Palavras-Chave
saliva, sialometria e glândulas salivares

Resumo
A medida do volume de saliva produzida em indivíduos normais é importante para determinar a hipo ou a hiperssialia. O objetivo desse estudo foi realizar a medida do volume salivar em indivíduos adultos normais. Material e Método. Oitenta indivíduos saudáveis, de ambos os sexos com idade variando de 15 a 79 anos, sem queixa salivar, sem interferência de drogas ou alimentos, foram submetidos à coleta do material durante 5 minutos e medidos volumetricamente. Resultado. O volume médio de saliva foi de 3,6; no sexo feminino foi de 3,3 ml e no masculino de 4,2 ml. Houve redução na produção salivar a partir da quinta década. Conclusão: O estudo mostra que houve tendência à maior produção da saliva em homens que em mulheres, e que a produção reduz a partir da quinta década de vida.

Keywords
saliva, solometry and salivary glands

Abstract
Introduction The measurement of saliva flow rate em normal persons is the first step in order to determine hipo or hipersialia. The aim of this study was to determine the volume of saliva production in healthy persons. Material and Methods Eighty healthy persons of both gender, varying from 15 to 79 years old without interference of drugs or foods were submetted during five minutes to the colletions of saliva that was measured in volume (ml). Results. The mean volume was 3,6 ml. In females was 3,3 ml and in males 4,2 ml. There was reduction in saliva production after 5º decade. Conclusion This study shows that there are greater production of saliva in males than in female, and that after 5º decade of life there are reduction in the saliva flow rate.

Introdução

 A saliva é um fluido complexo produzido por pares de glândulas salivares maiores (parótidas, submandibulares e sublinguais), e por glândulas menores situadas na submucosa de todo o trato aerodigestivo superior, e enviada a cavidade oral¹. Apresenta múltiplas e importantes funções: protege o epitélio da mucosa bucal e do epitélio gatriintestinal, umidifica e limpa tecido mole e dentes, forma o bolo alimentar, inicia a digestão e tem participação na deglutição e na fonação^2-3-4.

Os diversos elementos da saliva podem ser agrupados em componentes protéicos (albumina, IgA,  IgM, IgG, lactoferrínea), enzimáticos (esterases, desidrogenase láctica, ribonuclease, fosfatase), pequenas moléculas orgânicas (creatinina, acido úrico, glicose, nitrogênio, lípides acido sialico, uréia), eletrólitos (amônia, flúor, cálcio, magnésio, potássio, sódio, sulfato, bicarbonato, cloro, iodo) ^2-3.  

Os núcleos salivatórios superior e inferior situados no tronco encefálico controlam a secreção das glândulas salivares. Esses núcleos são constituídos em sua maior parte por impulsos gustativos e sensoriais tácteis com origens na boca. Os alimentos com paladar agradável induzem à produção maior de saliva que os desagradáveis³.

A saliva pode ser dividida em três fases: psíquica, gustativa e gastrintestinal. A fase psíquica faz com que a boca fique pronta para receber o alimento. A evocação de alimentos agradáveis ou ácidos estimulam à produção da saliva; a fase gustativa fornece a saliva que é misturada com alimento durante a mastigação; a fase gatriintestinal prolonga a secreção de saliva até depois de o alimento ter sido armazenado no estômago⁵.

A produção de saliva tem sido objeto de estudo desde a antiguidade. Segundo Aprigliano Filho, no Herbário Assírio de Assurbanipal, em 2000 AC, já se fazia menção ao fluido salivar na boca e sua redução pelo uso da "beladona" ou atropina¹.

O volume diário de saliva varia de 600 a 1500ml^1-6, sendo que a glândula submandibular contribui com 71% do volume, a parótida com 25%, a sublingual com 3% e as menores com 1%.

Diversas causas podem provocar hipossialia como cigarro, medicamentos, irradiações na cabeça e pescoço, síndrome de Sjögren, desidratação, idade^7-8.

A avaliação do volume de saliva produzida requer certos cuidados como ambiente local, o intervalo entre a refeição e o exame, as drogas em uso.

A quantificação do volume de saliva produzida em indivíduos eutróficos é importante para estabelecer parâmetro de normalidade e permitir a aferição de hiper ou hipossialia.

Procuramos observar nesse trabalho a sialometria em indivíduos eutróficos, sem queixa de hipo ou hiperssialia, sem uso de medicamentos, e sem estímulo indutor de produção salivar, para avaliar o volume produzido em determinado tempo.

O objetivo desse estudo é o de avaliar a produção espontânea de saliva em indivíduos saudáveis, sem queixa de alterações salivares.

Material e Método

Critérios de inclusão

      Idade acima de 15 anos, de ambos os sexos

      Sem queixa salivar

      Não fumantes e não alcoólatras

      Sem uso de medicamentos ou drogas químicas

      Sem doenças sistêmicas

Oitenta indivíduos foram orientados a permanecer sem ingestão de alimentos por período mínimo de duas horas. Foram acomodados confortavelmente sentados em ambiente calmo sem excesso de luz, som, ou odor, e sem a presença de alimentos.

Foram solicitados para não deglutirem a saliva e a coletarem num copo plástico descartável, por período de 5 minutos.

