ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

Cisto do Ducto Naso Palatino.
Nasopalatine Duct Cyst.

Autores:

Pierre Fonseca da Costa (Pós-graduando do 1º ano em Otorrinolaringologia pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.) Pós-graduando do 1º ano em Otorrinolaringologia pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

Jair de Carvalho e Castro (Doutor em Otorrinolaringologia pela EPM-UNIFESP) Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórida do Rio de Janeiro

Antônio Xavier de Brito (Título de especialista pela Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.) Preceptor da 2ª Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

Luzia Abrão Elhadj (Título de especialista pela Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.) Preceptora da 2ª Enfermaria de Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

Ana Carolina Pinho Martins (Pós-graduanda do 2º ano em Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórida do Rio de Janeiro) Pós-graduanda do 2º ano em Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórida do Rio de Janeiro

Gisele Maia Siqueira (Pós-graduanda do 2º ano em Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórida do Rio de Janeiro.) Pós-graduanda do 2º ano em Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórida do Rio de Janeiro.

Palavras-Chave
Nasopalatino, Cisto do Ducto Naso-Palatino

Resumo
Descrito pela primeira vez em 1914, por Meyer, o cisto do ducto naso-palatino é o cisto não odontogênico mais comum da cavidade oral. Mais prevalente em homens entre a 4ª e 6ª décadas de vida, sem predileção por raça, ele não tem uma etiologia claramente definida. No tratamento cirúrgico relatado, a escolha foi pela enucleação cirúrgica da lesão.

Keywords
Nasopalatine, Nasopalatine Duct Cyst.

Abstract
Described for the first time in 1914 by Meyer, the nasopalatine cyst is most common kind of non odontogenical cyst of the oral cavity. It is prevalent in men in their 4th or 6th life decades, without race distinction, and it has no clearly defined etiology. In the reported case the choice of treatment was the surgical enucleation.

 

Instituição: 2ª Enfermaria de Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro

Suporte Financeiro: ----------------

INTRODUÇÃO

O cisto do ducto nasopalatino é o cisto não odontogênico mais freqüente do sistema estomatognático (1%). É mais comum entre a quarta e sexta décadas de vida, aparecendo clinicamente como uma tumefação na região dos incisivos centrais superiores, com relatos freqüentes de dor e drenagem (lesões assintomáticas também podem acontecer). Em pacientes de idade mais avançada, a lesão se apresenta menos agressiva. Ocorre com mais freqüência no sexo masculino, não havendo predileção por raça. Sua histogênese envolve os remanescentes do ducto nasopalatino, estrutura que liga a cavidade oral e a cavidade nasal (região do canal incisivo) durante a embriogênese, mas o mecanismo de formação é ainda desconhecido. A denominação de "cisto do ducto nasopalatino" deve ser preferível à de "cisto do canal incisivo", "cisto da papila incisiva", "cisto palatino mediano" e mesmo "cisto nasopalatino", por estes indicarem apenas os locais anatômicos onde estão localizados os cistos. Radiologicamente observamos uma lesão radiolúcida bem circunscrita, em geral ovalada (às vezes com aspecto de pêra invertida ou de coração), com bordas compostas por tecido ósseo esclerosado (bem radiopaco). Ao exame histopatológico, notamos uma cápsula fibrosa recoberta ou por epitélio escamoso estratificado, ou por epitélio colunar simples, ou pseudo-estratificado, ou por epitélio cúbico simples. Células ciliadas ou caliciformes (colunares com citoplasma claro, contendo, em geral, glicogênio) também podem ser vistas. O tipo de epitélio predominante vai depender da localização da lesão: se for próxima à cavidade nasal, predomina o epitélio respiratório; se for próxima à cavidade bucal, o escamoso. Na cápsula, podem ser vistos nervos, artérias musculares e veias, devido à proximidade da lesão ao canal incisivo.

 

OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho é relatar um estudo de caso de ducto do cisto naso-palatino pouco freqüente no dia-a-dia do otorrinolaringologista.

