INTRODUÇÃOVários materiais têm sido empregados como enxerto na cirurgia reconstrutiva da membrana timpânica. Fáscia temporal, membrana timpânica obtida em cadáver (homoenxerto), esclera e pericárdio são alguns exemplos. Aceita-se, atualmente, que os enxertos homólogos são os preferíveis. A razão disto é a melhor integração deste material com os tecidos do ouvido médio e externo do receptor, não ocorrendo reação tipo corpo estranho, menor incidência de infecção, com maior sucesso reconstrutivo e funcional.
Dentro desta perspectiva, a dura-máter apresenta-se como um material de enorme viabilidade nas cirurgias reparadoras do ouvido médio, pois, além de ser enxerto homólogo, possui características de preparo e manuseio que superam, em praticidade, a fáscia temporal que é o material mais largamente utilizado.
Uma vez que em nosso serviço, empregando-se a dura-máter, os índices de "pega" do enxerto e fechamento da perfuração têm sido superponíveis àqueles obtidos com a utilização da fáscia temporal, a proposição deste estudo foi analisar o resultado funcional que se pode esperar utilizando-se aquele material. Sessenta e cinco casos, em que houve sucesso, do ponto de vista reconstrutivo, foram selecionados para então analisar-se o ganho auditivo.
Os resultados, também sob este aspecto, mostraram-se muito satisfatórios confirmando nossa opinião de que a dura-máter é o material recomendado em timpanoplastias.
MATERIAL E MÉTODOSSeleção dos Casos: Sessenta e cinco pacientes portadores de seqüela de otite média crônica foram selecionados para timpanoplastia. Após a inspeção cirúrgica do ouvido médio ter revelado mucosa e cadeia ossicular normais, a cirurgia realizada em todos os casos foi a timpanoplastia tipo 1.
A via utilizada foi a endoaural, na maioria dos casos, reservando-se a via retroauricular para os casos em que a via endoaural apresentava-se limitada. A seguir, preparação do retalho tímpano-meatal de grande dimensão, após incisão da pele do conduto auditivo externo, e, deslocamento subperiostal até o anulotimpânico. Abertura do ouvido médio com elevação do ânulo e inspeção da cavidade timpãnica. Colocação do enxerto de dura-máter sob o cabo do martelo, sob os restos da membrana eventualmente existentes e sob o retalho. Quando a perfuração localizava-se ou estendia-se mais anteriormente, um retalho anterior era realizado.
Preenchimento da caixa e do conduto externo com gelfoam. Curativo externo oclusivo para via endoaural. O tempo de acompanhamento variou de dois meses a dois anos.
Preparação e Conservação da Dura-Máter: Retirada de cadáver fresco, cuja causa mortis não tenha sido infecciosa.
A meninge das regiões frontal e parietal são, normalmente, as que melhor se prestam para enxertia por serem mais lisas e regulares. A dura-máter de criança apresenta, como vantagem adicional, menor espessura. Após a remoção faz-se lavagem exaustiva em água corrente, eliminando-se os restos teciduais e o sangue eventualmente existentes.
Em seguida, imersão em glicerina pura em frasco estéril-hermeticamente fechado, onde é deixada por 60 dias, quando apresenta-se apta para o uso.
Tabela 1 - Dados obtidos para cada paciente.
RESULTADOSA tabela I mostra em detalhe os resultados obtidos. Foram estudados 65 pacientes: 33 do sexo feminino e 32 do sexo masculino.
A idade variou entre cinco e 59 anos, com média de 24,16 anos.
Quanto à recuperação do "gap" audiométrico no pós-operatório, obtivemos uma média geral de ganho nas quatro freqüências de 250, 500, 1000 e 2000 Hz de 23,30 dB, com uma média por freqüência de 27,00 dB para Hz, 25,96 dB para 500 Hz, 22,77 para 1000 Hz e 18,05 dB para a freqüência de 2000 Hz.
DISCUSSÃOA dura-máter pode ser apontada como material adequado para a utilização em cirurgia reparadora da membrana timpãnica. Suas qualidades mais importantes são: facilidade de obtenção, facilidade de armazenamento, facilidade de manuseio durante o ato cirúrgico devido sua consistência firme, e, a possibilidade de bons resultados funcionais e reconstrutivos.
Como fator que pode limitar o sucesso cirúrgico, poderíamos citar a infecção pós-operatória, que pode ser devido a contaminação pré ou transoperatória do ouvido médio ou em decorrência de infecção das vias aéreas superiores. Em perfuração ampla ou total observou-se, em alguns casos, uma necrose central do enxerto, deixando uma perfuração pós-cirúrgica. Isto pode, inclusive, ocorrer até dois meses após o ato operatório, Do ponto de vista funcional, os resultados obtidos pelos autores com a dura-máter foram considerados bons, semelhantes aos obtidos com fáscia temporal em nossa clínica.
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Otolaryngologic Clinics of North Am.,
Trabalho realizado na Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.