ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Trabalho Clínico

EFEITO DA ESTAPEDECTOMIA NO TRATAMENTO DO ZUMBIDO
EFFECT OF THE STAPEDECTOMY ON TINNITUS TREATMENT

Autores:

BRUNA FORNARI VANNI (POS-GRADUAÇÃO) MEDICA RESIDENTE

Diogo Marilio Martins (Otorrinolaringologista) Médico colaborador

Nelsoni de Almeida (Otorrinolaringologista) Médico colaborador

Sérgio Kalil Moussalle (Mestrado) Professor Titular

Palavras-Chave
Estapedectomia, Zumbido, audição

Resumo
INTRODUÇÃO A otosclerose é uma distrofia que causa fixação do estribo. O zumbido, geralmente multitonal, é encontrado em 65-87% e pode preceder a hipoacusia. A estapedectomia é realizada primariamente para tratar a hipoacusia. Tradicionalmente o zumbido não é uma indicação de estapedectomia, mas pode encomodar mais que a hipoacusia. OBJETIVO Analisar a eficácia da estapedectomia nos pacientes com zumbido. MATERIAL E MÉTODOS Estudo prospectivo com 45 pacientes submetidos a estapedectomia no Hospital São Lucas da PUCRS entre jan/05 e jul/06. Dez foram excluídos por não terem zumbidos, 7 por perda de seguimento e 1 por vertigem incapacitante. Os pacientes foram entrevistados através de questionário sobre audição e zumbido (escala análogo-visual de 0 a 10 - zero a ausência do sintoma e dez a apresentação máxima) antes a cirurgia e três meses após. Outra variável analisada foi a audição, comparando a média das freqüências 500,1000,2000 e 4000 Hz da via aérea no pré e pós-operatório. A análise dos dados foi feita com Minitab® e o Teste Wilcoxon. O nível de significância é 0,05. RESULTADOS Selecionados 27 pacientes. Idade média 42 anos (variando 15-68 anos). 74% mulheres. A média do zumbido no pré-operatório foi de 7,4±2,6 e no pós-operatório houve uma redução para 1,6 ±2,7 (mediana 6, IC 95% 4,5-8,0; p=0,00). Em todas as freqüências da via aérea analisadas (500,1000,2000 e 4000Hz) houve uma melhora em média de 21, 21,16 e 9 dB, respectivamente. CONCLUSÕES Na amostra analisada, houve uma melhora no zumbido dos pacientes com otosclerose que foram submetidos a estapedectomia.

Keywords
Stapedectomy, Tinnitus, Hearing

Abstract
INTRODUCTION Otosclerosis is a distrofia that cause stapes fixation. The tinnitus, generally multitonal, is found in 65-87% and can precede the hearing loss. The stapedectomy is primarily performed to treat the hearing loss. Tinnitus is not traditionally an indication for stapedectomy, but it is sometimes more bothersome than hearing loss. OBJECTIVE To analyze the effectiveness of stapedectomy in patients with tinnitus. MATERIAL AND METHODS Prospective study with 45 patients with indication of estapedectomy in São Lucas Hospital of PUCRS between jan/05-jul/06. Ten had been excluded for not having tinnitus, 7 for lost patient and 1 for severe vertigo. The patients had been interviewed through questionnaire, with questions about hearing and tinnitus (visual analog scale from 0-10; 0 absence of the symptom and 10 maximum presentation) before the surgery and three months after. Another analyzed variable was the hearing, comparing the average of frequencies 500,1000,2000 and 4000Hz on air-conduction in pre and postoperative. The analysis of data was made with the Minitab® program and was used the Wilcoxon Test for analysis of the tinnitus. The significance level is 0,05. RESULTS Selected 27 patients. Average age 42 years (varying 15-68 years). 74% women. The average of the tinnitus preoperative was 7,4±2,6 and postoperative reducted to 1,6 ±2,7 (medium 6, IC 95% 4,5-8,0; p=0,00). In all the air-conduction frequencies analyzed (500,1000,2000 and 4000Hz) had an average improvement of 21, 21,16 and 9 dB, respectivelly. CONCLUSIONS In the analyzed sample, it had an improvement in patients tinnitus, whose had been submitted to stapedectomy.