 

RELATO DE CASO

MFP, masculino, 51 anos, cor branca, natural de Portugal, apresentou-se ao ambulatório de otorrinolaringologia em outubro de 2006, com a queixa de ligeiro abaulamento indolor na região maxilar esquerda. Na ectoscopia observamos um discreto apagamento do sulco nasolabial esquerdo, não apresentando sinais flogísticos. No exame das fossas nasais, não foi observado nenhuma alteração e na orofaringoscopia havia abaulamento da fossa jugal esquerda na altura dos pré-molares superiores. O exame odontológico era normal. Solicitamos tomografia das cavidades paranasais onde observamos uma imagem volumosa e ovalada com densidade de partes moles localizada, anteriormente, no seio maxilar esquerdo, promovendo bombeamento e adelgaçamento da parede óssea da base do seio e pequenas áreas de solução de continuidade. Por sugestão do radiologista foi feita uma ressonância nuclear magnética (RMN) que revelou lesão expansiva bem delimitada, ocupando o recesso inferior do seio maxilar esquerdo envolvendo o bordo alveolar relacionado aos molares com limites precisos, apresentando sinal intermediário em T1 e alto em T2, sugerindo conteúdo protéico. Observamos uma expansão concêntrica, com abaulamento das paredes antero-lateral, fazendo contato com o canal parotídeo e o plano adiposo infra-temporal, o que sugeria um diagnóstico de cisto odontogênico queratinizado. Optamos por retirar a lesão fazendo uma sinusectomia maxilar (Caldwel-Luc) e meatotomia média. A cirurgia transcorreu sem complicações ou evidência de fístula. Na biópsia, o histopatológico mostrou quadro compatível com cisto do ducto nasopalatino, que revelou nos cortes microscópicos uma cavidade virtual revestida, ora por epitélio cuboidal ciliado, ora por epitélio pavimentoso estratificado com áreas hiperplásicas. No período trans e pós-operatório não houve intercorrências e o paciente permanece assintomático até o momento.

 

DISCUSSÃO

Histologicamente esse tipo de lesão surge pelo desenvolvimento de remanescentes do ducto nasopalatino, causada por traumas cirúrgicos, infecções orais ou por proliferação espontânea do epitélio do ducto.

No caso clínico relatado destacamos uma lesão paucisintomática cujas imagens radiológicas se mimetizam com outras lesões císticas. No caso em questão a lesão só pôde ser elucidada após o exame histopatológico.

No diagnóstico diferencial devemos lembrar dos cistos odontogênicos, da mucocele de seio maxilar e do ameloblastoma. Na maioria dos casos, o tratamento para o cisto nasopalatino é a enucleação cirúrgica. Porém, o tratamento deverá ser proposto isoladamente para cada caso, de acordo com a extensão da lesão (6).

 

CONCLUSÃO

O exame histopatológico da peça cirúrgica é fundamental para o diagnóstico definitivo, principalmente, na diferenciação do cisto do ducto nasopalatino com os outros cistos odontogênicos e para excluir a possibilidade de neoplasia odontogênica, especialmente o ameloblastoma. Neste caso, apesar da hipótese diagnóstica inicial com tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética, nos deparamos com um tumor benigno de menor incidência.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. VASCONCELOS, R. F. et al. Retrospective Analysis of 31 Cases of Nasopalatine Duct Cyst. Oral Dis. 1999; 5(3): p. 325-328.

2. RODRIGUES C. B. F, BARROSO J. S. Cisto do ducto nasopalatino (Revisão de literatura). Rev. Assoc. Paul. Cirurg. Dent. 1998; 42, (3): p. 215-221.

3. ELLIOTT, K. A.; FRANZESE, C. B.; PITMAN, K. T. Diagnosis and Surgical Management of Nasopalatine Duct Cysts. Lancet, 2004; 114 (5): p. 1336-1340.

4. MERMER, R. W.; RIDER, C. A.; CLEVELAND, D. B. Nasopalatine Canal Cyst: a Rare Sequelae of Surgical Rapid Palatal Expansion. J. Oral Surg., 1995; 80 (6): p. 620-625.

5. GOTZFRIED, H.F. Bilatical Patent Nasopalatino Ducto. A New Method of Treatment. J. Oral Maxillofacial Surgery, 1986; 14 (7): p. 113-115.

6. IGREJA et al., Nasopalatine Duct Cyst: Report of Case. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., 2005; 47 (2): p. 41-48.

Suplemento
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