Caderno de Debates (Suplementos)

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Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL:

Vol.66 ed.3 de Maio-Junho em 2000 (da página 04 à 34)

Autor:

Consenso

 CONSENSO SOBRE RINITES - Parte 2

Poluentes

Agem por mecanismos inespecíficos, irritando a mucosa respiratória por estímulo das terminações nervosas e potencializaçao da inflamação:

 Fumaça ele cigarro: Não se deve fumar e nem permitir que se fume em casa ou no ambiente de trabalho.

 Irritantes primários: Ao se fazer a limpeza da casa, não devem ser usados produtos de forte odor, como sprays, inseticidas, desinfetantes, tintas, produtos à base de amoníaco, formadeídeo, etc.

As características de urbanização das grandes cidades têm contribuído para dificultar o controle ambiental. A adoção do concreto nas construções e o aumento descontrolado do número delas dificultam a ventilação; o isolamento, a má conservação do sistema de troca e refrigeração de ar têm levado a proliferação de Ácaros, fungos, bactérias e outras substâncias nocivas, constituindo a "Síndrome do Edifício Doente".

Precauções a serem tomadas para evitar os problemas causados pelo sistema de ar-condicionado: revisões periódicas devem ser rigorosamente respeitadas e também os cuidados de manutenção que o fabricante do sistema de refrigeração aconselha. Quando necessário, utilizar firmas de manutenção especializadas.

Quanto ao ar-condicionado de parede, fica mais fácil a manutenção, devendo-se limpar o filtro semanalmente e o aparelho a cada seis meses. No Quadro 1 estão representadas as principais medidas de higiene ambiental.

ANTI-HISTAMÍNICOS

Como toda reação alérgica, a rinite alérgica apresenta duas fases. A primeira, chateada imediata, ocorre quinze a vinte minutos após o estímulo antigênico e a segunda ocorre quatro a oito horas após o estímulo, sendo denominada fase tardia ou inflamatória. Ambas apresentam a liberação de mediadores químicos, sendo a histamina o principal mediador liberado na primeira fase através da degranulação de mastócitos e basófilos.

A histamina é o principal mediador responsável pelo aparecimento dos sintomas característicos da rinite alérgica: espirros em salva, coriza, prurido e obstrução nasais. Ela foi obtida por Windaus e Vogt em laboratório pela primeira vez em 1907 e desde então foram iniciados estudos em busca de drogas que pudessem coibir seus efeitos.

Em 1933, o farmacêutico francês Fourneau sintetizou o primeiro produto com atividade anti-histamínica, uni derivado da dietilamina. A partir daí, vários outros produtos foram sendo sintetizados, todos com atividade anti-histamínica potente, porém promovendo sonolência.


QUADRO 1 - MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL E CUIDADOS PESSOAIS.

 Dar preferência a ambiente bem ventilado e ensolarado, principalmente o quarto de dormir.
 Evitar travesseiro e colchão de paina ou pena. Use os de espuma, sempre que possível, envoltos em material plástico (vinil) ou em capas impermeáveis aos ácaros. Recomenda-se limpar o estrado duas vezes por mês.
 Evitar tapetes, carpetes, cortinas e almofadões. Dar preferência a pisos laváveis (cerâmica, vinil e madeira) e cortinas do tipo persianas ou de material que possa ser limpo com pano úmido.
 Camas e berços não devem ser colocados lateralmente junto à parede.
 Evitar animais de pelúcia, estantes de livros, revistas, caixas de papelão no quarto de dormir.
 Combater o mofo e a umidade, principalmente no quarto de dormir. Verifique periodicamente as áreas úmidas de sua casa, como banheiro (cortinas plásticas do chuveiro, embaixo das pias, etc.). Uma solução de ácido fênico 3% a 5% pode ser aplicada nos locais mofados, até a resolução definitiva desta umidade.
 Evitar vassouras, espanadores e aspiradores de pó comuns. Passar pano úmido diariamente na casa ou usar aspiradores de pó com filtros especiais.
 Evitar animais de pêlo e pena. Animais de estimação para crianças alérgicas são peixes e tartarugas.
 Evitar inseticidas, nem do tipo espiral, sprays, desinfetantes, produtos de limpeza de forte odor.
 Dar preferência a pastas e sabões em pó para limpeza de banheiro e cozinha.
 Evitar talcos, perfumes, desodorantes, principalmente na forma de sprays.
 Não fumar, nem deixar que fumem dentro de casa.
 Roupas e cobertores, raramente usados, devem ser lavados e secados ao sol antes do uso.
 Evitar banhos extremamente quentes. A temperatura ideal da água é a temperatura corporal.
 Dar preferência à vida ao ar livre. Esportes podem e devem ser praticados. A natação é indicada para o paciente com asma, mas pode piorar a rinite, por irritação pelo cloro.



