Trabalho Clínico
EXAME VESTIBULAR COMO PARÂMETRO DE AVALIAÇÃO DA REABILITAÇÃO VESTIBULAR
Vestibular examination as parameter of evaluation of vestibular rehabilitation
Autores:
Marina de Lucca Silveira (Fonoaudióloga) Fonoaudióloga
Karen de Carvalho Lopes (Otorrinolaringologista) Especializanda
Heloisa Helena Caovilla (livre-docência) Professora associada da disciplina de Otoneurologia da UNIFESP
Maurício Malavasi Ganança (Livre-docência) Professor titular de Otorrinolaringologia da UNIFESP
Cristina Freitas Ganança (Doutora ) Fonoaudióloga, professora da Faculdade de Fonoaudiologia - UNIFESP
Fernando Freitas Ganança (Doutor) Professor afiliado da disciplina de otoneurologia - UNIFESP
Palavras-Chave
Labirinto, Avaliação, Tontura, Reabilitação
Resumo
Objetivo: Comparar os resultados obtidos nas avaliações subjetivas (DHI, escala analógica de tontura) e objetiva (avaliação vestibular) pré-reabilitação vestibular (RV) e após o término da mesma em pacientes com síndrome vestibular periférica (SVP), a fim de se verificar qual método de avaliação mais efetivo para quantificar a melhora dos pacientes após a RV.
Métodos: Participaram do estudo dez pacientes, com idades entre 33 e 65 anos, portadores de SVP, submetidos à RV personalizada. Os participantes foram submetidos à avaliação da função vestibular computadorizada, responderam ao questionário DHI brasileiro, à escala analógica de tontura antes e depois da RV, a qual constou de oito sessões de 45 minutos cada, com acompanhamento ambulatorial semanal.
Resultados: À avaliação objetiva, dos dez indivíduos avaliados, três (30%) apresentaram novo topodiagnóstico de Exame Vestibular Normal e um paciente (10%), antes com SVP Irritativa Bilateral, passou a ter SVP Irritativa à Esquerda, após a RV. Os demais (60%) permaneceram com o mesmo topodiagnóstico ao exame vestibular. Em relação às avaliações subjetivas, considerando o questionário DHI, oito (80%) pacientes mostraram melhora significante (maior ou igual a 18 pontos, de acordo com Jacobson & Newman, 1990) na auto-percepção do prejuízo causado pela tontura. Considerando a escala analógica de tontura, todos os pacientes (100%) atribuíram menor nota à sua tontura após a reabilitação vestibular, a porcentagem de melhora variou de 22,2 a 100%.
Conclusão: O DHI e a escala analógica de tontura, quando comparados ao exame vestibular, mostraram de forma mais relevante a melhora dos pacientes submetidos à RV.
Keywords
: Labyrinth, Evaluation, Dizziness, Rehabilitation.
Abstract
Purpose: To compare the results in the subjective measures (DHI, analogical scale of dizziness) and objective (vestibular evaluation) before and after vestibular rehabilitation (VR) in patients with peripheral vestibular disorders, in order to verify which method of evaluation was the most effective in quantifying the improvement of the patients after vestibular rehabilitation.
Methods: Ten patients, ranging from 33 to 65 years old with peripheral vestibular disorders had participated of the study and have undergone vestibular rehabilitation. The participants were evaluated by the computerized vestibular function and had answered the Brazilian questionnaire DHI and the analogical scale of dizziness before and after VR. VR consisted of eight sessions of 45 minutes each, with weekly ambulatorial follow up.
Results: Concerning objective evaluation, three of ten subjects (30%) had presented new diagnosis of Normal Vestibular Examination and one patient (10%), who was diagnosed with bilateral irritative dysfunction, recovered the function on the right side after VR. 60% showed the same diagnosis in the vestibular evaluation. In the subjective evaluation, considering DHI questionnaire, eight (80%) patients had shown significant improvement (more or equal to 18 points, in accordance with Jacobson & Newman, 1990) in the self-perceived damage caused by dizziness. Considering the analogical scale of dizziness, all patients (100%) had attributed minor scores to their dizziness after vestibular rehabilitation, the improvement range varied from 22,2 to 100%.
