ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Trabalho Clínico

Hemangiomas Cérvico-Faciais
Head and Neck Haemangiomas

Autores:

João Bosco Botelho (Professor Doutor Livre Docente) Professor da Disciplina Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Centro Universitário Nilton Lins

Gecildo Soriano dos Anjos (Professor mestre) Professor da disciplina de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do Centro Universitário Nilton Lins e orientador da residência em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia e Fundação Hospital Adriano Jorge.

Daniele Memória Ribeiro Ferreira (Médico residente ) Residente do 2º ano em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia

Fernando Bezerra de Melo e Souza (Médico residente ) Residente do 1º ano em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia

Givanildo de Pádua Pires (Médico residente ) Residente do 3º ano em Otorrinolaringologia do Hospital Santa Júlia

Aldney Fonseca Ferreira (Acadêmico de Medicina) Acadêmico do 4º do curso de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas e membro da Liga Amazonense de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial

Alcidezio Farias Santana (Acadêmico de Medicina) Acadêmico do 5º do curso de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas e membro da Liga Amazonense de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial

Palavras-Chave
Hemangioma cérvico-facial, Diagnóstico, Tratamento, Relação sexo/idade.

Resumo
Hemangiomas são tumorações vasculares benignas que possuem maior prevalência na infância, acometendo principalmente cabeça e pescoço. São classificados baseando-se no aspecto histopatológico, padrão vascular, importância clínica e processo de origem podendo haver superposição entre as classificações. Podem progredir sintomática ou assintomaticamente. Localizam-se na laringe, região subglótica, mandíbula e parótidas. Nas regiões intramusculares da cabeça e pescoço e osso temporal são raros, mas também podem acometer cavidade oral, região maxilar e orbital entre outros. Para o diagnóstico, são necessários exames físico e de imagem. Não há consenso quanto ao tratamento, porém podem ser realizada cirurgia, injeção de etanol, ou de corticosteróides, criocirurgia e a cirurgia a laser que apresenta maior efetividade e é a menos invasiva. Objetivo: Evidenciar a relação sexo/idade dos pacientes com hemangiomas cérvico-facial atendidos entre 1976 e 2006, em um consultório particular da cidade de Manaus/AM. Este estudo apresenta-se de forma retrospectiva. Material e Métodos: Foram diagnosticados 131 pacientes, sendo 33 do sexo masculino e 98 do sexo feminino, com idade entre 01 a 65 anos. Resultados: A maior prevalência esteve entre mulheres de 01 a 07 anos de idade e a menor entre pacientes com 66 a 75 anos. Conclusão: Hemangioma é mais freqüente em crianças, prevalecendo na faixa etária pediátrica sobre as demais.

Keywords
Head and neck haemangiomas, Diagnosis, Treatment, Sex/ age relation.

Abstract
Haemangiomas are benign vessel tumors with higher prevalence in childhood, injuring especially head and neck. They can be classified by histopatologic features, vessel features, clinical meaning and beginning process, and those classifications can be superamounted. They can grow with or without symptoms. They are found in Larynx, subglotic region, jaw and parotid. Intramuscular head and neck hemangiomas are rare as in temporal bone but they can be found in oral cavity, jaw, orbital and others. Physical and image exams are necessary for the diagnostic. There is no consensus about the treatment, therefore several treatments can be done such as surgical removal, ethanol or corticosteroid injection, cryosurgery and the relatively effective and less invasive laser surgery. This study aim to show the sex/age relation among patients with head and neck hemangiomas assisted between 1976 and 2006 in a private physician office in the city of Manaus/AM. This is a retrospective study. 131 patients were diagnosed, being 33 male and 98 female between 01 and 65 years old. The higher prevalence was among women between 01 and 07 years old and the less among patients between 65 and 75 years old. In conclusion, hemangiomas are more regular found in children than in other ages.

 

Instituição: Universidade do Estado do Amazonas, Centro Universitário Nilton Lins, Hospital Santa Júlia e Fundação Hospital Adriano Jorge.

