ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Trabalho Clínico

Fratura Nasal: Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na cidade de Manaus-AM
Nasal Fractures : Profile epidemiologist of the patients taken care of in the city of Manaus-AM

Autores:

João Bosco Botelho (Professor Doutor Livre Docente) Professor da Disciplina Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Centro Universitário Nilton Lins

Gecildo Soriano dos Anjos (Professor mestre ) Professor da disciplina de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do Centro Universitário Nilton Lins e orientador da residência em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia e Fundação Hospital Adriano Jorge

Alexandre Borges Barbosa (Professor mestrando ) Professor da disciplina de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do Centro Universitário Nilton Lins e Universidade Estadual do Amazonas e orientador da residência em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia e Fundação Hospital Adriano Jorge.

Waldyr Moysés de Oliveira Júnior (Residência Médica em Otorrinolaringologia) Orientador da residência em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia

Daniele Memória Ribeiro Ferreira (Residente do 2º ano em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia ) Médico residente

Marina Motta de Morais (Residente do 1º ano em Otorrinolaringologia da Fundação Hospital Adriano Jorge) Médico residente

Fernando Bezerra de Melo e Souza (Residente do 1º ano em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia) Médico residente

Palavras-Chave
Trauma de face, Fratura nasal, Estética facial

Resumo
Introdução: A fratura traumática nasal nas suas diferentes formas anatomoclínicas se origina mais frequentemente de acidentes automobilísticos, de acidentes esportivos e de acidentes domésticos. Objetivo: Caracterizar quanto à idade e ao sexo pacientes portadores de fratura traumática de nariz. Material e Métodos: Foram classificados quanto a idade e sexo pacientes portadores de fratura nasal traumática atendidos em serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial na cidade de Manaus-AM, entre 1985 e 2005. Resultados: O sexo predominante nas fraturas traumáticas nasais foi o masculino, representando 67,5% dos casos (494 pacientes). Já a faixa etária de maior atendimento foi 15-35 anos (72,7%). Discussão: As fraturas nasais levam a prejuízos econômicos e sociais importantes, pois ocorrem na maioria das vezes em pessoas jovens, do sexo masculino, em plena fase produtiva, levando a cicatrizes antiestéticas e obstrução das cavidades nasais. Conclusão: A redução das fraturas faciais deve ser a mais precoce e precisa possível, pelas suas implicações estético-funcionais.

Keywords
Trauma of face, Nasal Fractures, Esthetic face

Abstract
Introduction: The traumatic fracture in its different shapes (clinical and anatomic) has its origins in automobilist, sportive and domestic accidents. Aim: To characterize age and sex of patients with traumatic nasal fractures. Methods: The age and sex of patients with nasal fracture was classified according to the Otorrinolaringology and Surgery of Neck and Face Center of Manaus - AM, between 1985 and 2005. Results: The predominant sex in the traumatic fractures was the masculine, which represented 67,5% of the cases (494 patients). The most common age was 15-35 years old (72,7%). Discussion: The nasal fractures brings economic and social prejudice because it occurs most of the time in young people, male, in reproductive age, leaving anti-esthetics scars and nasal obstruction. Conclusion: Reduction of facial fractures should be in early stages and very precise due your esthetic-functional implications.

 

Instituição: Universidade Estadual do Amazonas, Hospital Santa Júlia e Centro Universitário Nilton Lins

Suporte Financeiro:

 

INTRODUÇÃO

 

As fraturas do nariz são as mais comuns das fraturas faciais, basicamente motivadas pela topografia do nariz extremamente proeminente e vulnerável. A fratura nasal pode não ser evidenciada pela inspeção devido ao edema que ocorre após o traumatismo e oculta às deformidades da pirâmide nasal.

As fraturas nasais podem envolver uma ou mais estruturas osteocartilaginosas que compõem o nariz.

1. Fraturas cartilaginosas: São raras na clínica de traumatologia bucofacial. Resultam de traumatismo direto do septo cartilaginoso ou das cartilagens laterais do nariz.

2. Fraturas ósseas: São as mais frequentemente encontradas. Referem-se às fraturas dos ossos nasais, septo ósseo e do processo nasal do maxilar uni ou bilateralmente.

3. Fraturas combinadas: São encontradas eventualmente em tipos especiais de traumatismos faciais em que ocorre no mesmo paciente fratura óssea e cartilaginosa das estruturas que compõem o nariz.

4. Fraturas associadas: Sempre presente nos traumatismos faciais graves. A fratura nasal é acompanhada de outras fraturas nos ossos faciais contíguos: vômer, etmóide, maxilar e frontal.