Conclusion: The DHI and the analogical scale of dizziness, demonstrated to be more sensitive to the improvements in vestibular function after VR when compared to vestibular examination.
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/ EPM)
Suporte Financeiro:
INTRODUçÃO
A avaliação otoneurológica consiste em um conjunto de procedimentos que permite a exploração semiológica dos sistemas auditivo e vestibular, e de suas relações com o Sistema Nervoso Central (SNC). A anamnese, o exame otorrinolaringológico, a investigação audiológica e a equilibriometria são os seus componentes. A equilibriometria, também conhecida como exame vestibular ou vestibulometria, estuda a função vestibular e suas correlações com o sistema ocular e proprioceptivo, cerebelo, medula espinal e formação reticular do tronco cerebral.1
Através da avaliação otoneurológica é possível estabelecer se a doença está ativa ou inativa, compensada ou não e seu prognóstico, acompanhar a evolução do paciente e da doença sob tratamento, proceder a eventuais modificações terapêuticas e determinar o fim do tratamento.2
A reabilitação vestibular (RV) é um recurso terapêutico aplicado como tratamento em pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal, sendo a proposta de atuação baseada nos mecanismos relacionados à plasticidade neuronal do SNC para: promover a estabilização visual durante os movimentos da cabeça, melhorar a interação vestíbulo-visual durante a movimentação cefálica, ampliar a estabilidade postural estática e dinâmica nas condições que produzem informações sensoriais conflitantes e diminuir a sensibilidade individual à movimentação cefálica.3,4
Muitos estudos mostraram a importância de se avaliar os prejuízos da qualidade de vida em pacientes vertiginosos com o intuito de quantificar os efeitos impostos pela vertigem nas funções de vida diária, além de auxiliar na escolha do tratamento e avaliação do mesmo.5,6,7,8,9,10,11,12
Para avaliar a auto-percepção dos efeitos incapacitantes impostos pela tontura, o Dizziness Handicap Inventory (DHI)13, um questionário de 25 questões (7 referentes ao aspecto físico, 9 ao aspecto emocional e 9 ao aspecto funcional), constitui um instrumento bastante utilizado.
Para medir a intensidade dos sintomas como a vertigem e o desequilíbrio, Whitney e Herdman14 sugeriram o uso da escala analógica de tontura, de 0 a 10. Nessa, os indivíduos devem dar uma pontuação (0 a 10) à sua tontura, na qual o 0 (zero) indica o menor nível de tontura e o 10 (dez), o maior.
Atualmente, a avaliação da melhora do paciente após a RV personalizada é baseada principalmente no próprio relato do paciente quanto à sua evolução clínica e em questionários como o DHI. Poucos estudos compararam a avaliação objetiva e/ou subjetiva(s) realizada(s) pré e pós-RV, com o intuito de verificar a evolução clínica dos pacientes e o método mais eficaz para quantificá-la.
Devido a isso, surgiu o interesse de verificar se a função vestibular, avaliada pela vectonistagmografia digital sofre modificações após ativação dos mecanismos de compensação vestibular pela reabilitação.
Este trabalho tem como objetivo comparar os resultados obtidos nas avaliações subjetivas (DHI e escala analógica de tontura) e objetiva (avaliação vestibular) pré-RV e após o término da mesma em pacientes com SVP, a fim de se verificar qual método de avaliação mais efetivo para quantificar a melhora dos pacientes após a RV.
MÉTODO
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição onde o trabalho foi realizado, protocolo número 01067/05.
Participaram deste estudo 10 pacientes, de ambos os sexos, portadores de síndrome vestibular periférica, submetidos à RV personalizada, nos anos de 2005 e 2006.
O diagnóstico de SVP foi feito por um médico otorrinolaringologista do setor, através da realização prévia da avaliação otoneurológica, que consta de: anamnese, exame otorrinolaringológico, exame audiológico e exame vestibular.
