Relato de Caso
Rinoscleroma e linfoma não Hodkin nasal
Rinoscleroma and Nasal non-Hodgkin´s lymphoma
Autores:
Henrique Fernandes de Oliveira (Graduação em Medicina/UFMG) Médico Residente Otorrinolaringologia/Hospital das Forças Armadas-Brasília
Ada Simone P. Alencar Carvalho (Otorrinolaringologista, Mestre em Patologia Molecular - Imunologia Pela Universidade de Brasília) Preceptora do Programa de Residência Médica do Hospital das Forças Armadas
Núbia C. de Santana Argollo (Residência Médica em Otorrinolaringologia) Médica Otorrinolaringologista
Mário Orlando Dossi (Graduação em Medicina/UFMS) Médico Residente Otorrinolaringologia/Hospital das Forças Armadas-Brasília
Palavras-Chave
Imunohistoquímica, Linfoma não Hodkin, Rinoscleroma
Resumo
O rinoscleroma, granulomatose nasal rara, é causada pela klebsiella rinoscleromatis. O linfoma não Hodgkin nasal é um câncer raro. Têm como principal sintoma obstrução nasal. 2,3 Diagnóstico precoce é essencial. M.C.T., feminino, 49 anos, atendida com obstrução nasal à esquerda. Identificada lesão papilomatosa em meato médio. Á imunohistoquímica: rinoscleroma. Realizado antibioticoterapia com desaparecimento lesão e sintomas. Após 10 meses, houve nova lesão em meato médio esquerdo, de crescimento rápido e agressivo. A nova imunohistoquímica: Linfoma não-Hodgkin de células T. Realizado quimio-radioterapia. Não há relato na literatura da associação destas doenças.
Keywords
Immunohistochemic, non-Hodgkin´s lymphoma, Rinoscleroma
Abstract
The rinoscleroma, rare nasal granulomatosis, is caused by Klebsiella rinoscleromatis. Nasal non-Hodgkin´s lymphoma is a rare cancer. Both present with nasal obstruction. The early diagnosis is essencial. M.C.T., female, fourty-nine years old, was assisted coplainning about nasal obstruction at left. It was identified a lesion in the middle meatus with papillomatous aspect. Immunohistochemical study: rhinoscleroma. Completed disappearing of the lesion and symptoms after antibiotic treatment. Ten months later, a new lesion appeared in the left middle meatus, with fast and aggressive growth. A new immunohistochemical: non Hodgkin`s T cell lymphoma. Chemotherapy and radiotherapy were made. There is no previous report in literature on the association of these diseases.
Instituição: Hospital das Forças Armadas - Serviço de Otorrinolaringologia
Suporte Financeiro:
INTRODUÇÃO
Rinoscleroma é uma doença nasal granulomatosa rara, causada pela bactéria klebsiella rinoscleromatis. O nariz representa região primária de ocorrência1, podendo acometer palato, laringe e pulmão.2 Ao histológico, células de Mickulicz são achados clássicos.1 O linfoma não Hodgkin nasal tem como tratamento radioterapia e quimioterapia, dependendo da invasão e estadiamento. O rinoscleroma e o linfoma nasal não Hodgkin apresentam como principal sintoma a obstrução nasal, 2,3 diagnóstico sugerido pelo anatomopatológico e confirmado pela imunohistoquímica2, associação observada em nosso serviço.
