Relato de Caso
DISPLASIA DE MONDINI ASSOCIADA À SÍNDROME OTO-PALATO-DIGITAL TIPO II
MONDINI DYSPLASIA ASSOCIATED WITH THE OTOPALATODIGITAL SYNDROME TYPE-II
Autores:
roberta coelho bacelar (médica) residente do 2° ano de Otorrinolaringologia do Hospital CEMA
Andy de Oliveira Vicente (mestre em otorrinolaringologia pela UNIFESP/EPM) doutorando em Otorrinolaringologia pela Unifesp/EPM
Maria Carmela Cundari Boccalini (Otorrinolaringologista) preceptora de otorrinolaringologia da residencia do hospital CEMA e do Hospital do Servidor Municipal
Guilherme Salgado Muragaki (otorrinolaringologista) otorrinolaringologista do hospital CEMA
Guilherme Padron Lahan (médico) residente do 3° ano de otorrinolaringologia do hospital CEMA
Palavras-Chave
Displasia de Mondini, Sindrome Associada
Resumo
O epônimo displasia de Mondini tem sido utilizado amplamente
para descrever uma variedade de anomalias da orelha interna óssea e
membranosa, incluindo cóclea vazia, aqueduto coclear encurtado,
modíolo hipoplásico, vestíbulo alargado e canais semicirculares
ausentes, reduzidos ou hipoplásicos.
A displasia de Mondini é a segunda malformação mais comum
da orelha interna, após a displasia de Scheibe.
Apresentamos o caso de um menino de 7 anos com síndrome
de Mondini associada à síndrome Oto-palato-digital tipo II.
Keywords
Mondini Dysplasia, Associated Syndrome
Abstract
The eponym Mondini dysplasia has been broadly applied to
describe a range of bony and membranous inner ear anomalies
including flat cochlea, shortened cochlear aqueduct, hypoplastic
modiolus, enlarged vestibule, and absent, reduced or hypoplastic
semicircular canals.
The Mondini dysplasia is the second most common
malformation of the inner ear, coming after the Scheibe dysplasia.
We present the case of a 7 year-old-boy with the Mondini
syndrome associated with the Otopalatodigital syndrome type II.
Instituição: Hospital CEMA
Suporte Financeiro:
INTRODUÇÃONa literatura, o termo displasia de Mondini descreve umamalformação do labirinto ósseo e membranoso. Foi descrita em 1791por Carlos Mondini, que estudou os ossos temporais de uma criançade 8 anos com disacusia que morreu em um acidente1. A malformaçãococlear com ausência da espiral apical, alargamento do aquedutococlear, vestibular e dos canais semicirculares, são os achados maisfreqüentes desta patologia, que é a segunda manifestação mais comumda orelha interna, após a do tipo Scheibe. Essa displasia pode seapresentar isolada ou associada a outras malformações2.Neste trabalho, relatamos o caso de um menino de 7 anos comsíndrome Oto-palato-digital tipo II e displasia de Mondini.
RELATO DE CASO1- IdentificaçãoL.B.E., do sexo masculino, 7 anos, branco, natural e procedentede São Paulo, SP.2- Queixa e duraçãodificuldade auditiva desde o nascimento3- História pregressa da moléstia atualPaciente apresentando desde o nascimento microcrania,micrognatia, exoftalmia bilateral, fenda palatina, orelhasposteriorizadas, alteração digital dos pés, mielomeningocele edisacusia. (Foto 1, 2, 3)4- Antecedentes pessoaisParto normal a termo, sem fórceps, nega patologias e uso dedrogas durante a gestação ou outras intercorrências perinatais.Realizou cirurgia para correção de fenda palatina aos 4 anos.5- Exame físicoOtoscopia: conduto auditivo externo estreito na sua porçãolateral bilateral; perfuração ampla de membrana timpânica bilateralRinoscopia: sem alteraçãoOroscopia: palato em ogiva6- BeraOuvido Direito: limiar eletrofisiológico em 40 dBNAOuvido Esquerdo: limiar eletrofisiológico em 50 dBNA7- Exames complementares- Audiometria tonal:Disacusia mista bilateral de severa intensidade- Tomografia computadorizada de ossos temporais:Presença de erosão do antro, do muro e da cadeia ossicularcompatíveis com colesteatoma.Anomalia de desenvolvimento do labirinto ósseo com dilataçãodo vestíbulo, alterações morfológicas dos canais semicircularese agenesia do modíolo levando a malformação coclear bilateralassociada à anomalia do desenvolvimento do fundo do condutoauditivo interno em ambos os lados (fotos 4, 5, 6, 7, 8).DISCUSSÃOA displasia de Mondini é descrita como uma malformação ósseae membranosa da orelha interna, incluindo