ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Trabalho Clínico

Vertigem Posicional Paroxística Benigna Bilateral Monocanal
Bilateral Monocanal Benign Paroxysmal Positional Vertigo

Autores:

Marcela Rosana Maia da Silveira (Especialista em Distúrbios da Comunicação Humana) Fonoaudióloga

Ana Paula Serra (Especialista em Otoneurologia) Otorrinolaringologista

Cristina Freitas Ganança (Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana) Professora Substituta da Disciplina de Fonoaudiologia e Distúrbios da Comunicação Humana, Universidade Federal de São Paulo

Fernando Freitas Ganança (Doutor em Medicina) Professor Adjunto da Disciplina de Otoneurologia, Universidade Federal de São Paulo

Heloísa Helena Caovilla (Livre-Docente) Professora Associada da Disciplina de Otoneurologia, Universidade Federal de São Paulo

Maurício Malavasi Ganança (Livre-Docente) Professor Titular de Otorrinolaringologia, Universidade Federal de São Paulo

Palavras-Chave
Vertigem Posicional Paroxística Benigna, Bilateral, Monocanal

Resumo
Introdução: A vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) é a vestibulopatia mais prevalente. Objetivo: determinar a prevalência do envolvimento bilateral simultâneo de um mesmo canal semicircular em pacientes com VPPB. Método: Trata-se de estudo retrospectivo em que os prontuários de 2.345 pacientes consecutivos com VPPB foram analisados, para determinar a prevalência do envolvimento bilateral simultâneo de um mesmo canal. Resultados: A VPPB bilateral monocanal ocorreu em 252 (10,9%) pacientes, com idade entre 39 e 81 anos, predominando no gênero feminino (63,5%). O comprometimento de canal posterior bilateral ocorreu em 9,9% dos casos de VPPB e em 92,5% dos casos de VPPB bilateral monocanal. O substrato fisiopatológico envolvido foi ductolitíase em 94,9% dos casos, cupulolitíase em 4,7% e ductolitíase de um lado e cupulolitíase do outro em 0,4%. O comprometimento de canal anterior bilateral ocorreu em 0,8% dos casos de VPPB e em 7,5% dos casos de VPPB bilateral monocanal. O substrato fisiopatológico envolvido foi ductolitíase em 84,2% dos casos e cupulolitíase em 15,8%. O comprometimento do canal lateral bilateral não foi observado. Conclusão: O envolvimento bilateral simultâneo de um mesmo canal semicircular em pacientes com VPPB é incomum, com comprometimento do canal posterior por ductolitíase na maioria dos casos.

Keywords
Benign Paroxysmal Positional Vertigo, Bilateral, Monocanal

Abstract
Introduction: Benign paroxysmal positional vertigo (BPPV) is the most common vestibular disease. Purpose: To determine the prevalence of the simultaneous bilateral involvement of the same semicircular canal in patients with BPPV. Method: Retrospective study in which files from 2345 consecutive patients with of BPPV were analyzed. Results: Bilateral monocanal BPPV occurred in 252 (10.9%) patients, with age ranging from 39 to 81 years, prevailing in the feminine gender (63.5%). The bilateral posterior canal involvement occurred in 9.9% of the BPPV cases, and in 92.5% of the cases with bilateral monocanal BPPV; canalithiasis was identified in 94.9% of the cases, cupulolithiasis in 4.7% and canalithiasis of one side and cupulolithiasis of the other side in 0.4%. The bilateral anterior canal involvement occurred in 0.8% of the BPPV cases and in 7.5% of the cases with bilateral monocanal BPPV; canalithiasis was identified in 84.2% of the cases, and cupulolithiasis in 15.8%. The involvement of the bilateral lateral canal was not observed. Conclusion: The simultaneous bilateral involvement of the same semicircular canal in patients with benign paroxysmal positional vertigo is uncommon; canalithiasis of the posterior canal is found in the majority of the cases.

 

Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP / Escola Paulista de Medicina - E.P.M.

Suporte Financeiro: não

Introdução

 

Na vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), uma das labirintopatias mais comuns, breves episódios de vertigem são precipitados por movimentos à mudança de posição da cabeça.  Partículas de carbonato de cálcio na cúpula, cupulolitíase1,2 ou flutuando livremente no canal semicircular posterior, ductolitíase3 desencadeiam vertigem durante a movimentação cefálica.

