I. INTRODUÇÃOHá um crescente interesse em drogas que deprimem o sistema vestibular, especialmente aquelas usadas em terapia de doenças labirínticas e também drogas vesti bulotóxicas. Os estudos de drogas no sistema vestibular no passado baseavam-se em observações acidentais e eram avaliadas por métodos de tentativa e erro. Apenas recentemente aqueles efeitos têm sido estudados quantitativamente. A maioria dos experimentos quantitativos tem sido realizados com as técnicas de estimulação calórica onde são analisadas a velocidade da componente lenta, freqüência, duração do nistagmo. Problemas nestes estudos existem devido grande variação individual, entre espécies na sensitividade do sistema vestibular. (Eviatar and Good Hill, 1968).
A estimulação mais adequada dos receptores vestibulares é a obrida por rotação que não apresenta os vários inconvenientes das técnicas calóricas (Oliveira, 1977). O método rotatório mais conhecido no passado foi o de Barany. Neste teste, realiza-se uma parada repentina, após uma rotação, para a observação de um nistagmo pós-rotatório que ocorre como resultado de uma inclinação da crista ampolar. De acordo com os conhecimentos sobre mecanismo cupular, a excitação da cúpula em um movimento rotatório resulta de uma aceleração ou deceleração da rotação. Por este motivo, é importante saber que reações podem aparecer durante a rotação, em uma velocidade progressiva crescente e decrescente, em outras palavras, observaro nistagmo per-rotatório. Assim, necessita-se de um método mais adequado, para estimulação rotatória dos canais semicirculares que permita a observação de uma aceleração e os efeitos da deceleração.
Mach (1875) foi o primeiro que realizou estudos deste tipo no homem. Hennebert (1956e 1961) retomou os trabalhos, aprimorou a técnica e, para definir os movimentos sinusoidais, substituiu a freqüência e amplitude das oscilações pela aceleração angular. Deste modo, o autor atraiu novamente a atenção sobre a estimulação alternada na pesquisa de problemas vestibulares, sendo o primeiro a utilizar o método no plano clínico.
O teste com a barra de torção para avaliar a função vestibular pela rotação, atraiu a atenção pela sua simplicidade. É uma cadeira que gira para os 2 lados, realizando pendulações dentro de um certo ângulo. Como a energia inicial que move a cadeira vai sendo utilizada em cada oscilação completa, a velocidade de rotação decresce e o ângulo vai se reduzindo.
Em 1961, Greiner e colaboradores, com uma aparelhagem simples, usaram este tipo de estimulação, avaliando as respostas com eletronistagmografia, fazendo comparações com as provas clássicas, evidenciando a vantagem do método. Concluíram que a prova é de realização simples e rápida, permite o estudo do nistagmo per-rotatório, torna possível a comparação imediata da resposta dos dois vestíbulos, coloca em evidência o limiar da excitação vestibular dos dois lados. Outros estudos no homem foram feitos mais recentemente no Brasil por Formigoni (1974) e Grellet e Oliveira (1973).
Eviatar and Good Hill (1968) acharam que este método no animal e no homem mostrava vantagens sobre o teste de Barany. Entretanto, relatou que os fatores variáveis inerentes ao teste de torção resultam em um tipo irregular de nistagmo que decresce em amplitude e freqüência, tornando a avaliação quantitativa difícil. Passaram então a usar rotação alternante, determinando desvio em um ângulo constante e velocidade constante com registro de amplitude e freqüência do nistagmo, mais uniforme. Esta velocidade constante era controlada manualmente. Nestes experimentos usaram coelhos para estudos de drogas pelo princípio de estudos comparativos seqüenciais no mesmo animal. Temos utilizado a prova rotatória sinusoidal amortecida para estes estudos em cobaias com excelentes resultados (Oliveira, 1977). Neste trabalho pretendemos estudar as respostas normais das cobaias a este tipo de estimulação pendular, tentanto conhecer nossos valores de normalidade, para estudos comparativos com cobaias submetidas a drogas que afetam as respostas vestibulares.
