Versão Inglês

Ano:  1997  Vol. 63   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 239 a 241

 

PÓLIPOS ENDAURAIS - A ANÁLISE DE 26 CASOS.

Aural Polyps - Report of 26 Cases.

Autor(es): Jorge Henrique Arraes de Alencar Pierre*

Palavras-chave: pólipos, ouvido

Keywords: ear, polyps

Resumo:
Os pólipos enlourais geralmente estão associados a otite média crônica. Revisamos os prontuários de 26 pacientes portadores de pólipos endaurais que foram submetidos a cirurgia entre março de 1992 e março de 1996, com o objetivo de avaliar a freqüência de otite média crônica colesteatomatosa. Neste estudo, 16 pacientes apresentavam colesteatoma (61,6%), contra 10 (38,4%) que apresentavam otite média crônica não olesteatomatosa. Vinte e dois pacientes foram submetidos cirurgia definitiva no primeiro tempo, dos quais 16 foram submetidos a mastoidectomia radical modificada; e 6, a timpanoplastia. Os quatro pacientes restantes foram operados em um segunda tempo, porque as condições locais do ouvido médio eram impróprias para a timpanoplastia.

Abstract:
The endaural polyps are usually associated to chronic otitis media. We studied 26 patients who had endaural polyps and underwent surgery, from march 1992 to march 1996, to analyse how frequent is cholesteatoma in this cases. Sixteen had cholesteatoma (61.6 percent) and-ten had chronic otitis media without cholesteatoma (38.4 percent). Of the 22 patients who underwent a definitive operation on a first time, 16 undewent a modified radical mastoidectomy and 6 underwent a tympanoplasty. Four patients were operated on a second time, because there were no good conditions in the middle ear to go on a tympanoplasty.

INTRODUÇÃO

Pólipos endaurais são relativamente freqüentes na prática diária, geralmente causados por uma otite média crônica. Muitas vezes leva a dificuldades diagnóstica por ocluir o conduto auditivo externo, não deixando ver a membrana timpânica. Uma dificuldade particularmente importante é saber da presença ou não de um colesteatoma subjacente, o que é essencial para um bom planejamento cirúrgico. Outras doenças também podem se manifestar como pólipos aurais, algumas delas malignas, o que nos obriga a ter atenção especial no manejo desta patologia.

Neste trabalho selecionamos 26 pacientes com pólipo endaural submetidos a cirurgia otológica, com o objetivo de avaliar a freqüência de aparecimento de colesteatoma e discutir a abordagem clínica e cirúrgica mais apropriada.

MATERIAL E MÉTODOS

Foi feito um levantamento retrospectivo de 26 prontuários de pacientes portadores de pólipos endaurais operados entre março de 1992 e março de 1996 no Hospital e Maternidade São Vicente de Pauta (Barbalha/ CE) e na Casa de Saúde e Maternidade São Miguel (Crato/ CE). Incluímos no estudo somente pacientes sem cirurgia otológica prévia. Os prontuários foram analisados em relação aos achados cirúrgicos e à técnica cirúrgica empregada; e os dados foram comparados com a literatura.

RESULTADOS

Vinte e seis pacientes, 16- do sexo feminino e 10 do sexo masculino, com idade variando entre 10 e 54 anos, foram selecionados. Dez pacientes (38,4%) não apresentaram qualquer indício de colesteatoma após a remoção elo pólipo e 6 deles foram submetidos a timpanoplastia no mesmo tempo cirúrgico. Os outros quatro, devido às condições inadequadas do ouvido médio, foram operados em um segundo tempo. Os 16 pacientes restantes (61,6%) foram submetidos a mastoidectomia radical modificada, por apresentarem colesteatoma. Não foram encontradas outras causas para os pólipos.

DISCUSSÃO

O pólipo endaural geralmente representa um sinal de otite média crônica, seja simples ou colesteatomatosa. Devemos estar atentos entretanto para outras lesões que podem se apresentar como pólipo endaural, como por exemplo) o osteoma (Toma e Fisher, 1992)1, Ou lesões mais graves como o paraganglioma jugular ou timpânico (Lahoz Zamarro, 1990)2, a otite externa maligna (Ferreira et al., 1990)3, o melanoma Wang et al., 1991)4 e o granuloma eosinofílico (De Rowe, 1995)5.

Willians et al. (1989)6, investigando a causa de pólipos, endaurais, na tentativa de achar um fator de predição para o colesteatoma, concluíram que nem a duração dos sintomas nem o grau de comprometimento condutivo da audição nem o estudo bacteriológico têm qualquer valor identificação da causa do pólipo. Gliklich (1993)7, estudar a causa de pólipos acarais cru crianças, discorda deste último, ao relatar que a perda condutiva de audição, assim como recorrência do pólipo, geralmente é relacionada com colesteatoma.

Hussain (1991)8 realizou estudo histológico de pólipos endaurais concluindo que não há relação entre os achados histológicos e a presença ou não de colesteatoma, discordar do trabalho publicado anteriormente por Milroy et al. (1989)9, onde pólipos contendo queratina e tecido de granulação têm probabilidade de 70 a 80(1u ele apresentarem um colesteatoma como fator causal.

O estudo radiológico do osso temporal na presença de pólipo endaural é um valioso auxiliar na identificação colesteatoma, onde observamos a presença de uma massa de tecido de baixa densidade associada à evidência erosão óssea (Willians et al., 1989)6.