  As características do nistagmo de posicionamento, identificado à prova de Dix-Hallpike4 ou à pesquisa de nistagmo posicional, indicam o(s) labirinto(s) e o(s) canal(is) semicircular(es) lesados, distinguindo entre ductolitíase, com duração do nistagmo inferior a um minuto e, cupulolitíase, com duração do nistagmo superior a um minuto. Nistagmo de posicionamento vertical para cima e rotatório anti-horário ou horário caracteriza o comprometimento do canal posterior; nistagmo de posicionamento vertical para baixo e rotatório anti-horário ou horário, caracteriza o comprometimento do canal anterior; nistagmo de posicionamento exclusivamente rotatório anti-horário ou horário indica o comprometimento de canal vertical; e, nistagmo de posicionamento ou posicional horizontal ageotrópico ou geotrópico caracteriza o comprometimento do canal lateral5.

 Apenas um dos canais semicirculares é comprometido na maioria dos casos de VPPB. No entanto, o envolvimento labiríntico bilateral pode ocorrer, afetando um canal e caracterizando a VPPB bilateral monocanal ou afetando canais diferentes e caracterizando a VPPB bilateral multicanal. O envolvimento bilateral deve ser considerado na realização da manobra de reposicionamento e pode ter implicações nos resultados terapêuticos.

  O interesse por esta pesquisa surgiu devido à observação ocasional de nistagmo de posicionamento à prova de Dix, Hallpike4 ou à pesquisa de nistagmo posicional, indicando o envolvimento simultâneo do mesmo canal semicircular em ambos os labirintos de pacientes com VPPB.

  

 

Revisão de Literatura

 

Boniver6 encontrou envolvimento bilateral em 21 (22,6%) de seus 93 casos de VPPB.

A VPPB foi bilateral em 17 (14,9%) de 114 pacientes avaliados por Longridge, Barber7. Traumatismo craniano, afecções do sistema nervoso central ou ambos prevaleceram como fator etiológico nos casos bilaterais.

     Toupet et al8 referiram VPPB bilateral em cinco (26,3%) de19 casos de comprometimento de canal posterior. 

Baloh et al9 relataram VPPB bilateral em oito (3,3%) de 240 casos de comprometimento de canal posterior. 

Basseres10 observou comprometimento bilateral em nove (4,5%) de 195 casos de VPPB. 

Parnes, Price-Jones11 encontraram VPPB bilateral em 12 (20,7%) de 58 casos de comprometimento de canal posterior tratados com manobra liberatória ou manobra de reposicionamento de partículas. 

Dumas et al12 mencionaram formas bilaterais em 7,0% dos casos de VPPB. 

Petrone et al13 observou comprometimento bilateral por cupulolitíase em 12 (8,4%) de 142 casos de VPPB, do gênero feminino em oito (66,6%), com média de idade de 28 anos. Dez casos tinham antecedente de trauma craniano.  

Katsarkas14 observou VPPB bilateral em 94 (6,3%) de 1490 casos idiopáticos e em 22 (14,3%) de 154 pós-traumáticos. 

Ganança15 relatou que apenas 2,0% dos casos de VPPB bilateral por comprometimento de canal posterior têm como substrato a cupulolitíase.

A VPPB foi bilateral em 55 (11,8%) dos 464 casos de Ganança et al5 

Haybach16 referiu que a VPPB bilateral, não acompanhada de qualquer outro problema da orelha interna, ocorre em aproximadamente 10% dos casos e cerca de 20% dos casos de VPPB pós-traumática têm envolvimento bilateral. Quando a VPPB ocorre em mais de um ouvido ou em mais de canal, a possibilidade de sucesso com o tratamento é menor do que nas formas unilaterais da afecção. 

O envolvimento simultâneo dos canais semicirculares posteriores de ambos os labirintos foi identificado por Dornhoffer e Colvin17 em quatro (7,7%) de 52 pacientes com VPPB.  

O envolvimento bilateral dos canais semicirculares posteriores foi observado por Macias et al18 em 18 (6,9%) de 259 casos. 

