ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

Atresia de Coana Bilateral em Adolescente de 14 anos
Bilateral Choanal Atresia in an Adolescent at age 14

Autores:

Gabrielle do Nascimento Holanda Gonçalves (Bacharel em Medicina) Residente em ORL

Ana Paula Correia Araújo Bezerra (Graduação em medicina) Residente em ORL

Livia de Medeiros Ribeiro (Graduação em medicina) Residente em ORL

Isabella Sebusiane Duarte (Graduação em medicina) Residente em ORL

Antonio Carlos Cedin (Mestre em medicina) Coordenador da residência em ORL do Hospital Beneficência Portuguesa

Palavras-Chave
Adolescente, Atresia, Coana

Resumo

Keywords
Adolescent, Atresia, Choanal,

Abstract

 

Instituição: Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência Hospital São Joaquim

Suporte Financeiro:

Introdução:

 

A atresia coanal congênita é uma anormalidade rara, caracterizada por obstrução, unilateral ou bilateral. Relatada inicialmente em 1755 por Johamm Roederer e descrita posteriormente por Otto e Bresslau no século XIX. Sua incidência é de 1:5.000 a 1:8.000 nascimentos, sendo duas vezes mais prevalente no sexo feminino. 5, 6

Divide-se em unilateral ou bilateral, sendo a unilateral encontrada com maior freqüência, cerca de 60% a 70% dos casos, estando o lado direito mais freqüentemente acometido. A constituição da placa atrésica é óssea em 90% dos casos e membranosa em 10%. Estudos recentes evidenciaram que 70% das atresias são mistas (ósseo-membranosa), enquanto apenas 30% são de natureza puramente óssea. 6

Pode associar-se a outras malformações congênitas em 20% a 50% dos casos, sendo denominadas por Pagon de CHARGE, termo em inglês constituído pelas iniciais de coloboma ocular, doenças cardíacas, atresia de coanas, retardo do desenvolvimento do sistema nervoso central, anormalidades do trato genito-urinário em pacientes do sexo masculino e malformações auriculares. 5

Relatamos um caso de atresia coanal congênita bilateral em paciente de 14 anos de idade pela sua raridade e pelo bom resultado cirúrgico observado com a técnica endoscópica transeptal com rotação de retalhos sem uso de moldes nasais.

 

Relato:

MMC, feminino, 14 anos, negra, natural de MG, apresentando obstrução nasal crônica, rinorréia bilateral de odor fétido desde o nascimento, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e dificuldade auditiva.

O exame Endoscópico Nasal evidenciou imperfuração coanal bilateral e à Tomografia Computadorizada, constatou-se a natureza mista da atresia.  O exame audiométrico mostrou disacusia neurossensorial de 20 dB a partir 2KHz.

A paciente foi submetida a tratamento cirúrgico endoscópico para correção da atresia pela técnica transseptal com rotação de retalhos sem uso de moldes ou tampões, sem intercorrências cirúrgicas.

O exame endoscópico aos 60 dias de pós-operatório constatou a patência da neo-coana com correspondência funcional satisfatória.

 

 

Discussão:

 

Os sintomas da atresia coanal congênita dependem de sua uni ou bilateralidade. Quando unilateral, pode passar despercebida na infância, apresentando sintomas discretos de obstrução nasal e rinorréia. Já a bilateral normalmente se apresenta, no recém-nascido, como um quadro de emergência, causando comprometimento imediato das vias aéreas, já que os recém nascidos são respiradores nasais obrigatórios, tornando-se adaptados à respiração oral apenas ao redor da 3ª semana de vida. O paciente normalmente evolui rapidamente para insuficiência respiratória grave. podendo levar à morte, caso não sejam tomadas as medidas de urgência necessárias. 6

 Apesar de normalmente causar obstrução respiratória grave com potencial risco de vida em neonatos, as vezes, há compensação através da instituição de respiração oral precoce. Em revisão de literatura, entre os anos de 1985 e 2007, encontrou-se 4 relatos de casos de pacientes com atresia coanal congênita bilateral, com idades variando de 13 a 22 anos. Todos os pacientes apresentaram queixa de obstrução nasal bilateral de longa data e rinorréia, sendo o diagnóstico confirmado por tomografia computadorizada e endoscopia nasal. Os pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico tanto por acesso endonasal como transpalatal.1, 2, 3, 4

 O tratamento cirúrgico é uma das tentativas mais desafiadoras no campo da otorrinolaringologia pediátrica. A técnica transnasal endoscópica tem sido considerada um acesso de sucesso desde 1980, pois além de proporcionar boa visualização do campo operatório, promove mínimos traumas às estruturas em desenvolvimento, mínimo sangramento transoperatório e menor tempo cirúrgico.5 A técnica transseptal endoscópica, descrtita por Cedin e cols.6, permite, ressecar-se por via transseptal a porção posterior do vômer, remover a placa atrésica e parte das pterigóides mediais, assim como modelar retalhos de mucosas que irão recobrir as áreas cruentas. Esta técnica consiste em preservar a mucosa da face faríngea da placa atrésica, com a qual se confeccionam retalhos que, fixados com cola de fibrina, recobrirão as áreas ósseas cruentas da neocoana. Os remanescentes da mucosa septal também são remodelados para proteger o assoalho e teto da cavidade nasal. Não havendo necessidade de utilização de moldes ou tampões que, além do desconforto, são responsáveis por granulação tecidual, infecções e maior risco de re-estenose.

O caso relatado apresentou  bom resultado pós operatório, evoluindo sem intercorrências e com boa patência e funcionalidade coanal.

 

Referências Bibliográficas

 

1.      Candan S, Mizrak s, Karagoz M, Muhtar H, Gumele HR. Bilateral congenital choanal atresia at age 16: an interesting case. J Otolaryngol 1991;20:433-434.

 2.      Canovas LDL, Carbonell CJ. Bilateral bony choanal atresia in an adult. An Otorrinolaringol Ibero Am 1994;21:487-496.

 3.      Voegels RL, Chung D, Lessa MM, Lorenzetti FT, Goto, EY, Butugan O. Bilateral congenital choanal atresia in a 13 year-old patient. Int J Pediatr Otorhinolaryngol 2002;65:53-57.

4.      Cedin AC, Rocha Junior FP, Deppermann MB, Manzano PM, Murao M, Shimuta AS. Transnasal endoscopic surgery of choanal atresia without the use of stents. Laryngoscope 2002; 112:750-52.

 5.      Cedin AC, Fujita R, Cruz OLM. Endoscopic transeptal surgery for choanal atresia with stentless folded-over-flap technique. Otolarynngol. Head and Neck Surg 2006; 135: 693-698.

 

 

 

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