Relato de Caso:

Paciente do sexo feminino, 7 anos, natural e procedente de São Paulo (SP), foi encaminhada ao ambulatório de Otorrinolaringologia do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos com histórico de obstrução nasal à esquerda, cefaléia holocraniana e sensação de "pressão em face" ipsilateral. Não havia outras queixas relacionadas. Os sintomas tiveram início há dois anos, após acidente por arma de fogo em região nasal. Acompanhantes da paciente relataram que o projétil não foi retirado.

Ao exame observou-se apenas cicatriz em asa nasal esquerda, sendo realizada nasofibroscopia sem alterações. Foi solicitada tomografia computadorizada (TC) de seios paranasais que evidenciou em corte coronal, axial e reconstrução sagital a presença de imagem hiperdensa de características metálicas em fossa nasal esquerda, na topografia da concha inferior, não se observando imagens sugestivas de estilhaços nos outros cortes (Figuras 1, 2 e 3).

A conduta indicada foi a remoção cirúrgica do projétil do interior da concha nasal inferior esquerda por via endoscópica, com incisão superficial na mucosa da cauda da concha, suficiente para vizualização do projétil que foi facilmente retirado com simples tração (Figura 4). Após cauterização dos leitos sangrantes não foi necessário tamponamento nasal. O pós-operatório transcorreu com formação de crostas hemáticas em fossa nasal esquerda nos 30 dias iniciais, retiradas em toilletes nasais realizados em consultas pós-operatórias de rotina. Atualmente a paciente encontra-se sem queixas clínicas.

Discussão:

O diagnóstico dos corpos estranhos nasais não apresenta maiores dificuldades. O diagnóstico dos corpos estranhos nasais não apresenta maiores dificuldades. Em alguns casos pode ser necessária nasofibroscopia e/ou tomografia computadorizada (TC) de seios paranasais para completa elucidação (1,6,7).

A conduta ideal na presença de um corpo estranho nasal é a sua imediata remoção, já que esta é uma urgência otorrinolaringológica (7,8) . Há descrições na literatura de saturnismo, intoxicação pelo chumbo decorrente da dissolução de projéteis de arma de fogo alojados em partes do organismo(5).

O saturnismo pode ser causado por fragmentos de chumbo retidos no organismo. Esta ocorrêcia é rara (10,11,5). A intoxicação pelo chumbo após acidente com projétil de arma de fogo depende basicamente da extensão da superfície de contato dos projéteis, da sua localização e do tempo de exposição (10,11,5).

Casos relatados na literatura demonstram que são mais comuns as intoxicações por chumbo com projéteis de arma de fogo alojados em cavidades articulares com líquido sinovial, que atua dissolvendo o chumbo, mas a intoxicação pode ocorrer mesmo nos ferimentos com projéteis alojados em partes moles (5).

Conclusão:

A presença de um corpo estranho no interior da fossas nasais pode ser uma das causas de obstrução nasal. O diagnóstico dos corpos estranhos nasais não apresenta maiores dificuldades. A conduta ideal na presença de um corpo estranho nasal é a sua imediata remoção, já que esta é uma urgência otorrinolaringológica. Diante de um projétil de arma de fogo presente na fossa nasal, a retirada do mesmo também é o mais indicado, não havendo contra-indicações. Há descrições na literatura de saturnismo, intoxicação pelo chumbo, decorrente da dissolução de projéteis de arma de fogo alojados em partes do organismo.

Referências:

1. Reiss M, Reiss G, Pilling E: Gunshot injuries in the head and neck area - basic principles, diagnosis and managment. Schweiz Rundsch Med Prax, 1998, 87 (24): 832-8.

2. Brasil registra mais mortes por armas de fogo do que conflitos armados internacionais. Disponível em http: www.unescobrasil.org.br . Acessado em 19 de fevereiro de 2007.

3. Sobrinho FPG, Jardim AMB, SantAna IC, Lessa HA: Corpo estranho na nasofaringe: a propósito de um caso. Rev Bras Otorrinolaringol, 2004, 70 (1): 24 -8.

4. Dayal D, Singh AP: Foreign body nasopharynx. J Laryngol Otol, 1970, 84: 1157-60.

5. Selbst, S.M., Henretig, F., Fee, M.A., Levy, S.E. & Kitts, A.W.: Lead poisoning in a child with a gunshot wound. Pediatrics 77: 413-416, 1986.

6. Duarte AF, Soler RC, Zavarezzi F: Endoscopia nasossinusal associada a tomografia computadorizada de seios paranasais no diagnóstico de obstrução nasal crônica. Rev Bras Otorrinolaringol, 2005, l 71 (3): 361-3.

7. Pinheiro SD, Freitas MR. Obstrução nasal. In: Campos CAH, Costa HOO. Tratado de Otorrinolaringologia Vol 3. 1ª ed. São Paulo: Roca; 2003, p. 166-74.

8. Hong D, Chu YF, Tong KM, Hsiao CJ: Button batteries as foreign bodies in the nasal cavities. Int J Pediatr Otorrinolaryngol, 1987, 14 (1): 15-9.

9. Louria, D.B.: "Trace metal poisoning", in Cecil Textbook of Medicine, 1985, p. 2307-2309.

10. Dillman, R.O., Crumb, C.K. & Lidsky, M.J.: Lead poisoning from a gunshot wound. Report of a case and review of the literature. Am J Med 66: 509-514, 1979.

11. Grogan, D.P. & Bucholz, R.W.: Acute lead intoxication from a bullet in an intervertebral disc space. J Bone Joint Surg [Am] 63: 1180-1182, 1981.