ABORLccfRevista Brasileira de Otorrinolaringologia

Trabalho Clínico

Obstrução nasal como manifestação principal de reação hansênica.
Nasal obstruction as main manifection of hansen´s state.

Autores:

Carla Cristina Almeida Torres (Médica residente) Médica residente do terceiro ano de otorrinolaringologia.

Marcela Martins Carvalho (Residente de otorrinolaringologia) Médica residente do primeiro ano de otorrinolaringologia.

Aurelys Patricia Andrade Iglesias (Pós graduanda de otorrinolaringologia) Pós graduanda do terceiro ano de otorrinolaringologia.

Roberto Campos Meirelles (Doutor em otorrinolaringologia) Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto

Fabiana Rocha Ferraz (Residência médica) Médica contratada do Hospital Universitária Pedro Ernesto

Palavras-Chave
hanseniase, obstrução nasal, otorrinolaringologia

Resumo
Introdução: Hanseníase é uma doença crônica, infecto-contagiosa curável, causada pelo Mycobacterium leprae. A principal via de transmissão é a via aérea superior, mais especificamento o nariz, tornando a avaliação otorrinolariongológica importante na detecção da hanseníase e de seus estados reacionais. Relato de caso: Paciente de 30 anos apresentou quadro de obstrução nasal com evolução em 2 meses, após um ano de alta com cura de hanseníase virchoviana. Foi questionada reação hansênica tipo 2 e tratado como tal, com boa evolução. Discussão: Estados reacionais são fenômenos imunológicos agudos que podem ocorrer antes, durante, e após o tratamento da hanseníase. Essas manifestações agudas podem resultar em alterações de alta morbidade, inclusive otorrinolaringológicas. Conclusão: Considerando que o nariz representa a principal porta de entrada e saída do Mycobacterium leprae e que o diagnóstico tardio pode levar a deformidades estigmatizantes, os otorrinolaringologistas precisam estar atentos a suspeitar de um quadro de hanseníase ou de uma reação hansênica.

Keywords
hanseniasis, nasal obstruction, otorrhinolaryngology

Abstract
Introduction: Hanseniasis is chronic disease, curable infective-contagious, caused by Mycobacterium leprae. The main transmission path is the upper respiratory tract, more specifically the nasal mucosa, making the otorrhinolaryngological evaluation very important on the hanseniasis detection and its reactional states. Case report: A thirty-year old patient presented a 2 month evolution nasal obstruction, 1 year after being discharged for the virchowiana hanseniasis treatment. It was questioned type 2 hansen´s reaction and treated like wise, with good evolution. Discussion: Reactional states are acute imunological phenomne that may occur before, during or after hanseniasis treatment. These acute manifestations may result in high morbidity lesions, including otolaryngologicals. Conclusion: Considering the nose as the main in and out way of the Mycobacterium leprae and that the delayed diagnosis may cause stigmatizing deformities, the otorrhinolaringologists must be aware of a hanseniasis and its reactional states suspicious.

 

Instituição: Universidade Estadual do Rio de Janeiro/Hospital Universitário Pedro Ernesto

Suporte Financeiro:

Introdução:

Hanseníase é uma doença crônica, infecto-contagiosa curável, causada pelo Mycobacterium leprae.1 Dados estatísticos mostram queda na prevalência entre 1985 a 2000 (19 → 4,68 em 100.000 habitantes), entretanto ainda é uma doença de grande impacto social.2 Quase 95% dos indivíduos desenvolvem infecção subclínica.3 A evolução insidiosa da doença pode ser sobreposta por fenômenos inflamatórios agudos (reações hansênicas), inclusive com manifestações otorrinolaringológicas.

 

Relato de caso:

D.L.A., masculino, 30 anos, com queixa de obstrução nasal. Relatava quadro de IVAS há sete semanas evoluindo para cefaléia frontal pulsátil, febre, tosse, epistaxe anterior e obstrução nasal.  Melhorou com amoxicilina, porém manteve obstrução nasal em intensidade progressiva, astenia e febre baixa.

      Antecedente de hanseníase Virchoviana com critério de cura há um ano.

Queda do estado geral e rinoscopia anterior com hipertrofia importante de conchas inferiores, não retráteis com solução de adrenalina. Secreção mucopurulenta com hiperemia de mucosa.

Endoscopia nasal após uma semana de antibiótico/corticoterapia evidenciou conchas inferiores de aspecto congesto/infiltrado e pouca secreção mucóide..

