Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL:
Vol.68 ed.5 de Setembro - Outubro em 2002 (da página 22 à 38)
Autor: Dr. Marcos Sarvat (MS)
Entrevista
A FONIATRIA E A SUA HISTÓRIA
ENTREVISTA com Dr. Pedro Bloch (PB)

Pedro Bloch, nome, pessoa, voz e caráter marcantes. Recebi da SBORL e SBLV a especial tarefa de entrevistar não apenas um médico, mas também escritor, jornalista, autor teatral, poeta, compositor. Podem perceber, pelo tom de minhas palavras, que tal admiração poderia prejudicar a entrevista. Então, consideremos que os ídolos são meras peças de adoração, e Pedro Bloch é bem mais que isso. Trata se "simplesmente" de um homem admirável, que nos leva a perguntar como pode alguém ter uma expressão tão meiga e severa, uma voz tão doce e firme, e um discurso tão amigável e sério, a ponto de afetar o interlocutor de maneira tão leve e grandiloqüente. Médico foniatra, casado há 52 anos com a fonoaudióloga Miriam, continua aos 88 anos atendendo seus pacientes e escreve, escreve muito e compõe letras de músicas, se comunicando com milhões de pessoas através de suas peças teatrais, textos e histórias, que correm o mundo. São peças como "As mãos de Eurídice", "Dona Xepa" e "Os inimigos não mandam flores", e mais de 100 livros escritos por esse grande homem que vive e sabe contare cantar a vida. E que teve mais oito livros publicados somente em 2002. Colher esse depoimento histórico oficial foi um enorme prazer, e espero que todos os leitores, otorrinolaringologistas ou não, atentem para a mensagem do mestre foniatra sobre a importância de estarmos atentos a vários , aspectos da Comunicação Humana. Afinal, somos os médicos desses órgãos, não somos?

Marcos Sarvat


MS - O que, a seu ver, é a voz?

PB - Para mim, a voz é a expressão sonora da personalidade. Ela provém de um instrumento vivo. Essa particularidade de nós lidarmos com um instrumento vivo me impede de aceitar as comparações que se fazem normalmente com instrumentos normais, com instrumentos sem vida. Ela conta a história do homem e da humanidade. Parece exagerado, dito neste tom, mas nós veremos que isso é fato. Ela mostra o que o indivíduo é, o que o indivíduo foi, e até o que o indivíduo será. Quando examino a voz, levo em conta não apenas a voz, levo em conta a voz, a fala, a fluência e a audição.

MS - E o paciente disfônico?

PB - Acho que a disfonia despersonaliza o indivíduo, é a característica que mais toca o paciente, essa despersonalização, ele não é reconhecido porque perde a sua característica vocal. Na fala você tem em primeiro lugar as chamadas dislalias, em que se alteram os sons da fala, os fonemas: tota tola, ao invés de coca-cola, e assim, por diante. Você tem a disglossia que é a alteração da estrutura, como o lábio leporino, fenda palatal, macroglossia, microglossia, falhas dentárias, e assim por diante, e que também podem alterar a voz.

MS - E como médico, devemos atentar para a fala?

PB - Sem dúvida. Você tem as disfemias, em que você tem a gagueira e a taquifemia. A gagueira é aquela alteração do ritmo da fala, que é um descompasso entre o pensamento e a articulação, principalmente. Tem mil fatores que entram em jogo. E a taquifemia é a fala atropelada, diferente da taquilalia, nessa você entende todas as sílabas, naquela o paciente mutila palavras, sílabas, fonemas, e assim por diante. Você tem as afasias, neurológica de expressão e de recepção da fala; você tem as dislexias, as dificuldades de aprendizado de leitura e escrita; você tem as disfrasias, em que há alteração do conteúdo verbal, e assim por diante. E tem as disacusias, que são as alterações auditivas. A galeria de entidades da fala é grande.

MS - E a fluência?

PB - Você também tem que olhar para a fluência da fala, porque a fluência influi na voz. Há pessoas que tem vocabulário pobre, há pessoas que tem agramatismo, a gramática não funciona para elas. E a audição não se fala, é o grande feedlback, o controlador importante nessa visão global do problema. Portanto, você tem que ver o indivíduo como um todo. Uma visão holística. Porque a voz, por mais adiantado que tenham se apresentado as aparelhagens e toda essa parafernália maravilhosa que há, para se examinar os vários aspectos da voz humana, ela nunca será facilmente decifrada. Porque você decifrar uma voz humana, é você decifrar o homem. Você desvenda o homem através da voz.

MS - E o restante, como influi?

PB - Você tem um aparelho fonador que consta de um produtor da coluna de ar, em que o pricipal músculo é o diafragma, que vai ser sonorizada nas pregas vocais, que vão projetar essa voz com seus harmônicos valorizados ou desvalorizados na bucorrinofaringe, é o aspecto ressonancial; e você tem o aspecto articulatório, a articulação também altera a voz. Na articulação você vê às vezes uma coisa muito interessante, que ocorre nas desartrias, em que o indivíduo tem uma lesão neurológica. Da voz e da fala. São muito comuns as disartrofonias. Nelas, descobri uma ver, sem querer, uma maneira de uma pessoa disártrica falar mais normalmente. Uma vez, conversando com um paciente, gravei sua fala e notei algo estranho, ele havia falado direito. Percebi o que tinha acontecido, eu havia dado um modelo muito lentificado, e através desse modelo mais lento, ele teve tempo de reorganizar o seu sistema nervoso, de maneira a poder articular bem. Dando tempo a ele, não havia nenhuma defasagem. Claro que isso acontece em algumas disartrias.