A partir da década de 70, pesquisas levaram à descoberta de novos anti-histamínicos que provocassem menos sono, portanto menos efeitos colaterais, como a terfenadina, loratadina, astelnizol, cetirizina, levocabastina, azelastina, epinastína, ebastina, fexofenadina e outros.

Os anti-histamínicos podem ser classificados em dois grandes grupos: os anti-H1 e os anti-H2. Os Anti-H1 possuem radical etilamina em sua constituição e competem com a histamina, bloqueando os receptores H1 encontrados em vasos. Os Anti-H2 possuem núcleo imidazol de sua constituição e bloqueiam os receptores H2 encontrados em células glandulares, competindo com a histamina.

Os anti-histamínicos mais importantes no tratamento da rinite alérgica são os anti-H1, que podem ser divididos em anti-H1 clássicos, de 1° geração ou sedantes, e anti-H1 não-clássicos, de 2° geração ou pouco sedantes, conforme apresentado no Quadro 2. A diferença entre eles reside no fato de os anti-H1 sedantes possuírem uma estrutura química mais simples, serem lipossolúveis, atravessarem a barreira hematoencefálica vindo a provocar sonolência. Isto já ocorre com menor intensidade com os anti-H1 de 2° geração que têm estrutura química mais complexa, atravessam pouco a barreira hematoencefálica provocando menos sono.

Os anti-H1 azelastina e levocabastina são usados na forma tópica no tratamento da rinite alérgica.

Para gestantes e crianças menores, prefere-se usar os anti-Hl clássicos, como a dexclorofeniramina, a meclastina e a hidroxizina. Alguns anti-H1 de 2° geração têm confirmada ação de inibição da expressão de ICAM-1 e com isso importante ação antiinflamatória segundo trabalhos realizados com terfenadina, loratadina, azelastina, cetirizina e fexofenadina.

Para o tratamento da rinite idiopática, têm sido descritos alguns trabalhos associando loratadina e antileucotrienos. Estão sendo feitos alguns estudos para avaliar a ação da cetirizina em crianças com menos de dois anos, com antecedentes familiares de atopia, tentando, assim, de maneira profilática, evitar que elas desenvolvam rinite alérgica e asma brônquica.

Os Quadros 3, 4 e S descrevem os principais anti-H1 clássicos, não-clássicos e não-clássicos de uso tópico, as respectivas apresentações e a posologia.

OUTROS MEDICAMENTOS

Cromoglicato de Sódio

Ele possui unta ação estabilizadora na membrana do mastócito e, conseqüentemente, impede a ação dos mediadores químicos liberados durante a reação alérgica. Um segundo mecanismo seria o aumento da concentração do AMP cíclico (Adenosina Monofosfato) intracelular, o que evitaria a degranulação mastocitária. Este medicamento não teria ação no fenômeno de união do alérgeno à reagina fixa à membrana mastocitária, durante uma exposição alergênica. É condição essencial para que este medicamento seja eficaz, que seja utilizado de forma profilática por um período antes da exposição ao alérgeno; a utilização durante a crise alérgica não alivia os sintomas.

O cromoglicato ele sódio em estudos clínicos demonstrou ser mais efetivo para o alívio dos sintomas de hiper-reatividade brônquica elo que parti a rinite alérgica sazonal.