A avaliação da função vestibular foi realizada através da Vectonistagmografia Digital, a qual se baseia em parâmetros precisos, resultantes de comparação entre a intensidade dos estímulos e das respostas. Foram utilizados o vectoelectronistagmógrafo VEC WIN e o otocalorímetro a ar (NGR05) da marca Neurograff Eletromedicina Ltda.
As provas realizadas durante o registro vecto-electronistagmográfico foram: pesquisa do nistagmo e vertigem de posição e de posicionamento com a manobra de Brandt-Daroff; calibração dos movimentos oculares; pesquisa do nistagmo espontâneo e semi-espontâneo; pesquisa do rastreio pendular;- pesquisa do nistagmo optocinético; pesquisa do nistgmo per-rotatório (PRPD) e; pesquisa do nistagmo pós-calórico, de acordo com os critérios de Ganança et al15.
Na sessão anterior ao início da RV, todos os indivíduos responderam ao DHI brasileiro (Anexo 1) e à escala analógica de tontura.
O DHI brasileiro avalia a interferência da tontura na qualidade de vida dos pacientes e é composto por vinte e cinco questões. As questões 01, 04, 08, 11, 13, 17 e 25 avaliam o aspecto físico, as questões 02, 09, 10, 15, 18, 20, 21, 22 e 23, o aspecto emocional e as questões 03, 05, 06, 07, 12, 14, 16, 19 e 24, o aspecto funcional. Cada resposta "sim" do paciente vale 4 pontos, "às vezes", 2 pontos, e a resposta "não", nenhum ponto. A pontuação do DHI será o resultado da somatória da pontuação das respostas referentes aos aspectos físico, emocional e funcional.
A escala analógica de tontura (Whitney e Herdman, 2002) tem por objetivo medir a intensidade dos sintomas como a vertigem e o desequilíbrio. Nela, o indivíduo deve dar uma nota de 0 a 10 à sua tontura. A nota deve ser tanto mais alta quanto mais forte for o sintoma.
Após responderem ao DHI brasileiro e à escala analógica de tontura, os pacientes realizaram a RV, que foi composta de oito sessões com duração de 45 minutos cada, e o acompanhamento ambulatorial ocorreu uma vez por semana. Além disso, os pacientes foram orientados a realizar os exercícios em casa, três vezes ao dia. A RV foi feita de forma personalizada, levando em consideração os dados de anamnese, hipótese diagnóstica e achados à avaliação vestibular, com base nos diferentes protocolos descritos e reconhecidos na literatura, como Cawthorne16& Cooksey17, da Associazione Otologi Ospedalieri Italiani (1983), Brandt-Daroff18, Davis & O'Leary19, Norré20,3, Ganança et al21, entre outros.
Após o término da RV, os pacientes, após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram submetidos a nova avaliação otoneurológica e responderam novamente ao DHI e escala analógica de tontura.
Os dados obtidos foram levantados e analisados individualmente e em conjunto, a fim de observarmos se após a RV houve diferenças significativas às provas realizadas à vectonistagmografia digital antes do tratamento e também comparar este resultado com a avaliação subjetiva por meio do DHI e escala analógica de tontura, a fim de se verificar qual método de avaliação foi o mais efetivo para quantificar a melhora dos pacientes após a RV.
Dez portadores de SVP foram submetidos às avaliações subjetivas (DHI e escala analógica de tontura) e objetiva (avaliação vestibular), pré e pós-RV.
Quatro (40%) participantes eram do sexo feminino e seis (60%) do sexo masculino, com idades variando entre 32 a 65 anos.
- Avaliação objetiva (Vectonistagmografia Digital)
Dos dez indivíduos avaliados, três (30%) apresentaram topodiagnóstico inicial de SVP Deficitária Bilateral; um (10%) de SVP Deficitária à Esquerda; cinco (50%) de SVP Irritativa Bilateral e um (10%) de SVP Irritativa à Direita.