cóclea achatadacom ausência da espira apical, alargamento dos aquedutoscocleares e do vestíbulo, e mais raramente, deformidade dos canaissemicirculares3.O desenvolvimento da orelha interna possivelmente é interrompidoentre a quarta e a quinta semana de gestação - após adiferenciação do placodio ótico em otocisto, mas antes da divisãodeste último no primórdio da cóclea, vestíbulo e canal semicircular- originando uma cavidade comum, a qual não possui arquiteturainterna4.A manifestação histológica mais freqüente é a dilatação dosespaços endolinfáticos, principalmente do labirinto anterior e aredução do número de estrutura, com degeneração celular pós"hydrops".Essa malformação pode ser isolada, quando é mais freqüentebilateral ou associada a outras malformações do aparelho auditivoou outros órgãos, em que é mais comum ser unilateral.A etiologia pode ser adquirida, conseqüente a doenças infecciosascomo rubéola congênita e uso de talidomida na gestação,ou congênita, associada aos vários tipos de herança. Dentre estes,temos as síndromes de Wildervanck, DiGeorge, Pendred,Fountain ou Johanson-Blizzard, além da trissomia do 13, 18, 212.Sennaroglu e Saatci encontraram, em avaliação de TC de ossostemporais de 23 pacientes com malformação de orelha interna,dois tipos diferentes de formação incompleta da cóclea. Amalformação de Mondini clássica (formação incompleta tipo II)possui três componentes: um ápice cístico, vestíbulo dilatado eaqueduto vestibular alargado, enquanto a malformação císticacócleovestibular (formação incompleta tipo I-IP-I-) tem cóclea evestíbulo císticos, sem alargamento do aqueduto vestibular.Assim, esses autores propõem a seguinte classificação paraas malformações da orelha interna, em ordem decrescente de gravidade:aplasia completa do labirinto (deformidade de Michel),aplasia coclear, deformidade de cavidade comum, formação incompletatipo I (IP-I), hipoplasia coclear e IP-II (Mondini)5.Relatamos associação da displasia de Mondini com síndromeoto-palato-digital tipo II, uma síndrome genética autossômicarecessiva ligada ao X, em que mulheres portadoras apresentammanifestações menores. Esta síndrome se manifesta com disacusiacondutiva, nanismo moderado, palato fendido, deficiência mental,hipertelorismo, protuberância frontal e occipital, micrognatia,dedos grossos e curtos, microtia, escapula alata, malar achatado,olhos mongolóides e boca voltada para baixo6.CONCLUSÃONosso paciente apresenta Síndrome Oto-palato-digital tipo IIe Síndrome de Mondini. Vale ressaltar que esta associação não foiencontrada na literatura. Indivíduos com Síndrome Oto-palato-digitaltipo II merecem investigação otorrinolaringológica minuciosa,pois podem apresentar perda auditiva associada às demaismalformações, podendo o diagnóstico ser dificultado pelo retardomental apresentado por tais pacientes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Holden PR; Linthicum FH / Mondini dysplasia of the bony andmembranous labyrinth. Oto Neurotol 2005; 26 (1): 133.2. Garofalo GN; Rodriguez U; Passa M; Barroso GE; NovoaLL; Rojas-ME; Sardinas H / Mondini dysplasia: recurrentbacterial meningitis in adolescence. Rev. Neurol 2004; 39 (10):935-939.3. Griffith AJ; Telian SA; Dows C; Gorski JL; Gebanski SS; LalewaniAK; Sheldon S / Familial Mondini Dysplasia. Laryngoscope 1998;108: 1368-1373.4. Palacin E; Valvanori G; D´Antonio M / Congenital sensorineuralhearing loss: Mondini´s deformity. Ear nose throat 2001 ; 80 (4): 1985. Sennaroglu L; Saatci I / A new classification for cochleovestibularmalformations. Laryngoscope 2002; 112 (12): 2230-2241.6. Fukuda Y; Baleeiro E; Souza A; Resnik R; Ganança M; AlmeidaC; Albernaz P / Principais síndromes e doenças ósteo-cartilaginosascom participação auditiva e/ou vestibular. Rev BrasOtorrinolaringol 1974; 40: 83-88.
displasia de Mondini
Presença de erosão do antro, do muro e da cadeia ossicular compatíveis com colesteatoma. Anomalia de desenvolvimento do labirinto ósseo com dilatação do vestíbulo, alterações morfológicas dos canais semicirculares e agenesia do modíolo levando a malformação coclear bilateral associada à anomalia do desenvolvimento do fundo do conduto auditivo interno