Pesquisas clínicas em portadores de rinopatia alérgica testando inalação ele placebo e cromoglicato de sódio, em pó ou solução a 2%, em estudos de experimentação duplo-cega demonstraram de forma significante a eficácia na redução dos sintomas em 70% a 80% dos pacientes que utilizaram o cromoglicato de sódio.


QUADRO 2 - PRINCIPAIS EXEMPLOS DE ANTI-H1 E SEUS RESPECTIVOS GRUPOS QUÍMICOS.



A solução de cromoglicato de sódio utilizada nos experimentos foi a 2% e foi administrada 6/dia (5mg em cada aplicação). Entretanto, um estudo comparativo duplo-cego para avaliar a eficácia do valerato de beclometazona, 200 mg/dia e inalação de pó de cromoglicato de sódio 4/dia, em portadores de rinopatia alérgica sazonal, demonstrou de forma significativa melhor eficácia no alívio dos sintomas no grupo tratado com o valerato de beclometazona.

O cromoglicato de sódio está indicado e é eficaz nas rinopatias alérgicas perene, sazonal e ocupacional como terapêutica profilática, nos casos de leve a moderada intensidade dos sintomas.

Brometo de Ipratrópio

Ele possui ação anticolinérgica nas fibras trigeminais secretomotoras, que são estimuladas pelos mediadores químicos liberados pela degranulação dos mastócitos. Sua ação principal é no controle da hidrorréia, na fase tardia da reação alérgica, tendo pouco efeito sobre o restante dos sintomas alérgicos e sobre o olfato.

Estudos clínicos tipo duplo-cego, utilizando placebo e brometro de ipratrópio, 80mg/dia divididos em duas doses diárias, revelaram controle eficaz da hidrorréia após a aplicação do brometo de ipratrópio, o que não ocorreu com o placebo. O brometo de ipratrópio apresenta efeito imediato e perdura por quatro horas; não foram observados efeitos colaterais sistêmicos com esta dosagem da medicação. Tal medicamento está indicado nos casos de rinopatia alérgica em que o sintoma predominante é a hidrorréia; possui ação discreta sobre a obstrução nasal.

Levocabastina

É um agonista H1 e inibidor da ação dos leucotrienos, de ação tópica. É eficaz contra o prurido nasal, a hidrorréia e as crises estemutatórias, com discreta ação sobre a obstrução nasal. Seu efeito inicia cinco minutos após a aplicação, de forma mais rápida que os anti-histamínicos orais. Efeitos colaterais, como sonolência, ocorrem em 11% dos pacientes.

A relação custo/benefício da levocabastina, em relação à redução dos sintomas, não foi demonstrada de forma clara nos estudos realizados até a presente data, principalmente quando comparados com os anti-histamínicos orais.

Sua aplicação duas a três vezes ao dia por sete dias diminui significativamente os sintomas alérgicos nos portadores de rinopatias alérgicas sazonal e ocasional, em que a hidrorréia é o sintoma predominante, com discreta obstrução nasal.


QUADRO 3 - ANTI-H1 CLÁSSICOS.



IMUNOTERAPIA

Imunoterapia com alérgenos é tratamento que pode ser efetivo em pacientes com rinite alérgica. Ela objetiva reduzir o grau de sensibilização é, em conseqüência, a inflamação característica das rinites alérgicas. A sua indicação deve obedecer critérios definidos, como:

 estar fundamentada na comprovação da sensibilização alérgica;

 avaliar a importância da alergia no quadro clínico do paciente;

 disponibilizar o alérgeno sensibilizante para o tratamento.

A comissão de especialistas reunida pela Organização Mundial da Saúde publicou recentemente extenso relatório sobre a imunoterapia com alérgenos. Na rinite alérgica, a sua indicação deve ser considerada quando:

 os anti-histamínicos e a medicação tópica nasal não controlam os sintomas;

 o paciente não deseja permanecer exclusivamente sob farmacoterapia;

 a farmacoterapia produz efeitos indesejáveis;

 o paciente não aceita permanecer sob farmacoterapia a longo prazo.