 

Instituição:

Suporte Financeiro:

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

ZUMBIDO

O zumbido, também denominado acúfeno, tinnitus ou tinido, é uma sensação de som percebido pelo indivíduo na ausência de uma fonte sonora externa. O barulho (zumbido) pode ser referido como um chiado, apito, barulho de chuveiro, de cachoeira, de concha, de cigarra, do escape da panela de pressão, de campainha, do esvoaçar de inseto, de pulsação do coração, batimento da asa de borboleta e de outros modos. Pode ser de forma contínua ou intermitente, constante, mono ou politonal. O zumbido pode ser subjetivo quando é somente ouvido pelo paciente; ou objetivo, quando outras pessoas também podem ouvi-lo. 1,2

Quanto à intensidade, pode ser considerado leve quando só é percebido pelo paciente em certas situações; moderado quando o paciente sabe da sua existência, porém não o incomoda; intenso quando a sensação desagradável o incomoda, prejudicando-o em diversas situações ou atividades; severo quando a manifestação se torna intolerável, acompanhando-o todo o tempo e dele não conseguindo se livrar, prejudicando-o ininterruptamente em suas atividades. 2

O grau de desconforto, intolerância ou incapacidade causado ao paciente nem sempre se relaciona com o grau de intensidade do zumbido.

O zumbido é causado por causas otológicas, metabólicas, neurológicas, farmacológicas, odontológicas, psicológicas, sendo a rigidez dos ossos do ouvido (otoesclerose ou otoespongiose ou doença de politzer) uma doença passível de tratamento. 3

 

OTOSCLEROSE

Otosclerose é uma distrofia do osso temporal com caráter genético (autossômico dominante e 40% de penetração), sendo mais comum no sexo feminino na proporção de 2:1. De causa ainda desconhecida, tem hipóteses de origem como auto-imunidade, indução infecciosa a vírus em indivíduos suscetíveis e outras. Atinge as populações de etnia caucasiana em 0,5% a 2%; é rara nas etnias negra e mongol. 2

Ela é classificada em otosclerose histológica, clinica e coclear. A otosclerose histológica é definida como um foco de limitado a cápsula ótica, sem causar manifestações auditivas ou vestibulares e é observado apenas em estudos histopatológicos do osso temporal. Já, a otosclerose clínica é definida quando ocorrem manifestações clínicas secundárias ao crescimento do próprio foco histológico, aparecendo sintomas como hipoacusia condutivas e até mistas.  E, a otosclerose coclear é definida como a ostosclerose histológica que evolui para invasão da do endósteo coclear com, sem fixação do estribo, gerando perda auditiva neurossensorial pura (algo incomum).2

Os sintomas costumam aparecer nos adultos jovens e bem mais raramente na primeira década de vida e nos idosos. São eles a perda auditiva condutiva lentamente progressiva uni ou bilateral, os zumbidos (encontrado em ¾ pacientes com otosclerose), mais raramente, as vertigens.Ao exame clínico não se observam alterações, exceto em casos raros que se identifica a otoscopia o sinal de Schwartze, ou seja, mancha róseo-avermelhado, na membrana timpânica. Ao exame audiométrico se identifica perda condutiva pura, inicialmente para tons graves, e até perda neurossensorial.

Os tratamentos disponíveis são o fluoreto de sódio, bifosfonados, a prótese auditiva e a cirurgia.

