ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

ENXERTO AUTÓLOGO DE GORDURA EM PACIENTE COM DEFORMIDADE FACIAL APÓS TRAUMA CRÂNIOENCEFÁLICO
Autologous fat grafting for correction of facial deformity after TCE

Autores:

Graziela Andreotti de Souza Queiroz (Residente terceiro ano) Residente Terceiro Ano

Silvia Bona do Nascimento (Médica) residente do terceiro ano de otorrinolaringologia do HC-FMUSP

Flávia Lira Diniz (Médicos otorrinolaringologistas) assistentes do grupo de Cirurgia Plástica Funcional da Face da Otorrinolaringologia do HC-FMUSP.

Carlos Alberto Caropreso (Médicos otorrinolaringologistas, Doutor em Otorrinolaringologia pela FMUSP) assistentes do grupo de Cirurgia Plástica Funcional da Face da Otorrinolaringologia do HC-FMUSP.

Perboyre Lacerda Sampaio (Médicos otorrinolaringologistas, Doutor em Otorrinolaringologia pela FMUSP) Chefe do Grupo de Cirurgia Plástica Funcional da Face da Otorrinolaringologia do HC-FMUSP.

Palavras-Chave
Enxerto, Face, Gordura, Trauma

Resumo

Keywords
Grafting, Facial, Fat, Trauma

Abstract

 

Instituição:

Suporte Financeiro:

 

INTRODUÇÃO

 

Há séculos pesquisam-se materiais que possam ser utilizados para alterar o contorno da face. Esse trabalho descreve a técnica utilizada no nosso serviço para preenchimento com gordura de deformidades traumáticas da face.

 

RELATO DE CASO:

 

Paciente, 40 anos, sexo feminino, sofreu traumatismo crânio encefálico há 14 anos. Evoluiu com depressão frontal. Há 4 anos procurou nosso serviço com repercussões psicológicas graves devido à deformidade facial. Entre 2004 e 2005 foi submetida há três procedimentos cirúrgicos de enxerto autólogo de gordura em face. Após três anos de acompanhamento a paciente e equipe cirúrgica estão satisfeitos com resultado final.

Para obtenção da gordura, acopla-se uma seringa de 10 ml a cânula de aspiração de 3,5mm, fixando-a com um anel de látex retirado da região do punho de uma luva. Transfixa-se a extremidade distal do barril da seringa com uma agulha 40 x 12. Quando a cânula estiver em posição subdérmica puxa-se o êmbolo, produzindo vácuo suficiente para aspirar a gordura. Durante a aspiração, a inserção da agulha através do orifício confeccionado no barril da seringa manterá o vácuo, sem necessidade de força.

Para a injeção da gordura, fixa-se a cânula de infiltração de 3,5 mm em uma segunda seringa de 10 ml. Com a mesma agulha, perfura-se a parte redonda terminal do êmbolo da seringa e uma das projeções laterais do apoio localizado na porção terminal do barril da seringa. Faz-se um nó de marinheiro em um fio de aço, através do qual se insere a seringa. Uma ponta do fio de aço deve passar por dentro do orifício confeccionado na porção terminal do êmbolo e a outra ponta, por dentro do orifício localizado no apoio do barril. Dessa forma, o ato de puxar simultaneamente as duas pontas do fio fará o êmbolo deslizar para frente, permitindo que a gordura seja injetada lenta, gradual e uniformemente.

Nos três procedimentos aos quais a paciente foi submetida, a área doadora foi periumbilical. A gordura retirada é depositada em uma peneira metálica, lavada com soro fisiológico e colocada para decantar. Repete-se o processo até se obter gordura suficiente.

A área receptora foi incisada próxima à linha de inserção capilar. Infiltra-se a gordura no plano subdérmico usando o sistema de infiltração. Por fim, utiliza-se o cabo do bisturi para nivelar a gordura infiltrada.

 

DISCUSSÃO

 

      As complicações mais frequentemente descritas do enxerto autólogo de gordura são absorção parcial da gordura, irregularidades visíveis nas áreas receptoras, infecção do sítio cirúrgico e necrose cutânea 2,3. Na paciente descrita, não ocorreram tais complicações. A paciente preferiu repetir o procedimento três vezes, do que ser submetida a apenas uma cirurgia com supercorreção, quando esclarecida que a supercorreção compromete os contornos faciais durante o período de reabsorção (aproximadamente três meses). Porém, a rapidez e o baixo custo da técnica descrita e a permanente disponibilidade da gordura permitem que o procedimento seja realizado, com segurança, múltiplas vezes, até a correção da deformidade.  

      A técnica de obtenção de gordura por aspiração é criticada por causar ruptura de adipócitos e pela necessidade de material e treinamento específico e dispendioso 1. Para contornar essas dificuldades a equipe preocupou-se em criar um sistema de aspiração lento, gradual e de baixa pressão, com materiais baratos e de fácil aquisição. Essas adaptações tornaram o procedimento eficiente e adequado ao nosso sistema público de saúde. 

 

CONCLUSÃO

 

      A gordura é um material de fácil aquisição e baixo custo. A técnica demonstrada nesse trabalho é simples, barata e eficaz, e, portanto, adequada ao propósito de reabilitação no caso descrito e dentro do sistema público de saúde como um todo.

 

 

 

Referências bibliográficas

 

1.      Choo PH, Carter SR, Seiff SR. Lower eyelid volume augmentation with fat pearl grafting.  Plast Reconstr Surg 1998; 102: 1716-9.

2.      Feinendegen DL, Baumgartner RW, Vuadens P, Schroth G, Mattle HP, Regli F, Tschopp H. Autologous fat injection for soft tissue augmentation in the face: a safe procedure? Aesth Plast Surg 1998; 22: 163- 7.

3.      Homicz MR, Watson D. Review of injectable materials for soft tissue augmentation. Facial Plast Surg 2004; 20: 21-9.

4.      Trepsat F. Periorbital rejuvenation combining fat grafting and blepharoplasties. Aesth Plast Surg 2002; 27: 243- 53.

5.      Coleman SR. Structural fat grafts: the ideal filler? Clin Plast Surg 2001; 28: 111-9

Figura 1

Pré operatório, quinto dia pós operatório e três meses pós operatótio

Suplemento
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