Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL: Vol.70 ed.1 de Janeiro-Fevereiro em 2004 (da página 03 à 05) |
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Autor: Dr. José Antonio Pinto |
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Opinião |
A nova Academia Brasileira de Laringologia e Voz |
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Dr. José Antonio Pinto
A medicina, em seu trajeto milenar, tem sofrido profundas alterações nas ultimas décadas. Mudanças extraordinárias acontecem a casa momento, chegando a um desenvolvimento, chegando a um desenvolvimento técnico-científico por si só imprevisível. Diante deste monumental progresso, nos deparamos com paradoxos conflitantes, na qual vemos a classe médica sendo aviltada pelas políticas e empresas de saúde, seno invalidada em suas atividades por outras profissões, tentando-se, de muitas maneiras, distorcer e desrespeitar as competências do trabalho médico.
Como podemos explicar essas duas faces da Medicina? Talvez pela nossa ingenuidade ou pelos nossos sentimentos "sacerdotais". Na verdade, dentre nossas múltiplas insuficiência, uma foi considerarmos nossa profissão intocável q que nosso trabalho jamais poderia ser minimizado ou invalidade. Vemos agora os médicos despertando de seu sono profundo e chamando por uma lei que regularmente o ATO MÉDICO.
Com atividades consideradas notórias, os médicos jamais se preocuparam com legislações que definissem suas funções laborais, visto que somente em 1958 a medicina foi regulamentada por legislação específica. Até esta época apenas cinco atividades de saúde atuavam no Brasil: os médicos, os dentistas, os veterinários, os farmacêuticos e os enfermeiros, com espaços bem definidos. A partir de então, novos profissionais de saúde foram surgindo a se organizando com leis próprias. menos os médicos.
Eis que nos vemos hoje acuados por uma campanha "em que a Medicina quer ser a dona da saúde" a que nos coloca como usurpadores e prepotentes, sem se lembrarem que da Medicina se originaram todas as demais profissões da área da saúde.
A aprovação da lei para o Ato Médico representa, embora tardiamente, a definição do campo de trabalho dos médicos, deixando bem claro seus limites e abrangências, impedindo a sua invasão por outrem e respeitando o direito das outras profissões. Todos estes conflitos acabaram se refletindo sobre a própria Otorrinolaringologia e, em especial, sobre uma das supra-especialidades que mais se desenvolveram nos últimos anos - a Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz. Criada independente como uma sociedade científico-social, multidisciplinar, a SBLV cresceu frondosamente, tornando-se um dos ramos de maior interesse da ORL, filiando-se posteriormente a sua célula-mãe. Muito representou na Laringologia brasileira esta inter-relação entre otorrinos, fonoaudiólogas, professores de canto e muitos outros, interessados e envolvidos no conhecimento e desenvolvimento dos distúrbios vocais e laríngeos. Os otorrinos brasileiros redescobriram a voz e estamos voltando a estudá-la com o entusiasmo que Pedro Bloch tanto sonhava nos idos dos anos 60.
Todo este crescimento se baseou em uma troca permanente, somente atingida através de um trabalho multidisciplinar que fez crescer as especialidades em benefício de nossos pacientes. Infelizmente, o crescimento desordenado de várias profissões na área da saúde veio trazer posicionamentos conflitantes na tentativa de desqualificar de uma maneira pejorativa a liderança médica, fruto de um trabalho milenar. O que vemos são ações classistas contra o Ato Médico, considerando-o prejudicial às outras profissões. Órgãos diretivos da Fonoaudiologia se esqueceram de quanto a Otorrinolaringologia foi importante na sua existência e partiram para um processo competitivo de mercado, transgredindo limites e competências. Tiveram, todos esses profissionais da saúde, o cuidado de criar seus atos específicos e hoje se voltam contra o Ato Médico, cujos princípios mais comezinhos são o de definir seu campo de trabalho em lei.
Os reflexos destes embates transcenderam à SBLV, que nestes últimos dois anos, espremida pelas contradições, teve de superar todas essas incongruências para manter-se fiel ao seu programa científico-social, sem prejuízo à classe otorrinolaringológica. Buscamos as soluções e inúmeras reuniões foram realizadas com a diretoria da SBLV, da SBORL e da Defesa Profissional, discutindo as relações ORL x Fono e a posição da SBLV como sociedade multidisciplinar. Enfim, a solução final foi a extinção da SBLV e a criação de uma nova associação composta somente por médicos.
Surge hoje a Academia Brasileira de Laringologia e Voz, fundamentada nos desejos da classe otorrinolaringológica brasileira, una e não ambivalente, colocando-se claramente pela definição de limites e responsabilidades nas várias áreas da saúde, para que o trabalho médico e assistencial aos nossos pacientes não seja prejudicado.
Com bases sólidas e transparentes, desejamos que a multidisciplinariedade seja respeitada em suas atribuições específicas e em sãs preceitos legais e que esse trabalho prossiga participativo e ético, visando o bem maior de todos que é uma vida de qualidade.
Este é um momento de revisões e mudanças e no dizer de Spencer Johnson, nosso colega médico, autor do best-seller "Quem mexeu no meu queijo?": "Se você não mudar, morrerá".
DR. JOSÉ ANTONIO PINTO - OTORRINOLARINGOLOGISTA E CIRURGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO, CHEFE DO SERVIÇO DE OTORRINOLARINGOLOGIA DO NÚCLEO DE OTORRINOLARINGOLOGIA DE SÃO PAULO - EX-PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE LARINGOLOGIA E VOZ (2001-2003)
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