II. MATERIAL E MÉTODOSForam utilizadas 20 cobaias devidamente preparadas para o registro eletronistagmográfico. Estas cobaias de grupos albinos e não albinos eram procedentes do Biotério Geral da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Seus pesos variavam de 400 a 500 g. As cobaias escolhidas tinham audição, motricidade e equilíbrio normais.
Técnica utilizada
Os eletrodos foram feitos de fio de aço inoxidável esmaltado de 0,2 mm de diâmetro. Para a preparação, retirava-se o isolamento das duas extremidades do fio. Uma era enrolada para formar uma espiral de 3 mm de diâmetro e a outra era estanhada e soldada ao conector.
Após anestesia do animal com pentobarbital sódico, uma incisão era feita paralela ao eixo longitudinal da cabeça, desde o vértice até a fronte. Em seguida, era feito o descolamento da pele dos cantos de cada olho. Neste local, a espiral era implantada sob a pele. A outra extremidade do eletrodo, passando por baixo da pele, era ligada a um conectador fixado com parafusos e resina acrílica à abóbada craniana; também era colocado um eletrodo indiferente, ligado ao conector e com a extremidade livre sob a pele. A cobaia, preparada com eletrodos permanentes, era colocada num suporte especial, construído de tal modo que limitava seus movimentos. Utilizamos um sistema que possibilitasse a realização de estimulação rotatória sinusoidal em cobaias (Oliveira, 1977). A cobaia, na caixa, era colocada no suporte suspenso pela mola. O conjunto era então deslocado de sua posição de equilíbrio, ficando a mola em tensão. Uma vez libertado o conjunto, o suporte suspenso realizava angulações alternadas, estimulando alternadamente os dois sistemas vestibulares. Estas pendulações progressivamente iam-se amortecendo até a parada do conjunto. Durante as pendulações, o nistagmo alternante com a cobaia de olhos vendados era registrado para estudo posterior, (Figs. 1 e 2)
Técnica de aplicação do teste pendular e registro eletronlstagmogrático.
Registro nistágmico obtido com estimulação sinusoidal.
III. RESULTADOSCada uma das vinte cobaias foi submetida à prova rotatória sinusoidal amortecida. Foram feitos os registros eletronistagmográficos durante as pendulações. Para o estudo dos registros do nistagmo per-rotatório avaliou-se a freqüência nistágmica nas rotações (1 a, 58, 20a, 408, 50a, 608) padronizadas para o estudo comparativo. Os valores da freqüência do nistagmo nas rotações citadas em cada cobaia estão contidos nas tabelas I e 11.
Os resultados nas 20 cobaias foram lançados em gráficos de variação de freqüência do nistagmo com o decréscimo do estímulo (número da pendulação). Deste modo pode-se delimitar uma faixa de normalidade para o lado direito (Fig. 3) e para o lado esquerdo (Fig. 4).
Nistagmograma de freqüência. Estimulação do lado direito.
Nistagmograma de freqüência. Estimulação do lado esquerdo.
IV. DISCUSSÃOA prova pendular decrescente provoca estimulação máxima das condições fisiológicas sendo de realização rápida e simples.
Tabela 1 - Valores normais da freqüência do Nistagmo em 10 CBs.
A análise dos registros possibilita o estudo do comportamento vestibular no decorrer da prova e a comparação das respostas dos dois labirintos para cada valor da aceleração. Com isso avalia o campo limiar e supralimiar da função vestibular.
Tabela II - Valores normais da freqüência do Nistagmo em 10 CBs.
Nossos resultados concordam com Eviatar e GoodHill (1968) quando relatam que este método no animal e no homem mostra vantagens sobre o teste de Barany. É discutível a afirmação dos autores que a avaliação quantitativa do nistagmo no teste seja difícil, a ponto de trocar o método descrito, pela estimulação com rotação alternante, com desvio em um ângulo constante e velocidade constante, controlada manualmente para registro mais uniforme da amplitude e freqüência do nistagmo. Com isso estamos impossibilitados de estudar as alterações vestibulares em uma sucessão de estímulos decrescentes.
