ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

Displasia Fibrosa Craniofacial Poliostótica
Fibrous Dysplasia poliostotic craniofacial

Autores:

Lívio Martins Teixeira (Especialização/Residência Médica) Médico assistente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas

Súnia Ribeiro (Mestre em Otorrinolaringologia) Médica assistente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio - UFAM

João Paulo Cuaudal Soares (Médico-residente) Médico-residente do 3o ano do Programa de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas - UFAM

Alexandre Herculano Ribera Marcião (Médico-residente) Médico-residente do 2o ano do Programa de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas - UFAM

Palavras-Chave
Crânio, Displasia Fibrosa poliostotica, Ossos Faciais

Resumo

Keywords
Cranio, Facial Bones, Fibrous Dysplasia

Abstract

 

Instituição: Hospital Universitário Getúlio Vargas

Suporte Financeiro:

1- Introdução

 

      A displasia fibrosa é doença rara e benigna, caracterizada pela reabsorção do osso normal, que é substituído por tecido fibro-ósseo, levando à formação de um trabeculado pobremente calcificado e desorganizado1. As lesões são expansivas, lentamente progressivas, determinando sintomatologia por fraturas patológicas, compressão de estruturas nobres ou deformidade estética1,2. O presente caso demonstra acometimento subclínico de vários ossos craniofaciais.

 

2- Apresentação do caso

 

      SCSA, sexo feminino, 16 anos, parda, amazonense. Há 10 anos queixando-se de obstrução e prurido nasais intermitentes, acompanhados de rinorréia hialina e crises esternutatórias, e dor frontal e interorbitária crescentes. Mãe atópica. Apresentava piora da dor há 30 dias, sem melhora após último tratamento para "sinusite". A rinoscopia revelou hipertrofia de conchas inferiores e palidez da pituitária. Portava raios-X de seios paranasais demonstrando hiperdensidade de seio frontal esquerdo, esfenoidal e células etmoidais. 

      A tomografia computadorizada de crânio evidenciou lesões ósseas expansivas, caracterizadas por espessamento e esclerose, lembrando "vidro despolido", envolvendo processo zigomático maxilar e parede lateral nasal direitos, ossos frontais, etmoidais, esfenoidal e temporal esquerdo

      Realizou-se tratamento clínico da rinite, e optou-se pela conduta expectante nas lesões craniofaciais, com acompanhamento tomográfico periódico.

 

3- Discussão

 

      A etiologia da displasia fibrosa é controversa. Diversos autores sugerem que pode ser resultado de uma maturação óssea anormal; outros acreditam que seja uma resposta óssea anormal ao trauma; alguns sugerem associação com altos níveis de estrogênios; porém, a maioria advoga uma causa genética resultando no desenvolvimento ósseo anormal2,3.

A doença mais freqüentemente envolve um único osso (forma monostótica), constituindo 70% dos casos. O restante corresponde às formas poliostóticas sem envolvimento extra-esquelético, com relatos raros de síndrome de McCune-Albright em cerca de 3% dos casos, em que co-existem lesões poliostóticas, hiperpigmentação cutânea e endocrinopatias, dentre elas a puberdade precoce, doença de Cushing e hiperparatireoidismo. Os homens são mais acometidos numa proporção de 2:1, prevalecendo entre adultos jovens, com média de 28 anos, embora seja mais precoce e prevalente no sexo feminino na síndrome de McCune-Albright, com a raça branca tendo um predomínio de 80%2,3,4.

Na variedade poliostótica o acometimento craniofacial é descrito em 40-60%, geralmente unilateral, afetando, em ordem de freqüência, maxilares, mandíbula, os ossos frontal, esfenóide e etmóide, e mais raramente o temporal e occipital. Já na forma unifocal, apenas cerca de 10% dos pacientes desenvolvem lesões nesta topografia3,5.

Na displasia fibrosa a lesão se expande e leva à distorção e fraqueza óssea, causando deformidade e destruição do esqueleto, e quando afeta os ossos craniofaciais pode levar ao comprometimento de nervos cranianos, órbita e globo ocular e até cápsula ótica1,2. Em uma série de 21 casos, os sintomas mais comuns foram dor facial atípica ou cefaléia (57%), seguidos por congestão sinusal/infecção (43%), inicialmente atribuídos a uma rinossinusite3.

O caso apresentado demonstra um acometimento poliostótico e bilateral craniofacial, divergindo dos relatos quanto ao predomínio da unilateralidade, e concordando quanto aos aspectos clínico-epidemiológicos. A paciente é portadora de rinite alérgica, havia sido submetida a ciclos de tratamento com melhora desta, com permanência e agravamento da cefaléia, e não apresentava deformidade estética, o que retardou o diagnóstico definitivo.

A tomografia computadorizada é o exame de escolha para diagnóstico e seguimento, e as características radiológicas refletem sua morfologia. Três padrões são descritos. A forma pagetóide, vista neste caso, é mais freqüente, descrita em 56% dos casos, alternando áreas escleróticas e translúcidas, resultando na aparência de vidro despolido. As formas esclerótica e cística afetam 23% e 10% dos pacientes, respectivamente1,2,3.

      A maioria dos autores concorda quanto ao tratamento conservador da doença, conduta no caso descrito, indicando cirurgia quando é acompanhada de manifestações clínicas significantes ou deformidade estética2,3,6. Ainda existe a possibilidade da doença se estabilizar após a puberdade2,4.

 

4- Referências bibliográficas

 

1-     Yetiser S, Gonul E, Tosun F, Tasar M, Yidir Y. Monostotic craniofacial fibrous dysplasia: the turkish experience. J Craniofac Surg 2006; 17(1):62-7.

2-     Ricalde P, Horswell BB. Craniofacial fibrous dysplasia of the fronto-orbital region: a case series and literature review. J Oral Maxillofac Surg 2001;59(2):157-68.

3-     Papadakis CE, Skoulakis CE, Prokopakis EP, Nikolidakis AA, Bizakis JG, Velegrakis GA, Helidonis ES. Fibrous dysplasia of the temporal bone: report of a case and a review of its characteristics. Ear Nose Throat J 2000;79(1):52-7.

4-     Hempel JM, Karkos PD, Issing WJ. Fibrous dysplasia of the temporal bone. Ear Nose Throat J 2006;85(10):656-7.

5-     Fuster MAA, Martin JA, Rodriguez-Pereira C, Navarro JMG. Monostotic fibrous dysplasia of the frontal bone with orbital extension. Acta Otorrinolaringol Esp 2002;53(3):203-6.

6-    Fujimoto A, Tsuboi K, Ishikawa E, Nose H, Nose T. Surgery improves vision and cosmetic appearance of na adult patient with fibrous dysplasia of the frontal bone. J Clin Neurosci 2004; 11(1):95-7.

Figura 1

TC de seios paranasais - Corte coronal

Suplemento
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