Tese
A FUNÇÃO VESTIBULAR NA MIGRÂNEA DE TIPO BASILAR
The Vestibular Function in Basilar Migraine.
Autores:
Eliana Santos Miranda (Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana) Fonoaudióloga
Ana Paula Serra (Especialista em Otoneurologia) Otorrinolaringologista
Cristina Freitas Ganança (Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana) Professora Substituta do Departamento de Fonoaudiologia e Distúrbios da Comunicação Humana, Universidade Federal de São Paulo
Fernando Freitas Ganança (Doutor em Medicina) Professor Adjunto da Disciplina de Otoneurologia, Universidade Federal de São Paulo
Heloísa Helena Caovilla (Livre-Docente) Professora Associada da Disciplina de Otoneurologia, Universidade Federal de São Paulo
Maurício Malavasi Ganança (Livre - Docente ) Professor Titular de Otorrinolaringologia, Universidade Federal de São Paulo
Palavras-Chave
Migrânea Basilar, Disfunção Vestibular
Resumo
Introdução: A migrânea basilar é uma afecção rara. Objetivo: avaliar a prevalência de sintomas e sinais de disfunção vestibular em pacientes com migrânea de tipo basilar. Método: Trata-se de estudo de série de casos em que dez pacientes foram submetidos à anamnese, audiometria tonal liminar, audiometria vocal, medidas de imitância acústica e pesquisa dos reflexos acústicos e à vestibulometria, pesquisando nistagmo de posicionamento e posicional, calibração dos movimentos oculares, nistagmo espontâneo e semi-espontâneo, movimentos sacádicos, rastreio pendular, nistagmo optocinético, prova rotatória pendular decrescente e prova calórica. Sintomas e sinais otoneurológicos na fase de aura ou durante a crise de cefaléia foram analisados. Resultados: Tontura ocorreu nos dez pacientes (100,0%); zumbido em seis (60,0%); enjôo e mal-estar em veículos em movimento em quatro (40,0%), e hipoacusia em dois (20,0%). Hiper-reflexia do nistagmo pós-calórico ocorreu em seis casos (60,0%), e nistagmo espontâneo com olhos fechados, nistagmo pré-calórico e preponderância direcional do nistagmo pós-calórico em um caso (10,0%), caracterizando uma disfunção vestibular periférica à vestibulometria em sete casos (70,0%). Vestibulometria normal ocorreu em três casos (30,0%). Conclusão: A prevalência de vertigem ou outros tipos de tontura e sinais de disfunção vestibular periférica em pacientes com migrânea de tipo basilar é relevante.
Keywords
Basilar Migraine, Vestibular Dysfunction
Abstract
Introduction: Basilar migraine corresponds to a rare disease. Objective: To evaluate the prevalence of symptoms and signs of vestibular dysfunction in patients suffering from basilar migraine. Method: Series study that have included ten patients with basilar migraine that have undergone clinical history, pure tone audiometry, speech audiometry, imittance measures (tympanograms and acoustic reflexes) and vestibular evaluation involving positioning and positional nystagmus test, ocular movement calibration, spontaneous and gaze nystagmus, saccade test, eye-tracking test, optokinetic test, torsion swing test and caloric test. Vestibular symptoms and signs during the aura or during the headache crisis were analyzed. Results: Dizziness was present in all patients (100.0%), tinnitus in six (60.0%), nausea and motion sickness in four (40.0%) and hearing loss in two (20.0%). Post-caloric hyperactive responses occurred in six patients (60.0%) and spontaneous nystagmus with closed eyes, pre-caloric nystagmus and directional preponderance of post-caloric nystagmus in one case (10.0%). Results indicated the presence of peripheral vestibular dysfunction in seven patients (70.0%). Three patients (30.0%) showed normal vestibular tests. Conclusion: The prevalence of vertigo or different types of dizziness and findings of peripheral vestibular dysfunction in patients with basilar migraine is relevant.
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP / Escola Paulista de Medicina - E.P.M.
Suporte Financeiro:
Introdução
Migrânea do tipo basilar é uma forma particular e incomum de migrânea, caracterizando-se por déficits neurológicos transitórios que ocorrem no território da artéria basilar1.