A sucessão de batimentos nistágmicos na cobaia apresenta uma amplitude crescente e depois decrescente com a estimulação como ocorre no homem. Neste trabalho observou-se simetria das respostas dos dois labirintos das cobaias especialmente na freqüência nistágmica. Utilizamos neste trabalho a freqüência que é a medida quantitativa mais significativa (Montancian, 1954). A freqüência nistágmica é o número de batimentos em cada pendulação sendo o parâmetro mais fiel e de mais fácil medição, sendo neste trabalho considerado o critério de intensidade da resposta. Nos 20 nistagmogramas realizados neste trabalho pudemos observar que o número de batimentos nistágmicos é menor em valor absoluto aos encontrados no homem. Naturalmente estas diferenças podem ser devidas a diferença de função labiríntica em espécies diferentes ou devido a estimulação com acelerações angulares menores obtidas pelo sistema de estimulação descrito.
As faixas de valores médios de freqüência nas diferentes pendulações construídas no presente experimento são importantes para a comparação com resultados de estudos de efeito de drogas no sistema vestibular.
SUMMARYFrequency nystagmograms in guinea pigs subject to pendular stimulation. The vestibular response to a damped sinusoidal rotation test was studied in 20 normal guinea pigs. The frequency of the per-rotatory nystagmus was measured in the first 6 oscillations. When subject to the highest accelerations (Ist. oscillation), the frequency range was 8 to 11 nystagmic beats. The average frequency values in the normalized test were used to obtain frequency nystagmograms for determining the normal response range.
VI. BIBLIOGRAFIA1. EVIATAR, A.; GOODHILL, V. - 1968 - Comparative sequentia studies of effects of drugs on the vestibular system of laboratory animais. Acta Oto-laryngologica. Suplemento, 237:1-28.
2. FORMIGONI, L.G. - 1974 - Estudo do componente rápido do nistágmo por estímulo rotatório pendular decrescente. Anais do XIV Congresso Pan-Americano de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia,40:433.
3. GREINER, G.F., CONRAUX, C., PICARD, P. - 1961 - La stimuIation vestibulaire rotatoire de forme pendulaire et ses applications cliniques. Conf. Neurol. 21: 438.
4. GRELET, M., OLIVEIRA, J.A. A. - 1975 - Nistagmograma de freqüência em indivíduos normais submetidos à Prova Rotatória Sinusoidal Amortecida. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 41:259.
5. HENNEBERT, P.E. - 1956 - Les reactions vestibulaires aux épreuves rotatoires sinusoidales. Acta otolaryngologica, 46:221.
6. HENNEBERT, P.E. - 1961 - Aplicationscliniques des princi - pes physiques de Ia stimulation vestibulaires. Confin. Neurol. 21:416.
7. MACH, E. - 1875 - F. Grundlinien des Lehre von den Bewegungrempfindugen Verlag, Engelmann, Liepzig.
8. MONTADON, A. - 1974 - A new tecnique for vestibular examinations. Acta-oto-Laryngol. 44:594.
9. OLIVEIRA, J.A.A. - 1977 - Uma técnica para o estudo dá função vestibular na cobaia: A prova rotatória sinusoidal amortecida. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 43:264269.
ENDEREÇO DOS AUTORES:
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - U.S.P.
Departamento de Biologia
Av. Bandeirantes s/n - Campus de Ribeirão Preto
14100 Ribeirão Preto - SP
* Trabalho realizado com auxílio da FAPESP e CNPq.
** Professor Livre Docente. Disciplina Fisiologia Animal e Humana. Departamento de Biologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. U.S.P.
Professor Livre Docente contratado no Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
*** Estagiária do Laboratório de Fisiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. U.S.P.
Recebido para publicação em 23102180.