Suporte Financeiro:

INTRODUÇÃO

Os hemangiomas são tumores benignos, não reativos, que resultam de sequestrações mesodérmicas embrionárias e são caracterizados pelo aumento de vasos sanguíneos normais e não-normais1.  São os tumores mais comuns da infância, encontrados em mais de 10% das crianças com um ano de idade, com uma incidência de 38% em cabeça e pescoço2, sendo, portanto, os tumores de cabeça e pescoço mais comuns no grupo pediátrico3.  A maioria desses tumores aparecem nos seis primeiros meses de vida1, e o primeiro sinal é uma mancha branca, ou uma área de telangiectasia redeada por um halo que cresce rapidamente entre a idade de 8 a 12 meses (fase proliferativa) seguida por uma fase lenta de regressão (fase involutiva) que dura entre 5 a 8 anos2.

Segundo Skandalakis4, após a constituição dos vasos sanguíneos pelo mesoderma durante a fase embrionária, ocorre um rearranjo, coalescência e desaparecimento de algumas áreas vasculares que não terão utilidade no embrião e no feto. A falta de reabsorção capilar após a constituição dos vasos sanguíneos é a causa de várias más-formações vasculares, incluindo fístulas arteriovenosas e micro comunicações arteriovenosas, além hiperplasias e ectasias que podem evoluir para um hemangioma.

Os hemangiomas são classificados de diferentes formas, baseando-se no aspecto histopatológico, padrão vascular, importância clínica e processo de origem e muitas vezes há superposição entre as classificações, o que torna difícil a compreensão.

Os hemangiomas podem ser classificados clinicamente quanto à base de sua rede vascular em capilar e cavernoso5. O hemangioma capilar é formado por uma rede vascular fina e pequena, cheia de sangue; enquanto o hemangioma cavernoso é constituído de vasos e sinusóides revestidos por uma única camada de endotélio6. Enzinger e Weiss dividem os hemangiomas em localizados e difusos; e os localizados, baseando-se no padrão vascular, são divididos em capilar, cavernoso, venoso, arteriovenoso, epitelióide, do tecido de granulação e hemangioma do tecido mole profundo. Edgerton classifica os hemangiomas levando em conta a sua importância clínica: 1 - mancha neonatal; 2 - hemangioma capilar intradérmico; 3 - hemangioma juvenil; 4 - fístula arteriovenosa e 5 - angioma crisóide1.   Quanto ao processo de origem dos hemangiomas, podem ser classificados em congênitos ou adquiridos.

Mais importante que a classificação do hemangioma é a sua localização. Embora os hemangiomas sejam anormalidades benignas, muitas vezes, dependendo de sua localização, comprometem estruturas nobres em indivíduos de mui tenra idade; o que dificulta a tomada de decisão sobre a forma do tratamento e o benefício do tratamento, pois muitas vezes as conseqüências de uma intervenção intempestiva podem ser mais prejudiciais que a evolução natural da doença, por outro lado, uma conduta expectante, em muitos casos, permite a piora clínica e seqüelas pro resto da vida.

 A seguir, comentaremos hemangiomas de localização crítica, que embora alguns sejam raros podem causar sérias seqüelas ao infante, bem como grande angústia por parte dos pais.

 Hemangiomas de laringe podem causar dispnéia7 hemoptise e estridor, devido ao efeito obstrutivo. Se não causar sintomas muito intensos, a conduta expectante é a melhor tendo em vista a benignidade da patologia1, porém se os sintomas forem graves ou se tiver localização subglótica, é potencialmente fatal durante a fase proliferativa, necessitando de rápida e efetiva intervenção. Não há consenso sobre o melhor tratamento, sendo descritos excisão cirúrgica, injeção de etanol, injeção de corticosteróides, criocirurgia entre outros, porém a cirurgia a laser tem se destacado, por mostrar-se relativamente efetiva e menos invasiva que os outros métodos7.

Hemangiomas de mandíbula são perigosos, pois nem sempre são diagnosticados e a simples avulsão de um dente decíduo pode provocar sangramento intenso, cujo controle em consultório odontológico é difícil1.

Hemangiomas parotídeos são os tumores de parótida mais comuns da infância1, tendem a ocupar a porção subcapsular da glândula, com envolvimento ocasional do tecido subcutâneo e pele8, o tratamento é predominantemente expectante, pois geralmente ocorre involução satisfatória na idade entre 4 a 6 anos9, portanto, a conduta cirúrgica é tomada apenas em último caso. Irradiação e escleroterapia não são seguras, pois podem lesar o nervo facial.

