Ano: 1997 Vol. 63 Ed. 1 - Janeiro - Fevereiro - (8º)
Seção: Relato de Casos
Páginas: 66 a 68
MUCOCELE DE CONCHA NASAL MÉDIA: RESSECÇÃO POR CIRURGIA ENDOSCÓPICA.
Mucocele of the Middle Turbinate: Ressection by Fess.
Autor(es):
Olenka Fleck*
Lili Koscink**
Palavras-chave: Mucocele, cirurgia endoscópica
Keywords: Mucocele, endoscopic surgery
Resumo:
Mucoceles são incomuns e na maioria ocorrem no complexo etmoidal. Apresentamos um caso de mucocele da concha nasal média, com origem em uma concha bulhosa. o diagnóstico foi feito através da história clínica, endoscopia nasal, tomografia computadorizada e exame anátomo-patológico. A cirurgia foi realizada por via endoscópica intranasal, que é um dos mais modernos métodos e com alto índice de sucesso na resolução dessa doença.
Abstract:
Mucoceles are uncommon and the majority occur in the ethmoidal complex. We present a case of a mucocele of the middle turbinate, arising from a concha bullosa. The diagnostic was mad through a medical history, nasal endoscopy and ct-scarn evaluation. We use the intranasal endoscopic surgery, that is the newest and sucessfull way to approach this disease.
INTRODUÇÃO
Concha nasal média com aumentada pneumatização é chamada de concha bulhosa, podendo tomar-se local de doença inflamatória, variando desde espessamento da mucosa de revestimento interno formação de mucocele1. A diferenciação entre mucocele e outras massas nasais de tecidos moles é melhor observada através tomografia computadorizada de seios da face, a qual permite visualização de fina parede óssea que caracteriza a patologia2.
Conforme Zinreich3, a concha bulhosa é variação comum da anatomia intranasal. De 320 pacientes avaliadas através de tomografia computadorizada, 34% apresentaram concha bulhosa pelo menos de um lado. A obstrução da drenagem de uma concha bulhosa pode levar à formação de mucocele, que se caracteriza por obstrução nasal progressiva, invasão por compressão de estruturas nasais e órbita, podendo levar à diplopia e exoftalmia4.
APRESENTAÇÃO DO CASO
K. L., 14 anos, branca, feminina, com primeira consulta em 09/95 apresentou queixas de sinusites de repetição, tosse, cefaléia, obstrução nasal total direita e parcial esquerda e rinorréia posterior. A obstrução se agravara nos últimos seis meses e vinha fazendo uso contínuo de antibióticos: amoxacilina 500 mg e Keflex 500 mg. Trouxe Rx de seios da face de 08/94 que mostrou espessamento muco-periostal maxilar direito. Ao exame endoscópico nasal, apresentou mucosa pálida, abundante secreção hialina bilateral, desvio acentuado do septo nasal para a esquerda e fossa nasal direita completamente ocluída por tumoração branco-perolada, endurecida ao toque na região anterior; a tomografia computadorizada de seios da face mostrou massa tumoral ao redor de 5 cm (Figs. 1 e 2), ocupando toda a fossa nasal direita, invadindo complexo etmoidal até a parede orbital do etmóide do mesmo lado, com preservação desta última. A CT com uso de contrastes o mostrou impregnação pela tumoração. Foi, então, planejada a cirurgia para exérese e exame anátomo-patológico do material.
A cirurgia foi realizada sob anestesia geral. Foi feita punção região anterior do tumor, que se mostrou endurecido e de difícil penetração. Foi aspirada secreção espessa e enviada para exame bacteriológico. Com a diminuição da massa, foi possível examinar a extensão do tumor, utilizando-se o endoscópio de 0 e 30 graus.
Foi aberta a parede medial da concha média e aspirada maior quantidade de líquido (cerca de 10 ml). A incisão foi ampliada e debridada com auxílio do "hummer - micro debrider system", permitindo visualização da mucosa no interior da concha e o material retirado foi enviado para exame anátomo-patológico. A mucosa apresentava-se friável, hemorrágica e com áreas de necrose que foram removidas com auxílio de pinças "blakesley". Havia invasão e destruição da região etmoidal anterior e posterior. A parede orbital do etmóide mostrou-se intacta após a descompressão. Aspirado o restante da secreção e com o sangramento sob controle, foi feito tamponamento nasal com merocel, que foi retirado 24 horas após. Foi iniciada antibioticoterapia profilática com Keflex 500 mg de 8 em 8 horas. A paciente não referiu dor.
O exame bacteriológico mostrou-se negativo. O exame anátomo-patológico: sinusite crônica com mucocele.
A paciente evoluiu bem, com regressão total dos sintomas. A tomografia computadorizada de controle foi realizada 3 meses após a cirurgia ( Figs. 3 e 4), sem sinais de recidiva.
Figura 1. CT, corte coronal, pré-operatório.
Figura 2. CT, corte axial, pré-operatório.
Figura 3. CT, corte coronal, pós-operatório.
Figura 4. CT, corte axial, pós-operatório.
DISCUSSÃO
Mucoceles representam as lesões expansivas mais comuns nos seios paranasais e são revestidas por epitélio cubóide, recoberto por secreção mucóide. Elas podem desenvolver-se a partir da obstrução de óstio de drenagem, de cavidade septada ou através de linha de fratura em seio frontal. A cavidade se expande e as paredes ósseas são remodeladas para acomodar a massa em expansão. Elas ocorrem mais comumente na região frontoetmoidal, seguida à distância pelo seio maxilar. Em outras regiões, são raríssimas5, 6, 7. O achado e o diagnóstico por imagem da concha bulhosa têm sido elevados, o mesmo não se aplicando a mucocele de concha média, sendo necessário algum componente inflamatório com conseqüente diminuição de drenagem. Pela possibilidade da visão direta das estruturas, maior precisão cirúrgica e preservação da anatomia, a cirurgia funcional endoscópica têm sido o método terapêutico mais apropriado para resolução dessa patologias8, 9, 10, 11. Segundo Rice12, o controle por imagem na pós-cirurgia não é rotineiramente recomendado para doenças inflamatórias. O estado clínico do paciente é primordial na avaliação dos resultados. Mas a tomografia computadorizada pode ser auxílio importante detecção de pequenas áreas de doença residual.
CONCLUSÃO
Mucoceles de concha média nasal são processos inflamatórios incomuns, diagnosticados através de tomografia computadorizada e endoscopia nasal. A cirurgia endoscópica funcional é excelente método de tratamento desta patologia, com elevado índice de sucesso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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* Médicas Otorrinolaringologistas de Porto Alegre - RS.
Trabalho realizado em clínica privada.
Endereço para correspondência: Rua Mostardeiro, 333 cj. 403 - Porto Alegre/RS - CEP 90430-001 - Fone/Fax (051) 222.1916.
Artigo recebido em 3 de abril de 1996. Artigo aceito em 26 de abril de 1996.