A fratura traumática nasal nas suas diferentes formas anatomoclinicas se origina mais frequentemente de acidentes automobilísticos, de acidentes esportivos e de acidentes domésticos. Na atualidade tem-se dado muita importância aos traumatismos bucofaciais decorrentes de acidentes de trânsito em geral. As estatísticas especializadas dos principais centros populacionais do mundo mostram que a mortalidade e a morbidade conseqüente a estes acidentes têm aumentado em proporções geométricas.

 

 

MATERIAL E MÉTODOS

     

Foram atendidos setecentos e trinta e dois pacientes (N=732) portadores de fratura nasal traumática em serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial na cidade de Manaus-AM, entre 1985 e 2005.

Os dados dos pacientes foram obtidos por coleta em prontuário (estudo retrospectivo). Foram observados sexo e idade, dividindo os pacientes em faixas etárias: 1-7 anos, 8-14 anos, 15-25 anos, 26-35 anos, 36-45 anos, 46-55 anos, 56-65 anos, 66-75 anos e 76 ou mais.

Os resultados foram então organizados em gráfico segundo idade e sexo. A cor azul representa sexo masculino e a cor vermelha o sexo feminino.

 

RESULTADOS

 

Entre 1985 e 2005, o Serviço de ORL e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, em Manaus, atendeu e tratou 238 pacientes do sexo feminino e 494 do sexo masculino, portadores de fratura traumática nasal, conforme gráfico abaixo.

 

O sexo predominante nas fraturas traumáticas nasais foi o masculino, representando 67,5% dos casos (494 pacientes). Já o sexo feminino representou 238 casos (32,5%).

A distribuição por faixas etárias permitiu observar que houve maior número de casos entre os 15-35 anos de idade. Entre 15-25 anos foram 229 pacientes, incluindo o sexo masculino e feminino (40,8% do atendimento) e na faixa etária de 26-35 foram 233 pacientes (34,8%). Deste modo essas duas faixas etárias contribuíram com 532 pacientes, representando 72,7% dos casos.

 

 

DISCUSSÃO

 

O trauma está sendo considerado a grande doença do milênio, e a face é uma das regiões mais atingidas, salientando-se os casos de acidente automobilístico o principal fator etiológico dos traumatismos bucomaxilofacial seguido de agressões, acidentes de esporte e quedas. Sendo que nos países desenvolvidos têm preponderado as agressões, e nos países em desenvolvimento os acidentes de trânsito.

O livre trânsito aéreo pelas cavidades nasais é condição primária para boa respiração e permanência sensitiva olfatória. A estética facial é ditada pela normalidade do contorno nasal, uma vez que é ponto mais saliente da face.

O relato do traumatismo facial recente com deformidade nasal associado ao edema local, equimose palpebral uni ou bilateralmente, dor referida e obstrução nasal uni ou bilateralmente constituem a síndrome clínica da fratura traumática nasal.

Muitas vezes os achados clínicos citados podem ser encontrados com hemorragia nasal, que varia desde pequenos sangramentos até rinorragia abundante. Eventualmente, o traumatismo nasal direto com fratura dos ossos nasais pode causar fratura associada da lâmina cribiforme do etmóide, levando ao aparecimento de liquorréia nasal que se tornará evidente após o controle da hemorragia. Todavia, a liquorréia pode ter origem também do traumatismo crânioencefálico com fratura craniana e rompimento da dura-máter se estendendo aos seios paranasais que drenam nas cavidades nasais. A palpação cuidadosa do nariz é o meio semiotécnico clínico da fratura nasal traumática. Na palpação serão observadas a mobilidade óssea anormal e a crepitação na área da fratura.

O pronto atendimento ao paciente portador de fratura traumática nasal se estende eventualmente as duas circunstâncias: na hemorragia abundante e na obstrução à passagem de ar. Deverá ser realizada, então, a coibição da hemorragia nasal pelo tamponamento nasal retrógrado e a desobstrução das vias aéreas superiores. Raramente realizamos a traqueostomia no paciente portador de fratura traumática nasal, quando realizada, é sempre nas fraturas associadas e grandes traumatismos faciais.

 O estudo radiológico dos ossos nasais deve fazer parte da rotina de atendimento do traumatizado da face. Ajudará a estabelecer com exatidão a área da fratura. O exame radiológico deve estar exaustivamente associado à clínica, pois em determinadas circunstâncias, como nas fraturas traumáticas nasais em crianças, não se deve considerar unicamente os dados radiográficos.  

  .

Figura 1 - TC Seios Paranasais mostrando fratura nasal

 

O tratamento das fraturas traumáticas nasais se orienta basicamente no aspecto estético do nariz e na desobstrução das cavidades nasais. Obtêm-se bons resultados nas reduções das fraturas nasais imediatamente depois do traumatismo. Muitas fraturas simples que tem até 3 horas de duração, respondem bem a redução com a combinação de métodos. As fraturas cominutivas associadas envolvem maiores esforços técnicos, desde tratamento cruento até rinoplastias com contenção gessada pós-operatória. As uniões viciosas se fazem rapidamente nas fraturas traumáticas nasais e frequentemente tornam irredutíveis as fraturas após dez a quatorze dias de traumatismo.