Vibert et al19 encontraram VPPB bilateral em seis (18,8%) de 32 mulheres entre 50 e 85 anos de idade; assinalaram aparente correlação da VPPB com osteopenia ou osteoporose. 

De acordo com Horiet al20, a VPPB de canal lateral bilateral é rara. É difícil de ser tratada, provavelmente porque o procedimento para um lado move os debris para a cúpula do outro canal; a oclusão do canal combinada com a manobra de Lempert para o outro lado é uma opção no tratamento desta variante intratável de VPPB.  

O comprometimento bilateral foi identificado por Gordon et al21 em quatro casos (1,6%) de 247 pacientes com VPPB de canal posterior. 

Kaplan et al22 identificaram 10 casos com VPPB bilateral. Quatro pacientes tinham história de trauma craniano recente. 

Para Lopes-Escamez et al23, todos os canais semicirculares podem ser acometidos pela VPPB, mas na maioria dos casos apenas um dos canais é afetado. No entanto, a VPPB pode ocorrer com envolvimento labiríntico bilateral ou concomitante de diferentes canais semicirculares. Em 14 pacientes com envolvimento de canal anterior, observaram quatro casos (28,6%) de comprometimento bilateral, sem comprometimento do sistema nervoso central à ressonância magnética encefálica. 

Steenerson et al24 assinalaram que o acometimento labiríntico bilateral ocorreu em 314 de 840 casos (37,4%) de VPPB de canal posterior. A origem traumática foi identificada em 83,1% dos casos bilaterais.  

Pollak et al25 relataram que o comprometimento concomitante de ambos os labirintos é raro, verificando-o em 16 (6,9%) de 232 casos de VPPB, a maioria de origem traumática. Houve predominância do gênero feminino (68,8%) e idade entre 35 e 79 anos (média de 60,2 anos).

 

O objetivo desta investigação é determinar a prevalência do envolvimento bilateral simultâneo de um mesmo canal semicircular em pacientes com vertigem posicional paroxística benigna.

 

Método

 

Esta pesquisa foi realizada sob supervisão da Disciplina de Otoneurologia de uma Universidade, tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa desta instituição (protocolo número 1831/06). 

Para a seleção da casuística, foram analisados os prontuários de pacientes consecutivos com diagnóstico de VPPB realizado pelo otorrinolaringologista, examinados nos últimos cinco anos.  

Fizeram parte da amostra pacientes com VPPB que apresentaram nistagmo de posicionamento sugestivo de acometimento concomitante do mesmo canal semicircular em ambos os labirintos, sem acometimento do cerebelo ou do sistema nervoso central, que tenham sido submetidos às avaliações da função auditiva, por meio de audiometria tonal liminar, audiometria vocal e imitanciometria, e da função vestibular, por meio de avaliação do equilíbrio estático e dinâmico e da nistagmografia computadorizada, incluindo calibração dos movimentos oculares, pesquisa do nistagmo posicional e de posicionamento, nistagmo espontâneo e semi-espontâneo, movimentos sacádicos fixos e randomizados, rastreio pendular, nistagmo optocinético, auto-rotação cefálica e prova calórica com ar, de acordo com Ganança et al26 

A avaliação do equilíbrio estático incluiu as provas de Romberg, com os olhos abertos e depois fechados. A avaliação do equilíbrio dinâmico incluirá as provas de marcha e de Unterberger-Fukuda, com os olhos abertos e depois fechados.  

A pesquisa de nistagmo e/ou vertigem de posicionamento, à prova de Dix-Hallpike, realizada com o uso de lentes de Frenzel, foram determinados o ducto semicircular e o labirinto acometidos: o paciente sentado em uma maca virou sua cabeça 45º para o lado a ser avaliado e, a seguir, com o auxílio do examinador, foi ajudado a deita-se rapidamente para trás, mantendo a cabeça pendente e inclinada 45º para o lado avaliado por aproximadamente 30 segundos; após a extinção da vertigem e do nistagmo de posicionamento, o paciente retornou à posição sentada, sendo a manobra repetida para o outro lado. Vertigem e nistagmo posicionais foram pesquisados à movimentação lenta do paciente, com a ajuda do examinador, da posição sentada para o decúbito dorsal, girando a cabeça para a direita; em seguida, passou para o decúbito lateral direito;  voltou para o decúbito dorsal; girou a cabeça para a esquerda; passou para o decúbito lateral esquerdo; voltou para o decúbito dorsal e para a posição sentada. O paciente permaneceu 30 segundos em cada posição.  