MS - E como devemos atender esse paciente e seu aparelho fonador?

PB - Temos evidentemente a visão do exame sistemático da voz, você faz o exame anátomofisiológico da laringe e da voz, examinando o aparelho fonador. Quando você examina o aparelho fonador, todas as partes repercutem no todo mas, ao mesmo tempo, elas têm que estar harmonizadas, elas têm que funcionar em conjunto, entre elas e com todo o organismo. Se você tem uma alteração da respiração, é lógico que altera a voz. Da prega vocal nem se fala. Se você tem um nariz fechado, você tem uma rinofonia fechada. Se você fala muito pelo nariz, você tem uma rinofonia aberta. Então, o exame da laringe e do aparelho fonador como um todo, através de aparelhagens, é muito importante.

MS - Com freqüência as queixas vocais parecem vir acompanhadas ou acompanhando distúrbios psicossomáticos. Como abordá los?

PB - Chegamos a ponto que acho vital: a psicologia vocal e a psicanálise vocal. E aí, nós entramos num terreno muito interessante: ninguém fala com a própria voz, nós falamos de acordo com o meio ambiente, nós falamos de acordo com nossa saúde, nós falamos de acordo com o n~sso status social, com a nossa cultura, nosso emprego, nossas aspirações, nossos ideais, tudo isso. E dirá você: "E nós temos obrigação de olhar todas essas coisas?" É claro que quando um indivíduo vem com um nódulo nas cordas vocais, você examina e você esclarece uma série de circunstâncias, mas quando você estuda a voz meticulosamente na sua essência, você médico tem que levar em conta até as modificações vocais que o mundo sofreu hoje, com a parafernália desses sons de rock, com essas vozes modificadas, indivíduos que usam microfone de maneira errada ou mesmo de maneira certa. E o material de gravação especializado produz verdadeiros prodígios na voz.

MS - Como o Sr. percebeu essa necessidade de integração?

PB - Tive a sorte de ter, como mestre, nos Estados Unidos, Paul Moses, o autor da "Voz da Neurose" e criador da psicanálise vocal. Tive uma experiência muito interessante, tratando dois psicanalistas que enriqueceram a sua técnica psicanalítica através do conhecimento da interpretação vocal. Quando a gente fala no gago e no taquifêmico, por exemplo, há uma coisa muito interessante. O gago é musical, humanista e se dirige para profissões com o Direito, literatura etc, e tem uma voz bem modulada. O taquifêmico tem uma voz monocórdia, quase esquizofrênica, ele fala depressa, mas ao mesmo tempo a voz dele não modula. E a modulação do ser humano, é da maior importância, porque quando o homem chegou à modulação vocal ele pôde expressar melhor os seus pensamentos e seus sentimentos, ele pôde caminhar melhor do concreto para o abstrato. Foi a fala que humanizou o homem, foi a fala que o tornou sociável, foi a fala que o tornou gente. Antes disso ele não era ou eram grunhidos do homem primitivo ou eram onomatopéias até chegar à palavra, que é uma quarta dimensão do homem.

MS - Então existe uma necessidade do médico ORL abordar os aspectos psíquicos do paciente disfônico?

PB - Sim, ao menos estar atento, saber perceber, a partir da voz e da fala, e isso irá facilitar o seu diagnóstico e saberá orientar melhor o caso. O meu amigo Paul Moses me ensinou muito dessas coisas, pois ele foi companheiro de Freud. Ele propõe o seguinte: ele analisa a respiração, a classificação, o registro vocal, a ressonânofa, o ritmo, a melodia, a intensidade, a velocidade, a acentuação, a ênfase, e as dimensões de pathos, melismo, maneirismo, precisão e pausas. A pausa é tremendamente im portante, na análise vocal. Isso acho que alguns não levam muito em conta; muitos levam, evidentemente. A pausa é, digamos... a grande modernidade da música consiste na pausa, a pausa é tremendamente importante. Quando você ouve a Sa Sinfonia de Beethoven, você percebe que a pausa valorizou~a música. E na pausa nós valorizamos a palavra e também a voz. Todos esses elementos que falei talvez não sejam muito familiares, as expressões: pathos, maneirismo e melismo. O pathos é o seguinte, quando o indivíduo fala e você acredita no que ele está dizendo, quando o ator representa um rei, e você diz: "É um rei mesmo". Ele tem pathos. Você chamaria de carisma. Não é bem isso. Melismo é aquele "mel na voz" da pessoa açucarada, que não usa a sua voz verdadeira. Ela usa um artificialismo vocal. E o maneirismo é a caricatura do pathos, é justamente o pathos invertido, o sujeito é um "amaneirado" para falar, não é que ele tenha mel na voz, mas tem uma maneira de falar que ninguém usa. Esse é um dos aspectos psicológicos assinalados por Moses.