Os resultados da avaliação objetiva, realizada através da Vectonistagmografia Digital, após a RV, mostraram que todos os indivíduos com topodiagnóstico inicial de SVP Deficitária Bilateral (três casos) mantiveram o mesmo topodiagnóstico. O indivíduo com topodiagnóstico de SVP Deficitária Unilateral obteve resultado normal ao exame pós-RV (Quadro 1)
Em relação aos indivíduos que possuíam topodiagnóstico pré-RV de SVP Irritativa Bilateral (cinco casos), três pacientes (60%) apresentaram o mesmo topodiagnóstico após a RV; um paciente (20%) apresentou novo topodiagnóstico de SVP Irritativa Unilateral (à Esquerda) e um paciente (20%) apresentou Exame Vestibular Normal. O indivíduo que possuía, antes da RV, SVP Irritativa Unilateral (à Esquerda), após a RV, também apresentou Exame Vestibular Normal (Quadro 1).
Quadro 1 - Correlação entre o topodiagnóstico da avaliação objetiva pré-RV
e o topodiagnóstico pós-RV
Indivíduo avaliado |
Topodiagnóstico pré-RV |
Topodiagnóstico pós-RV |
1 |
SVP Irritativa à Direita |
Exame Vestibular Normal |
2 |
SVP Deficitária Bilateral |
SVP a Deficitária Bilateral |
3 |
SVP Irritativa Bilateral |
SVP Irritativa Bilateral |
4 |
SVP Deficitária Bilateral |
SVP Deficitária Bilateral |
5 |
SVP Deficitária à Esquerda |
Exame Vestibular Normal |
6 |
SVP Irritativa Bilateral |
SVP Irritativa Bilateral |
7 |
SVP Irritativa Bilateral |
SVP Irritativa Bilateral |
8 |
SVP Irritativa Bilateral |
Exame Vestibular Normal |
9 |
SVP Irritativa Bilateral |
SVP Irritativa à Esquerda |
10 |
SVP Deficitária Bilateral |
SVP Deficitária Bilateral |
Legenda:
SVP: Síndrome Vestibular Periférica
- Avaliação subjetiva (Escala Analógica de Tontura e Questionário DHI)
Com relação ao DHI, oito (80%) indivíduos apresentaram melhora significante (diferença maior ou igual a 18 pontos) na pontuação após a RV. Os dois (20%) indivíduos restantes apresentaram melhora da pontuação, porém, não significante (Quadro 2).
Quadro 2 - Correlação entre a pontuação obtida no questionário DHI pré-RV,
a obtida após a RV e a diferença entre a pontuação pré e pós-RV.
Indivíduo avaliado |
Pontuação do questionário DHI pré-RV |
Pontuação do questionário DHI pós- RV |
Diferença entre a pontuação no questionário DHI pré e pós-RV |
1 |
32 |
2 |
30 |
2 |
84 |
12 |
72 |
3 |
46 |
2 |
44 |
4 |
38 |
0 |
38 |
5 |
70 |
0 |
70 |
6 |
64 |
60 |
4 |
7 |
14 |
0 |
14 |
8 |
72 |
8 |
64 |
9 |
84 |
38 |
46 |
10 |
60 |
24 |
36 |
Os dez (100%) indivíduos da amostra apresentaram melhora à escala analógica de tontura após a RV. A porcentagem de melhora foi maior ou igual a 50% em nove (90%) casos e variou de 22,2 a 100% (Quadro3).
Quadro 3 - Correlação entre a pontuação obtida à escala analógica de tontura
pré-RV, a obtida após a RV, a diferença entre a pontuação pré e
pós-RV e a porcentagem de melhora pré e pós-RV.
Indivíduo avaliado |
Pontuação da escala analógica de tontura pré-RV |
Pontuação da escala analógica de tontura pós-RV |
Diferença entre a pontuação na escala analógica de tontura pré e pós-RV |
Porcentagem de melhora na escala analógica de tontura pré e pós-RV |
1 |
8 |
3 |
5 |
62,5% |
2 |
8 |
3 |
5 |
62,5% |
3 |
9 |
3 |
6 |
66,7% |
4 |
5 |
2 |
3 |
60,0% |
5 |
3 |
0 |
3 |
100% |
6 |
9 |
7 |
2 |
22,2% |
7 |
8 |
2 |
6 |
75,0% |
8 |
8 |
4 |
4 |
50,0% |
9 |
10 |
2 |
8 |
80,0% |
10 |
6 |
1 |
5 |
83,3% |
- Avaliação objetiva (Vectonistagmografia Digital) e subjetiva (Escala Analógica de Tontura e Questionário DHI)
Dos oito pacientes que apresentaram melhora significante no DHI, quatro (50%), apresentaram novo topodiagnóstico ao exame vestibular após e RV e quatro (50%) permanceram com o mesmo topodiagnóstico. Os dois indivíduos que não apresentaram melhora significante no DHI permaneceram com o mesmo topodiagnóstico de SVP Irritativa Bilateral após a RV (Quadro 4).