Não há dados precisos sobre a prevalência da migrânea do tipo basilar; o início da doença usualmente ocorre antes dos 25 anos de idade, com predominância feminina2. A prevalência da migrânea do tipo basilar em pacientes com migrânea com aura típica nunca foi aferida; os seus sintomas foram assinalados apenas em descrições de casos, permanecendo obscuro se a migrânea do tipo basilar é apenas uma espécie de crise que poderia ocorrer em qualquer paciente com migrânea com aura ou talvez constituir um subtipo distinto de migrânea3.
Em 90 casos com vertigem episódica relacionada com migrânea, 7,8% poderiam ser diagnosticados como pacientes com migrânea de tipo basilar, de acordo com os critérios da International Headache Society4,5,6.
A migrânea de tipo basilar é uma variante da migrânea com aura, com a particularidade de a aura ser claramente originada no tronco encefálico ou em ambos os lobos occipitais. A afecção é caracterizada pela presença de dois ou mais sintomas premonitórios, habitualmente seguidos por cefaléia pulsátil. Podem ocorrer disartria, vertigem, zumbido, hipoacusia, diplopia, distúrbios visuais bilaterais simultâneos, ataxia, diminuição do nível de consciência e parestesias bilaterais, sem paresia4,5.
Na migrânea de tipo basilar, os sintomas relacionados a um acometimento das artérias basilares e seus ramos principais podem proceder ou preceder a cefaléia, que pode inclusive estar ausente. A afecção costuma afetar preferencialmente meninas na adolescência. Crise anterior e história familiar de enxaqueca, presença de cefaléia, sonolência e regressão completa do quadro clínico em
Os sintomas de aura seriam originados no tronco encefálico ou em ambos os lobos occipitais, regiões irrigadas pelo sistema vertebrobasilar1. Sintomas cocleovestibulares de origem periférica ou central na migrânea podem estar relacionados a vasoconstrição dos ramos das artérias vertebrais e basilares, que irrigam cóclea, sáculo, utrículo, ductos semicirculares, nervo cocleovestibular e núcleos vestibulares no tronco encefálico8. A vasoconstrição do sistema vertebrobasilar poderia provocar isquemia labiríntica e afetar a secreção ou absorção da endolinfa e perilinfa9. Episódios de vertigem concomitantes com cefaléia podem ser interpretados como uma manifestação neurológica focal associada com crise de migrânea de tipo basilar10 .
A análise de 49 pacientes com migrânea de tipo basilar definida, mostrou que em relação ao equilíbrio corporal, vertigem foi referida por 63,3% dos casos, ataxia por 63,3%, tontura não rotatória por 20,4% e nistagmo por 8,2%; em relação ao sistema auditivo, zumbido foi referido por 26,5% e hipoacusia por 20,4%. Houve predominância do gênero feminino, idade de início entre dez e 63 anos e duração da história clínica entre horas e 28 anos (média de três e meio anos). Crises de outros tipos de migrânea foram identificadas em 59,2% dos pacientes11.
Em 11 casos de migrânea de tipo basilar com vertigem episódica e/ou outros tipos de tontura antes ou durante as crises de cefaléia, quatro casos (36,4%) apresentaram zumbido, dois (18,2%) zumbido e perda auditiva, e um (9,1%) perda auditiva12.
A migrânea de tipo basilar pode surgir em ambos os sexos e em qualquer idade; a vertigem freqüentemente está associa a esta afecção. Como zumbido e perda auditiva flutuante também podem estar presentes, o diagnóstico diferencial com a doença de Ménière pode ser difícil em alguns pacientes13.
A prevalência de 7,9% de casos com vertigem e migrânea de tipo basilar foi encontrada em um grupo de 2010 casos examinados entre 1989 e 1997 em uma unidade neurológica de tontura14.
Sintomas vestibulares ocupam lugar de destaque na migrânea de tipo basilar15. A vertigem da migrânea de tipo basilar costuma durar entre cinco minutos e uma hora e a história familiar é freqüentemente positiva; pacientes típicos são mulheres com cerca de 35 anos de idade, em que o ataque de vertigem está associado à dor de cabeça16. O sintoma premonitório mais freqüente na migrânea de tipo basilar foi vertigem e/ou desconforto à movimentação da cabeça em 65,2% dos casos, seguida pela tontura não rotatória em 43,5% e tontura posicional em 21,7%; a vertigem estava associada à plenitude aural em 21,7% dos casos e desequilíbrio em 30,4%3.