Avaliação dermatológica iniciou Talidomida para tratamento da provável reação hansênica desencadeada pela rinossinusite aguda.

Após um mês de uso de corticóide tópico e talidomida havia melhora da obstrução nasal.

     

Discussão:

A principal via de transmissão do Mycobacterium leprae é a via aérea superior. 1  A mucosa nasal é considerada a porta de entrada e saída do bacilo.

Um estudo4 avaliou a endoscopia nasal em 121 pacientes com hanseníase. Com alterações na endoscopia em 100% dos pacientes. As  principais: infiltração (80,9%), rugosidade (46,8%), ressecamento (38,7%), vasculites (38,7), crostas (31,2%), palidez (28,9%), ectasias (27,2%), hiperemia (23,7%), ulceração (19,7%), sangue (15%), atrofia (13,3%), umidade (8,7%), secreção (7,5%), perfuração (5,2%). (7)

As gengivas, o palato e a úvula podem ser acometidos5. O nariz pode apresentar esmagamento do dorso nasal. 5 A hanseníase os pequenos ossos que formam o nariz: vômer, etmóide e espinha nasal.7 Antes do tratamento com sulfonas era freqüente o comprometimento em faringe e laringe. Inicialmente o paciente apresentava disfonia e em casos extremos ocorria a obstrução.8

As reações hansênicas são manifestações imunológicas ao M. leprae. Os episódios reacionais ocorrem principalmente durante o primeiro ano de PQT (90%), mas podem ocorrer antes, durante ou após o tratamento.1 No Brasil, dos pacientes multibacilares, seguidos por seis anos pós-tratamento, 74% apresentaram episódios reacionais. As reações hansênicas não devem ser confundidas com recidiva da doença, não devendo  ser reiniciada a PQT. As drogas utilizadas são a talidomida ou corticóide dependo do tipo de estado reacional.

 Os principais fatores desencadeantes dos episódios reacionais são a gestação, stress físico ou psicológico, medicamentos e quadros infeciosos.1, 9 Supomos que o quadro de rinossinusite aguda contribuiu no desenvolvimento da reação hansênica do paciente em questão.

      O paciente nos procurou com indicação de turbinectomia. O grande volume das conchas inferiores devia-se a uma reação imunológica contra os antígenos do bacilo de hansen (reação tipoII), com boa evolução ao tratamento medicamentoso específico. A história patológica pregressa foi essencial. Os achados da endoscopia nasal encontrados poderiam ser encontrados na infecção ativa da doença, mas a evolução aguda da queixa de obstrução, a alta do tratamento da hanseníase com critério de cura associada à boa evolução com o tratamento proposto confirmam a hipótese diagnóstica. 

 

Conclusão:

Pelo fato da hanseníase ser uma doença de prevalência ainda alta no Brasil e por ser o nariz considerado a porta de entrada e saída do Mycobacterium leprae, os otorrinolaringologistas precisam estar atentos a suspeitar de um quadro de hanseníase ou de uma reação hansênica.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

1) Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. Fundação

Nacional de Saúde. Disponível em:

http: www.funasa.gov.br/pub/GVE/GVE0513A.htm 

Acesso em: 09-04-2002.

 

2) FUNASA Doenças Infecciosas e Parasitárias Aspectos Clínicos - Vigilância Epidemiológica e Medidas de Controle. Guia de bolso - 2000 Guia de Bolso

 

3)Projeto Diretrizes - Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

Hanseníase: Episódios Reacionais - 2003

Autoria: Sociedade Brasileira de Hansenologia e

Sociedade Brasileira de Dermatologia

 

4)Martins, AA; Castro, JC; Moreira, JS - Estudo retrospectivo de dez anos em endoscopia das cavidades nasais de pacientes com hanseníase. Rev. Bras. Otorrinolaringol. vol.71 no.5  São Paulo Sept./Oct. 2005

 

5)Monteiro, MPA. Incapacidades físicas em pacientes com hanseníase acompanhados pelas e equipes de Saúde da Família da zona urbana de Sobral Ceará em 2004.

www.sobral.ce.gov.br/saudedafamilia/downloads/monografias/Maria-paz pdf 

Acesso: 15/03/2007

 

6) Colombia. Ministerio da Salud. Guia de Atención Integral para la Lepra.

Programa de Patología Infecciosas. Santa Fé de Bogotá, 1997.

Disponível em: http://www.comfama.com.co/contenidos.

Acesso: 15/03/2007.

 

 

 

 

 

 

 

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