Entre os que apresentaram melhora significante e novo topodiagnóstico, três (30%), um irritativo unilateral (à direita), um deficitário unilateral (à esquerda) e um irritativo bilateral, apresentaram, pós-RV, Exame Vestibular Normal; um caso (10%), antes irritativo bilateral, obteve novo topodiagnóstico de SVP Irritativa Unilateral (à Esquerda). Já o grupo que apresentou melhora significante mas permaneceu com o mesmo topodiagnóstico é composto por três deficitários bilaterais e um irritativo bilateral.
Quadro 4 - Correlação entre a diferença na pontuação obtida no questionário DHI
pré e pós-RV e o topodiagnóstico obtido à avaliação objetiva pós-RV.
Diferença na pontuação do DHI pré e pós-RV Topodiagnótico pós-RV |
Maior que 18 pontos (significante) |
Menor que 18 pontos (não significante) |
Novo topodiagnóstico (diferente do pré-RV) |
4* |
0 |
Mesmo topodiagnóstico (igual ao pré-RV) |
4 |
2 |
*número de indivíduos
Entre os nove (90%) pacientes que apresentaram melhora na pontuação na escala analógica de tontura maior ou igual a 50% após a RV, três apresentaram novo topodiagnóstico de Exame Vestibular Normal e um, antes irritativo bilateral, apresentou novo topodiagnóstico de SVP Irritativa Unilateral. Os demais (cinco) permaneceram com o mesmo topodiagnóstico apresentado antes da RV. O indivíduo que apresentou melhora inferior a 50% à escala analógica também permaneceu com o mesmo topodiagnóstico (SVP Irritativa Bilateral) após a RV (Quadro 5).
Quadro 5 - Correlação entre a porcentagem de melhora (maior ou menor que
50%) na escala analógica de tontura pré e pós-RV e o topodiagnóstico
obtido à avaliação objetiva pós-RV.
Melhora em porcentagem na escala analógica de tontura pré e pós -RV Topodiagnótico pós-RV |
Maior que 50% |
Menor que 50% |
Novo topodiagnóstico (diferente do pré-RV) |
4* |
0 |
Mesmo topodiagnóstico (igual ao pré-RV) |
6 |
1 |
*número de indivíduos
O Quadro 6 apresenta a correlação entre os topodiagnósticos da avaliação objetiva pré e pós-RV, a pontuação obtida na escala analógica de tontura pré e pós-RV a o pontuação no questionário DHI pré e pós-RV.
Quadro 6 - Correlação entre os topodiagnósticos da avaliação objetiva pré e
pós-RV, a pontuação obtida na escala analógica de tontura
pré e pós-RV e a pontuação no questionário DHI pré e pós-RV.
