ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

Abscesso de Ponta Nasal após 19 meses de Rinoplastia Complexa
Nasal Tip Abscess after 19 months of Complex Rhinoplasty

Autores:

Allex Itar Ogawa (Médico) Residente

Aquiles Figueiredo Leal (Médico) Residente

Flávia Lira Diniz (Médica Otorrinolaringologista) Médica Assistente do Grupo de Face

Perboyre Lacerda Sampaio (Doutor em Otorrinolaringologia) Chefe do Grupo de Face

Palavras-Chave
Ponta nasal, Rinoplastia, Rinoplastia Complexa, Abscesso de ponta nasal

Resumo

Keywords
Nasal tip, Rhinoplasty, Complex rhinoplasty, Nasal tip abscess

Abstract

 

Instituição: Divisão de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Suporte Financeiro:

Introdução

 

A rinoplastia é amplamente realizada em nosso meio1 e, apesar dos avanços na técnica operatória e no entendimento da fisiologia e microbiologia nasal, complicações infecciosas podem ocorrer colocando em risco o resultado estético-funcional e a integridade do paciente. Apesar das baixas taxas de infecções pós-operatórias, estudos recentes demonstram maior incidência de infecções em cirurgias complexas (reoperações ou utilização de enxerto), entretanto controvérsias ainda existem a respeito do melhor esquema antibiótico para o paciente submetido a este procedimento2. Após diagnosticado a infecção, o tratamento deve ser iniciado para se evitar complicações graves e se possível evitar ou minimizar o dano estético ao procedimento3. Infecções tardias são muito raras e geralmente estão relacionadas com reações a materiais usados no procedimento4.  Relatamos um caso de uma paciente submetida a rinoplastia com colocação de strut intercolumelar e que evoluiu com abscesso de localização interdomal no 19° mês pós operatório.

 

Apresentação do Caso

 

E.F.G., 45 anos, feminino. Submetida a rinoplastia em Agosto de 2004 com objetivo de retirar giba cartilaginosa, estreitamento de pirâmide óssea, projetar e redefinir a ponta nasal sendo realizado além da lateralização de domus, um strut intercolumelar de cartilagem septal da própria paciente, sem intercorrências. Realizado cefazolina profilática e mantido cefalexina no pós-operatório. Retornou no 6º mês pós-operatório satisfeita com resultado. Em Março de 2006 apresentou flogose em ponta nasal que evoluiu para drenagem piossanguinolenta. O restante do exame era normal. Realizada exploração cirúrgica local, com visualização de abscesso entre os domus, grande quantidade de tecido fibrótico e extensa absorção de cartilagens laterais inferiores. Realizado cefazolina profilática e mantido cefalexina no pós-operatório, não sendo observado, porém,  regressão do quadro nasal. Alterado o esquema antibiótico - Clindamicina e Ceftriaxone - observando-se melhora. (figura 1). A cultura revelou crescimento de Morganella morgani. Em junho de 2006 recidiva de drenagem de secreção em ponta nasal e nova exploração local com visualização de ponto de nylon entre as cartilagens envolto por pequena quantidade de tecido gelatinoso ao redor. Realizado cefazolina profilática e mantido amoxicilina-clavulanato no pós-operatório com resolução do quadro. A paciente não apresenta mais quadros infecciosos e está em programação para correção do dano estético.

 

Discussão

 

Rinoplastias são procedimentos em ambiente contaminado e diversos fatores contribuem para que se torne ou não infectada. O uso de antibióticos seja profilático ou pós operatório tem mostrado redução do número de infecções em diversas séries, mas ainda é motivo de controvérsia2. Nos casos de enxertos e reoperações são atribuídos maiores índices de complicações infecciosas, contudo reações de corpo estranho atribuídas a fios continuam imprevisíveis podendo ocorrer tardiamente4 o que pode ter contribuído para evolução deste caso. Dentre os patógenos, o mais encontrado nas infecções é o Staphylococcus aureus, seguido pelas bactérias gram-negativas (Klebsiella sp, Escherichia coli, Enterobacteria sp, Haemophilus influenza, Morganella morgani)2. Neste caso, foi utilizada antibioticoterapia profilática e pós-operatória, uso de enxerto autólogo e seguimento freqüente até o 6° mês pós operatório. Tratamento agressivo foi instituído assim que firmado o diagnóstico de abscesso, com antibioticoterapia e drenagem local. Apesar de descrito na literatura que a cirurgia reparadora pode ocorrer num mesmo momento à drenagem de abscesso sem aumento nas taxas de infecção3, optou-se por uma nova cirurgia em outro tempo para correção do dano estético.

 

Comentários Finais

 

Infecção da ferida operatória é uma das complicações mais temidas em rinoplastia, pois podem ter conseqüências não apenas estéticas. Enxertos com bordos irregulares, afiados, fios dos mais diferentes materiais parecem representar um papel nas infecções tardias. Devido à sua raridade, casos como estes continuam um desafio para o cirurgião de nariz. Frente a situações como esta, condutas ativas devem ser adotadas no intuito de minimizar as seqüelas oferecidas ao paciente.

 

Referências Bibliográficas

 

  1. Koybasi S. Extrusion of Autologus Septal Cartilage Graft After Rhinoplasty. Otolaryngology-Head and Neck Surgery (2006) 134, 526-527
  2. Andrews PJ, East CA, Jayarai SM, Badia L, Panagamuwa C, Harding L. Prophylactic vs Postoperative Antibiotic Use in Complex Septorhinoplasty Surgery - A Prospective, Randomized, Single-blind Trial Comparing Efficacy. Arch Facial Plast Surg. 2006;8:84-87.
  3. Walton RL, Wu LC, Beahm EK. Salvage of Infected Cartilage Grafts for Nasal Reconstruction With a Through-and-Through Irrigation System. Ann Plast Surg 2005;54: 445-449.
  4. Graham BS, Thiringer DO, Barrett TL. Nasal tip ulceration from infection and extrusion of a nasal alloplastic implant. J Am Acad Dermatol 2001;44:362-4

Ponta nasal após abordagem de abscesso e controle com antibioticoterapia parenteral.

Suplemento
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