O tratamento da fixação, nos casos condutivos e mistos, é feito pela estapedectomia (retirada total do estribo com substituição do mesmo por prótese auditiva) ou pela estapedotomia (retirada só dos ramos do estribo seguida de colocação de uma prótese) ambas com 92% de recuperação, 5,5% de recuperação parcial ou piora da condução e 0,5% de lesão coclear -hipoacusia sensorial - em grau variado. As próteses utilizadas para substituir o estribo podem ser confeccionadas de plásticos ou metais.4,5,6

 

OBJETIVOS

Analisar a eficácia da cirurgia da estapedectomia na sensação de zumbidos nos pacientes com otosclerose.7,8

Monte aqui o seu manuscrito

MATERIAL E MÉTODOS

                Foi realizado um estudo prospectivo com 45 pacientes com indicação de estapedectomia no Hospital São Lucas da PUCRS a partir de 2005, dos quais 10 foram excluídos por não terem zumbidos, 7 por perda de seguimento e 1 por vertigem incapacitante. Os pacientes foram entrevistados através de questionário onde responderam a perguntas sobre audição e zumbido (escala análogo-visual de 0 a 10, sendo zero a ausência do sintoma e dez a sua apresentação máxima) antes a cirurgia e três meses após procedimento.  Outra variável analisada foi a audição, comparando a média das freqüências 500, 1000,2000 e 4000 Hz da via aérea no pré e pós-operatório. O Protocolo de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e Comissão Científica da Faculdade de Medicina e Hospital São Luca da PUCRS. A análise dos dados foi feita com o auxílio do programa Minitab® e  foi usado o Teste Wilcoxon para análise do zumbido. O nível de significância adotado é de 0,05.

 

RESULTADOS

                A média de idade dos 27 pacientes selecionados foi 42 anos (variando 15-68 anos), destes 20 (74%) foram mulheres. A média do zumbido no pré-operatório foi de 7,4±2,6 e no pós-operatório houve uma redução para 1,6 ±2,7 ( mediana 6 , IC 95% 4,5-8,0; p=0,00).  Em todas as freqüências da via aérea analisadas (500, 1000.2000 e 4000 Hz) houve uma melhora em média de 21, 21,16 e 9 dB.

 

CONCLUSÕES

                Zumbido é um dos sintomas dos pacientes com otosclerose. Na amostra analisada, houve uma melhora na sensação do zumbido dos pacientes com otosclerose que foram submetidos à cirurgia da estapedectomia.

 

 BIBLIOGRAFIA

1.      EGGERMONT, Jos J.;ROBERTS, Larry E. The neuroscience of tinnitus. Trends Neurosciences. Vol 27,n 11, p 676-82, Nov 2004.

2.      CAMPOS, Carlos A. H. de;COSTA, Henrique O. O. Tratado de otorrinolaringologia volume 2 -Doenças (otologia e Base de Crânio). São Paulo, Roca,2002.

3.      HUNGRIA,H.Otorrinolaringologia , 8 edição, Guanabara-Koogan ,Rio de Janeiro  2000.

4.      CRUZ, O L M; COSTA, S S.Otologia clínica e cirúrgica.1 edição, Revinter, Rio de Janeiro  2000.BI

5.      Sobrinho,PG;Oliveira CA;Venosa AR Int Tinnitus Journal.Long-term follow-up of tinnitus in patients with otosclerosis after stapes surgery.
vol10, n 2 p197-201,2004.

6.      Sparano A, Leonetti JP, Marzo S, Kim H. Int Tinnitus Journal. Effects of stapedectomy on tinnitus in patients with otosclerosis..
vol10, n 1 p 73-7,2004.

7.      Szymanski M, Golabek W, Mills R. J Laryngol Otol. Effect of stapedectomy on subjective tinnitus. Vol Apr;117, n 4 ,p 261-4,2003

8.      Gersdorff M,Nouwen J,Gilain C,Decat M,Betsch C.Eur Arch Otorhinolaryngol. Tinnitus and otosclerosis. Vol 257, n6 pag 314-6,2000.

 

Suplemento
Copyright 2007 Revista Brasileira de Otorrinolaringologia - All rights are reserved
ABORLCCF - Av. Indianópolis, 740 - Moema - Cep. 04062-001 - São Paulo - SP - Tel: (11) 5052-9515
Não nos responsabilizamos pela veracidade dos dados apresentados pelos autores.
O trabalho acima corresponde a versão originalmente submetida pelo autor.