Indivíduo avaliado |
Avaliação objetiva pré-RV |
Avaliação objetiva pós-RV |
Escala analógica pré-RV |
Escala analógica pós-RV |
DHI pré-RV |
DHI pós-RV |
1 |
SVPI à Direita |
Ex. Vest. Normal |
8 |
3 |
32 |
2 |
2 |
SVPD Bilateral |
SVPD Bilateral |
8 |
3 |
84 |
12 |
3 |
SVPI Bilateral |
SVPI Bilateral |
9 |
3 |
46 |
2 |
4 |
SVPD Bilateral |
SVPD Bilateral |
5 |
2 |
38 |
0 |
5 |
SVPD à Esquerda |
Ex. Vest. Normal |
3 |
0 |
70 |
0 |
6 |
SVPI Bilateral |
SVPI Bilateral |
9 |
7 |
64 |
60 |
7 |
SVPI Bilateral |
SVPI Bilateral |
8 |
2 |
14 |
0 |
8 |
SVPI Bilateral |
Ex. Vest. Normal |
8 |
4 |
72 |
8 |
9 |
SVPI Bilateral |
SVPI à Esquerda |
10 |
2 |
84 |
38 |
10 |
SVPD Bilateral |
SVPD Bilateral |
6 |
1 |
60 |
24 |
Legenda:
SVPI: Síndrome Vestibular Periférica Irrittativa
SVPD: Síndrome Vestibular Periférica Deficitária
DISCUSSÃO
Neste estudo com dez pacientes com SVP, 100% dos casos apresentaram queixa de tontura à anamnese, e a avaliação otoneurológica objetiva pré-RV mostrou-se importante para confirmar a presença de uma disfunção vestibular nesses pacientes.
A partir da análise dos dados levantados verificamos que entre os dez indivíduos portadores de SVP à Vectonistagmografia Computadorizada, inicialmente quatro casos (40%) possuíam SVP Deficitária e seis casos (60%) SVP Irritativa. Entre os portadores de SVP Deficitária, três (75%) apresentavam acometimento bilateral e um (25%) unilateral (à esquerda). Entre os portadores de SVP Irritativa, cinco (83,3%) tinham acometimento bilateral e um (16,7%), unilateral (à direita).
Entre os indivíduos portadores de SVP Deficitária, três pacientes (75%) mantiveram o topodiagnóstico após a RV e um (25%) apresentou Exame Vestibular Normal. Os indivíduos com SVP Deficitária Bilateral foram os que mantiveram o resultado do exame após a RV, enquanto que o indivíduo com SVP Deficitária Unilateral (à esquerda) normalizou o exame após a RV.
Já no que diz respeito aos casos irritativos, 50% da amostra manteve o mesmo topodiagnóstico após a RV e 50% apresentou novo topodiagnóstico. Desses, um indivíduo possuía SVP Irritativa Bilateral pré-RV e apresentou topodiagnóstico de SVP Irritativa Unilateral (à Esquerda), um possuía SVP Irritativa Bilateral e apresentou Exame Vestibular Normal e um possuía SVP Irritativa Unilateral (à Direita) e também apresentou Exame Vestibular Normal, após a RV.
Os resultados obtidos à aplicação do DHI pré-RV no presente estudo corroboram com os achados na literatura14, que verificaram que os pacientes com tontura crônica apresentam prejuízo na qualidade de vida, em relação aos aspectos físicos, funcionais e emocionais.
A melhora significante obtida no questionário DHI, após a RV, é concordante com os achados de Badke et al22, que aplicaram o questionário DHI em doze pacientes com SVP e vinte com síndrome vestibular central (SVC), pré e pós-RV, e observaram significante diminuição na pontuação do DHI pós-RV tanto dos pacientes com SVP quanto dos
com SVC, o que indica que a RV possibilitou a melhora subjetiva dos sintomas vestibulares em ambos os grupos.
Observamos que tanto a pontuação da escala analógica de tontura quanto a do DHI apresentaram melhora em 100% dos casos após a RV; o DHI mostrou diferença significante em 80% dos questionários e a escala analógica de tontura mostrou melhora maior ou igual a 50% em 90% dos casos. Assim, pudemos verificar que a escala analógica de tontura foi mais sensível para quantificar a melhora dos pacientes após a RV quando comparada ao questionário DHI.
Os resultados obtidos às avaliações subjetivas (pontuação no DHI e da escala analógica de tontura) e a melhora nos sintomas referida pelos pacientes, após a RV, nos permitem inferir que a RV personalizada mostrou-se eficaz no tratamento das vestibulopatias periféricas. Esse achado condiz com a afirmação de Nishino et al23 de que o programa de RV personalizada é um recurso terapêutico efetivo na diminuição e extinção dos sintomas e conseqüente melhora na qualidade de vida de pacientes portadores de diferentes quadros clínicos.
