ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

EVOLUÇÃO TARDIA DA AMIGDALECTOMIA UNILATERAL
DELAYED EVOLUTION OF THE UNILATERAL TONSYLLECTOMY

Autores:

LUIZ FERNANDO ALMEIDA DOS SANTOS (MÉDICO) MÉDICO RESIDENTE EM OTORRINOLARINGOLOGIA DO SEGUNDO ANO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO-UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

PEDRO GEISEL SANTOS (MÉDICO ) MÉDICO RESIDENTE EM OTORRINOLARINGOLOGIA DO SEGUNDO ANO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO-UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

ROBERTO CAMPOS MEIRELLES (DOUTOR) CHEFE DO SERVIÇO DE OTORRINOLARINGOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO-UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

ISABELA GUIMARÃES PACHE DE FARIA (MÉDICA) MÉDICA RESIDENTE EM OTORRINOLARINGOLOGIA DO SEGUNDO ANO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO-UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

ALAN CHAVES PEREIRA (MÉDICO) MÉDICO RESIDENTE EM OTORRINOLARINGOLOGIA DO PRIMEIRO ANO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO-UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

Palavras-Chave
Amígdala; Amigdalectomia; Hipertrofia

Resumo
Grande parte da literatura descreve a amigdalectomia como um procedimento bilateral. Entretanto, alguns autores defendem a realização unilateral desta cirurgia, principalmente nos pacientes portadores de hipertofia e obstrução respiratória, ou abcesso periamigdaliano sem antecedentes de infeccções de repetição. Como evoolução tardia, pacientes submetidos à remoção amigdaliana uinilateral podem apresentar hipertrofia compensatória contralateral, principalemnte crianças, manifestando sintomas como obstrução rerspiratória e disfagia, requerendo nova cirurgia.

Keywords
Tonsil; Tonsillectomy; Hypertrophy

Abstract
The greatest part of literature describes tonsillectomy like a bilateral procedment. Although, some authors defend the realization of unilateral surgery, mainly in the patients with hypertrophy and airway obstruction or peritonsyllar abscess without previous history of repeated infections. Like a delayed evolution, patients subjected to unilateral tonsillectomy can present contralateral compensatory hypertrophy, mainly the children, manifesting airway obstruction and dysphagia, requiring a new surgery.

 

Instituição: Hospital Universitário Pedro Ernesto - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Suporte Financeiro:

EVOLUÇÃO TARDIA DA AMIGDALECTOMIA UNILATERAL

DELAYED EVOLUTION OF THE UNILATERAL TONSYLLECTOMY

 

1. INTRODUÇÃO

 

A maior parte da literatura aborda a amigdalectomia como um procedimento bilateral. Todavia, alguns trabalhos abordam a prática unilateral deste procedimento 1,2.  Habitualmente a amigdalectomia unilateral está indicada na suspeita de lesão neoplásica e em alguns casos de abscesso periamigdaliano. Há duas décadas foi utilizada para hipertrofia em crianças pequenas, nas quais se tentava preservar uma amígdala para possível manutenção da função imunológica. Procedimento praticamente abandonado 3.

      Apresentamos um caso de criança submetida a amigdalectomia unilateral e que foi avaliada seis anos após, com aumento significativo da amígdala remanescente.

 

2. RELATO DE CASO

 

L.M., 4 anos,feminino, branca, estudante, natural do RJ, portadora de Síndrome de Down, copareceu ao nosso Serviço com queixa de disfagia para sólidos, apnéia do sono e roncos noturnos. Sua mãe referiu amigdalectomia há 6 anos.

Ao exame, apresentava hipertrofia amigdaliana direita ultrapassando a linha média e ausência da amigdala esquerda. Exame físico sem outras alterações (Figura 1).

Cavum permeável. Realizado amigdalectomia à direita com laudo do histopatológico de hipertrofia amigdaliana crônica.

 

3. DISCUSSÃO

 

A amigdalectomia é descrita e estudada há muitos séculos. Atualmente, as indicações para esta cirurgia são mais criteriosas, graças ao desenvolvimento da Imunologia e da relação mais estrteita com a Pediatria 3.