A impossibilidade do afastamento total do contato com o alérgeno, a intensidade das manifestações clínicas que determinem necessidade de medicação constante e a concordância do paciente em receber imunoterapia são fatores que também devem ser analisados na indicação. A imunoterapia com alérgenos deve ser considerada como parte de um plano de tratamento que inclui medidas de controle ambiental e farmacoterapia.

O controle da exposição a alérgenos é fundamental no manejo paciente alérgico. O uso de fármacos contribui para a diminuição da inflamação, porém é uma medida que não tem capacidade de influir na modificação da resposta imune. A intervenção na resposta imune do paciente atbpico é o ponto de capital interesse da imunoterapia. Estudos controlados demonstram o benefício da imunoterapia na rinite alérgica. Segundo alguns autores, ela poderia prevenir o surgimento de novas sensibilizações e impedir o surgimento de asma em pacientes com rinite alérgica.

Na escolha adequada de alérgenos, o médico deve estar familiarizado com alérgenos relevantes na região e com métodos apropriados de diagnóstico. A escolha do(s) alérgeno(s) para imunoterapia (leve ser baseada na identificação da presença de anticorpos IgE específicos (através de testes cutâneos, preferencialmente) para alérgenos ambientais de importância na região.


QUADRO 4 - ANTI-H1 NÃO-CLÁSSICOS



QUADRO 5 - ANTI-H1 NÃO-CLÁSSICOS USO TÓPICO.



Estudo multicêntrico demonstrou a seguinte distribuição de reações positivas a alérgenos inalantes em 297 crianças brasileiras entre 3 e 16 anos com asma e/ou rinite: Dermatophagoides spp: 65,6%, cão: 19,1%, gato: 9,7%, penas: 5%, fungos: 4,4%, Lolium perene: 2,4%. A importância clínica de determinados alérgenos pode variar de acordo com a região estudada.

Extratos de alérgenos para imunoterapia devem ser purificados, potentes e padronizados. O seu sucesso depende da dose de antígeno utilizada. Maior eficácia é obtida com doses elevadas do antígeno. O incremento das doses deve ser realizado a partir de diluições que não provoquem reação no paciente. O esquema de tratamento deve ser individualizado.

O método mais utilizado de aplicação de imunoterapia é através de injeções subcutâneas. A duração da imunoterapia após a obtenção do máximo efeito clínico ainda não foi estabelecida. Para muitos, deveria ser de três a cinco anos. Outros advogam tempo maior de aplicação. A decisão sobre a duração do tratamento deve ser tomada em bases individuais. O seu benefício deve ser avaliado através de acompanhamento clínico em que seja determinada a qualidade da resposta pela melhora clínica (intensidade e freqüência dos sintomas), diminuição do consumo e/ou necessidade de medicamentos.

Para orientar a aplicação de imunoterapia o médico deve ter capacitação específica. A imunoterapia com alérgenos é acompanhada de riscos. Ao iniciá-la, o paciente deverá ser informado desta possibilidade e o médico estar preparado para tratar reações adversas, que podem ser graves. Reações locais são comuns, podendo ocorrer urticária generalizada. Alguns pacientes apresentam agravamento transitório da manifestação clínica após aplicação do extrato alergênico. Nestas condições, é necessário ajustar a dose de alérgeno empregada. Em pacientes que também sofram de asma, é preciso cautela ainda maior, uma vez que apresentam maior risco de desenvolver reações. Pacientes em crise de asma não devem receber a aplicação. Ela é contra-indicada em pacientes:

 com doença coronariana;

 que utilizam betabloqueadores;

 com alterações básicas do sistema imunológico, tais como: imunodeficiências, doenças auto-imunes, etc.

De forma geral, raramente é indicada no pré-escolar e nos idosos. Não se deve iniciar imunoterapia durante a gravidez. Todavia, mulheres que a estejam recebendo e que venham a engravidar podem continuar o tratamento.