Nistagmo espontâneo e perda auditiva ocorreram em um (33,3%) de três casos, sugerindo que a artéria auditiva interna participa no processo migranoso basilar17 .
O estudo de 20 crianças com migrânea de tipo basilar mostrou nistagmo per-rotatório normal à prova rotatória pendular decrescente em todos os casos e prova calórica normal em 20,0%. As anormalidades do nistagmo pós-calórico identificadas foram: hiporreflexia em 35% dos casos, hiporreflexia associada à preponderância direcional em 25,0% e preponderância direcional em 20,0%18.
Sinais de disfunção vestibular central à electronistagmografia foram encontrados em um paciente com migrânea de tipo basilar fora da crise de cefaléia19 .
Em 50 pacientes (8,5%) com migrânea de tipo basilar definida, identificados em um grupo de 5880 casos de migrânea, vertigem e desequilíbrio ocorreram em 42 casos (84,0%), zumbido em 35 (70,0%), queixa de hipoacusia em 26 (52,0%), perda auditiva em freqüências graves em 40 (80,0%), nistagmo espontâneo em sete (14,0%), nistagmo de posicionamento em 43 (86,0%); hiporreflexia do nistagmo pós-calórico em 36 (72,0%) e preponderância direcional do nistagmo pós-calórico anormal em 16 (32,0%); um caso (2,0%) apresentou nistagmo semi-espontâneo múltiplo e alterações dos movimentos oculares sacádicos, indicando comprometimento do sistema oculomotor20.
A electronistagmografia de 20 pacientes com migrânea de tipo basilar apontou sinais anormais do rastreio pendular em 30,0% dos casos e do nistagmo optocinético em 45,0%; o nistagmo pós-calórico apresentou hiporreflexia em 35,0% dos casos ou preponderância direcional anormal em 20,0%; a prova calórica foi normal em 45,0% dos casos21.
A disfunção vestibular pode ter localização periférica ou central e sua causa pode estar situada em outro órgão ou sistema do corpo humano22. Uma avaliação otoneurológica incluindo electronistagmografia possibilita a localização do lado da lesão, caracterizar a intensidade, estabelecer o prognóstico e orientar o tratamento do comprometimento do sistema vestibular23.
Esta investigação foi motivada pelo interesse na avaliação funcional do sistema vestibular em pacientes com hipótese diagnóstica de migrânea de tipo basilar, fora da crise migranosa, e pela escassez de informações específicas ou detalhadas na literatura. A análise de achados a vestibulometria poderá auxiliar na compreensão e localização da área de disfunção vestibular, contribuindo para melhor caracterização da migrânea de tipo basilar, com implicações terapêuticas e prognósticas em cada paciente.
O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de sintomas e sinais de disfunção vestibular em pacientes com migrânea de tipo basilar.
Método
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde foi realizada (protocolo número 0670/05).
Foram incluídos pacientes com hipótese diagnóstica de migrânea do tipo basilar, provenientes do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia, Disciplina de Neurologia, da mesma instituição.
Os pacientes desta pesquisa foram submetidos a anamnese e avaliação audiológica, composta por audiometria tonal liminar, audiometria vocal (SRT e IPRF), medidas de imitância acústica e pesquisa dos reflexos acústicos e a testes que avaliam a função vestibular por meio de vectonistagmografia digital (Neurograff Eletromedicina Ind. e Com. Ltda - EPT - Brasil), composta pela pesquisa de nistagmo de posicionamento e posicional, calibração dos movimentos oculares, nistagmo espontâneo e semi-espontâneo, movimentos sacádicos, rastreio pendular, nistagmo optocinético, prova rotatória pendular decrescente e prova calórica com ar a 42, 18 e 10ºC24 .
A pesquisa de nistagmo e/ou vertigem de posicionamento foi efetuada à prova de Dix-Hallpike25. O paciente sentado em uma maca virou a cabeça 45º para o lado a ser avaliado e, a seguir, com o auxílio do examinador, foi ajudado a deitar-se rapidamente para trás, mantendo a cabeça pendente e inclinada 45º para o lado avaliado por aproximadamente 30 segundos; após a extinção da vertigem e do nistagmo de posicionamento, o paciente retornou à posição sentada, sendo a manobra repetida para o outro lado.