MS - E o que mais podemos perceber nas alterações de voz e fala?

PB - Muitas coisas ocorrem no aparelho fonador. O sincronismo fono-respirátorio é da maior importância , você respirar e falar no começo da expiração é muito importante, porque muita gente fala invertido, porque depois que ela gastou todo o ar, ela começa a falar. A boca semicerrada é defeito corrente. Mas, de uma maneira global, a boa estrutura, bem aproveitada, utilizada corretamente, leva a uma boa voz e uma boa fala. A boa estrutura, mal utilizada, evidentemente vai comprometer a fala. A má estrutura utilizada com elementos de compensação pode melhorar a fala. É impressionante como o sistema fonador tem capacidade de adaptação. A má estrutura e a má utilização dão evidentemente uma má voz e fala. As alterações vocais, geralmente, são decorrentes do mau uso, do abuso e do desuso da voz. O desuso pode ser mais prejudicial que o uso, quando o desuso é mal feito e em ambiente inadequado.

MS - E as questões psíquicas?

PB - Você tem, por exemplo, o esquizofrênico, que fala num tom só, não altera a sua modulação, porque é um indivíduo fechado no seu mundo e não se modifica de maneira alguma. Quando Wolfsohn, a quem respeito muito, me ensinou que a expansão vocal dá a expansão da personalidade, ele demonstrou que certos tipos esquizóides melhoravam muito quando você expandia a voz deles. Ele conseguia fazer coisas fabulosas: o indivíduo emitir 3, 4, 5 oitavas. Só que elas não têm valor artístico, o valor delas é fisiológico.

MS - Ou seja, é possível tratar dos distúrbios mentais abordando a voz também?

PB - Ah, sim. Na psicose maníaco depressiva, na fase psíquica, na fase maníaca, a voz é linda, a voz corre, a voz se projeta, a voz é forte, a voz é melodiosa; na fase depressiva, a voz some, ela vai sumindo. E na afonia emocional ela desaparece. Agora é preciso tomar conta de uma coisa, quando você cura uma afonia emocional dentro da Otorrinolaringologia, e nós estamos mais que autorizados a fazer isso, antigamente você ameaçava o indivíduo com uma cirurgia, e o susto curava o indivíduo. Hoje, acho, não se faz mais isso. Quero saber o que levou o indivíduo à afonia, e ele me explica isso sussurrando. Enquanto ele não me explicar sussurrando a causa da afonia, a causa pelo menos que ele conhece, não dou por encerrado o meu trabalho. E a voz pode aparecer mesmo sem nenhuma manobra, mesmo sem você comprimir laringe, sem você usar mascaramento, sem usar nada. A voz surge, e aí você tem que tratar o indivíduo, não se convertendo em psicólogo, nem psicanalista, mas como otorrinolaringologista, como foniatra, você tratar do indivíduo para ele continuar a botar para fora, porque à proporção que ele bota para fora as causas desse problema, dessa afonia emocional, ele vai realmente desembocar num plano bom. E depois, se tiver que encaminhar para um analista, tudo bem.

MS - O Sr. acha que o médico em geral e o otorrinolaringologista em especial devem abordar esses aspectos psíquicos também?

PB - Acho que a Otorrinolaringologia é tão maravilhosa, que ela deve abordar muitos dos aspectos da voz e da fala. Pode delegar para uma fonoaudióloga aquilo que cabe a ela, e é muito. Mas cabe ao otorrinolaringologista conhecer o seu e odeia também, estar a par de como se faz certo as coisas.

MS - O senhor não vê então o médico otorrinolaringologista sem ele incluir a Foniatria de alguma forma em seu nível de conhecimento?

PB - Sempre lutei por isso, desde á 1964, e sempre achei que nós deveríamos entender quando Foniatria é uma especialidade que é um coroanento das especialidades. A especialização não é uma limitação, é a ampliação.

MS - Então deve ser uma abertura...

PB - Isso, senão nós entramos na ignorância como ciência exata. É completamente diferente. E uma coisa para a qual sempre chamei a atenção, foi para o problema da muda vocal incompleta. Faço uma questão tremenda (isso já correu o mundo) de detalhar isso. Você, na muda vocal, como homem, baixa de uma oitava, geralmente, sua voz se torna grave, e a prega aumenta de tamanho, de espessura etc. Na mulher também há muda vocal, muitas pessoas não atinam para o defeito vocal de uma mulher que tem uma disfonia. Ela tem a voz pueril, não é a voz da mulher madura. Ela também tem muda vocal, só que ela baixa 2 ou 3 tons e a corda aumenta de um temo, mais ou menos. Este é outro aspecto que acho formidável, muito interessante, pois a muda vocal transforma o indivíduo de uma maneira fantástica. A falta de mutação resulta geralmente de uma superproteção materna e super autoritarismo paterno. Se você sondar os pacientes que não atingem a muda vocal, você vai verificar isso. E uma coisa curiosa, que pode parecer pitoresca, é que a muda vocal incompleta faz o indivíduo incompleto. O indivíduo não se realiza completamente se ele não se realiza através de uma muda vocal bem realizada.