Aderência do paciente é essencial para a aplicação efetiva e segura da imunoterapia. Este é um dos principais obstáculos à instituição de um programa efetivo de imunoterapia. É natural que aplicações subcutâneas por longo período de tempo sejam consideradas inconvenientes por grande número de pacientes. Falta de orientação adequada pode determinar que muitos pacientes a abandonem ao sentirem melhora clínica.

RINITE INFECCIOSA

RINITE INFECCIOSA AGUDA

Viral

- Resfriado

Inicialmente causado por um vírus - rinovírus (50%), coronavírus (20%), parainfuenza, vírus respiratório sincicial e adenovírus (o restante). Ê transmitido por contato pessoal (perdigotos), freqüentemente seguido por contaminação bacteriana secundária inespecífica. Não é comumente acompanhado de febre ou complicações, tem resolução espontânea e o tratamento deve ser sintomático: higiene nasal (lavagens ou gotas com soro), descongestionantes locais (por poucos dias) ou sistêmicos, analgésicos e antitérmicos, quando necessário.

- Gripe-Influenza

Também viral (vírus da influenza), é epidêmica, podendo ocasionar pandemias no nível mundial, tem sintomatologia mais séria e grave que os resfriados, sendo normalmente acompanhada de febre, mal-estar, cefaléia e tende a complicar ou a vir acompanhada de infecções bacterianas, como sinusites, otites, pneumonias, etc. Além do tratamento sintomático, devemos estar preparados para diagnosticar e atuar em possíveis contaminações bacterianas, mormente em crianças e idosos. Como o vírus da influenza (tipo A) sofre freqüentes mutações, as campanhas de vacinação anuais minimizam o problema, mas não conseguem controlá-la completamente. Dada às complicações sérias em idosos, cardiopatas, pncumopatas e aidédicos, estes devem ser vacinados anualmente antes do outono-inverno.

Bacteriana

As contaminações bacterianas nasais são devidas aos seguintes agentes: Staphylococcus aureaua, Sireptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Neisseria meraingilidise bacilos gram-negativos. Não devemos esquecer que o Hoemophilus influenzae também se faz presente e é responsável por várias complicações.

RINITE INFECCIOSA CRÔNICA

Específica

São as decorrentes das chamadas doenças ulcero granulomatosas, com repercussão no nível elo nariz. No nosso meio, a leishmaniose e a hanseníase são muito comuns e, mais raramente, a rinosclerose (esclerose) e a rinosporidiose. Devemos lembrar que a blastomicose sulamericana (paracoccidiomicose) pode comprometer a pele do vestíbulo nasal, mas raramente afeta sua mucosa. Muito raro também é o comprometimento do nariz pela tuberculose.

Atualmente, devemos estar atentos para os comprometimentos crônicos e incomuns do nariz, pois podem ser associados a imunodeficiências.

Inespecífica

Rara, se entendida como rinite pura, pois normalmente é associada a um quadro sinusal, definindo uiva rinossinusite e devendo ser tratada como tal.

Quando ocorre, devemos ter em conta doenças como a Síndrome da Discinesia Ciliar (infertilidade, sinusite, bronquite, situs inverso em 50% dos casos), Síndrome de Young ou do muco viscoso, com quadro clínico semelhante da Síndrome da Discinesia Ciliar, mas com cílio normal e fertilidade preservada, ou a Fibrose Cística, onde 1/3 das crianças tem sintoma nasal e 10% apresentam polipose. Estas doenças apresentam-se com quadro mais geral e são raras. Malformações ou corpos estranhos também podem mimetizar uma rinite infecciosa crônica.

OUTRAS RINITES

As rinites não alérgicas constituem um tipo de rinite que pode apresentar a mesma sintomatologia da rinite alérgica: espirros, coriza, prurido e obstrução nasal, porém não são mediadas pela IgE.

