Versão Inglês

Ano:  1985  Vol. 51   Ed. 1  - Janeiro - Março - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 21 a 24

 

NÍVEIS DE AUDIÇÃO EM ESCOLARES DE 1.º GRAU

Autor(es): ZENSHI HESHIKI-1
ONIVALDO BRETAN
JAIR G MONTOVANI-2
IVANIRA A. TAMASHIRO-3
SHEILA Z. PINHO-4

Palavras-chave: Audiometria; triagem audiométrica em escolares; nível de audição em escolares

Keywords: Audiometry; screening audiometry; audiometry of school children; elementary school children audiometric screening test

Resumo:
Foram realizados testes audiométricos em 1.226 escolares em 16 escolas do 1.º grau. A média etária das crianças foi de oito anos Submetendo-se os dados a processamento em computador (Fortran IV), calcularam-se os níveis de "referêncía zero" para este grupo de crianças. Adicionando-se 20 dB; foram detectadas 68 crianças com distúrbio de audição (5,54 %) e com 30 dB acima da "referência zero" obtiveram-se 34 crianças com distúrbios, o que equivale a 2,77%.

Abstract:
The audiometric screening test was carried out in 1.226 school children of elementary schools. The average age was eight years old. By adding 20 dB over the "zero reference" of the group, the autors found out 5.54% of children with hearing loss and 2.77% by adding 30 dB over the same reference.

Introdução

A determinação audiométrica dos níveis de audição em escolares constitui exame rotineiro em muitos países. No Brasil, entretanto, devido a múltiplos fatores, ainda não despertou interesse nas autoridades responsáveis pela saúde das crianças. Por esse motivo, iniciamos, já há alguns anos, um programa de avaliação audiométrica em escolares do 1.º grau da cidade de Botucatu. Este programa, previsto para vários anos, tem a finalidade de verificar a viabilidade do exame audiométrico nas escolas de 1.º grau, colher dados para aquilatar a sua importância e eventualmente despertar o interesse dos especialistas e(ou) autoridades em educação e saúde dos escolares. Esta publicação constitui parte do material, pois o programa ainda se encontra em andamento.

Revisão bibliográfica

A avaliação da audição em escolares empregando o audiômetro foi utilizada pela primeira vez em 1938 por Newhart (13). Entretanto, devido aos problemas políticos e sociais da época, ficou em plano secundário, sendo em seguida abandonada. Somente em 1949 Dahl (3), nos EUA, reintroduziu o método, seguido por Nieisen (1953), na Dinamarca. A partir daí outros pesquisadores publicaram seus resultados. Assim Kodman (9, 10) verificou que a avaliação dos níveis de audição baseada em informações fornecidas pelas professoras de classe eram falhas, justificando o uso sistemático do audiômetro. Com esse método Kodman & Sperrazzo (10) detectaram cerca de 5 % de escolares com problemas de audição acima de 25 dB. Connor (2), em sua revisão, verificou que a proporção varia de 2 a 21%, conforme os autores, enquanto Kodman (9) verificou de 10 a 15% e Anderson (1) de 5 a 10%. O grupo liderado por Eagles (4) detectou 15,1% com perda acima de 30 dB, enquanto Babritius (5) encontrou 3,4%. Mikaelin e Barsoumian (14) obtiveram 5,12%; Lescouflair, no Canadá, 0,86% e Fombeur e col. relataram 4,6%. No Brasil podemos mencionar as publicações de Meio e col. (12) com 10,8% e de Heshiki e col. (8), que detectaram 5,8% para 20 dB e 2,3% para 30 dB acima da "referência zero" (7, 8).


Material e método

O presente estudo apresenta dados parciais da avaliação audiométrica de crianças de 16 escolas de 1.º grau da cidade de Botucatu (ver lista das escolas). Compreende 1.226 crianças, matriculadas no 1.º ano, com média etária de oito anos.

