ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

Perfuração de hipofaringe por espinho de peixe, fístula e abscesso cervical profundo
Hipopharynx perforated by fish bone, fistula and deep neck abscess

Autores:

Luiz Gabriel Signorelli (Graduado em Odontologia pela USF) Cirurgião Dentista na OIS

Nelson Solcia Filho (Especialista em Otorrinolaringologia) Professor adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia do HUSF

Amanda Fujii Geld (acadêmica de medicina) acadêmica de medicina

Marcello Henrique Borges (Graduado em Medicina) R3 de Otorrinlaringologia do HUSF

Palavras-Chave
Abscesso Cervical , Mediastinite

Resumo

Keywords
Neck Abscess , Mediastinum Infection

Abstract

 

Instituição: Universidade São Francisco

Suporte Financeiro:

INTRODUÇÃO

 

Parada de diferentes  corpos estranhos em orofaringe e esôfago é um problema comum    que leva uma pessoa em emergências médicas . O espinho de peixe é um deles, porém perfuração de faringe ou esôfago com formação de abscesso cervical não é comum. Sua evolução pode ser catastrófica . Apresentaremos o Sr. A.R 62 anos com abscesso cervical extenso por ter perfurado a hipofaringe com espinho de peixe.

 

 

RELATO DE CASO

 

A.R. 62 anos apresentou-se ao serviço de pronto socorro (PS) do HUSF com disfagia, odinofagia importante após engasgar com espinho de peixe. Realizado endoscopia faringo-esofágica sem evidência de corpo estranho, fora liberado com sintomáticos. Vinte e quatro horas depois retorna ao PS com os mesmos sintomas porém com abaulamento cervical antero-lateral esquerdo e muito doloroso a palpação, eupneico e afebril, "referiu" que 12 horas antes expeliu o espinho de peixe . Realizado ainda no PS drenagem por incisão de 2,0 cm . Paciente internado com uso de NPP e antibióticoterapia ( ampicilina, metronidazol e gentamicina). Com oito dias de internação sem melhora da sintomatologia e drenando ainda grande quantidade de secreção purulenta e agora com leucocitose 15000 leucócitos e desvio à esquerda solicitaram avaliação otorrinolaringológica. Realizado Tomografias de pescoço e tórax evidenciando abscesso pré-traqueal, retrofaringeo, mediastino superior, derrame pleural. Paciente manteve-se afebril e eupneico, realizamos então cervicotomia ampla lateral esquerda com exploração de todos espaços cervicais acometidos ( retrofaringeo, visceral, pré-traqueal) , retirado restos necróticos e lavado com soro fisiológico 0,9% (3L) , não ocorreu rompimento de barreira fascial de mediastino superior. Instalado Sonda naso-enteral (SNE), dreno de Penrose . Realizado faringoesofagografia com contraste mostrando fistula em hipofaringe para o pescoço. No 4º PO teve alta sem sintomatologia sem secreção purulenta. No 10º PO retirado SNE após fechamento da fistula mostrada em novo faringoesofagografia contrastada. Foi mantido os mesmos antibióticos até a alta hospitalar, e a cultura não teve crescimento bacteriano.

DISCUSSÃO

 

Corpo estranho perfaz somente 3,5% das causas de abscesso cervical 1,6, os agentes mais freqüentes são os gram + Streptococcus viridans, Saphylococcus aureus e anaeróbios2,5. O uso isolado de penicilina G, clindamicina, cloranfenicol podem resolver, porém é aconselhável associar antibióticos para anaeróbios (metronidazol)4 , para os casos mais severos ou cultura estabelecida pode-se usar para Gram - (aminoglicosídeos ou cefalosporinas de 3ª geração).

A freqüência em que ocorre  disseminação para o mediastino é de 71% pelo espaço retro-visceral, 21% pela bainha carotídea e 8% pelo espaço pré-traqueal³. O espaço visceral raramente leva a mediastenite e a coleção fica localizada. Neste caso vários espaços foram acometidos (retro-visceral, pré-traqueal, retro-faringeo, parafaringeo), demonstrando a gravidade e a necessidade de tratamento agressivo.   

O diagnóstico e a conduta foi baseado na clínica e pelo exame de tomografia , a qual mostrou os espaços acometidos e as complicações já estabelecidas ( acometimento do mediastino superior e derrame pleural). O esofagograma foi uma maneira interessante de demonstrar a real existência e localização da fistula , mas não essencial.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Os abscessos cervicais independente de sua origem são potencialmente graves, e devem ser abordados de forma agressiva. O diagnóstico é clínico, imagenológico, o tratamento devera ser suporte clínico, drenagem e exploração de todos os espaços envolvidos, antibioticoterapia para Gram + , anaeróbio é aconselhável e associar para Gram -  se estiver grave ou a cultura mostrar este agente.

   

 

BIBLIOGRAFIA

 

1)      Szuhay G, Tewfik TL. Peritonsilar abscesso r celulites? A clinical comparative pediatric study. The journal of otolaryngol 1998;27(4):206-212.

2)      Dormer, B.J and Babett, J.A.: Orofacial infecction due to bacterioides: a neglected pathogen. J Oral Surg, 30:658-60,1972.

3)      Pearse, H, E. Jr.: Mediastinitis following cervical suppuration. Ann Surg; 708: 588-611,1938.

4)      Fernandez O O A , Salaroli A F, et. al . Abscesso retrofaríngeo. Pediatria atual. Agosto/1998. Vol. 11 . pág.16-17.

5)      Garcia A M . Absceso parafaríngeo. Revisión bibliográfica y exposición de um caso clínico. Ver Otorrinolaringol. Cir. Cabeza Cuello. 2003. Vol.63. Pág. 192-196.

6)      Sennes L U , Imamura R , Tsuji D H  et al. Infecções dos espaços cervicais: estudo prospectivo de 57 casos. Rev Bras. de ORL .maio-junho/2002 . Vol.68 .

 

 

 

Perfuração de hipofaringe por espinho de peixe, fístula e abscesso cervical

Tomografia computadorizada mostrando presença de ar e secreção dissecando os espaços cervicais

Suplemento
Copyright 2007 Revista Brasileira de Otorrinolaringologia - All rights are reserved
ABORLCCF - Av. Indianópolis, 740 - Moema - Cep. 04062-001 - São Paulo - SP - Tel: (11) 5052-9515
Não nos responsabilizamos pela veracidade dos dados apresentados pelos autores.
O trabalho acima corresponde a versão originalmente submetida pelo autor.