A nistagmografia computadorizada consistiu em uma calibração dos movimentos oculares, para que todos os exames sejam feitos em igualdade de condições e para a medida correta da velocidade da componente lenta do nistagmo. Nistagmo espontâneo foi pesquisado no olhar de frente, com os olhos abertos e fechados. Nistagmo semi-espontâneo foi pesquisado no desvio não superior a 30 graus do olhar para a direita, para a esquerda, para cima e para baixo. Movimentos sacádicos foram pesquisados ao olhar para um alvo que se move com padrão fixo ou randomizado. Rastreio pendular foi pesquisado à observação visual do movimento de um ponto luminoso à frente do paciente nas freqüências de 0,1, 0,2 e 0,4 Hz. Nistagmo optocinético foi pesquisado no acompanhamento visual de um ponto luminoso em movimento à frente do paciente, com velocidade de 30 graus por segundo. Nistagmo pós-calórico foi pesquisado após uma estimulação térmica com ar a 18 e 42 graus centígrados em cada ouvido separadamente, com os olhos fechados e a seguir abertos.  

O teste de auto-rotação cefálica de altas freqüências estimou o ganho (relação entre a intensidade do estímulo e da resposta), a fase (relação angular entre a curva do estímulo e a da resposta) e a simetria (comparação entre os ganhos numa direção da rotação com os da direção oposta) do reflexo vestíbulo-ocular (RVO) horizontal e vertical, nas freqüências de 1 a 8Hz. 

O equipamento de nistagmografia inclui um padrão de normalidade; os diversos parâmetros nas diferentes provas à vestibulometria de cada paciente foram automaticamente calculados e comparados com os limites normais em cada teste, permitindo a verificação de anormalidades da função vestíbulo-ocular.  

O diagnóstico de VPPB bilateral foi efetuado quando foi encontrado nistagmo à prova de Dix-Hallpike e em decúbitos laterais com características que correspondessem ao envolvimento simultâneo de um mesmo canal semicircular em ambos os labirintos. 

Os achados otoneurológicos foram submetidos a uma análise descritiva.

 

Resultados

 

Foram analisados os prontuários de 2.345 pacientes consecutivos com hipótese diagnóstica de VPPB, examinados de janeiro de 1999 a julho de 2006. 

A VPPB monocanal foi identificada em 2.310 casos (98,5%), sendo unilateral em 2.058 (89,1%) e bilateral em 252 (10,9%). A VPPB multicanal unilateral ou bilateral foi encontrada em 35 casos (1,5%). 

A VPPB bilateral monocanal foi encontrada em 160 casos do gênero feminino e 92 do masculino, com idade entre 39 e 81 anos (média de 59,0 anos). 

A tabela 1 apresenta os canais semicirculares comprometidos e a sua prevalência bilateral, de acordo com o substrato fisiopatológico, nos 252 casos de VPPB bilateral monocanal. 

O comprometimento de canal semicircular posterior bilateral ocorreu em 233 (9,9%) dos 2345 casos de VPPB. 

Nos 252 casos de VPPB bilateral monocanal, o envolvimento de canal semicircular posterior bilateral ocorreu em 233 (92,5%), por ductolitíase em 221 (94,9%), cupulolitíase em 11 (4,7%) e ductolitíase de um lado e cupulolitíase do outro em 1 (0,4%).  

O comprometimento de canal semicircular anterior bilateral ocorreu em 19 (0,8%) dos 2345 casos de VPPB. 

Nos 252 casos de VPPB bilateral monocanal, o envolvimento de canal semicircular anterior bilateral ocorreu em 19 (7,5%), por ductolitíase em 16 (84,2%) e por cupulolitíase em três (15,8%).  

O comprometimento do canal semicircular lateral bilateral não foi identificado.

 

Discussão

 

Os prontuários de 2.345 pacientes com hipótese diagnóstica de VPPB foram analisados, para determinar a prevalência do envolvimento bilateral simultâneo de um mesmo canal semicircular.