Condiz também com os achados de Cohen e Kimball24 de que a RV mostra-se efetiva na redução dos sintomas vestibulares, como a vertigem, e no aumento da independência na realização das atividades de vida diária. Yardley et al25 afirmaram que a RV pode minimizar os efeitos negativos advindos da tontura.
Os resultados encontrados nos permitem inferir que, apesar da disfunção ou lesão do sistema vestibular ainda existir em pacientes com SVP, a RV parece readequar a função labiríntica desses indivíduos por meio da compensação vestibular, de forma que a melhora pôde ser observada.
Encontramos dificuldade para confrontar os achados deste estudo com a literatura pertinente devido ao reduzido número de trabalhos realizados até o momento comparando avaliações otoneurológicas objetivas e/ou subjetivas pré e pós-RV.
Deparamo-nos também com a ocorrência de pacientes que desistiram do tratamento ou que não compareceram à reavaliação. Esses fatos limitaram o número de pacientes da amostra do presente estudo.
Faz-se necessário que outros estudos confirmem tais achados, utilizando casuísticas maiores e considerando a hipótese diagnóstica otoneurológica, a fim de se verificar possíveis diferenças entre a avaliação pré-RV e a reavaliação pós-RV.
Os resultados apresentados permitem-nos concluir que o DHI e a escala analógica de tontura, quando comparados ao exame vestibular, mostraram de forma mais relevante a melhora dos pacientes submetidos à RV.
REFERÊNCIAS
11. Ganança FF, Cavalli SS, Silva D, Serafini F, Perracini MR. Quality of life in elderly fallres with dizziness. Arch for Senso Neuro Sci Prac. 2003a.
ANEXO 1
DHI (Dizziness Handicap Inventory) brasileiro (Castro, 2003; Ganança et al., 2003)
O1. F1 - Olhar para cima piora o seu problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
O2. EM - Você se sente frustrado (a) devido ao seu problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
03. FU - Você restringe suas viagens de trabalho ou lazer por causa do problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
04. FI - Andar pelo corredor de um supermercado piora o seu problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
05. FU - Devido ao seu problema, você tem dificuldade ao deitar-se ou levantar-se da cama? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
06. FU - Seu problema restringe significativamente sua participação em atividades sociais tais como: sair para jantar, ir ao cinema, dançar ou ir a festas? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
07. FU - Devido ao seu problema, você tem dificuldade para ler? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
08. FI - Seu problema piora quando você realiza atividades mais difíceis como esportes, dançar, trabalhar em atividades domésticas, tais como varrer e guardar a louça? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
09. EM - Devido ao seu problema, você tem medo de sair de casa sem ter alguém que o acompanhe? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
10. EM - Devido ao seu problema, você se sente envergonhado na presença de outras pessoas? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
11. FI - movimentos rápidos da sua cabeça pioram o seu problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
12. FU - Devido ao seu problema, você evita lugares altos? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
13. FI - Virar-se na cama piora o seu problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
14. FU - Devido ao seu problema, é difícil para você realizar trabalhos domésticos pesados ou cuidar do quintal? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
15. EM - Por causa de seu problema, você teme que as pessoas achem que você está drogado(a) ou bêbado(a)? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
16. FU - Devido ao seu problema é difícil para você sair para caminhar sem ajuda? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
17. FI - Caminhar na calçada piora o seu problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
18. EM - Devido ao seu problema, é difícil para você se concentrar? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
19. FU - devido ao seu problema, é difícil para você andar pela casa no escuro? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
20. EM - Devido ao seu problema, você tem medo de ficar em casa sozinho(a)? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
21. EM - Devido ao seu problema, você se sente incapacitado(a)? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
22. EM - Seu problema prejudica suas relações com membros de sua família ou amigos? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
23. EM - Devido ao seu problema, você está deprimido(a)? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
24. FU - Seu problema interfere em seu trabalho ou responsabilidade em casa? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |
25. FI - Inclinar-se piora o seu problema? |
sim ( ) não ( ) às vezes ( ) |