Relato de Caso
Cisto Linfoepitelial em topografia nasoalveolar
Lymphoepithelial Cyst in nasolabial topography
Autores:
Cintia Silvério de Faria (Graduação) Médica residente em otorrinolaringologia
João Batista Ferreira (Doutor em Otorrinolaringologia) Professor de Otorrinolaringologia
Leandro Azevedo Camargo (Mestre em Otorrinolaringologia) Professor de Otorrinolaringologia
Gustavo Vasconcelos Nery (Graduação) Médico residente em otorrinolaringologia
Tiago Fernando Aires Corrêa (Graduação) Médico residente em otorrinolaringologia
Maria Helena Tavares Vilela (Especialização (Patologia)) Médica Patologista
Palavras-Chave
Cisto linfoepitelial, Cisto nasoalveolar, Histopatologia
Resumo
Keywords
Lymphoepithelial cyst, Nasolabial cyst, Histopathology
Abstract
Instituição: Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás
Suporte Financeiro:
Introdução
Cistos linfoepiteliais são formações císticas delimitadas por epitélio escamoso ou glandular rodeados por tecido linfóide hiperplásico. Descritos por Baskar e Bernier (1959) são alterações incomuns na cavidade oral, apresentam-se como nodulação circunscrita no assoalho da boca e região posterolateral da língua, raramente no vestíbulo, palato e pilar anterior1,2. Esta lesão pode desenvolver-se com característica proliferativa no tecido linfóide de glândulas salivares, principalmente nas parótidas3. Este cisto é mais freqüente em homens e pode ser confundido com mucocele. Há 2 teorias de sua patogênese: proliferação de focos de tecido epitelial dentro de tecido linfático ou obstrução de criptas de tonsilas normais1.
Ao exame histopatológico são cistos de epitélio escamoso estratificado, cercados por tecido linfóide bem delimitado, com centros germinativos1,4.
O cisto nasoalveolar é uma formação facial pouco freqüente, porém o de maior ocorrência diagnóstica na sua topografia. Descrito por Zuckerkand (1882), localiza-se entre a maxila e asa nasal, sem atravessar a linha média. É mais freqüente em mulheres e raramente é bilateral5. Sua origem mais provável é de invaginação do epitélio nasal embrionário na junção dos processos medial e lateral da maxila. Outra teoria indica como origem remanescentes do ducto nasolacrimal devido semelhança histológica6. A histologia apresenta lesão cística de epitélio cubóide ou colunar com glândulas mucosas7.
Clinicamente manifesta-se como formação cística na área nasoalveolar de crescimento lento, ocasionando obstrução nasal e assimetria facial, apagamento do sulco nasogeniano, deslocamento da asa nasal anteriormente e abaulamentos do assoalho anterior da fossa nasal e do sulco gengivobucal superior5,7.
Apresentamos caso clínico de paciente com hipótese diagnóstica de cisto nasoalveolar cujo exame histopatológico demonstrou cisto linfoepitelial.
Relato de caso
Paciente TFF, feminino, 57 anos, procedente de Carmo do Rio Verde-GO. Consultou em 13/05/05 na Clínica de Otorrinolaringologia do HC/UFG com queixa de "pus na boca". Referia drenagem de secreção purulenta, fétida, intermitente, em cavidade oral há 1 ano, sob o lábio superior. Sintomas iniciaram-se com obstrução nasal à direita há dois anos e episódios de dor e inchaço na região nasogeniana deste lado. Apresentava habitualmente remissão da secreção com uso de amoxicilina. Negava outros sintomas locais e gerais
Antecedentes: saudáveis. Prótese dentária total.
Exame ORL:
Face- apagamento do sulco nasogeniano direito, doloroso ao toque.
Orofaringoscopia- Vestíbulo bucal: secreção purulenta drenando por orifício de 0,5cm na mucosa do sulco gengivolabial superior à direita, na altura do canino.
Rinoscopia anterior- abaulamento anterior do assoalho da fossa nasal direita.
Exames complementares:
Nasofaringolaringoscopia- elevação anterior do assoalho da cavidade nasal direita.
TC- lesão circunscrita, bem delimitada, de aspecto cístico em região nasoalveolar direita.
Realizado o diagnóstico clínico e por imagem de provável cisto nasoalveolar fistulizado em fase purulenta, a paciente foi preparada para cirurgia com 10 dias de amoxicilina oral com modificação da secreção purulenta para mucóide. Foi submetida a exérese da lesão pelo vestíbulo bucal. A peça cirúrgica (1,9x1,9x0,8 cm) encaminhada para exame histopatológico demonstrou cisto revestido por epitélio escamoso e colunar, contendo linfócitos maduros densamente agrupados, subepiteliais. Quadro compatível com cisto linfoepitelial.
A paciente apresentou boa evolução pós-operatória, cessando os sinais clínicos inflamatórios, com regressão dos abaulamentos do sulco nasogeniano, gengivolabial superior e assoalho da fossa nasal.
Discussão
As manifestações clínicas e o exame otorrinolaringológico da paciente foram sugestivos de cisto nasoalveolar. Conforme a literatura cistos linfoepiteliais não ocorrem habitualmente nessa topografia em afinidade com o vestíbulo das cavidades nasal e bucal1,3. Destaca-se neste caso a importância do exame histopatológico, essencial para o diagnóstico definitivo da afecção.
A prevalência de cisto linfoepitelial aumentou com o surgimento da infecção pelo HIV, acometendo principalmente parótidas. A presença desta lesão requer atualmente testes para detecção do HIV, pela possibilidade de ser uma manifestação inicial do vírus2,4. Frente ao diagnóstico histopatológico foi realizada sorologia específica com ausência de infecção por vírus HIV.
Comentários finais
O presente relato de cisto linfoepitelial na topografia nasoalveolar, a despeito de sua raridade, mostra sua importância no diagnóstico diferencial com os cistos nasoalveolares, pois podem ter manifestações clínicas semelhantes.
Referências Bibliográficas