Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL: Vol.69 ed.3 de Maio-Junho em 2003 (da página 03 à 05) |
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Autor: DR. JAIR CORTEZ MANTOVANI |
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Artigo |
Traumatologia da face em foco |
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Aumento de casos traz à tona discussão sobre o atendimento de pacientes
Nas últimas décadas, houve um aumento significativo dos traumas craniofaciais em conseqüência, principalmente, de acidentes de trânsito e agressões físicas. Apesar disso, ainda não há consenso sobre paciente com trauma facial, principalmente casos de emergência.
Embora sejam inegáveis os avanços diagnósticos e terapêuticos, a maioria dos de emergências dos hospitais, quase sempre, não está preparada para este tipo de atendimento, fazendo-o de maneira fragmentada e até caótica. É comum ocorrer nos pronto-socorros dificuldades em se distinguir uem trata esses pacientes, principalmente entre especialistas com áreas de atuação comum. Essa aparente disputa é agravada pela falta de uma classificação dos traumas craniofaciais, nos serviços de emergências hospitalares, o que dificulta a racionalização e a integração das diferentes especialidades envolvidas no atendimento ao traumatizado.
O primeiro atendimento passa, via de regra, pelo clínico geral. Após o diagnóstico do trauma facial, o especialista chamado para o segundo atendimento pode ser um otorrinolaringologista, um cirurgião buço-maxilar, um oftalmologista, um cirurgião plástico ou ainda um cirurgião de cabeça e pescoço.
Na Santa Casa de São Paulo, por exemplo, todos os pacientes passam pelo Pronto-Socorro Central. Quando há trauma craniofacial, o paciente é encaminhado para outro departamento. Traumas no maxilar ou na mandíbula são encaminhados para o cirurgião buco-maxilar. Quando afetam os pavilhões da face, o departamento de otorrinolaringologia é acionado. Nesses casos, a ,presença de um oftalmologista também pode ser requisitada. Na Santa Casa, os atendimentos de traumatologia da face não são comuns no departamento de ORL. A grande maioria dos casos é encaminhada para o buco-maxilo ou resolvida no próprio Pronto-Socorro Geral.
Para o Departamento de ORL, normalmente são encaminhados casos de santo nasal, fratura nos ossos dos pavilhões faciais ou casos de corpos estranhos nas vias respiratórias, como pedaços de vidro.
No Hospital das Clínicas, também em Paulo, o atendimento ao paciente com traumatologia da face envolve outro especialista: o cirurgião plástico. A maioria dos casos de traumas craniofaciais chega pelo pronto-socorro. O médico de plantão normalmente encaminha o paciente ao cirurgião plástico e ele determina a necessidade da presença de um otorrinolaringologista ou outro especialista.
Já no Hospital de Urgências de Goiânia, o atendimento de emergência de traumas craniofaciais não envolve otorrinolaringologistas, simplesmente porque o hospital não conta com tais especialistas em seu corpo clínico.
No pronto socorro do Hospital do Servidor de São Paulo, os pacientes passam pelo cirurgião geral de plantão. No hospital, o Departamento de Cirurgia Buco-Maxilar inclui odontologistas e cirurgiões plásticos, e o departamento de Otorrinolaringologia é integrado ao de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. No caso de traumas na região do nariz, ouvido ou pescoço os pacientes são encaminhados para a Otorrinolaringologia/Cabeça e Pescoço. Se o trauma craniofacial não atingiu nenhuma das regiões citadas, o paciente é encaminhado ao buco-maxilo.
O Hospital Paulista é especializado em ouvido, nariz e laringe. Obrigatoriamente os pacientes recebem o atendimento de um otorrinolaringologista e sempre há um especialista de plantão no pronto-socorro. A grande maioria dos casos de trauma facial envolve fraturas nasais isoladas, e o otorrino de plantão não precisa acionar outros especialistas. Em casos de fratura de mandíbula ou maxilar, um buco-maxilo é chamado. Outros especialistas, como cirurgiões plásticos, também fazem parte do corpo clínico do Hospital Paulista e são requisitados quando o otorrino julga necessário.
Especialização
Não existem cursos para que os otorrinos se especializem em traumatologia da face. Os interessados podem aprender mais sobre este atendimento específico através de estágios. O Hospital das Clinicas de Botucatu valoriza o papel do otorrino no atendimento de vítimas com traumas craniofaciais e abre periodicamente vagas para estágios.
ESTUDOS SOBRE TRAÜMATOLOGIA DA FACE - RETROSPECTIVA HISTÓRICA:
Voltamos ao ano de 1955, quando Rowe e Killey mostraram que, na Inglaterra, 11,6% das fraturas de mandíbula relacionavam-se com acidentes com veículos automotores, 15,8%, com motocicletas, 18% com agressões corporais, 12% com quedas acidentais.
Em 1957, Aunstein estudou 1000 acidentes com veículos e 2253 vítimas. Seu levantamento mostrou que em 72,3% dos casos houve traumas crânioencefálicos, sendo que, em 7,2%, havia associação com fraturas faciais.
Quatro anos depois, em 1961, Hagan e Huelke relataram que 55,8% das fraturas mandibulares estavam relacionadas com acidentes automobilísticos, 17% com agressões corporais e 14% com outras causas.
Outros autores demonstravam que o predomínio maior ou menor de um fator etiológico está relacionado a algumas características da população estudada, como idade, sexo, classificação social, país.
Em determinadas regiões de nosso país e em países europeus, por exemplo, ouso da bicicleta como lazer, para atividades esportivas, ou como meio de transporte é muito difundido, aumentando a possibilidade de um maior número de acidentes com esse veículo.
Já ao analisar crianças e idosos, descobrimos que as fraturas faciais estão associadas a quedas dentro de casa ou jogos infantis. Em adultos, as causas mais comuns são acidentes com veículos, as agressões e, não raros, traumas decorrentes de práticas esportivas.
Outro fator comum em casos de traumas faciais é a ingestão de álcool, em dois tipos de associação: bebidas alcoólicas e direção e agressões físicas motivadas pelo estado de embriaguez. Estas lesões ocorrem principalmente nos finais de semana, dias em que bar e bebida alcoólica são caracterizados como lazer.
Nesse sentido, trabalhos recentes mostram que a criação de leis rigorosas de trânsito e a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança começam a mudar perspectivas que eram, até há pouco tempo, sombrias em relação aos acidentes de trânsito. Infelizmente, essa conscientização é muito mais presente em outros países do que no Brasil.
Em 1974, Convingto e Cols observaram que, após a adoção do uso do cinto de segurança, a incidência das fraturas do osso zigomático e das lesões múltiplas faciais caíram respectivamente, de 80,6% e 46,3% para 50,0% e 20,1%, em um período de 10 anos.
COLABOROU COM A MATÉRIA:
DR. JAIR CORTEZ MANTOVANI - PROF. ADJUNTO DO DEPTO. DE ORL E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU - UNESP
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