MS - Então temos muitas causas a considerar no diagnóstico de um paciente disfônico...
PB - É claro. Nós temos as disfonias dismetabólicas, alterações endócrinas, alterações psíquicas, mau uso, abuso e desuso da voz. Agora, disfonias profissionais e ocupacionais, por vezes não são bem distinguidas: a disfonia profissional é a disfonia em que o indivíduo tem um ambiente de trabalho que Jesa a sua laringe, pode ser o som, pode ser a substância química com que ele trabalha, pode ser algo que vai evaporando, pode ser uma metalúrgica etc. A ocupacional não, a disfonia ocupacional é derivada da ocupação do indivíduo; é o cantor, e o professor, o orador e assim por diante.

MS - Que também pode ter problemas no ambiente, mas é uma situação diferente.
PB - Sem dúvida alguma. Já os problemas neurológicos, isso é um campo fantástico. A disfonia crônica infantil é um capítulo interessantíssimo, geralmente eu chamo isso de disfonia crônica familiar. Porque na família todo mundo é de algum modo disfônico, e você não tratando a família não cura a disfonia crônica infantil. Disfônia intencionais. Isso é criação minha, e foi adotada em vários países, é a disfonia que o sujeito usa de propósito, ou para querer ser reembolsado de alguma coisa ou para escapar a uma responsabilidade. A disfonia de refúgio é aquela com que o sujeito se refugia para não enfrentar determinadas situações. Há disfonias artísticas. Louis Armstrong teve uma laringite crônica e desenvolveu um câncer de laringe, e era uma beleza a voz dele, a rouquidão dele. As chamadas rouquidões bonitas.

MS - Como o Sr. vê as particularidades dos profissionais da voz?

PB - Bem, na mais banal das laringites devemos apreciar as implicações emotivas, devemos entender sobretudo que pode ocorrer uma "laringite sem ite", uma laringite aparente. Por exemplo, um cantor pode chegar com a corda vermelha, dá a impressão de uma inflamação de prega vocal e é na verdade resultado do seu ensaio exaustivo, é a chamada "laringite sem ite". Agora, um detalhe interessante: médico que trata de voz cantada sem conhecer música. Acho que na parte inflamatória, na parte de alterações, isso é perfeitamente legítimo, mas quando se trata de um cantor, que chega para você e está com a voz "perfeita", mas não tem os harmônicos que ele perdeu, aí já é um negócio um pouco diferente, você deve conhecer música para lidar com isso. Eu tenho um teste que publiquei no capítulo que escrevi para o Tratado de ORL, do professor Hungria, que é sobre como se analisa um cantor. Em primeiro lugar, ele faz as escalas ascendentes e descen dentes na extensão mais espontânea que tiver. Deve fazer isso espontaneamente, sai naturalmente uma escala de uma oitava. Aí você verifica se o ataque vocal foi adequado, se foi bom, se ele apresenta lacunas, onde ele enrouquece, se ele enrouquece nos agudos ou nos graves, quais as falhas que ele apresenta de modo geral. Chamo muita atenção ao ataque vocal, quando a pessoa abusa e agressividade. O indivíduo agressivo laringite crônica e desenvolveusivo sempre ataca a própria voz. Há indivíduos que têm uma relação maravilhosa com a voz, há pessoas que agridem a voz, e há pessoas que não sabem usar a voz, simplesmente. A segunda parte do teste: oscilação de altura (vocalize), em várias alturas. Depois peço oscilação de intensidade, que é o terceiro elemento do exame. O vibrato e o tremolo.

A diferença entre o vibrato e o tremolo é que o vibrato é uma qualidade vocal, dá aquela vibração que o violino faz. O tremolo é um defeito. A diferença é em freqüência. O vibrato sempre tem maior freqüência que o tremolo. Boca chiusa, emitir com a boca fechada, escalas em "a", "o" e "i", cantar em piano e em pianíssimo. A mesma escala. Som filado. Som filado é o seguinte, você parte do nada, instala o som, eleva o som e depois cai. E aí aparecem defeitos de uma maneira flagrante, que você percebe. E ainda tem o falsete, que é uma pedra de toque formidável para a voz humana. Há cantores que não sabem fazer falsete. E (normalmente devem realizar músicas do seu repertório. Isso dá uma idéia de como encaro a análise da voz cantada. Agora, há um problema de classificação vocal, e recebo contraltos que são sopranos, isso é incrível. Entendo que isto possa ocorrer em corais, mas é tão flagrante a simples apreciação das pregas vocais, a simples apreciação do tamanho da boca, a simples apreciação palatal, a simples apreciação do volume torácico, e assim por diante, que ela não poderia ser contralto de jeito nenhum, porque contralto tem uma voz que não é comum. Então, o perigo da má classificação vocal é relativamente freqüente.

MS - O senhor acha que contribui de alguma forma para classificar E através da avaliação bem uma voz? Laringoscópica?

