Angélica Cristina Pezzin Palheta (Doutoranda em Neurociências) Médica-Preceptora do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza da Universidade Federal do Pará.
Francisco Xavier Palheta Neto (Coordenador do Projeto de Extensão "Doenças Infecto-Contagiosas em Otorrinolaringologia" da Universidade Federal do Pará - UFPA) Professor Assistente de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade do Estado do Pará (UEPA)
Waner Josefa de Queiroz Moura (Residente do segundo ano de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza) Universidade Federal do Pará
Jorge Emanuel Resque (Médico do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Ophir Loyola) Hospital dos Servidores do Estado do Pará
Murillo Freire Lobato (Doutorando em Otorrinolaringologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo) Professor Substituto de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Pará - UFPA
INTRODUÇÃO
A Rinosporidiose é uma infecção granulomatosa crônica causado pelo Rhinosporidium seeberi1, um protozoário enquadrado em um novo grupo de parasitas aquáticos2. Resulta de uma inoculação traumática no organismo3,4,5.
Apresenta-se sob quatro formas: nasal, ocular, cutânea e disseminada (rara).4
APRESENTAÇÃO DOS CASOS
Caso 1: masculino, sete anos, procedente da zona rural de Macapá (AP), com queixa de epistaxe unilateral à esquerda, progressiva, relacionada com traumas leves no local. Observou-se lesão tumoral pediculada no terço anterior do septo nasal à esquerda, granulomatosa, avermelhada e hemorrágica ao toque. A Radiografia das Cavidades Paranasais mostrou lesão tumoral em fossa nasal esquerda. Submetido a exérese cirúrgica.
Caso 2: masculino, 43 anos, coveiro, procedente de Capitão Poço (PA), com queixa de lesão tumoral na fossa nasal direita acompanhado de epistaxes freqüentes ao toque da lesão e um episódio de eliminação de fragmentos da mesma há mais ou menos 15 dias após crise esternutatória. Observou-se lesão tumoral no terço anterior do septo nasal à direita projetando-se para o vestíbulo nasal, granulomatosa e avermelhada. Submetido a exérese cirúrgica.
O exame histopatológico dos dois casos revelou lesão compatível com Rinosporidiose.
DISCUSSÃO
A rinosporidiose é uma doença típica de climas tropicais, endêmica no Sul da Índia e no Sri-Lanka, com casos isolados na América do Sul. Acomete mais homens em qualquer faixa etária.4,5,6
O R. seeberi vive no solo e a água é um meio de transmissão necessário5. A doença tem sido relacionada a práticas aquáticas2,4,5. Os pacientes relatados neste artigo possuiam hábitos de banhos e mergulho em igarapés, sendo esta prática comum na Região Amazônica.
As infecções localizadas nas fossas nasais e nasofaringe correspondem a 70% do total dos casos, acometendo principalmente os cornetos inferiores, o septo nasal e o assoalho nasal3. Caracteriza-se por lesões de aspecto polipóide, friáveis, sangrantes, sésseis ou pediculadas, de crescimento lento e superfície rósea-avermelhada, semeada de pontos branco-acinzentados, às vezes papilomatosas e verrucosas e não dolorosas6.
Manifesta-se por rinorréia mucóide profusa, sensação de corpo estranho nasal, obstrução nasal unilateral ou bilateral progressiva, respiração bucal, prurido, crises esternutatórias, coriza, epistaxes, descarga pós-nasal e tosse. Pode expandir-se para as cavidades paranasais, faringe, laringe, traquéia, saco lacrimal e conjuntiva ocular. Na faringe e na laringe podem determinar sintomas obstrutivos, como disfagia e dispnéia.2
O diagnóstico baseia-se no exame clínico e exames complementares (endoscopia nasal, radiografia simples, tomografia computadorizada e/ou ressonância nuclear magnética das cavidades paranasais) que são importantes na avaliação da extensão do processo e programação terapêutica. O diagnóstico definitivo é realizado pelo exame microscópico do material histológico/citológico dos exsudatos ou lesões tissulares, onde se identifica o patógeno em diversos estágios.3,6
Faz-se diagnóstico diferencial com corpo estranho, hipertrofia e degeneração polipóide dos cornetos nasais, tumores nasais ou de cavum, angioma, leishmaniose, escleroma, angiofibroma juvenil, pólipo antrocoanal, condiloma acuminado e polipose inflamatória crônica4.
O tratamento consiste na exérese cirúrgica com ampla excisão e eletrocoagulação da base da lesão.3,4 Observa-se a recorrência nos casos de simples excisão variando em torno de 10% dos casos.5 O prognóstico é excelente, exceto nos casos de disseminação.3
São formas de complicação: infecção bacteriana local secundária, recorrência e disseminação com risco de vida (extremamente raro).3,5
A profilaxia básica consiste em evitar o contato com águas contaminadas, principalmente em regiões endêmicas.4
COMENTÁRIOS FINAIS
Há muitos aspectos da doença e do Rhinosporidium seeberi que permanecem desconhecidos e enigmáticos, incluindo, o habitat natural do patógeno, alguns aspectos de seu ciclo de vida e sua imunologia, alguns aspectos da epidemiologia da doença nos seres humanos e nos animais, as razões para a falha na cultura in vitro e na inoculação da doença em animais experimentais e a escassez de informação quanto a sua sensibilidade às drogas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Herr, RA, Ajello, L, Taylor, JW, Arseculeratne, SN, Mendoza, L. Phylogenetic Analysis of Rhinosporidium seeberi's 18S Small-Subunit Ribosomal DNA Groups this Pathogen among Members of the Protoctistan Mesomycetozoa. Journal Clinical Microbiology. 37(9): 2750-2754, 1999.
2. Fredricks, DN, Jolley, JA, Lepp, PW, Kosek, JC, Relman, DA. Rhinosporidium seeberi: A Human Pathogen from a Novel Group of Aquatic Protistan Parasites. Emerging Infectious Diseases, 6(3): 273-282, 2000.
3. Arseculeratne SN. Recent advances in rhinosporidiosis and rhinosporidium seeberi. Indian J Med Microbiol, 20:119-131, 2002
4. Pezzin-Palheta, AC, Palheta-Neto, FX, Feier, CAK, Siqueira-Batista, R. Rinosporidiose. In: Doenças causadas por Protozoários, Manual de Infectologia, Livraria e Editora Revinter, Ltda. Ano de Publicação 2003, pág. 394-395
5. Meher, R, Rajput, R, Passey, JC, Gupta, R, Sompal, S. Rhinosporidiosis presenting as nasal and urethral polyp. The Internet Journal of Toxicology, 2(1), 2005.
6. Stepien, A, García Jardón, M, Banach, L, Paton, N, Gonvender, J, Cabuko, M. Rinosporidiosis en el material histopatológico del hospital general de Umtata (1986-1999). IV Congresso Virtual Hispano Americano de Anatomia Patológica - 2001. Disponível em
http://conganat.uninet.edu/COMUNICACION-E/018.