Vertigem e nistagmo posicionais foram pesquisados nos decúbitos laterais à movimentação lenta do paciente. Com a ajuda do examinador, o paciente passou da posição sentada para o decúbito dorsal, girando a cabeça para a direita; em seguida, passou para o decúbito lateral direito; voltou para o decúbito dorsal; girou a cabeça para a esquerda; passou para o decúbito lateral esquerdo; voltou para o decúbito dorsal e para a posição sentada. O paciente permaneceu 30 segundos em cada posição.
As características do nistagmo de posicionamento e/ou posicional determinaram o labirinto acometido e o canal semicircular afetado: nistagmo vertical para cima e rotatório caracterizou o comprometimento do canal posterior; nistagmo vertical para baixo e rotatório caracterizou o comprometimento do canal superior; nistagmo rotatório anti-horário ou horário indicou o comprometimento de canal vertical, sem distinguir entre canal posterior e anterior, e nistagmo horizontal geotrópico ou ageotrópico apontou o comprometimento de canal lateral.
A realização da eletronistagmografia foi precedida pela limpeza da pele para colocação dos eletródios. A calibração dos movimentos oculares foi realizada antes da pesquisa do nistagmo espontâneo e da prova calórica, para que todos os exames fossem realizados em igualdade de condições.
A presença, direção e velocidade do nistagmo espontâneo foram pesquisadas com o paciente olhando para frente, primeiramente com os olhos abertos, depois fechados. A presença, direção e velocidade do nistagmo semi-espontâneo foram investigadas ao desvio do olhar 30º para direita, para esquerda, para cima e para baixo com os olhos abertos.
Latência, precisão e velocidade dos movimentos sacádicos foram avaliados ao acompanhamento visual de um alvo luminoso móvel com padrão fixo e randomizado.
O tipo e o ganho do rastreio pendular foi investigado por meio do acompanhamento visual do movimento sinusoidal do alvo luminoso, nas freqüências de 0,1, 0,2 e 0,4 Hz.
A presença, direção, velocidade, ganho e simetria do nistagmo optocinético foram avaliados durante o acompanhamento visual de pontos luminosos móveis, com direção fixa e, a seguir, alternada, com velocidade de 30º/s.
A prova rotatória pendular decrescente foi realizada com o paciente sentado, com os olhos fechados e a cabeça inclinada 30° para diante, na estimulação dos canais semicirculares laterais. Na estimulação dos canais semicirculares verticais, a cabeça foi fletida 60° para trás e 45º para o lado direito, e posteriormente, 60° para trás e 45° para o lado esquerdo. A cadeira foi deslocada 90° do centro e liberada, realizando um movimento pendular periódico de amplitude decrescente. O nistagmo per-rotatório desencadeado foi avaliado por meio da medida da velocidade de sua componente lenta. Foram também pesquisadas a presença de nistagmo pré-rotatório e sua possível influência nos resultados da prova.
A prova calórica foi realizada com o paciente na posição supina, com a cabeça elevada 30º. Cada orelha foi estimulada separadamente, durante 80 segundos, com ar a 42º e 18º C. Foram analisadas direção e velocidade da componente lenta do nistagmo pós-calórico após cada estimulação, com olhos fechados e depois abertos para avaliar o efeito inibidor da fixação ocular e foram calculados os valores de predomínio labiríntico e de preponderância direcional.
Resultados
Os sintomas otoneurológicos na fase de aura ou durante a crise de cefaléia e os achados a vestibulometria fora da crise de cefaléia foram analisados nos dez pacientes com migrânea de tipo basilar.
O paciente 1, do gênero masculino, com 26 anos de idade, apresentou tontura de tipo instabilidade, escotomas, fotofobia e cefaléia; hiperreflexia bilateral do nistagmo pós-calórico, caracterizando disfunção vestibular periférica.
O paciente 2, do gênero feminino, com 27 anos de idade, apresentou vertigem e vertigem à mudança de posição da cabeça, escotomas, fonofobia, zumbido e cefaléia; perda auditiva neurossensorial leve, com curva audiométrica de tipo U invertido, no ouvido direito; hiperreflexia do nistagmo pós-calórico no ouvido direito, caracterizando disfunção vestibular periférica.
