ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

Artéria cerebelar ântero-inferior anômala: relato de caso
Anterior inferior cerebellar artery anormaly: a case report

Autores:

Marie Ogasawara (Médico residente de Otorrinolaringologia do Hospital CEMA) Médico residente de Otorrinolaringologia do Hospital CEMA

Luciano Sousa (Médico residente de Otorrinolaringologia do Hospital CEMA) Médico residente de Otorrinolaringologia do Hospital CEMA

Cícero Matsuyama (Mestre pela UNIFESP) coordenador da residência médica de Otorrinolaringologia do Hospital CEMA

Palavras-Chave
Artéria cerebelar ântero-inferior, zumbido

Resumo
O zumbido é um sintoma que se apresenta por diferentes causas: congênitas, infecciosas, neoplásicas, neurológicas, traumáticas, metabólicas, vasculares e mistas. Nesse relato de caso mostramos uma paciente com zumbido, levando-nos ao achado de uma Artéria cerebelar ântero-inferior anômala como fator etiológico do sintoma.

Keywords
Anterior inferior cerebellar artery, tinnitus

Abstract
Tinnitus may appear as a symptom in a large number of pathologies, like congenital, infectious, neoplastical, traumatic, metabolical, vascular ou mixed. We have reported a patient with tinnitus secondary to a rare anatomic alteration of the anterior inferior cerebellar artery.

 

Instituição: Hospital CEMA

Suporte Financeiro:

Introdução

 

      Definido como uma percepção consciente de um som que se origina nos ouvidos do paciente, sem a presença de uma fonte sonora externa, o zumbido é um sintoma que pode apresentar-se com origens diversas como: doenças congênitas, infecciosas, neoplasicas, neurológicas, traumáticas, metabólicas, mistas e vasculares.

      O zumbido vascular, ou pulsátil, como é mais freqüentemente denominado, geralmente ocorre porque a cóclea detecta alterações do fluxo sangüíneo, configurando uma manifestação otológica de anormalidade do fluxo sangüíneo do osso temporal. Trata-se de zumbidos pulsáteis síncronos com os batimentos cardíacos, sendo resultado de uma turbulência do fluxo sangüíneo por alteração da velocidade do mesmo ou do calibre da luz do vaso. 

Alterações anatômicas da artéria cerebelar antero inferior, muitas vezes assintomáticas, podem resultar em sintomas neurológicos como disacusia ipsilateral, zumbido e vertigem.

O objetivo desse relato de caso é mostrar uma paciente com zumbido pulsátil unilateral, submetida ao exame de ressonância nuclear magnética, levando-nos ao achado de uma alteração anatômica como fator etiológico do sintoma.

     

 

Relato de caso

 

      SFF, 55anos, sexo feminino, amarela, procedente de São Paulo, procurou o serviço de Otorrinolaringologia do Hospital CEMA, com queixa de zumbido há 1 ano. Paciente refere zumbido pulsátil à esquerda, de instalação súbita, sem fatores acompanhantes. Negava disacusia ou tontura.

      Usava na época do primeiro atendimento Extrato de Ginko Biloba 120mg 12/12h, sem perceber melhora do sintoma por 3 meses.

      Nega hipertensão, diabetes mellitus ou qualquer patologia associada.

      Ao exame físico, apresentava otoscopia normal bilateralmente, sem nistagmo espontâneo ou semi-espontâneo, com exame do aparelho vestibular e dos pares cranianos normais.  

      Paciente foi submetida à audiometria tonal e vocal, em que apresentou perda neurossensorial de grau leve bilateral e impedânciometria com resultado dentro da normalidade. Foi solicitada Ressonância Nuclear Magnética, a qual evidenciou presença de artéria cerebelar ântero- inferior, com aumento de calibre, e posição anômala, no interior do conduto auditivo interno em orelha esquerda.(figura 1).

     Com o diagnóstico de anomalia anatômica benigna, não se indicou tratamento cirúrgico. A paciente permanece em seguimento ambulatorial, com bom controle do sintoma. 

 

Discussão

     

      Muitas classificações para o zumbido já foram propostas, entre elas, aquela que divide o zumbido de acordo com sua fonte de origem: zumbidos gerados por estruturas para-auditivas, geralmente de origem vascular ou muscular (mioclônica) e zumbidos gerados pelo sistema auditivo neurossensorial.

      No caso clínico apresentado o zumbido pulsátil originou-se da variação anatômica da artéria cerebelar ântero-inferior (AICA), de evolução benigna.

       A artéria cerebelar ântero-inferior, ramo da artéria basilar, irriga a região pontino-bulbar, porção anterior dos núcleos vestibulares, flocculus, nodulus e úvula do cerebelo. Um de seus ramos, a artéria auditiva interna, é responsável pela irrigação do conduto auditivo interno e porção medial da orelha interna.

 A abordagem diagnóstica do zumbido inicia-se com uma história clínica detalhada, e um exame físico e otorrinolaringológico, complementados com exames complementares audiométricos, vestibulares, laboratoriais e de imagem.

  A tomografia computadorizada de alta resolução nos permite a visualização de massas tumorais como o glomus timpânico ou jugular, uma artéria carótida aberrante ou anormalidades que envolvam o bulbo da jugular. Entretanto, a ressonância nuclear magnética e a angioressonância revelam-se bastante superiores para o diagnóstico etiológico anatomo-estrutural dos zumbidos de origem vascular.

      Este caso clínico ilustra a diversidade de causas que podem gerar o zumbido, relatando um caso de variação anatômica da artéria cerebelar ântero-inferior benigna que deve ser considerada no diagnóstico diferencial de zumbido pulsátil.

 

 

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