PB - Pelo timbre, não pela extensão. E contribui pelo exame, porque as cordas das vozes graves são mais espessas, as de sopranos são mais finas.

MS - O senhor acha que um médico otorrinolaringologista pode desenvolver o seu ouvido para colaborar nisso, no sentido de orientar e avaliar melhor se a causa da disfonia está numa má orientação nesse sentido?

PB - Mas sem dúvida alguma, se estiver treinado para isso. O ouvido aí funciona mais do que qualquer aparelho. Pelo timbre, você vê, por exemplo, que o Plácido Domingo é tenor, não é? Mas ele é um tenor com a voz grave, quase barítono, abaritonada. Já o José Carreras tem uma voz de tenor mesmo, você vê a diferença. A voz não é só a produzida pela laringe, mas significa a expressão da personalidade como um todo e todas as vozes são capazes de extensões dilatadas, mas temos que separar então a voz fisiológica da voz artística. A voz é a expressão sonora de nossa personalidade, e expandindo a voz, expande se a personalidade. Assim como se aprende a falar bem, se deve cultivar a voz, que tem uma semântica própria para revelar o que a própria palavra não diz. Ela mostra o que realmente pensamos e sentimos, às vezes mais que a palavra. Muitos perdem preciosas oportunidades na vida porque a voz não condiz com a pessoa. A voz é um fator importante de equilíbrio emocional. É impressionante: a terapia vocal, já é psicoterapia: isso é muito importante. O homem consegue modular a voz e assim enriquecer a sua expressão. A voz monocórdia é restritiva. O indivíduo que fala de uma maneira monocórdia está prejudicado vocal e emocionalmente. A voz é o verdadeiro barômetro emocional, e o equilíbrio de registros revela o equilíbrio do indivíduo. Quando a palavra não condiz com a voz, algo está errado com a voz ou com a palavra.

MS - O Sr. valoriza toda uma abordagem além de orgânica, também psíquica do paciente, não é?

PB - Sim, é claro. Não podemos esquecer que originariamente o aparelho fonador não havia sido criado para isso e, através de milhões de anos foi se adaptando, hoje tem uma determinada independência. A boca era instrumento de agressão e assim por diante. Muita gente é incompleta porque não realizou a muda vocal completa. Cada pessoa tem a voz que a identifica, mas nem sempre ela delire o indivíduo como indivíduo. Quer dizer, nem sempre está de acordo com a sua personalidade. Identificação é uma coisa. Personalidade, evidentemente, é outra. O filho tende a imitar a voz do pai, e a filha tende a imitara voz da mãe. A energia gasta pela voz é tremenda, quando não se fala com o mínimo de esforço e com o máximo de resultado, quando não se utiliza bem o aparelho fonador. Pode se melhorar a voz com medidas higiênicas muito simples. Eu costumo dizer: não falar na rua, não falar em coquetéis, e "acreditar" no telefone.

MS - Ao menos, não precisariam falar tão alto assim no telefone...

PB - De fato, não precisa falar alto demais. Há uma frase minha: "A verdade não grita. A verdade fala coloquial e normalmente". Medidas higiênicas, alimentares, de sono, evitar o álcool, o fumo, são medidas normais, mas acontece que muitos dos artistas que a gente trata e esquecem que vão de avião, com seu clima alterado e relativo ruído, e ficam falando durante toda a viagem, o que pode afetar a sua voz. E quando há uma tensão muito grande, a voz recua para uma etapa de maior segurança.

MS - O que ocorre quando há tensão demais?

PB - A voz é emoção, a palavra é razão. A voz emocional tende para o agudo, a voz racional tende para o grave. A voz é o resultado de tolo o organismo que desemboca nela. Estuda se cada vez mais agora as vozes pré fabricadas por toda essa maquinária dos estúdios de gravação. Ontem recebi uma pessoa que tinha uma voz precária, mas na gravação saiu boa. Eles corrigem mil coisas, e aqueles botõezinhos funcionam que é uma beleza, não é? Agora, imagino num grande espetáculo de rock, com som pifado. Aí não sai nada... Lembramos também a frase famosa: "Fala para que eu te veja". O indivíduo se revela através da fala e da voz de uma maneira formidável. E modificando a voz, você modifica a pessoa. Agora, uma observação do velho Pedro Bloch: a curto prazo a voz é tão gratificante que quase qualquer técnica dá resultado, o problema é a longo prazo. Alguns confundem método com técnica. O método não pode ser traído, a técnica pode variar. Métodos são as normas básicas da emissão vocal, e que não mudam, até hoje não mudaram. Agora, técnica, você pode ter a sua técnica e eu ter a minha, provavelmente muito dos colegas têm uma técnica pessoal de tratar tudo isso que estou falando. Eu costumo dizer que "o sobrenatural seria um natural mal explicado se o natural tivesse explicarão". A voz não está explicada de todo, e levará muito tempo para desenvolver mais ainda o seu conhecimento. Quanto mais portas você abre, mais portas terão que ser abertas.

MS - O senhor é médico há quantos anos?