O tratamento dos pólipos endaurais é controverso Willians et al. (1989)6 preconizam inicialmente a polipos endaural, com a qual obtiveram 58,3% de bons resultados, em relação à otorréia, reservando a exploração da mastóide para aqueles casos altamente sugestivos clinicamente ou com evidência radiológica de colesteatoma. Hussain (1991)8 prefere abordar o pólipo sob anestesia geral, fazendo logo a mastoidectomia nos casos indicados. Este mesmo autor (1992)10, utilizando tratamento tópico com esteróide associados a antibióticos, notou uma diminuição da atividade da doença, o que favorece a abordagem cirúrgica. De Rowe (1995)5 e Milroy (1989)9 enfatizam a necessidade de biópsia e tomografia computadorizada antes do procedimento cirúrgico, para detectar precocemente patologias mais graves.

A nossa conduta diante de um caso de pólipo endaural tem sido a de submeter o paciente a cirurgia com anestesia geral, fazendo logo a mastoidectomia nos casos de colesteatoma e a timpanoplastia nos casos em que as condições do violo médio estiverem propícias, reservando para um segui tempo aquelas em que as condições sejam inadequada.

Solicitamos sempre exame radiológico simples incidência de Schüller e Stenvers, antes ela cirurgia, tentar detectara presença de sinais sugestivos de colesteatoma nos casos em que clinicamente isto não for possível. Obviamente, a tomografia computadorizada seria o exame mais indicado. Porém, apesar de já contarmos na região com serviços de radiologia capazes de efetuar o exame, as condições socio-econômicas dos pacientes operados, todos pelo Sistema Único de Saúde, não nos permitem usar este me como rotina.

No presente estudo, que incluiu tanto crianças quanto adultos, o percentual de colesteatoma foi de 61,6% dos casos. Glicklich (1993)7, estudando crianças, encontrou uma incidência de apenas 2911/o de colesteatornas.

Dado curioso que merece ser relatado é o tamanho dos pólipos endaurais encontrados pelos autores citados, onde a maioria não chega sequer a preencher completamente canal auditivo externo, sendo referidos em relação ao tamanho percentual em relação ao tímpano. Neste estudo, em todos os casos o pólipo ocluía completamente a luz do canal auditivo externo; e alguns deles chegavam a exteriorizar-se no meato. Um destes pólipos, o maior deles, exteriorizava-se por uma fístula retroauricular provocada por um colesteatoma (Fotos 1 e 2).

CONCLUSÕES

1- Os pólipos endaurais representam, na maioria dos casos, otite média crônica. Neste estudo 61,6% estavam associados a um colesteatoma subjacente.

2- Não devemos esquecer que por trás de um pólipo endaural pode estar uma doença mais grave, como um glomus jugular, uma otite externa maligna, um melanoma ou mesmo um granuloma eosinofílico.

3- O tratamento dos pólipos inflamatórios é essencialmente cirúrgico, podendo ser precedido de um tratamento tópico, na tentativa de se melhorarem as condições locais para a cirurgia.



Foto 1



Foto 2



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. TOMA A. G. & FISHER E. W. - Osteoma of the external auditory meatus presenting as an aura] polyp. J. Laryngol. Otol.; 107 (10); 935-6, 1993.
2. LAHOZ ZAMARRO M. T. - Paraganglioma yugular: presentación en forma de poupo aural. An. Otorrinolaringol, Ibero Am.; 17 (1), 23-32, 1990.
3. FERREIRA N. G., PIERRE J. H. A. A. et al. - Otite externa maligna: antibioticoterapia com quinolonas. F. Méd.(BR); 101 (5-6); 311-314, 1990.
4. KANG S. et al - Primary malignant melanoma of the extenal auditory canal: a case report with presentation as an aural polyp. Am. J. Otol.; 13 (2); 194-6, 1992.
5. De ROWE A., BERNHEIM J. et al. - Eosinophilic granuloma presenting as chronic otites media: pitfalls in the diagnosis of aural polyps in children. J. Otolaryngol.; 24 (4); 258-60, 1995.
6. WILLIAMS S, R et al. - Management of the inflamatory aural polyps. J. Laryngol. Otol.; 103 (11), 1040-2, 1989.
7.GLIKLICH R. E., CONNINGHAN M. J. et al. - The cause of aural polyps in children. Arch. Otolaryngol. Head Neck Surg.; 119 (0; 669-71, 1993.
8. HUSSAIN S. S. - Conservative treatment in the management ol inflamatcny aural polyp. J. Laryngol. Otol.; 106 (4), 313-5, 1992. 9. MILROY C. M. et al. -Aura] polyps as predictors of underiyin Cholesteatorna. J. Clin. Pathol.; 42 (5); 460-5, 1989.
10. HUSSAIN S. S - Hystology of aura] polyp as an predictor~ of the middle ear disease activity. J. Laryngol. Otol.; 105 (4); 268-9, 1991




* Mestre em Otorrinolaringologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Trabalho realizado na Casa de Saúde e Maternidade São Miguel (Crato / CE) e Hospital São Vicente de Paula (Barbalha / CE).

Endereço do Autor: Rua Senador Pompeu, 458, Crato / CE, CEP: 63.100-000/ E-Mail: bri2092@brme.bireme.br

Artigo recebido em 9 de julho de 1996. Artigo aceito em 22 de agosto de 1996.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial