Versão Inglês

Ano:  1980  Vol. 46   Ed. 2  - Maio - Agosto - (11º)

Seção: Artigos Originais

Páginas: 178 a 185

 

NISTAGMOGRAMA DE FREQÜÊNCIA EM COBAIAS SUBMETIDAS A ESTIMULAÇÃO PENDULAR. *

Autor(es): José Antonio A. Oliveira**
Marta L. Souza ***

Resumo:
Foram submetidas à prova rotatória sinusoidal amortecida 20 cobaias sem manifestações vestibulares. As freqüências do nistagmo per-rotatório em 6 pendulações padronizadas foram medidas. Na aceleração máxima (1.° pendulação) a variação de freqüência para a rotação horária e anti-horária foi de 8 a 11 nistagmos. Os valores de freqüência nas pendulações padronizadas foram utilizados para a construção de nistagmogramas de freqüência e com eles pôde-se determinar uma faixa de normalidade entre os valores limites.

I. INTRODUÇÃO

Há um crescente interesse em drogas que deprimem o sistema vestibular, especialmente aquelas usadas em terapia de doenças labirínticas e também drogas vesti bulotóxicas. Os estudos de drogas no sistema vestibular no passado baseavam-se em observações acidentais e eram avaliadas por métodos de tentativa e erro. Apenas recentemente aqueles efeitos têm sido estudados quantitativamente. A maioria dos experimentos quantitativos tem sido realizados com as técnicas de estimulação calórica onde são analisadas a velocidade da componente lenta, freqüência, duração do nistagmo. Problemas nestes estudos existem devido grande variação individual, entre espécies na sensitividade do sistema vestibular. (Eviatar and Good Hill, 1968).

A estimulação mais adequada dos receptores vestibulares é a obrida por rotação que não apresenta os vários inconvenientes das técnicas calóricas (Oliveira, 1977). O método rotatório mais conhecido no passado foi o de Barany. Neste teste, realiza-se uma parada repentina, após uma rotação, para a observação de um nistagmo pós-rotatório que ocorre como resultado de uma inclinação da crista ampolar. De acordo com os conhecimentos sobre mecanismo cupular, a excitação da cúpula em um movimento rotatório resulta de uma aceleração ou deceleração da rotação. Por este motivo, é importante saber que reações podem aparecer durante a rotação, em uma velocidade progressiva crescente e decrescente, em outras palavras, observaro nistagmo per-rotatório. Assim, necessita-se de um método mais adequado, para estimulação rotatória dos canais semicirculares que permita a observação de uma aceleração e os efeitos da deceleração.

Mach (1875) foi o primeiro que realizou estudos deste tipo no homem. Hennebert (1956e 1961) retomou os trabalhos, aprimorou a técnica e, para definir os movimentos sinusoidais, substituiu a freqüência e amplitude das oscilações pela aceleração angular. Deste modo, o autor atraiu novamente a atenção sobre a estimulação alternada na pesquisa de problemas vestibulares, sendo o primeiro a utilizar o método no plano clínico.

O teste com a barra de torção para avaliar a função vestibular pela rotação, atraiu a atenção pela sua simplicidade. É uma cadeira que gira para os 2 lados, realizando pendulações dentro de um certo ângulo. Como a energia inicial que move a cadeira vai sendo utilizada em cada oscilação completa, a velocidade de rotação decresce e o ângulo vai se reduzindo.

Em 1961, Greiner e colaboradores, com uma aparelhagem simples, usaram este tipo de estimulação, avaliando as respostas com eletronistagmografia, fazendo comparações com as provas clássicas, evidenciando a vantagem do método. Concluíram que a prova é de realização simples e rápida, permite o estudo do nistagmo per-rotatório, torna possível a comparação imediata da resposta dos dois vestíbulos, coloca em evidência o limiar da excitação vestibular dos dois lados. Outros estudos no homem foram feitos mais recentemente no Brasil por Formigoni (1974) e Grellet e Oliveira (1973).

Eviatar and Good Hill (1968) acharam que este método no animal e no homem mostrava vantagens sobre o teste de Barany. Entretanto, relatou que os fatores variáveis inerentes ao teste de torção resultam em um tipo irregular de nistagmo que decresce em amplitude e freqüência, tornando a avaliação quantitativa difícil. Passaram então a usar rotação alternante, determinando desvio em um ângulo constante e velocidade constante com registro de amplitude e freqüência do nistagmo, mais uniforme. Esta velocidade constante era controlada manualmente. Nestes experimentos usaram coelhos para estudos de drogas pelo princípio de estudos comparativos seqüenciais no mesmo animal. Temos utilizado a prova rotatória sinusoidal amortecida para estes estudos em cobaias com excelentes resultados (Oliveira, 1977). Neste trabalho pretendemos estudar as respostas normais das cobaias a este tipo de estimulação pendular, tentanto conhecer nossos valores de normalidade, para estudos comparativos com cobaias submetidas a drogas que afetam as respostas vestibulares.

II. MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas 20 cobaias devidamente preparadas para o registro eletronistagmográfico. Estas cobaias de grupos albinos e não albinos eram procedentes do Biotério Geral da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Seus pesos variavam de 400 a 500 g. As cobaias escolhidas tinham audição, motricidade e equilíbrio normais.

Técnica utilizada

Os eletrodos foram feitos de fio de aço inoxidável esmaltado de 0,2 mm de diâmetro. Para a preparação, retirava-se o isolamento das duas extremidades do fio. Uma era enrolada para formar uma espiral de 3 mm de diâmetro e a outra era estanhada e soldada ao conector.

Após anestesia do animal com pentobarbital sódico, uma incisão era feita paralela ao eixo longitudinal da cabeça, desde o vértice até a fronte. Em seguida, era feito o descolamento da pele dos cantos de cada olho. Neste local, a espiral era implantada sob a pele. A outra extremidade do eletrodo, passando por baixo da pele, era ligada a um conectador fixado com parafusos e resina acrílica à abóbada craniana; também era colocado um eletrodo indiferente, ligado ao conector e com a extremidade livre sob a pele. A cobaia, preparada com eletrodos permanentes, era colocada num suporte especial, construído de tal modo que limitava seus movimentos. Utilizamos um sistema que possibilitasse a realização de estimulação rotatória sinusoidal em cobaias (Oliveira, 1977). A cobaia, na caixa, era colocada no suporte suspenso pela mola. O conjunto era então deslocado de sua posição de equilíbrio, ficando a mola em tensão. Uma vez libertado o conjunto, o suporte suspenso realizava angulações alternadas, estimulando alternadamente os dois sistemas vestibulares. Estas pendulações progressivamente iam-se amortecendo até a parada do conjunto. Durante as pendulações, o nistagmo alternante com a cobaia de olhos vendados era registrado para estudo posterior, (Figs. 1 e 2)



Técnica de aplicação do teste pendular e registro eletronlstagmogrático.



Registro nistágmico obtido com estimulação sinusoidal.



III. RESULTADOS

Cada uma das vinte cobaias foi submetida à prova rotatória sinusoidal amortecida. Foram feitos os registros eletronistagmográficos durante as pendulações. Para o estudo dos registros do nistagmo per-rotatório avaliou-se a freqüência nistágmica nas rotações (1 a, 58, 20a, 408, 50a, 608) padronizadas para o estudo comparativo. Os valores da freqüência do nistagmo nas rotações citadas em cada cobaia estão contidos nas tabelas I e 11.

Os resultados nas 20 cobaias foram lançados em gráficos de variação de freqüência do nistagmo com o decréscimo do estímulo (número da pendulação). Deste modo pode-se delimitar uma faixa de normalidade para o lado direito (Fig. 3) e para o lado esquerdo (Fig. 4).



Nistagmograma de freqüência. Estimulação do lado direito.



Nistagmograma de freqüência. Estimulação do lado esquerdo.



IV. DISCUSSÃO

A prova pendular decrescente provoca estimulação máxima das condições fisiológicas sendo de realização rápida e simples.


Tabela 1 - Valores normais da freqüência do Nistagmo em 10 CBs.



A análise dos registros possibilita o estudo do comportamento vestibular no decorrer da prova e a comparação das respostas dos dois labirintos para cada valor da aceleração. Com isso avalia o campo limiar e supralimiar da função vestibular.


Tabela II - Valores normais da freqüência do Nistagmo em 10 CBs.



Nossos resultados concordam com Eviatar e GoodHill (1968) quando relatam que este método no animal e no homem mostra vantagens sobre o teste de Barany. É discutível a afirmação dos autores que a avaliação quantitativa do nistagmo no teste seja difícil, a ponto de trocar o método descrito, pela estimulação com rotação alternante, com desvio em um ângulo constante e velocidade constante, controlada manualmente para registro mais uniforme da amplitude e freqüência do nistagmo. Com isso estamos impossibilitados de estudar as alterações vestibulares em uma sucessão de estímulos decrescentes.

A sucessão de batimentos nistágmicos na cobaia apresenta uma amplitude crescente e depois decrescente com a estimulação como ocorre no homem. Neste trabalho observou-se simetria das respostas dos dois labirintos das cobaias especialmente na freqüência nistágmica. Utilizamos neste trabalho a freqüência que é a medida quantitativa mais significativa (Montancian, 1954). A freqüência nistágmica é o número de batimentos em cada pendulação sendo o parâmetro mais fiel e de mais fácil medição, sendo neste trabalho considerado o critério de intensidade da resposta. Nos 20 nistagmogramas realizados neste trabalho pudemos observar que o número de batimentos nistágmicos é menor em valor absoluto aos encontrados no homem. Naturalmente estas diferenças podem ser devidas a diferença de função labiríntica em espécies diferentes ou devido a estimulação com acelerações angulares menores obtidas pelo sistema de estimulação descrito.

As faixas de valores médios de freqüência nas diferentes pendulações construídas no presente experimento são importantes para a comparação com resultados de estudos de efeito de drogas no sistema vestibular.

SUMMARY

Frequency nystagmograms in guinea pigs subject to pendular stimulation. The vestibular response to a damped sinusoidal rotation test was studied in 20 normal guinea pigs. The frequency of the per-rotatory nystagmus was measured in the first 6 oscillations. When subject to the highest accelerations (Ist. oscillation), the frequency range was 8 to 11 nystagmic beats. The average frequency values in the normalized test were used to obtain frequency nystagmograms for determining the normal response range.

VI. BIBLIOGRAFIA

1. EVIATAR, A.; GOODHILL, V. - 1968 - Comparative sequentia studies of effects of drugs on the vestibular system of laboratory animais. Acta Oto-laryngologica. Suplemento, 237:1-28.
2. FORMIGONI, L.G. - 1974 - Estudo do componente rápido do nistágmo por estímulo rotatório pendular decrescente. Anais do XIV Congresso Pan-Americano de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia,40:433.
3. GREINER, G.F., CONRAUX, C., PICARD, P. - 1961 - La stimuIation vestibulaire rotatoire de forme pendulaire et ses applications cliniques. Conf. Neurol. 21: 438.
4. GRELET, M., OLIVEIRA, J.A. A. - 1975 - Nistagmograma de freqüência em indivíduos normais submetidos à Prova Rotatória Sinusoidal Amortecida. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 41:259.
5. HENNEBERT, P.E. - 1956 - Les reactions vestibulaires aux épreuves rotatoires sinusoidales. Acta otolaryngologica, 46:221.
6. HENNEBERT, P.E. - 1961 - Aplicationscliniques des princi - pes physiques de Ia stimulation vestibulaires. Confin. Neurol. 21:416.
7. MACH, E. - 1875 - F. Grundlinien des Lehre von den Bewegungrempfindugen Verlag, Engelmann, Liepzig.
8. MONTADON, A. - 1974 - A new tecnique for vestibular examinations. Acta-oto-Laryngol. 44:594.
9. OLIVEIRA, J.A.A. - 1977 - Uma técnica para o estudo dá função vestibular na cobaia: A prova rotatória sinusoidal amortecida. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 43:264269.




ENDEREÇO DOS AUTORES:
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - U.S.P.
Departamento de Biologia
Av. Bandeirantes s/n - Campus de Ribeirão Preto
14100 Ribeirão Preto - SP

* Trabalho realizado com auxílio da FAPESP e CNPq.
** Professor Livre Docente. Disciplina Fisiologia Animal e Humana. Departamento de Biologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. U.S.P.
Professor Livre Docente contratado no Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
*** Estagiária do Laboratório de Fisiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. U.S.P.

Recebido para publicação em 23102180.

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