Relato de Caso
Carcinoma Escamoso de CAE - Relato de Caso
Squamous Cell Carcinoma of the External Auditive Canal - Case Report
Autores:
Wagner Amauri Prado Cavazzani (Residente (R3)) Residente de ORL
Vânia Campelo Barroso (Residente (R3)) Residente em ORL
Letícia Martins Dias do Amaral (Residente (R2)) Residente em ORL
Juliana Wolp Diniz (Residente (R1)) Residente em ORL
Luciana Mont'Alvão Meira (Residente (R1)) Residente em ORL
Cláudio Campos Rodrigues (Docente e Diretor Técnico da Clínica Prof. José Kós) Coordenador do Ciclo de Aperfeiçoamento em ORL
Palavras-Chave
Carcinoma Escamoso, Conduto Auditivo Externo, Neoplasias, Otorréia Crônica
Resumo
Os autores apresentam um caso raro de carcinoma escamoso maligno de conduto auditivo externo. Z. A. P., com 88 anos de idade, do sexo feminino, referia dor, plenitude auricular e otorréia à direita há cerca de dois meses. Recebeu vários tratamentos com antibióticos tópicos e sistêmicos, sem melhora do quadro clínico. Ao exame físico foi detectada lesão no conduto auditivo externo com aspecto de "cacho de uva", friável ao toque. A tomografia computadorizada de ossos temporais mostrou tumor restrito à porção externa do conduto auditivo externo, sem invasão óssea. A biópsia revelou ser um carcinoma escamoso moderadamente diferenciado. A paciente foi submetida a uma excisão em bloco da tumoração. Os autores concluem, apesar da idade da paciente, que os indivíduos com otite externa sem melhora clínica com o tratamento empregado, nos levam à consideração de que é importante pensarmos neste tipo de patologia.
Keywords
Squamous Cell Carcinoma, External Auditory Canal, Neoplasms
Abstract
The authors present a rare case of malignant tumor of the external auditory canal. Z. A. P., 88 year-old woman, with ear pain and otorrhea for the past one year. She had recieved several treatments with otological drops and oral antibiotics without clinical improvement. We found a small tumor on the external auditory canal, grape-like, -with increase on the superficial vascularization. A biopsy was taken, and revealed a adenoid-cystic carcinoma. The CT scan showed-a tumor restrict to the external portion of the auditory canal without bone erosion. The patient was submitted a excision of the tumor. The autors conclude that even though the patients age, the patients with external otitis without clinical improvement is important to think in this pathology.
Instituição: Ciclo de Aperfeiçoamento em Otorrinolaringologia da Clínica Prof. José Kós
Suporte Financeiro:
Introdução: As neoplasias da orelha externa e média são raras (0,01% de todas as neoplasias malignas relatadas). Os carcinomas de células escamosas são os mais freqüentes. Podem apresentar-se como ulcerações, pólipos, granulações e edemas infiltrativos do pavilhão, conduto auditivo externo ou orelha média, geralmente fazendo parte de quadros de otorréia crônica, que passam a se apresentar sanguinolentas ou acompanhadas de dor intensa. O conduto auditivo externo apresenta cerca de 2,5 cm a partir da concha até à membrana timpânica, sendo sua parede ântero-inferior de maior extensão devido à inclinação da membrana timpânica. O terço externo é cartilaginoso e coberto por uma fina camada epitelial de 0,5 a 1,0 mm de espessura, firmemente aderido ao pericôndrio. O tecido celular subcutâneo é escasso, possuindo glândulas sebáceas, ceruminosas e folículos pilosos. Os dois terços mediais têm composição óssea, a pele apresenta cerca de 0,2 mm de espessura, intimamente aderida ao periósteo. Nesta região não encontramos tecido celular subcutâneo e existem poucas glândulas ceruminosas.
Caso Clínico: Z. A. P, 88 anos, natural e procedente do Rio de Janeiro/RJ, compareceu ao serviço ambulatorial da Clínica Prof. José Kós, com queixa de otorréia, otodinia e plenitude auricular à direita a cerca de 2 meses, sem melhora com uso de antibioticoterapia local e sistêmica, sem melhora. Ao exame otológico foi verificada lesão em CAE, em aspecto de "cacho de uva", friável ao toque. Foi solicitado TC de Mastóide, demonstrando tecido com densidade de partes moles ocupando o conduto auditivo externo, sem acometimento ósseo. Paciente foi submetida a procedimento cirúrgico para excisão da lesão. O material foi enviado para análise, onde foi evidenciado carcinoma escamoso moderadamente diferenciado. Encaminhamos a paciente ao INCA - RJ onde iniciará radioterapia.
Discussão: O carcinoma escamoso ocorre mais freqüentemente na porção óssea do conduto auditivo externo e tende a ser mais agressivo quanto mais internamente se origine. Histologicamente, 62,5% são moderadamente diferenciados, sendo bem diferenciados em 25% e pouco diferenciados em 12,5%. Infiltrado linfocitário é visto com freqüência à microscopia. Otite crônica de longa duração é a causa mais comum. Nas neoplasias do CAE, uma das hipóteses mais aventadas é a exposição da sua pele a carcinógenos produzidos pelo Aspergillus ou Pseudomonas. Otorréia e prurido são os sintomas mais comuns. O diagnóstico dessa patologia deve constar de exame otorrinolaringológico completo com audiometria, sendo confirmado pela biópsia. A verdadeira extensão da lesão apenas pode ser confirmada por estudos de imagens criteriosos (TC e RNM). Na pesquisa de metástase a distância devem-se estudar pulmões, fígado e ossos. Entre os diagnósticos diferenciais destacam-se: schwannomas, paragangliomas, otite média específica (tuberculose), colesteatoma do CAE, processo granulomatoso (Wegener), otite externa maligna. O estágio da doença é um importante fator prognóstico. A sobrevivência estimada em 5 anos é de 75% com operação e 16% sem operação. A margem cirúrgica do tumor é relacionada significativamente à sobrevivência. A cirurgia (ressecção do osso temporal) e a radioterapia adjuvante são o tratamento da escolha para os estágios de T1, T2 e T3. A recorrência da doença no primeiro ano depois do tratamento é 66.6% e 84% no segundo ano. As metástases no osso temporal geralmente se manifestam por dor, surdez ou por comprometimento neurológico. As metástases cervicais variam de 10 a 16%.
Conclusão: O carcinoma escamoso de CAE incide em uma região anatômica complexa.Há grande dificuldade em se fazer um diagnóstico precoce destes tumores, devido suas manifestações clínicas semelhantes à otite média crônica. A suspeita de câncer é feita quando surge dor intensa, paralisia facial, otorréia sanguinolenta, tonturas, surdez, acúfenos. Ao tratarmos as infecções crônicas do conduto ou do ouvido médio, ao encontrarmos pólipos, granulações, infiltrações ou ulcerações, resistentes aos tratamentos convencionais, devemos providenciar a biópsia destas lesões para estudo histopatológico. O carcinoma escamoso de conduto auditivo externo pode ser tratado se diagnosticado precocemente.
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