O paciente 3, do gênero feminino, com 15 anos de idade, apresentou vertigem, vertigem à mudança de posição da cabeça, instabilidade, enjôo e mal-estar em veículos em movimento, escotomas, fonofobia, cintilação, fotofobia, zumbido e cefaléia; hiperreflexia bilateral do nistagmo pós-calórico, caracterizando disfunção vestibular periférica.
O paciente 4, do gênero feminino, com 15 anos de idade, apresentou tontura de tipo flutuação, náusea, sudorese, palidez, sensação de desmaio iminente, escotomas, formigamento de mãos e rosto, plenitude aural e cefaléia; hiperreflexia do nistagmo pós-calórico no ouvido direito, caracterizando disfunção vestibular periférica.
O paciente 5, do gênero feminino, com 24 anos de idade, apresentou tontura de tipo flutuação, vertigem, vertigem à mudança de posição da cabeça, náusea, sudorese, palidez, enjôo e mal-estar em veículos em movimento, fotofobia, escotomas, zumbido e cefaléia; vestibulometria dentro dos padrões da normalidade.
O paciente 6, do gênero feminino, com 17 anos de idade, apresentou vertigem, náusea, sudorese, palidez, fotofobia, escotomas, zumbido e cefaléia; nistagmo espontâneo e pré-calórico horizontal para a direita, com os olhos fechados; preponderância direcional do nistagmo pós-calórico para a direita (37,0%), caracterizando disfunção vestibular periférica.
O paciente 7, do gênero masculino, com 27 anos de idade, apresentou desequilíbrio, escotomas, cintilação e cefaléia; hiperreflexia bilateral do nistagmo pós-calórico, caracterizando disfunção vestibular periférica.
O paciente 8, do gênero feminino, com 45 anos de idade, apresentou vertigem, náusea, sudorese, palidez, enjôo e mal-estar em veículos em movimento, fotofobia, fonofobia e cefaléia perda auditiva neurossensorial leve bilateral, com reflexos do estapédio ausentes; vestibulometria dentro dos padrões da normalidade.
O paciente 9, do gênero feminino, com 21 anos de idade, apresentou tontura de tipo flutuação, fotofobia, zumbido, plenitude aural e cefaléia; hiperreflexia do nistagmo pós-calórico no ouvido esquerdo, caracterizando disfunção vestibular periférica.
O paciente 10, do gênero feminino, com 19 anos de idade, apresentou tontura de tipo flutuação, enjôo e mal-estar em veículos em movimento, escotomas, fonofobia, cintilação, fotofobia, zumbido e cefaléia; vestibulometria dentro dos padrões da normalidade.
Oito pacientes (80,0%) eram do gênero feminino e dois (20,0%) do masculino, com idades entre 15 e 45 anos (média de 23,6).
Tontura foi relatada por todos os dez pacientes (100,0%). Zumbido ocorreu em seis casos (60,0%) e hipoacusia em dois (20,0%).
De acordo com a tabela 1, foram relatados os seguintes tipos de tontura: vertigem em um total de cinco casos (50,0%), não relacionada à mudança de posição da cabeça em dois casos (20,0%) e associada à mudança de posição da cabeça em três casos (30,0%); sensação de flutuação, em um total de quatro casos (40,0%), como tipo isolado de tontura em três casos (30,0%), associada à vertigem relacionada ou não com a mudança de posição da cabeça em um caso (10,0%); instabilidade, em um total de dois casos (20,0%), como tipo isolado de tontura em um caso (10,0%) e associado à vertigem relacionada ou não com a mudança de posição da cabeça em um caso (10,0%), e desequilíbrio como tipo isolado de tontura em um caso (10,0%).
Enjôo e mal-estar em veículos em movimento foram encontrados em um total de quatro casos (40,0%), em associação com vertigem não relacionada à mudança de posição da cabeça em um caso (10,0%), com sensação de flutuação em um caso (10,0%), com instabilidade e vertigem relacionada ou não à mudança de posição da cabeça em um caso (10,0%), com sensação de flutuação e vertigem relacionada ou não à mudança de posição da cabeça em um caso (10,0%).
