométrico no pós-operatório, obtivemos uma média geral de ganho nas quatro freqüências de 250, 500, 1000 e 2000 Hz de 23,30 dB, com uma média por freqüência de 27,00 dB para Hz, 25,96 dB para 500 Hz, 22,77 para 1000 Hz e 18,05 dB para a freqüência de 2000 Hz.
DISCUSSÃO
A dura-máter pode ser apontada como material adequado para a utilização em cirurgia reparadora da membrana timpãnica. Suas qualidades mais importantes são: facilidade de obtenção, facilidade de armazenamento, facilidade de manuseio durante o ato cirúrgico devido sua consistência firme, e, a possibilidade de bons resultados funcionais e reconstrutivos.
Como fator que pode limitar o sucesso cirúrgico, poderíamos citar a infecção pós-operatória, que pode ser devido a contaminação pré ou transoperatória do ouvido médio ou em decorrência de infecção das vias aéreas superiores. Em perfuração ampla ou total observou-se, em alguns casos, uma necrose central do enxerto, deixando uma perfuração pós-cirúrgica. Isto pode, inclusive, ocorrer até dois meses após o ato operatório, Do ponto de vista funcional, os resultados obtidos pelos autores com a dura-máter foram considerados bons, semelhantes aos obtidos com fáscia temporal em nossa clínica.
BIBLIOGRAFIA
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Otolaryngologic Clinics of North Am.,
Trabalho realizado na Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.