RINITEIDIOPÁTICA

Esta denominação parece ser mais adequada do que "rinite vasomotora" devido aos fatores desencadeantes deste tipo de rinite serem inespecíficos e seu mecanismo de ação desconhecido.


QUADRO 6 - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS RINITES.



A rinite idiopática é caracterizada por obstrução nasal, gotejamento nasal posterior e rinorréia profusa. Normalmente espirros e prurido nasal não estão presentes.

Tanto a história familiar para alergia como os testes alérgicos são negativos. A dosagem de IgE é normal e o citograma nasal mostra pouco ou nenhum eosinófilo.

Odores fortes - como perfume, cloro, solventes - ou irritantes - como fumaça de cigarro, poeira, alterações da temperatura e umidade ambiental - podem funcionar como gatilho para desestabilizar o sistema nervoso autônomo, levando a uma "hiperreatividade da mucosa nasal".

O tratamento é feito com corticóide tópico nasal. Em casos mais severos de obstrução nasal, um período curto de corticóide oral pode ser necessário para uma descongestão nasal e depois o tratamento pode ser mantido com corticóide tópico nasal e anticolinérgicos.
O principal objetivo do corticóide tópico nasal é melhorar a obstrução nasal e, secundariamente, a rinorréia e o gotejamento nasal posterior.

RINITE EOSINOFÍLICA NÃO-ALÉRGICA (RENA)

Acomete normalmente indivíduos acima dos 20-30 anos, que apresentam sintomas perenes de espirros paroxísticos, rinorréia aquosa e prurido nasal, que se agravam pela manhã e melhoram no final do dia.

A rinite eosinofílica não-alérgica é de etiologia desconhecida e intermitente. Caracteriza-se pela eosinofilia nasal ser induzida por irritantes inespecíficos, com testes alérgicos cutâneos e níveis de IgE normais.

Aproximadamente 30% dos pacientes com rinite eosinofílica não-alérgica são portadores de pólipos nasais e em alguns casos podem representar um estágio inicial de idiossincrasia em relação á aspirina.

O tratamento baseia-se na remoção dos agentes irritantes da mucosa nasal, remoção cirúrgica dos pólipos nasais e corticóides tópicos nasais; evitar o uso de ácido acetilsalicílico e antiinflamatório não-hormonais (Quadro 6).

RINITE-HORMONAL

Este tipo de rinite pode acorrer na gravidez, menstruação, com o uso de contraceptivos orais, hipotireoidismo e acromegalias. Durante a gestação, ocorrem várias alterações hormonais e sangüíneas que podem influenciar a congestão nasal. A progesterona relaxa a musculatura lisa dos vasos nasais elevando o volume sangüíneo e o estrógeno, eleva o componente do ácido hialurônico e inibe a acetilcolinesterase, provocando um predomínio do SNA parassimpático na submucosa nasal, causando hidratação tissular e edema da mucosa nasal.

A rinite da gravidez é caracterizada por congestão nasal sem espirros, prurido ou rinorréia e ocorre mais comunente durante o segundo e terceiro trimestres gestacionais.

Embora deva existir um diálogo com o médico obstetra da paciente, o uso adequado do corticóide, particularmente o tópico intranasal, ele pouca absorção, parece ser um método seguro de tratamento. Pode ser também utilizado anti-histainínico, cromoglicato de sódio e vasoconstrictores sistêmicos, como a pseudoefedrina por períodos curtos, em virtude de possíveis efeitos sobre a vascularização placentária.

O hipotireoidismo induz a liberação do hormônio tireotrófico, que estimula a produção do ácido Imucopolssacarídeo, com aumento da turgicidade e edema das conchas nasais, congestão do tecido subcutâneo, hipertrofia de glândulas mucosas e conseqüente obstrução nasal.