Resultados

A incidência dos níveis de audição nas freqüências estudadas para as crianças de escolas submetidas ao teste foram identificadas acrescentando-se 20 e 30 dB e a sua incidência está representada na Tabela 1.

A incidência dos níveis de audição nas freqüências estudadas para as crianças de 16 escolas submetidas ao teste está na tabela I.


Tabela I - Incidência dos níveis de audiçíio de 1.226 crianças submetidas ao exame audiométrico - via aérea



Os testes foram aplicados na própria escola, procurando-se local mais adequado, com um audiômetro portátil Audiotone da Royal. Foram realizados sempre pela mesma pessoa (fonoaudióloga), aplicando-se somente a via aérea nas freqüências de 500, 1.000, 2.000 e 4.000 Hz nos dois ouvidos. Os resultados foram submetidos a um programa de cálculos em computador (sistema Fortran IV) para se obter a média etária das crianças, o nível médio de audição de cada lado nas freqüências testadas e a identificação de crianças com perda auditiva acima de 20 dB e 30 dB em relação à "referência zero" calculada para o grupo de 1.226 crianças. Para calcular esta "referência zero", ver detalhes em publicações anteriores (7, 8) de um dos autores.

Crianças portadoras de níveis de audição discrepantes com á média da audição de todas as demais submetidas ao teste foram identificadas acrescentando-se 20 e 30 dB e a sua incidência está representada na Tabela II.


Tabela II



Discussão

O emprego do exame audiométrico para detectar possíveis portadores de distúrbios de audição em escolares foi introduzido por Newhart (13) em 1938. Infelizmente o programa foi interrompido e a sua divulgação foi prejudicada em conseqüência dos distúrbios políticos e sociais que ocorreram na época. Somente em 1949 coube a Dahl (3) e em 1953 a Nieisen reintroduzir o método audiométrico nas escolas dos EUA e Europa respectivamente. Entretanto Connor (2) e Eagles e col. (4), num estudo bibliográfico, constataram a pobreza de publicações e também o desinteresse dos autores em escrever sobre o assunto, pois existiam muitas pesquisas em andamento.

Além disso verificaram a existência de diferentes critérios, tanto na execução dos testes como dos métodos de avaliação dos resultados obtidos. Assim, há autores ainda que preconizam a realização desses testes em cabines audiométricas, outros em cabines acústicas montadas em veículos especiais. Evidentemente, são métodos que não podem ser utilizados em nosso meio. Há autores ainda que preconizam o emprego sistemático do audiômetro, mas em salas apropriadas da própria escola, onde evidentemente não existem cabines acústicas. Um dos autores (7, 8) descreve um método que permite calcular a média de um grupo de escolares obtendo-se a "referência zero", que será utilizada como parâmetro para detectar possíveis portadores de distúrbios de audição. Para detectar este grupo é necessário acrescentar determinado nível de intensidade, mas não existe unanimidade _entre os autores quanto ao valor a acrescentar. Para Lescouflair (11), existe o PTA (pure tone threshotd) utilizado para cálculos de compensação dos níveis de audição em meio industrial. Esse valor é de 26 dB e deve ser adicionado ao "zero audiométrico" determinado por Davis & Krans, conhecido por ISO/64, que é 11.0/6.5/8.5/9.0 para as freqüências 500 / 1..000 / 2.000 / 4.000 Hz, respectivamente. Os valores utilizados pelos autores para a triagem de escolares têm variado de 15 a 30 dB.

Devido à variação nos métodos empregados tanto na coleta dos dados como na metodologia dos cálculos, é fácil entender a variação dos resultados quanto à incidência de escolares com distúrbios de audição. As cifras vão desde 0,1 a 21%, de acordo com os autores consultados.

Embora Lescouflair (11) condene ,o método àudiométrico em substituição ao emprego da impedanciometria, este autor recomenda as seguintes proposições para a sua aplicação em escolares:

1. Identificar perda de audição em crianças, mesmo que esta perda seja muito discreta.
2. Identificar uma possível doença otológica em atividade.
3. Encaminhar casos suspeitos de distúrbios de audição para exame médico especializado.
4. As crianças que necessitam de tratamento especializado (reabilitação) devem ser encaminhadas o mais precocemente possível.

Na tentativa de atender às recomendações aprovadas pela National Conference on Identification Audiometry, propusemos o programa, que ainda está na fase de identificar as crianças com possíveis perdas de audição (item 1). Já iniciamos os itens 2 e 3, isto é, identificar possível doença otológica em evolução e a execução do exame médico otorrinolaringológico para as crianças detectadas como possíveis portadoras de distúrbios de audição.

Como já vimos, não existe valor pré-fixado que podemos acrescentar para determinar os possíveis casos patológicos. Para não nos afastarmos do valor da PTA, que é 26 dB, optamos por dois valores (20 e 30 dB). Estes valores devem ser adicionados aos valores da "referência zero", que devem ser obtidos de forma cumulativa. Para as crianças de 17 escolas do presente estudo os valores desta referência são:





As publicações existentes, embora utilizando métodos diferentes de obtenção dos dados e de avaliação dos resultados, podem ser mencionadas como parâmetros. Assim, Kodman & Sperrazzo (10) obtiveram 5,0%, enquanto Eagles e col. (4) detectaram 15,1%, ambos nos EUA. Fabritius (5) menciona 3,4%; Mikaelin & Barsoumian 5,12%; Foumbeur 4,6% e entre nós Melo e col. (12) com 10,8% e Heshiki e col. (8) com 2,3 a 5,8%. Este material, que é continuação de outro já publicado, nos dá a cifra de 2,77 e 5,54% quando acrescentamos 30 e 20 dB acima da "referência zero". Temos mais recentemente as publicações de Skurr & Jones (16), que desaconselham o emprego de relógio ou da voz cochichada e recomendam a audiometria. Ainda Rytzner & Rytzner (15), aplicando teste audiométríco em 14.391 crianças de sete a 13 anos, obtiveram para 4.000 Hz cerca de 2,3% (331 casos) com perda acima de 20 dB e 0,9% (47 casos) com perda acima de 40 dB.

Résumé

Les auteurs ont fait le depistage audiometrique chez 1.226 enfants des écoles elementaires. Uage moyen des ces enfants etait 8 ans Avec l'adition de 20 dB sur Ia "reference zero" obtenu pour cette population d'écoliers, on a trouvé 5.54% des enfants avec troubles d'audition et 2.77% après 1'adition de 30 dB sur Ia meme reference.

Reference - Audiometrie depistage audiometriquç depistage des écoliers; depistage des chez surdités les enfants.

Referências

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2. CONNOR, L.E. - Determining the prevalence of hearing impaired children. Excepta Chitd., 6:337-344, 1961.
3. DAHL, L.A. - Public school audiometry: principles and methods. In Katz, J. - Handbook of clinical audiology., 2â ed., Baltimore, Williams & Wilkins Co., 1978.
4. EAGLES, E.L. e col. - Hearing sensitivity and related factors in children. The Laryngoscope, 1:220, sup. 1963.
5. FABRITIUS, H.1? - Nine years examination of hearing in school children in North Trondelag. Acta OtolaryngoL, 188:350-59, 1964.
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16. SKURR, B.A. & JONES, D.L. - Testing the hearing levei of school children. Comparison of several currently used screening techniques. Med. J. Austr, 2:248-49, 1981.




Endereço dos autores
Rua Domingos Soares de Barros, 210 18600 - Botucatu-SP

Pesquisa planejada e executada pela Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP. Muda financeira do Ministério da Saúde (Fundo Nacional de Saúde - Projeto CAPP 037/76).

1 - Coordenador do projeto Avaliação dos níveis de audição em escolares de Botucatu
2 - Docentes da Disciplina de Otorrinolaringologia
3 - Fonoaudidioga da Disciplina de Otorrinolaringologia
4 - Docente da Disciplina de Bioestatística

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