A VPPB monocanal, por comprometimento de um canal semicircular, foi bilateral em 252 (10,9%). O envolvimento bilateral na VPPB foi relatado por Boniver6  em 22,6%, Longridge e Barber7 em 14,9% dos casos, Toupet et al8 em 26,3%, Baloh et al9 em 3,3%, Basseres10 em 4,5%, Parnes e Price-Jones11 em 20,7%, Dumas et al12 em 7,0%, Petrone et al13 em 8,4%, Katsarkas14 em 7,1%, Ganança et al5 em 11,8%, Dornhoffer e  Colvin17 em 7,7%, Macias et al18 em 6,9%, Haybach16 em 10,0%, Vibert et al19 em 18,8%, Gordon et al21 em 1,6%, Steenerson et al24 em 37,4% e Pollak et al25 em 6,9%. 

A VPPB bilateral monocanal predominou no gênero feminino (63,5%) e ocorreu em pacientes com idade entre 39 e 81 anos (média de 59,0 anos). Petrone et al13 encontraram a VPPB bilateral em 66,6% dos casos, com média de idade de 28 anos. Vibert et al19 verificaram a ocorrência de VPPB bilateral em mulheres com osteopenia ou osteoporose, entre 50 e 85 anos de idade. Pollak et25 observaram predominância do gênero feminino (68,8%) e idade entre 35 e 79 anos (média de 60,2 anos). 

O comprometimento de canal semicircular posterior bilateral ocorreu em 9,9% dos casos de VPPB e em 92,5% dos casos de VPPB bilateral monocanal. Comprometimento de canal semicircular posterior bilateral foi assinalado por Toupet et al8 em 26,3% dos casos, Baloh et al9 em 3,3%, Parnes e Price-Jones11 em 20,7%, Dornhoffer e Colvin17 em 7,7%, Macias et al18 em 6,9% e Steenerson et al24 em 37,4%.  

 

A ductolitíase foi identificada em 94,9% dos casos, a cupulolitíase em 4,7% e ductolitíase de um lado e cupulolitíase do outro em 0,4%. Petrone et al13 identificaram cupulolitíase em todos os seus casos de VPPB bilateral. Ganança15 verificou VPPB bilateral por ductolitíase em 98,0% dos casos e por cupulolitíase em 2,0%. 

O comprometimento de canal semicircular anterior bilateral ocorreu em 0,8% dos casos de VPPB e em 7,5% dos casos de VPPB bilateral monocanal. Lopes-Escamez et al23 observaram 28,6% de casos de VPPB com comprometimento bilateral de canal anterior. A ductolitíase foi identificada em 84,2% dos casos e a cupulolitíase em 15,8%. Não encontramos referências sobre o tipo de substrato nos casos de VPPB de canal semicircular anterior bilateral. 

O comprometimento do canal semicircular lateral bilateral não foi observado em nossa casuística. De acordo com Hori et al20, a VPPB de canal lateral bilateral é rara.  

Segundo Korres et al27, o envolvimento bilateral interfere no resultado da manobra inicial de reposicionamento e está correlacionado com o aumento das recorrências na VPPB 

Apesar de infreqüente, o envolvimento bilateral simultâneo de um mesmo canal semicircular em pacientes com VPPB merece atenção, pelas possíveis implicações no planejamento e execução da manobra de reposicionamento de partículas e nos resultados terapêuticos.

 

Conclusão

 

O envolvimento bilateral simultâneo de um mesmo canal semicircular em pacientes com vertigem posicional paroxística benigna é incomum, com comprometimento do canal posterior por ductolitíase na maioria dos casos.

 

 

Refrências Bibliográficas

 

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Tabela 1. Número e porcentagem de casos de vertigem posicional paroxística benigna bilateral monocanal de acordo com o substrato fisiopatológico

VPPB bilateral

Ductolitíase

Cupulolitíase

Ductolitíase de um lado

Cupulolitíase do outro

Total

 

 

 

 

 

N

 

 

 

%

N

%

N

%

N

%

 

 

Canal semicircular posterior

221

87,7

11

4,4

1

0,4

233

92,5

Canal semicircular anterior

16

6,3

3

1,2

-

-

19

7,5

Total

237

94,0

14

5,6

1

0,4

252

100,0

 

 

 

Legenda:

 

VPPB: vertigem posicional paroxística benigna

 

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