      Sorensen et al. (2005), estudaram 536 pacientes com abscesso periamigdaliano, sem antecedentes de infecções de repetição, recorrendo à amigdalectomia unilateral. Do total, readmitiram-se aproximadamente 6% dos pacientes para remoção da amígdala remanescente, dos quais 97% tinham menos de 30 anos 1. Para os autores, a preservação da amígdala remanescente proporcionaria maior proteção imunológica à orofaringe nos pacientes acima de 30 anos, com incidência menor de faringites. Naqueles com menos de 30 anos, não houve diferença estatisticamente significativa na incidência de faringite entre os pacientes submetidos a  exérese bilateral e unilateral das amigdalas, sugerindo aos autores cirurgia bilateral1.

Gray et al (1993) analisaram 76 pacientes com hipertrofia amigdaliana. Nas remoções unilaterais houve hipertrofia compensatória no período de dois a quatro anos em nove casos, necessitando de remoção. Em cinco casos a outra amigdala foi removida seis a 15 anos mais tarde. O estudo mostrou diminuição na incidência de infecção em 80% dos casos 4.

Kutluhan et al.(1991) observaram 197 pacientes, analisando eficácia da amigdalectomia unilateral em relação à bilateral nos portadores de hipertrofia amigdaliana e obstrução respiratória. A idade média dos pacientes submetidos ao procedimento unilateral foi de 4,5 anos e o  período de acompanhamento  de um ano. Dos 84 casos de cirurgia unilateral, seis necessitaram de amigdalectomia complementar  por hipertrofia compensatória ou infecções de repetição na tonsila remanescente. Os autores defendem o procedimento unilateral nos casos de hipertrofia 2.

Assim, alguns autores defendem a amigdalectomia unilateral. Entretanto,  muitos estudos envolvem pacientes pediátricos, com hipertrofia amigdaliana e obstrução respiratória 1,4,5. Outros, analisam casos de abscesso periamigdaliano, sem antecedentes de infecções de repetição 2. Em ambas as situações, embora haja relato de sucesso pelos autores, é importante ressaltar que há acompanhamento pós-operatório contínuo dos pacientes, por períodos mais longos que o habitual 2,6. Afinal, há necessidade de observação do retorno dos sintomas em função da tonsila contralateral remanescente 1. Ainda assim, alguns trabalhos informam não haver diferença estatisticamente significativa, em pacientes jovens, na incidência de faringites entre os pacientes submetidos à amigdalectomia uni e bilateral 2.

 

4. CONCLUSÃO

 

      A prática da amigdalectomia unilateral é ainda controversa, sendo os estudos aplicados principalmente em populações com hipertrofia. Todavia, há necessidade de acompanhamento contínuo em ambos os casos, em razão da possibilidade da necessidade de reintervenções por hipertrofia compensatória do tecido remanescente contralateral, proporcionando reaparecimento dos sintomas.

 

 5. REFEÊNCIAS

 

1. Kuluhan A, Caksen H, Yurttas V, Kiris M, Yuca K. The effectiveness of unilateral tonsillectomy in chronic adenotonsillar hypertrophy. Kulak Burun Bogaz Ihtis Derg. 2005;15(1-2):14-18.

2. Sorensen JA, Godballe C, Andersen NH, Jorgensen K. Peritonsillar abscess: risk of disease in the remaining tonsil after unilateral tonsillectomy a chaud. J Laryngol Otol. 1991;105(6):442-4.

3. Kato M, Pinto F, Giulliano EL. Amigdalectomia: variação de técnica e os resultados na qualidade de vida. Acta ORL Técnicas em Otorrinolaringol. 2006;24(2):94-100.

4. Gray LP. Unilateral tonsillectomy--indications and results. J Laryngol Otol. 1983;97(12):1111-9.

5. Sunkaraneni V S, Jones S E M, Prasai A, Fish B M. Is unilateral tonsillar enlargement alone an indication for tonsillectomy?.J Laryngol Otol;1984:1- 4.

 

6. Aranburua J M, Knörrb J I E,  Pradoa O S, Pérez-Yarzaa G, Aldasoro A Síndrome de apneia-bradipneia obstrutiva do sono. An Pediatr (ed. port.).2006;1(2):85-9.  

Figura 1

Amigdala direita hipertrofiada após amigdalectomia unilateral. Posição cirúrgica

Suplemento
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