ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Relato de Caso

VEMP em pré e pós-operatório de schwannoma do vestibular - três casos
VEMP in pre and pos-operative vestibular schwannoma - three cases

Autores:

Yotaka Fukuda (Médico livre docente ) Médico assistente de otorrinolaringologia

Cláudia Inês Guerra de Sousa Silva (Médica residente de otorrinolaringologia) Médica residente de otorrinolaringologia

Renata Chade Aidar (Mestre em otorrinolaringologia) Médica assistente de otorrinolaringologia

Sílvia Lavor Floriano (Título em Otorrinolaringologia) Médica assistente de otorrinolaringologia

Soraia El Hassan (Doutora em Otorrinolaringologia) Médica assistente de otorrinolaringologia

Palavras-Chave
VEMP, Schwannoma, Função vestibular

Resumo

Keywords
VEMP, Schwannoma, Vestibular function

Abstract

 

Instituição: IAMSPE - Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo

Suporte Financeiro:

INTRODUÇÃO

      O exame de Potenciais Miogênicos Evocados via Vestibular (Vestibular Evoked Myogenic Potentials - VEMP) ainda não tem uma aplicabilidade clínica difundida. Há alguns estudos mostrando resultados consistentes, mas nada que permita a expansão fora da área de pesquisa. Apresentamos três casos de schwannoma vestibular, sendo um pós-operatório, em que foram realizados exames de VEMP bilaterais.

     

APRESENTAÇÃO DOS CASOS

      Caso 1: B. J. H., 62 anos, sexo masculino, com quadro de zumbido e hipoacusia à direita, além de tontura. Caso 2: T. A. S., mulher de 75 anos, apresentando perda auditiva à esquerda. Caso 3: C. A. R., 51 anos, sexo feminino, com disacusia à direita. Todos foram submetidos a audiometria tonal e vocal, que mostrou perda auditiva neurossensorial profunda no lado sintomático, e posteriormente a ressonância nuclear magnética, que mostrou lesão expansiva no ângulo pontocerebelar ipsilateral à disacusia, compatível com schwannoma vestibular. O primeiro paciente está em preparo pré-operatório para exérese do tumor; o segundo não foi submetido a tratamento cirúrgico por motivos clínicos (alto risco cirúrgico). Ambos foram submetidos ao exame de VEMP, que mostrou no primeiro caso latência aumentada e amplitude diminuída das ondas à direita, com resposta normal à esquerda (figura 2), e no segundo caso ausência de resposta à esquerda e valores normais à direita. O terceiro paciente foi tratado cirurgicamente (exérese do neurinoma via translabiríntica), e seu exame de VEMP revelou ausência de resposta no lado operado e valores normais à esquerda.

 

DISCUSSÃO

      O exame de VEMP é um método de avaliação da função vestibular. Através dele, pretende-se acessar o sáculo e nervo vestibular inferior. São dados estímulos sonoros que chegam ao sistema nervoso central (tronco encefálico) através do sáculo e nervo vestibular inferior, e estimulam uma resposta inibitória através de neurônios motores da medula espinhal. Esta resposta é avaliada através de eletrodos colocados no músculo esternocleidomastóideo contraído. A forma da onda no VEMP é bifásica, com um pico positivo e um negativo; estes aparecem após uma latência de aproximadamente 13 e 23 milissegundos (ms), respectivamente.(1)

      O VEMP ainda é um exame de difícil interpretação. Há casos relatados em que não apareceram ondas no lado saudável (2), e muitas vezes fica-se em dúvida sobre a reprodutibilidade do exame. Nos casos aqui apresentados, observou-se ausência de resposta em um paciente, e apenas diminuição da amplitude com aumento da latência em outro, no lado afetado. Talvez isto represente o grau de acometimento do nervo vestibular inferior, porém isto teria de ser comprovado com cirurgia e VEMP pós-operatório. Magliulo et al relatam um caso de preservação dos potenciais no VEMP após cirurgia de neurinoma via um acesso combinado retrossigmóideo com labirintectomia parcial (remoção do canal semicircular posterior), em que o tumor acometia somente o nervo vestibular superior.(3)

      Chen et al observaram reversão das respostas do VEMP após cirurgia de um cisto epidermóide do ângulo pontocerebelar (4), mostrando possivelmente a natureza apenas compressiva da lesão, ao contrário da infiltração no caso de um schwannoma. Isto fala a favor da capacidade do VEMP de "prever" a localização do tumor no pré-operatório (nervo vestibular superior ou inferior), e de definição da natureza da lesão (compressiva ou infiltrativa) após a cirurgia.

     

COMENTÁRIOS FINAIS

      Os casos aqui apresentados realmente sugerem a origem vestibular dos potenciais gerados no VEMP, quando comparamos o lado afetado com o lado normal de cada paciente. Entretanto, observamos uma dificuldade na reprodutibilidade das ondas e, consequentemente, na interpretação dos resultados. Concluímos que são necessários estudos maiores, multicêntricos e randomizados, para melhor avaliação dos resultados obtidos neste exame, antes de partir para a aplicabilidade clínica na avaliação vestibular.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Wuyts FL, Furman J, Vanspauwen R, Heyning PV. Vestibular function testing. Curr Opin Neurol 2007; 20:19-24.

  2. Tsutsumi T, Tsunoda A, Noguchi Y, Komatsuzaki A. Prediction of the nerves of origin of vestibular schwannomas with vestibular evoked myogenic potentials. Am J Otol 2000; 21:712-5.

  3. Magliulo G, Gagliardi M, Appiani GC, D'Amico R. Preservation of the saccular nerve and of the vestibular evoked myogenic potential during vestibular schwannoma surgery. Otol Neurotol 2003; 24:308-11.

  4. Chen C, Young Y, Tseng H. Preoperative versus postoperative role of vestibular-evoked myogenic potencials in cerebellopontine angle tumor. Laryngoscope 2002; 112:267-71.

Figura 2

Gráfico do exame de VEMP do caso 1, mostrando diminuição da amplitude e aumento da latência das ondas E2 e F2 (à direita).

Suplemento
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