PB - Estou com 88 anos e meio e sou formado desde 1937, aqui no Rio, na Faculdade Nacional de Medicina da Praia vermelha, fiz pós graduação em Neurologia, em Endoscopia Pré oral, e estudei Lingüística, Psicanálise, Música etc...

MS - Música também? O Sr. conjugou toda a sua vasta área de interesse para atuar fundamentalmente como foniatra?

PB - Não tenha dúvida.

MS - Há quantos anos o senhor tem o seu consultório?

PB - Desde que me formei em 1937. Meu teatro faz parte da Foniatria, nos meus 110 livros publicados, grande parte é sobre Foniatria. A minha vida... eu adoro a voz. Desde garoto, diagnosticava e sentia as pessoas pela voz.

MS - O Sr. é uma pessoa que estuda permanentemente. E continua atendendo?

PB - Atendo sim. No consultório vou algumas vezes por semana, e hoje já atendi duas pessoas aqui. Procuro continuar ativo, é uma maneira de cultivar, digamos assim, a idade.

MS - Algumas limitações físicas, mas intelectuais, nenhuma, o Sr. está muito bem...

PB - Acho que estou. E sabe por quê? Tenho a impressão que a memória melhorou. O Alzheimer não apareceu... A memória melhorou: eu guardo o nome de quase todos os meus pacientes.

MS - Percebi isso, que o senhor sabe o nome, posso ligar meses depois que o senhor sabe quem é e o que tinha.

PB - É lógico. De muitos pacientes eu guardo o nome, e até o aspecto da laringe. É engraçado, guardo um pouco menos a fisionomia. Não sou um fisionomista...

MS - O senhor está melhor do que eu...

PB - E guardo bem a voz. A voz é uma beleza! O envelhecimento vocal é um capítulo à parte. Surge da diminuição da atividade do sistema fonador, do estado geral e especialmente hormonal. Pode ser retardado pelo uso adequado da voz e minorado de forma surpreendente com a utilização mais correta e eficaz da própria emissão vocal, além da melhora psicológica que a própria melhora vocal proporciona, às vezes se traduzindo numa verdadeira plástica vocal. Na velhice a voz da mulher caminha para o grave, e a voz do homem tende para o agudo, por resultado também hormonal, surgindo hipotonia, tremor e enrijecimento dos ligamentos e das cartilagens laríngeas. E uma boa cirurgia plástica facial que rejuvenesça pode ser prejudicada, em seu resultado final, por uma voz envelhecida, que também pode e deve ser tratada.

MS - E o paciente laringectomizado?

PB - A grande problemática dele, além de procurar emitir uma voz artificial, evidentemente, é não ter o mínimo de personalidade vocal, de emoção expressa pela voz, pode até modular um pouco, pois há várias técnicas, mas acontece que a emoção fica resguardada, e é preciso a gente dar um carinho especial a esse tipo de problema. Na disartria a gente já obtém um resultado interessante, você já consegue modular melhor a voz, em certos casos.

MS - Nesse sentido, o senhor não acha que essas próteses fonatórias, que criam fluxo tráqueo esofágico podem ser melhores para dar essa fluência e essa expressão do que a noz esofageana?

PB - Sim, isto é a tecnologia, ela nos avassala a cada dia. Hoje tratei de uma paciente que é especialista numa coisa pouco comum: economia ambiental. Fantástica a mulher, fantástica. Fez uma conferência aqui que explodi de entusiasmo. Você vê que quanto mais você estuda, mas você consegue aprender. Mundo é uma palavra que quer dizer sabe o quê? Limpo. E imundo é sujo. Nas convenções internacionais de ecologia ninguém lembra disso. É curioso. Claro que é em português...

MS - Como o senhor vê essa questão do papel da Foniatria, hoje? Como o médico e especialmente o otorrinolaringologista deveria estar vendo a Foniatria? O senhor acha que é um campo de interesse válido? É interessante para o jovem otorrinolaringologista abordar a Foniatria? Como ele pode fazer para estudar Foniatria, hoje?

PB - Veja bem, há uma parte da Foniatria que ele deveria e poderia estudar, por exemplo, analisar uma voz, saber os exercícios adequados, embora ele deva indicar uma fonoaudióloga, ele poder lidar com a parte psicológica de uma maneira mais profunda, mas há a Foniatria que estudei, corri mundo para isso, e que eu tratava de paralisia cerebral, tenho pacientes com afasia, que não falavam uma palavra, e passam a falar; tenho pacientes disártricos, crianças oligofrênicas, crianças que não falam etc. Mas isso, evidentemente, é um campo avassalador para qualquer especialidade...

MS - Congrega muito da Neurologia, nesse sentido?

PB - Também da Neurologia, mas acontece que ninguém faz tudo, mas uma boa parte da voz e da fala deve estar integrada também à ,nossa especialidade. Nem todos os otorrinos sabem música, e nem têm obrigação de saber. Eu não sei muito da Otorrinolaringologia, também. Aí está o negócio, muita coisa ignoro da especialidade, embora tenha sido Presidente da Sociedade daqui do Rio de janeiro. A Foniatria é muito absorvente. Agora, isso devia ser feito de acordo com a índole e a preparação de cada um. Por exemplo, um dentista quando percebe que uma criança tem um sigmatismo interdental, coloca a língua entre os dentes para falar, ele sabe perfeitamente que é um sigmatismo interdental. Compreenda que num caso de fenda palatina eu posso e devo fazer uma orientação.