RINITEINDUZIDA POR DROGAS

Ela representa 5% de todas as rinites crônicas e é caracterizada por uma congestão nasal rebote com edema, vermelhidão, engurgitamento e uma mucosa nasal friável. Este é o efeito final do uso prolongado de vasoconstritores nasais tópicos ou por drogas sistêmicas, especialmente os anti-hipertensivos, como: reserpina, guanitidina, fentolamina, metildopa, inibidores da ECA, prazosina e betabloqueadores, e ainda por outras drogas, como: aspirina, antiinflamatórios não-hormonais, betabloqueadores oftálmicos de uso tópico e clorpromazina, além dos contraceptivos orais e drogas por aspiração, como a cocaína.

Classicamente, a rinite medicamentosa deve-se ao uso abusivo e prolongado de vasoconstritores tópicos nasais, levando a um efeito rebote de vasodilatação que pode se tornar permanente devido à atonia vascular.

No tratamento da rinite medicamentosa por uso de vasoconstrictores tópicos nasais, deve-se investigar e tratar a causa que levou o paciente a fazer uso prolongado do fármaco, como as alterações anatômicas nasais. Na primeira instância, deve-se suspender o descongestionante tópico, fazer lavagens salinas nasais e usar corticóides sistêmicos e/ou tópicos e descongestionantes sistêmicos. Se as alterações forem de caráter permanente, a cirurgia de conchas nasais inferiores deve ser empregadas.

RINÍTES POR AGENTES IRRITANTES

Os sintomas deste tipo de rinite podem ser desencadeados pela inalação de diversos produtos químicos e gases, partículas de óleo diesel, drogas, fatores físicos, como ar muito frio ou seco e exposição à luz excessiva. Quando tal reação ocorre em ambientes de trabalho, configura-se a rinite ocupacional.

Os agentes irritantes agem diretamente sobre as terminações nervosas da mucosa, provocando mecanismos reflexos, ou também vasodilatação intensa com transudação de líquido, através do sistema nervoso autônomo parassimpático. Isto leva à obstrução nasal, rinorréia aquosa e espirros, que variam conforme o tipo e a concentração dos produtos inalados. Dependendo da substância, poderá haver degranulação de mastócitos por mecanismo imunológico ou não.

A rinite provocada ou piorada por poluição incide cada vez mais nos centros urbanos com grande número de indústrias e veículos automotores. Os principais determinantes destes quadros são denominados poluentes extradomiciliares: monóxido e dióxido de carbono, compostos de enxofre, de nitrogênio, compostos orgânicos, compostos alogenados, material particulado e ozônio. Partículas de óleo diesel levam à reação inflamatória crônica. Por serem irritantes de toda a mucosa respiratória, agravam doenças respiratórias das vias aéreas, contribuem para o aparecimento de novos problemas (se houver predisposição), por seu efeito cancerígeno ou mesmo alergenico. Tais poluentes podem causar danos à mucosa respiratória, mesmo quando seus níveis em suspensão no ar estiverem dentro do que se considera aceitável. Estas rinites pioram nos períodos de inversão térmica.

A poluição intradomiciliar é também fator associado a rinites. A "Síndrome do Edifício Enfermo" abrange uma grande variedade de sintomas respiratórios relacionados á inadequação dos sistemas internos de condicionamento e circulação do ar nos edifícios, entre outros poluentes intradomiciliares, a fumaça de cigarro destaca-se como um problema mundial de saúde pública, com efeitos carcinogênicos e irritantes para fumantes ativos e passivos. A irritação da mucosa resulta em produção excessiva de muco, espessamento do revestimento epitelial, diminuição da freqüência do batimento ciliar; retenção de secreção com os poluentes nela contidos, além da reconhecida predisposição às infecções recorrentes (rinossinusites, otites).

O diagnóstico se faz pela história, e não raro há dificuldade em se identificar o agente causal. Na rinoscopia anterior, o achado é a importante congestão da mucosa, principalmente das conchas inferiores, com rinorréia intensa.

O tratamento visa afastar o indivíduo preventivamente das áreas poluídas e do contato com as substâncias irritantes. Podem ser usados medicamentos sintomáticos por via tópica ou sistêmica. Medidas que visam controlar fontes poluentes devem ser tomadas pelos órgãos governamentais competentes, com a colaboração da sociedade envolvida.

 

 

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