A disfunção vestibular periférica foi caracterizada à vestibulometria em sete casos (70,0%). Os achados anormais identificados a vestibulometria foram: hiperreflexia do nistagmo pós-calórico em seis casos (60,0%), unilateral em três e bilateral em três; nistagmo espontâneo com olhos fechados, com nistagmo pré-calórico e preponderância direcional do nistagmo pós-calórico em um caso (10,0%). Vestibulometria dentro dos padrões da normalidade ocorreu em três casos (30,0%).
Dos sete casos com achados anormais a vestibulometria, quatro (57,1%) relataram zumbido, dois (28,6%) plenitude aural, um (14,3%) enjôo e mal-estar em veículos em movimento e um (14,3%) apresentou perda auditiva neurossensorial unilateral leve, com curva audiométrica de tipo U invertido.
Dos três casos com achados normais a vestibulometria, todos (100,0%) relataram enjôo e mal-estar em veículos em movimento, dois (66,7%) zumbido no(s) ouvido(s) e um (33,3%), sem zumbido ou plenitude aural, apresentou vertigem, náusea, sudorese, palidez e perda auditiva neurossensorial bilateral leve, com reflexos do estapédio ausentes.
Discussão
A migrânea de tipo basilar ocorreu em 8,5% dos casos de migrânea20 e em 7,8-7,9% dos pacientes migranosos com vertigem6,14,20. Não obstante a ausência de dados precisos a respeito da prevalência da migrânea de tipo basilar2,3, esta afecção ou subtipo de migrânea pode ser considerada relativamente incomum.
Verificamos que oito pacientes (80,0%) eram do gênero feminino e dois (20,0%) do masculino, com idades entre 15 e 45 anos (média de 23,6). A migrânea basilar predomina no gênero feminino e a idade de seu início é entre dez e 63 anos11, embora possa surgir em ambos os gêneros e em qualquer idade13. Pacientes típicos seriam mulheres com cerca de 35 anos de idade, em que o ataque de vertigem está associado à dor de cabeça16. A doença usualmente ocorre antes dos 25 anos de idade, com predominância feminina2.
Sintomas otoneurológicos na fase de aura ou durante a crise de cefaléia foram encontrados em nossos dez pacientes. Na migrânea de tipo basilar com vertigem episódica e/ou outros tipos de tontura antes ou durante as crises de cefaléia, zumbido ocorreu em 36,4% dos casos, zumbido e perda auditiva em 18,2%, e perda auditiva em 9,1%12. A migrânea de tipo basilar é definida como uma variante da migrânea com aura, que pode incluir vertigem, zumbido e hipoacusia entre os seus sintomas4,5.
Desequilíbrio, fonofobia e pressão na cabeça também foram apontados como sintomas comuns20. Vertigem é freqüente, mas também podem ocorrer zumbido e perda auditiva flutuante13. Os sintomas vestibulares ocupam um lugar de destaque na migrânea de tipo basilar15 .
A vasoconstrição do sistema vertebrobasilar poderia gerar isquemia labiríntica, interferindo na secreção ou absorção da endolinfa e perilinfa9. Os sintomas cocleovestibulares de origem periférica ou central na migrânea podem ser devidos à vasoconstrição dos ramos das artérias vertebrais e basilares, que irrigam cóclea, sáculo, utrículo, ductos semicirculares, nervo cocleovestibular e núcleos vestibulares no tronco encefálico8. Na migrânea de tipo basilar, a vertigem pode ocorrer antes ou durante os episódios de cefaléia por distúrbios vestibulares periféricos12. Episódios de vertigem concomitantes com cefaléia podem constituir uma manifestação neurológica focal associada com crise de migrânea de tipo basilar10.
Em nossa casuística, a tontura ocorreu em 100,0% dos casos, zumbido em 60,0% e hipoacusia em 20,0%. Vertigem surgiu em 63,3% dos casos, ataxia em 63,3%, tontura não rotatória em 20,4%, nistagmo em 8,2%, zumbido em 26,5% e hipoacusia em 20,4%11. Vertigem e desconforto à movimentação da cabeça surgiram em 65,2% dos casos, tontura não rotatória em 43,5% e tontura posicional em 21,7%; a vertigem associada à plenitude aural ocorreu em 21,7% dos casos e a desequilíbrio em 30,4%3. Zumbido foi encontrado em 70,0% dos casos e hipoacusia em 52,0%; perda auditiva em freqüências graves ocorreu em 80,0% dos casos20.