MS - O Sr. acha que o médico otorrino deve ter bons conhecimentos de terapia e executar no seu paciente também esses exercícios?

PB - A terapia que ele acha que pode executar, a terapia que ele estiver apto a executar. Acho que sim. Eu faço isso. Trouxe isso tudo para o Brasil, a Fonoaudiologia, a Foniatria, e estava seguro que ia encontrar milhares de colegas interessados nisso...

MS - E isso não aconteceu?

PB - Não aconteceu, formei alguns, eles estão espalhados por alguns lugares, formei fonoaudiólogos desde 1964 e 65, duas turmas muito boas, e estão espalhadas por aí. Não é que a Foniatria seja mais difícil ou mais fácil, ela implica em conhecimento de Lingüística, de Cirurgia Plástica, de Endoscopia, de Música, de Neurologia, de Psicologia, de Psicanálise, de próteses, são tantos os elementos, é um coroamento de especialidades. Ela não é melhor nem pior que as outras, é diferente em muitos aspectos.

MS - E o Sr. acha que há campo para isso? O senhor acha que os médicos deveriam se dedicar mais a esse campo?

PB - À Foniatria, sim. Acho sim, acho que sim, entusiasticamente.

MS - E como o senhor vê esse papel do foniatra, do médicp otorrinolaringologfsta que venha a fazer Fóniatria como um crescimento profissional, em relação à Fonoaudiologia? Como o senhor vê essa relação?

PB - Entendo que a Fonoaudiologia tem um papel importante, acho que o médico deve fazer aquilo que lhe cabe como médico, diagnóstico e indicação terapêutica. Há coisas que o médico faz melhor que ninguém. Então há coisas que ele pode tratar. Aquilo que ele aprender, ele pode fazer, evidentemente, mas, normalmente, um bom otorrino ou um bom fonocirurgião não tem tempo pra isso, ele tem que delegar. Nós hoje vivemos delegando, não é verdade? Eu faço isso, por quê? Porque eu trouxe esse cabedal de correr mundo inteiro, porque queria trazer a Foniatria para o Brasil. Vários médicos participaram de meus cursos, e alguns desistiram porque não quiseram estudar outras coisas, como Neurologia, Psicologia etc, que são muitas cadefiras que você precisa conhecer e estar sistematicamente estudando, estudando, estudando. Tenho uma inveja enorme de quem sabe muito ORL. Não é verdade? E tenho uma inveja enorme de quem opera tão bem, ouviu? Mas acontece que é uma inveja pra cima, uma inveja de admiração, não é uma inveja de querer ser melhor que você. Agora, acho que isso se pode conciliar muito bem. O médico, conforme a parte da Medicina que exerce, pode fazer uma parte de Foniatria. Acho que a Foniatria já é uma especialidade muito extensa. Agora, o otorrino que quiser fazer, ele deve selecionar aquilo que ele pode fazer de melhor para o seu paciente, sem nunca esquecer o importante papel da Fonoaudiologia.

MS - De sua posição como médico foniatra, que vivenciou o surgimento da Fonoaudiologia, o senhor vê dificuldade nesse relacionamento? Quais são os riscos e benefícios na relação médico foniatra ou otorrino com o fonoaudiólogo?

PB - Eu acho perfeita, a minha relação é perfeita. Depende de como você encara. Acho que o relacionamento é perfeito. Eles lidam com esse vasto mundo que é a fala, audição, linguagem, comunicação, reeducação etc, e eles trabalham nisso, na terapia disso. Agora, elas não vão examinar a laringe, não é?

MS - E a parte de diagnóstico e indicação?

PB - A grande parte do diagnóstico não é difícil. Elas podem colaborar. Seria ideal que houvesse uma fusão, como sempre propugnei, que houvesse um entendimento maior ainda do que tem até hoje. Eu tenho um entendimento muito bom, e acho que a gente já tem tanta coisa para fazer bem feito, que "cada macaco no seu galho" também não faz mal. Agora, às vezes o indivíduo pode ter vários galhos. Acho a Fonoaudiologia da maior importância, e a ORL nem se fala. E a Foniatria eu amo até hoje, é uma ciência fantástica e uma arte admirável.

MS - Gostaria de frisar essa abordagem de aspectos psíquicos relacionados à voz?

PB - Ah, sim! Esse é o ponto que acho que vai responder à sua pergunta. A parte psicológica na ORL é da maior importância. Não é preciso converter ninguém em psiquiatra, nem psicanalista, mas aprofundar esses conhecimentos, para as mudas vocais, para as afonias emocionais, para certas alterações vocais que tenham um fundo emocional. O paciente está esperando apenas uma palavra de apoio e de orientação para melhorar. O medo da estréia, o pavor da estréia, que é uma coisa que assola todo mundo. Hoje ninguém separa orgânico de funcional e psicológico. O otorrino lida com a palavra, com a audição, com a entrada e com a saída da palavra. E quem mais apto para também estudar a parte psicológica de cada paciente? O paciente às vezes entra rouco e sai falando normalmente, quando o médico sabe ouvi lo, e quando o problema dele é puramente um refúgio.