Pacientes que não foram convenientemente valorizados ou que não procuraram assistência médica após o traumatismo podem evoluir com complicações tardias ou seqüelas. A obstrução à passagem de ar uni ou bilateralmente nas cavidades nasais, motivada pelo desvio do septo residual, pelas consolidações ósseas viciosas e pela deformidade nasal nas suas diferentes modalidades, alterando o contorno facial, constituem as principais complicações tardias das fraturas traumáticas do nariz. Muitos dos pacientes que procuram a cirurgia cosmética para as deformidades nasais anteriores passaram despercebidos ou não foram devidamente valorizados.

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 2 - Paciente com fratura nasal

        

 

Figura 3 - Paciente após redução de fratura nasal

 

Estas fraturas levam a prejuízos econômicos e sociais importantes, pois ocorrem na maioria das vezes em pessoas jovens, mais freqüentemente em homens, em plena fase produtiva levando a cicatrizes antiestéticas e obstrução das cavidades nasais. Por isso, a redução das fraturas faciais deve ser a mais precoce e precisa possível, pelas suas implicações estético-funcionais.

 

 

 

CONCLUSÃO

 

Os pacientes portadores de traumatismo facial devem ser exaustivamente examinados clínica e radiologicamente e na eventualidade de serem portadores de fratura de nariz não associada, devem ser submetidas ao tratamento curativo nas primeiras três horas após o traumatismo, levando-se em consideração como guia para a redução a desobstrução das cavidades nasais e a estética facial.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

1)      ADAMS, W.M. and ADAMS, I.H. - Internal wire fixation of facial fractures: l5 

      years follow-up report.Am. J. Surg.99:12, 1956.

 

2)      ALLEN, G.W. - Ligation of the internal maxilary artery for epistaxis. Laringoscope

80:915-923, 1970.

 

3)      BROWN, J.B; - Fractures of bones of face. Surg.Gynec Obstet. 68:564, 1939.

 

4)      CONVERSE J.M. - Corretive plastic surgery of the nose.In  JACKSON,C.L. - Diseases of the Nose,Throat and Ear. 2d ed. Philadelphia, W.B. Saunders     Company, 1959.

 

5)      CONVERSE, J.M. - The surgical treatment of facial injuries. Proc. Roy. Soc. Med. 38.8ll, l942.

 

6)      DINGMAN, R.O. and NATVIG, P. - Surgery of Facial Fractures. Philadelphia,W.B. Saunders Co., 1964.

 

7)      ERICH, J.B. and AUSTIN,L.T. - Traumatic injuries of facial bones: An Atlas of treatment. W.B. Saunders Co.,Philadelphia, 1944.

 

8)      McCoy, F.J.; CHANDLER,R.A.; MANGMAN, C.G.; MOORE, J.R. and SIEMSEN, G. - An analysis of facial fractures and their complications. Plast. Reconstr. Surg. 29.831, 1962.

 

9)      SHAPIRO, H.H. - Maxillofacial anatomy. J.B. Lippincott Company, Philadelphia, 1954.

 

10)  THOMA, K.H.; GORLIN, R.J. and GOLDMAN, H.M. - Patologia Oral. Salvat Editores, Barcelona, l973. 

 

11)   HUNG T; CHANG W; VLANTIS AC; TONG MC; VAN HASSELT CA. Patient satisfaction after closed reduction of nasal fractures. Arch Facial Plast Surg;9(1):40-3, 2007 Jan-Feb

 

12)  DAS UM; NAGARATHNA C; VISWANATH D; KEERTHI R; GADICHERLA P. Management of facial trauma in children: A case report. J Indian Soc Pedod Prev Dent;24(3):161-3, 2006 Sep.

 

13)  HWANG K; YOU SH; KIM SG; LEE SI. Analysis of nasal bone fractures; a six-year study of 503 patients. J Craniofac Surg;17(2):261-4, 2006 Mar.

 

14)  ROBINSON JH. Airway obstruction following closed reduction of nasal fractures. Plast Reconstr Surg;114(5):1357-8; author reply 1358, 2004 Oct

 

 

 

 

 

 

Figura 1

TC Seios Paranasais mostrando fratura nasal

Figura 2

Paciente com fratura nasal

Figura 3

Paciente após redução de fratura nasal

Suplemento
Copyright 2007 Revista Brasileira de Otorrinolaringologia - All rights are reserved
ABORLCCF - Av. Indianópolis, 740 - Moema - Cep. 04062-001 - São Paulo - SP - Tel: (11) 5052-9515
Não nos responsabilizamos pela veracidade dos dados apresentados pelos autores.
O trabalho acima corresponde a versão originalmente submetida pelo autor.