Nossos pacientes apresentaram diferentes tipos de tontura: vertigem em 50,0% dos casos, sendo associada à mudança de posição da cabeça em 30,0% e não relacionada à mudança de posição da cabeça em 20,0%; sensação de flutuação em 30,0% dos casos, e sensação de flutuação associada à vertigem em 10,0%; instabilidade em 10,0%, instabilidade associada à vertigem em 10,0%, e desequilíbrio em 10,0%. Vertigem ou desequilíbrio foram observados em 84,0% dos casos20.
Enjôo e mal-estar em veículos em movimento foram encontrados em 40,0% dos nossos casos, associados com vertigem em 10,0%, com sensação de flutuação em 10,0%, com instabilidade e vertigem em 10,0% e com sensação de flutuação e vertigem em 10,0%. Não encontramos citações pertinentes na literatura para comparação com estes dados.
A disfunção vestibular periférica foi caracterizada à vestibulometria em 70,0% dos nossos casos, fora da crise de cefaléia. Os achados anormais identificados à vestibulometria foram: hiperreflexia do nistagmo pós-calórico em 60,0% dos casos; nistagmo espontâneo com olhos fechados, nistagmo pré-calórico e preponderância direcional do nistagmo pós-calórico em 10,0%. Vestibulometria dentro dos padrões da normalidade ocorreu em 30,0% dos casos. Não encontramos sinais de disfunção vestibular central em nenhum caso. Em crianças, a prova calórica foi anormal em 80,0% dos casos, revelando hiporreflexia em 35,0%, hiporreflexia associada à preponderância direcional em 25,0% e preponderância direcional em 20,0%18. Sinais de disfunção vestibular central foram observados em um paciente fora da crise de cefaléia19. Foram identificados nistagmo espontâneo em 14,0% dos casos, nistagmo de posicionamento em 86,0% e nistagmo pós-calórico anormal em 72,0%, com hiporreflexia bilateral em 72,0% e preponderância direcional anormal em 32,0%; nistagmo semi-espontâneo múltiplo e alterações dos movimentos oculares sacádicos ocorreram em 2,0%, indicando comprometimento do sistema oculomotor20. Foram verificadas anormalidades do rastreio pendular em 30,0% dos casos e do nistagmo optocinético em 45,0%; hiporreflexia em 35,0% dos casos ou preponderância direcional anormal do nistagmo pós-calórico em 20,0%; a prova calórica foi normal em 45,0% dos casos21.
Dos sete casos com achados anormais à vestibulometria, quatro relataram zumbido, dois referiram plenitude aural, um apresentou enjôo e mal-estar em veículos em movimento e um evidenciou perda auditiva neurossensorial unilateral leve, com curva audiométrica de tipo U invertido.
Dos três casos com achados normais à vestibulometria, um relatou vertigem, sensação de flutuação, zumbido, náusea, sudorese, palidez, enjôo e mal-estar em veículos em movimento, um apresentou vertigem, náusea, sudorese, palidez, enjôo e mal-estar em veículos em movimento, e perda auditiva neurossensorial bilateral leve, com reflexos do estapédio ausentes e um referiu sensação de flutuação, zumbido, enjôo e mal-estar em veículos
Diante do exposto, os nossos achados em pacientes com migrânea de tipo basilar são concordantes com os da literatura consultada quanto à prevalência relevante da vertigem e outros tipos de tontura e de sinais de disfunção vestibular periférica.
Conclusão
A prevalência de vertigem ou outros tipos de tontura e de sinais de disfunção vestibular periférica em pacientes com migrânea de tipo basilar é relevante.
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Tabela 1. Número e porcentagem de casos de migrânea do tipo basilar, de acordo com o tipo de tontura.
Tipode tontura N % | ||
Vertigem não relacionada com mudança de posição da cabeça |
2 |
20,0 |
Vertigem com e sem mudança de posição da cabeça |
3 |
30,0 |
Sensação de flutuação |
3 |
30,0 |
Sensação de flutuação associada à vertigem relacionada ou não com mudança de posição da cabeça |
1 |
10,0 |
Instabilidade |
1 |
10,0 |
Instabilidade associada à vertigem relacionada ou não com mudança de posição da cabeça |
1 |
10,0 |
Desequilíbrio |
1 |
10,0 |