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Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL:
Vol.69 ed.6 de Novembro-Dezembro em 2003 (da página 22 à 24)
Autor: DR. OSWALDO LAÉRCIO CRUZ
Entrevista
DR. Moisés ARRIAGA
O médico norte-americano Moises Arriaga acredita que a Otologia passa por um momento muito especial, assinalando para uma evolução "extraordinária", principalmente no tocante à perda auditiva, bem como nas doenças vestibulares. Durante a entrevista cedida ao otorrinolaringologista Oswaldo Laércio Cruz, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Otologia, Arriaga disse que achou o Congresso Triológico bastante atual.
Laércio: Nos últimos anos, os procedimentos cirúrgicos ligados às infecções crônicas vêm declinando, mesmo nos países em desenvolvimento. A eficiência dos tratamentos clínicos aumentou significativamente em relação às doenças infecciosas. Isto fez com que algumas pessoas dissessem que a Otologia estava agonizante. Como o senhor vê a Otologia neste início de século?
Arriaga: Acho que esta é uma época das mais excitantes da Otologia. Vamos presenciar progressos jamais vistos em um futuro próximo, tanto em relação à perda auditiva quanto às doenças vestibulares, incluindo o avanço com as próteses implantáveis auditivas e mesmo próteses vestibulares.
Volto a dizer, esta é uma época extraordinária para a Otologia. Mesmo a preocupação com o declínio das doenças infecciosas crônicas, um paralelo pode ser traçado com o que aconteceu com a Odontologia: os dentistas não fecharam seus consultórios quando o flúor começou a ser utilizado sistematicamente como prevenção às cáries. Acredito que a experiência adquirida com a cirurgia da doença crônica é a nossa linha de base, foi onde nós iniciamos, e esses pacientes ainda continuarão a existir, os colesteatomas também permanecerão, não importa quão eficiente sejam os antibióticos.
Ainda, há um via inteiramente nova em relação aos tratamentos da tuba auditiva, inclusive tratamento cirúrgico, com novas estratégias que se cruzam com a Rinologia. Em relação à orelha média, temos todas as novas próteses, novos materiais para essas próteses, avaliando como funcionam e como são tolerados pelo nosso organismo. Entre outras coisas, isto permitirá uma cirurgia do estribo ainda mais segura. O uso de materiais biocompatíveis, como hidroxiapatita e cimentos biológicos, proporciona nova capacitação na cirurgia reconstrutiva da orelha média, e mesmo na cirurgia dos tumores.
No que diz respeito aos implantes cocleares, o aperfeiçoamento das próteses permitirá a sua utilização não apenas em perdas profundas, mas também em perdas moderadas ou perdas unilaterais. A mais recente categoria de próteses implantáveis, as próteses de orelha média, têm a perspectiva de se constituírem, na nossa geração, em algo parecido com cirurgia da otosclerose para a geração anterior.
Assim, eu vejo um futuro muito promissor para a Otologia, e de maneira nenhuma penso que ela esteja em declínio, e muito menos morrendo.
Laércio: Em relação à pesquisa básica, o senhor acredita que a fisiologia dos sistemas sensoriais da orelha interna deva ser a linha principal?
Arriaga: É muito difícil prever o que será interessante conhecer no futuro. Acho importante que prossigamos pesquisando a fisiologia do sistema auditivo e vestibular, mas os conhecimentos em genética e a manipulação genética também deverão acontecer em dimensão importante. Mas, de qualquer forma, é difícil prever porque as grandes descobertas às vezes acontecem por puro acaso. Assim, a pesquisa básica deve ter amplos horizontes e não limitar o seu foco.
Laércio: O senhor comentou a respeito da cirurgia da tuba auditiva. O senhor tem realizado este tipo de procedimento atualmente?
Arriaga: Essas cirurgias estão em fase investigativa e eu não as realizo em bases rotineiras. Existe um histórico ruim, como você sabe, a respeito desses procedimentos, catástrofes com a injeção de teflon e outros materiais. Assim, devemos manter cautela antes de nos lançarmos neste novo campo, avaliando bem seus efeitos. Os jovens cirurgiões devem ter cautela ao interpretar os artigos muito otimistas que vêm sendo publicados, e devem também conhecer profundamente a anatomia da região antes de qualquer coisa. Acho que, no futuro, haverá uma padronização adequada e eficiente para a cirurgia da disfunção crônica da tuba auditiva.
Laércio: Finalmente, gostaria de perguntar sua opinião a respeito das próteses implantáveis como o BAHA (boné anchored hearing amplification).
Arriaga: Eu penso que Baha é uma arma bastante eficiente e que deverá ser utilizada em diversas situações como malformações, perdas sensoriais unilaterais para estimulação contra-lateral etc. As outras próteses de orelha média também deverão promover uma revolução bastante interessante na reabilitação da perda auditiva sensório-neural.
Laércio: O que o senhor achou do nosso congresso?
Arriaga: Achei o encontro excepcional, com um grande número de informações e muito atual. Eu fiquei muito satisfeito por ter vindo.
DR. MOISES ARRIAGADA - DIRETOR DO HEARING AND BALANCE CENTER, PITTSBURGH EAR ASSOCIATES E ALLEGHENY GENERAL HOSPITAL.
DR. OSWALDO LAÉRCIO CRUZ - PROFESSOR LIVRE DOCENTE EM OTORRINOLARINGOLOGIA PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E PROFESSOR CONVIDADO DO DEPARTAMENTO DE OTORRINOLARINGOLOGIA DA EPM-UNIFESP.