RELATO DE CASO
Paciente M.C.T., feminino, 49 anos, atendida pelo serviço em 2001, apresentando obstrução nasal, lesão papilomatosa em meato médio esquerdo, crostas e secreção purulenta sem necrose. À TC, espessamento mucoso de seio etmoidal e tumoração sugerindo pólipo no meato médio esquerdo e cavidade nasal;o anatomopatológico, sugerindo linfoma não-Hodgkin. À imunohistoquímica, os marcadores para linfoma foram negativos e o marcador para rinoscleroma, positivo. Instituiu-se sulfametoxazol - trimetropim. Após 4 meses, lesão regrediu; permaneciam atrofia mucosa e crostas. Após 8 meses, TC compatível com rinossinusite crônica. Suspensa a antibioticoterapia, a paciente foi considerada curada do rinoscleroma. Após 10 meses, apresentou mesmos sintomas e lesão em meato médio esquerdo. Reintroduzido antibiótico; após 3 dias, ocorreu aumento da lesão com abaulamento difuso de pirâmide nasal, necrose, edema periorbital bilateral, jugal e lábios(Fig). À TC, preenchimento de todos os SPNs e cavidade nasal por tecido de partes moles(Fig). No anatomopatológico e imunohistoquímica (positividade para os marcadores CD45RO): linfoma não Hodgkin. Paciente submetida à quimio-radioterapia, sem sinais de recidiva do tumor. (Fig)
DISCUSSÃO
O rinoscleroma é raro e seu diagnóstico baseado em bacterioscopia, cultura, anatomopatológico, imunohistoquímica.2,4 e imunoperoxidase nos casos duvidosos. A dificuldade do diagnóstico diferencial entre linfoma nasal e rinoscleroma, ao histopatológico, foi descrita em criança5. Biópsias revelaram natureza histiocítica: diagnóstico inicial, rinoscleroma. A imunohistoquímica confirmou linfoma não Hodgkin. Sehani et al (1998) descreveram dois casos de tumor nasal se estendendo para SPNs, sugerindo rinosporidiose; ao anatomopatológico: rinoscleroma (células de Mikulicz) e rinosporidiose (esporangio).6
O linfoma não Hodgkin nasal corresponde a 0.17-2% dos linfomas não Hodgkin.3 Dois fatores são importantes para o prognóstico: o estágio da doença e a extensão paranasal.3 Os linfomas nasais tipo histológico T têm pior prognóstico que os B. A paciente apresentou linfoma não Hodgkin de células T com extensão paranasal, tipo mais agressivo, com evolução rápida. Os tumores tipo T/NK, chamados angiocêntricos, apresentam invasão vascular e alto grau de necrose, sugerindo que no primeiro momento, a paciente não apresentava linfoma, já que a necrose só foi observada 10 meses depois, na segunda lesão. O rinoscleroma e o linfoma não Hodgkin nasal são raros, sendo fundamental o diagnóstico precoce. A realização inicial do anatomopatológico e imunohistoquímica, no caso, direcionou o tratamento correto nas duas ocasiões com a certeza de que se tratava de duas entidades associadas e não recidiva da mesma. Esta associação, não foi encontrada em revisão de literatura.
COMENTÁRIOS:
A paciente realizou anatomopatológico e imunohistoquímica, possilbilitando o diagnóstico precoce, tratamento adequado e prognóstico favorável, ressaltado a importância da imunohistoquímica no diagnóstico diferencial. Nesse caso, as doenças não foram sincrônicas, pois o primeiro exame não foi conclusivo para linfoma nasal e o tempo decorrido entre a remissão da lesão e o novo quadro foi longo para se considerar coexistência do linfoma ao rinoscleroma inicial. A paciente apresentou diagnóstico de linfoma não Hodgkin de células T com extensão paranasal, o tipo mais agressivo e com rápida evolução. Assim, é improvável que ela apresentasse esta doença na ocasião do primeiro diagnóstico. A lesão desapareceu com antibióticos e a paciente permaneceu bem por dez meses. Não há, na literatura, relatos de linfoma que tenham desaparecido ou remitido após antibioticoterapia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1-Chan TV, Spiegel JH. Klebsiella rhinoscleromatis of the membranous nasal septum. J Laryngol Otol 2007; 1-5
2- Lourenço AE. Doenças granulomatosas nasais- rinites e sinusites específicas. In: Lourenço,E A, Fukuda Y. Guia de Otorrinolaringologia. 1a. Edição.Barueri-SP:Manole 2003; 225-230
3- Cavalot A, Fadda G L, Nazionale G, Palonta F, Ricci E. Primary non-Hodgkin´s lymphoma of nasal cavity .Acta Otolaryngol, 120(4):545-50
4- Gumprecht TF, Meyer PR, Nichols PW. Identification of rhinoscleroma by imunoperoxidase technique.Laryngoscope, 93(5): 627-9, 1983
5- Essid A, Hamzoui M, Sahli S. Nasal angiocentric T cell -natural Killer cell lymphoma with pancreatic localisation in a child. Archives Pediatrié, 10(11):979-82, 2003
6- Al-Serhani A M, Al Qahtani A S,Arafa M. Association of rhinoscleroma with rhinosporidiosis.Rhinology, 36(1):43-45, 1998
Fig
Paciente pré tratamento quimio-radioterápico do linfoma não Hodkin nasal; TC de seios paranasais quando do diagnóstico do linfoma; paciente pós tratamento