O volume da saliva coletada foi medida em seringa descartável.

Resultado

Dos oitentas indivíduos, 47 eram do sexo feminino e 33 do sexo masculino. A idade abrangeu de 15 a 79 anos (média de 39 anos).

O volume de saliva variou de 0,5 ml a 10ml (média de 3,3 ml) no sexo feminino e de 1,2 ml a 10 ml (média de 4,2 ml) no sexo masculino. A diferença não foi significante (P=0,058). A média de volume nos oitenta indivíduos foi de 3,6 ml. O gráfico 1. mostra a incidência do volume de saliva em mulheres, em homens e total.

Gráfico 2 mostra a incidência de faixa etária em mulheres, homens e total.  Gráfico 3 mostra o volume de saliva de acordo com a faixa etária, em mulheres, em homens e no total.

Discussão

Em pessoas sem manifestações de hipossialia, a coleta e a quantificação do material pode ser realizada volumetricamente, sem dificuldade. Porém em pacientes com pouca produção de saliva, a quantidade pode ser insuficiente para poder medir o volume, sendo necessária a utilização da balança  e medir o peso do material coletado. No presente estudo, como era em indivíduos eutróficos, realizamos a coleta em copo, medindo seu volume com seringa descartável, sem nenhuma dificuldade.

O critério de exclusão, principalmente quanto aos portadores de determinadas doenças sistêmicas e quanto ao uso de droga, é importante quando se procura estabelecer os valores da secreção salivar em indivíduos sem queixa de sua produção.

Orientações quanto ao intervalo relativo à ultima alimentação, e quanto à coleta ser realizada em ambiente neutro , sem a interferência da visão ou de odor de alimentos que possam estimular a produção de saliva é importante quando se procura determinar a sialometria.

No presente estudo foi maior a produção de saliva no sexo masculino em relação ao feminino com diferença estatisticamente (gráfico 1), porém a diferença não foi estatisticamente significante provavelmente devido ao número reduzido da amostra. Não encontramos na literatura estudo da sialometria em indivíduos eutróficos, por sexo.

Considerando os valores encontrados (3,3 ml/5min) como produção média, em 24 horas teríamos 940 ml no sexo feminino; no sexo masculino (4,2 ml/5min), teríamos um volume diários de 1200 ml, o que está de acordo com Aprigliano Filho¹ e Guyton⁵. Em pessoas idosas a saliva produzida reduz gradualmente a partir da quarta década, acentuando-se a partir dos 50 anos (gráfico 3). Outros estudos também apresentam redução da saliva em indivíduos de faixa etária maior^9-10.

Conclusão

O volume de saliva produzida em indivíduos saudáveis, sem interferência externa,  foi maior em homem que em mulheres. Considerando-se essa a média de produção ao longo de 24 horas, em mulheres a produção se situa em 940 ml e em homens de 1200 ml.

Outro aspecto é em relação a idade em que produção de saliva diminui a medida que aumenta a idade, a partir da quinta década.

Referência

1. Aprigliano Filho, F. Patologia das glândulas salivares. In: Hungria H. Otorrinolaringologia. Guanabara-Koogan, 8^a ed., 2000. pp 171-194.

2. Masola PG, Addle CA. Xerostomia induzida por medicamentos: visão odontológica. In Corsemelli W. Síndrome de Sjögren.356-359

3. Carlson GW. The salivary glands: embriology, anatomy and surgical applications. Surg Clin North Am 2000; 80: 261-273.

4. Fukuda Y. Síndrome de Sjögren em otorrinolaringologia. In Corsemelli W. Síndrome de Sjögren. Segmento Farma, São Paulo, 2005, 161-166.

5. Guyton AC. Movimentos e secreções gastriintestinais e sua relugação. In: Guyton AC Fisiologia humana. Guanabara-Koogan, 6ªed. 1988. pp 397-412.

6. Adde CA, Dib LL, Galletta ES, Soares AL. Clínica da boca: manifestações odontológicas. In Corsemelli W. Síndrome de Sjögren. Segmento Farma, São Paulo, 2005, 156-160.

7. Corsemelli W, Adde CA, Dib LL, Galletta ES. Agentes farmacológicos que interferem com as secreções salivar e lacrimal. In Corsemelli W. Síndrome de Sjögren, Segmento Farma, São Paulo, 2005, 344-354.

8. Laudana AA . Manifestações clínicas e gastroenterológicas na síndrome de Sjögren. In Corsemelli W. Síndrome de Sjögren. Segmento Farma, São Paulo, 2005, 173-179.

9. Baum BJ. Evaluation of stimulated parótida saliva flow rate in different age groups. J Dent Res. 1981; 60: 1292-1296.

10.   Screebny LM, Baum BJ, Edgar WM, Epstein JB, Fox PC, Larmas M. Saliva: its role in health and disease. Int Dent J. 1992; 42:291-304.

Grafico 1.

Volume de saliva em mulheres (n=47), em homens (n=33) e no total (n=80).

Gráfico 2.

Incidência de faixa etária em mulheres, homens e no total.

Gráfico 3.

Volume de saliva de acordo com a faixa etária em mulheres, homens e no total.