Hemangiomas intramusculares da cabeça e pescoço são raros, os hemangiomas intramusculares constituem menos de 1% de todos os hemangiomas e apenas 5% deles ocorrem na região da cabeça e pescoço10. A incidência é maior no músculo masseter, seguido pelo trapézio, orbital, esternocleidomastóideo e temporal11. Esses tumores, não apresentam regressão espontânea, portanto, o tratamento é ressecção total do tumor com margem de segurança por causa de sua natureza infiltrativa12.

Hemangioma do osso temporal são incomuns, mas geralmente ocorrem ao longo do nervo facial, no núcleo geniculado, no canal auditivo interno ou na orelha média, e devido a essa associação com o nervo facial, esses tumores geralmente se apresentam com paralisia ou espasmo hemifacial13. Embora seja uma doença benigna, a seqüela motora e estética que a lesão pode causar numa criança é muito importante, portanto, o tratamento recomendado é a excisão cirúrgica completa do tumor, seguido de reabilitação do nervo facial14.

Diante da importância dos hemangiomas cérvico-faciais, principalmente por causa das seqüelas que podem causar, e também pela angústia que causam nos pais das crianças acometidas, este trabalho objetiva analisar a casuística atendida em um consultório particular na cidade de Manaus com a finalidade de determinar a relação idade/sexo desses pacientes.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Em um consultório particular localizado na cidade de Manaus/AM (Brasil), 131 pacientes foram diagnosticados, através de exame físico e de imagem, portadores de hemangioma, desses, 33 são do sexo masculino e 98 do sexo feminino, e compreendem uma faixa etária de 01 a 65 anos de idade. Esse estudo retrospectivo é referente aos anos compreendidos entre 1976 e 2006.

 

RESULTADOS

Este estudo distribuiu os 131 pacientes com o diagnóstico de hemangioma em 8 grupos etários. Ficaram divididos da seguinte maneira: 01 a 07 anos, 08 a 14 anos, 15 a 25 anos, 26 a 35 anos, 36 a 45 anos, 46 a 55 anos, 56 a 65 anos e um ultimo grupo entre 66 e 75 anos de idade. Sendo que em cada grupo deste aparecem outras duas variáveis referentes ao sexo do individuo, onde os pacientes do sexo masculino estão representados na cor verde e os do sexo feminino estão representados pela cor vermelha.

O Gráfico 1 demonstra a relação sexo/idade desses pacientes.

A partir do gráfico, verificamos que em todas as faixas etárias o sexo feminino predomina quanto ao número de pacientes com hemangioma, desta forma, pacientes do sexo feminino representam cerca de 74,80% dos diagnosticados. Ainda a partir da analise do gráfico, verificamos que o maior número de pacientes esta no primeiro grupo, referente a pacientes com idade entre 01 e 07 anos. E a menor prevalência esta entre pacientes com idade entre 66 e 75 anos. Nos pacientes do sexo masculino, verificamos ainda que a idade mais acometida são as compreendidas entre 01 e 07 anos sendo seguida pelos pacientes com idade entre 26 a 45 anos de idade.

 

DISCUSSÃO

Os hemangiomas são predominantes em crianças, especialmente antes de completarem o primeiro ano de vida, seu tratamento deve ser definido com cautela, pois pode ter conseqüências piores do que a conduta expectante, todavia a demora no tratamento pode propiciar o avanço e complicações ao infiltrar estruturas nobres ou danificar anexos.

O tratamento deve ser expectante quando os sintomas são tênues, ou inexistentes, visto que esta é uma patologia benigna, porem o tratamento deve ser rápido e eficiente quando os sintomas são severos ou quando o hemangioma projeta repercussão fatal.

 

CONCLUSÃO

Os dados apresentados pelo estudo, revelam maior prevalência de hemangioma de cérvico-facial entre pacientes pediátricos em comparação com pacientes das demais idades. Desta forma, esses dados ratificam as publicações literárias dessa patologia.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Suplemento
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