MS - O Sr. acompanhou a Campanha da Voz? O lema era: "se estiver com problema de rouquidão, procure um médico para ser avaliado". Como o senhor vê essa questão?

PB - Lógico que acompanhei. E claro que deve procurar um médico quando estiver com rouquidão. Se essa rouquidão estiver durante mais de duas semanas, é óbvio que vai chamar o médico, e ele deve encaminhar ou não para terapia, conforme o caso. E outra coisa, quero que você saiba como eu gosto de você, e o grato que sou a você, porque você sempre teve para comigo uma atitude de irmão, ou de filho. E acho isso lindo.

MS - Muito obrigado, Dr. Pedro. E gostaria muito de poder estar mais com o senhor do que estou, vou sempre estar lamentando isso...

PB - E especialmente nesta fase da vida... Olha aqui, saiu agora o meu livro "Seu Filho Fala Bem". Esse aqui é para você.

MS - Obrigado, mestre. Incrível. Medicina, teatro, livros, poesia, composição... E música. Toca piano?

PB - Toco. "Ele é prendado, o velho é prendado..." E escrevi vários roteiros de filmes, com a curiosidade de que o primeiro filme brasileiro colorido é meu: "Meus amores no Rio".

MS - E a suas poesias e letras, como vão? O Sr. compôs com Ary Barroso, também? Algo novo?

PB - Ah, muitas! Fiz várias com o Ary Barrosoe com o maestro Remo Usai. Hoje compus uma letra para a Miucha. Chama se
"Vai Verque o Amor é isso": Vai ver que o amor é isso e eu não sabia. É o mundo transmudado pra melhor. Vai ver que o amor é isso c eu não sentia. É a vida ao vivo, a cores, tom maior. Como é que eu fui deixar passar o tempo? Como é que o tempo me deixou passar? Cantei o amor de todos,fi deixando o meu sempre em último lugar. Você só era a minha fantasia, só hoje é que eu sei o que é amar. E somos três agora, somos três: eu, você e a vida. Somos três. Vai ver que eu só estava esperando a minha hora e a minha vez. E tudo mais sonho e mais verdade. Valeu a pena apenas esperar. E aflora, em vez de eu cantar a vida, a vida canta ao me ver passar.

MS - Lindo... Bem, pergunta final, Dr. Pedro: gostaria que o senhor desse um depoimento sobre a Medicina e o surgimento da Fonoaudiologia e o quanto que o senhor participou disso, e qual seja a sua visão dessa importante profissão em seu trabalho conjunto com a Medicina.

PB - A minha visão é sempre de harmonia. O mundo tem um erro de repertório, não fala a mesma linguagem. Quando você fala a mesma linguagem, a harmonia é total. E isso é o ideal. O Einstein havia dito que o mais difícil do conhecimento é como se chega a conhecer qualquer coisa, e que a intuição também é ciência. A coisa mais difícil do mundo é o senso comum, porque o senso comum é uma das operações mais complicadas, como é a fala. Quando se analisou tudo o que o homem precisava fazer para dizer a palavra bola, houve um especialista que disse brincando que falar "era impossível". Talvez seja a função mais complexa do nosso organismo.

MS - E o Sr. acha que é possível uma pessoa ser um bom cientista se não tiver muito bom senso e boas noções sobre outros campos?

PB - Ah, não. Todo bom cientista tem bom senso. Há que se ter bom senso, e amar muito o que se faz...

Esse é o Professor Pedro Bloch, que bem ensina aos discípulos de boa vontade (e a quem mais estiver disposto a aprender), como se pode diferenciar o prazer do lazer. Muitas pessoas buscam freneticamente um lazer, e esquecem do verdadeiro e permanente lazer que pode existir em trabalhar com enorme prazer, ser médico, ler, escrever, compor e, prazer supremo, se comunicar com tantas pessoas, contribuindo para um mundo mais saudável e melhor. Diz se que, em essência, todos nós (por mais que eventualmente ousemos negar), buscamos receber na vida apenas duas coisas: afeto e reconhecimento. Nesse sentido, semblante, a voz, e mais do que tudo, a História de Pedro Bloch nos transmitem a serenidade das pessoas realizadas, em paz consigo e com o mundo, e que servem de exemplo para todos os que desejem usufruir de uma existência plena, produtiva e feliz. Querido mestre, receba todo o nosso afeto e reconhecimento!

Marcos Sarvat

SBORL - Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.

SBLV - Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz.

ENTREVISTA COM PEDRO BLOCH EM 4 DE SETEMBRO DE 2002.


DR. MARCOS SARVAT - OTORRINOLARINGOLOGISTA E CIRURGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO, DOUTORANDO EM OTORRINOLARINGOLOGIA PELA UNIFESP

DR. PEDRO BLOCH - OTORRINOLARINGOLOGISTA, FONIATRA, TEATRÓLOGO E ESCRITOR.
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