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Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL:
Vol.69 ed.6 de Novembro-Dezembro em 2003 (da página 19 à 21)
Autor: DR. WASHINGTON LUIZ CERQUEIRA DE ALMEIDA
Entrevista
Dr. Nikhil Bhatt
Entrevistado por Washington Luiz Cerqueira de Almeida, Nikhil Bhatt fala sobre a sua conduta em procedimentos cirúrgicos envolvendo crianças. Para ele, o conhecimento científico e tecnológico está selecionando melhor as crianças que realmente precisam passar por cirurgia.
Washington Almeida - Qual o seu conceito sobre a cirurgia endoscópica em crianças? Está aumentando ou diminuindo no mundo?
A cirurgia endoscópica está se tornando cada vez mais escassa, pelos menos nos Estados Unidos. Eu não saberia dizer o que está acontecendo no Brasil. Mas os brasileiros são excelentes cirurgiões, e todos estão fazendo maravilhosas cirurgias. Vocês têm habilidade e equipamentos. Via de regra, a cirurgia endoscópica iniciou-se em 1986-1987, e era mais agressiva, pois ninguém claramente definia seus parâmetros, os casos que deveriam ou não ser operados. O conceito moderno da cirurgia endoscópica é mais conservador, relaciona-se com o que estamos encontrando no interior do nariz, o que estamos entendendo do fenômeno obstrutivo. Estamos mais perto de identificar as verdadeiras origens, que estão por trás das causas: as alergias, as desordens imunológicas, os fenômenos obstrutivos. Desta forma, estamos selecionando melhor, as crianças que devem ser operadas.
Inicialmente, a cirurgia era realizada em maior escala, pois não tínhamos claros conceitos. Agora, estamos tomando mais cuidado com as crianças.
Washington Almeida - Em sua conferência, o senhor disse que não faz turbinectomia ou turbinoplastia em crianças. O senhor é contra a cirurgia dos cornetos em crianças?
A cirurgia de cornetos inferiores. Quando olhamos para a cirurgia de cornetos, observamos que ela é realizada mais no corneto inferior do que no corneto médio. Pessoalmente, acho que o meato-médio, escondido pelo corneto médio, é que está relacionado com a gênese da sinusite, não o corneto inferior.
Washington Almeida - Mas não estamos nos referindo a rinossinusite, mas sim à questão obstrutiva. Em crianças, temos mais problemas alérgicos, hipertrofia de cornetos inferiores. Como o senhor aborda estes cornetos inferiores hipertróficos? O senhor utiliza laser em crianças?
Em raras situações, eu realmente enfrento um grande dilema em crianças. Mas tenho também praticado o manejo das alergias nos últimos 25 anos. Eu avalio e conduzo meus pacientes alérgicos. Primeiro trato o quadro alérgico de meus pacientes, diminuindo o quadro obstrutivo, a hipertrofia adenoideana. Se não há doença sinusal, não interfiro nos cornetos.
A única exceção é quando o paciente apresenta obstrução septal de um lado, e você quer corrigir o septo, colocando-o na linha média. Nestes casos, eu faço também a cirurgia dos cornetos, mas na submucosa, uma turbinectomia mínima, do lado do problema e apenas para evitar a obstrução. Contudo, a cirurgia no septo é realizada em pouquíssimos casos.
Washington Almeida - Em relação à cirurgia de septo em crianças, em que idade o senhor começa a realizar septoplastia? Se o senhor tem um paciente de dois anos de idade com obstrução unilateral, obstrução total, o senhor realiza a cirurgia nesta idade?
Sim, por que não? É como um caso de atresia de coam, se você diagnostica que o paciente tem atresia de coam, você vai operá-lo. Se a criança tem um ou dois anos e o problema é unilateral, eu aguardaria um pouco mais. A não ser que os seios paranasais estivessem totalmente obliterados daquele lado, que eu suspeitasse de fenômeno obstrutivo. Mas se os seios estiverem pneumatizados, desenvolvendo-se normalmente, eu deixaria a criança atingir cinco, seis, sete anos para realizar a cirurgia. Pois o conceito que existe em relação à cirurgia de atresia de coana unilateral é o mesmo. Se o problema é bilateral, então operamos logo após os recém-nascidos.
Washington Almeida - O senhor não acha que se realizarmos a cirurgia em recém-nascidos, no primeiro mês de vida, existirá uma maior recorrência do problema?
Depende da criança e de seus problemas associados. Se a criança é saudável, com um bom desenvolvimento, em geral evolui de maneira satisfatória. É um procedimento fácil de ser realizado com laser. Mas é claro que podem se fazer com outros instrumentos, com o microdebridador, por exemplo.
Washington Almeida - Nestes casos o senhor utiliza o stent?
Sim, na maioria dos casos deixo o stent por seis a oito semanas. Coloco os tubinhos no nariz e deixo.
Washington Almeida - O senhor realiza os flaps na região septal posterior, ou prefere realizar uma grande perfuração posterior, utilizando-se do laser ou do microdebridador? O senhor retira a porção septal posterior e faz flap?
Não nesta idade. Se existe uma recidiva, o fechamento da perfuração posterior, realizo a técnica do flap numa segunda cirurgia, na primeira abordagem não.
DR. NIKHILL BHATT - PROF. DO DEPARTAMENTO DE OTORRINOLARINGOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE ILLINOIS, EM CHICAGO - EUA.
DR. WASHINGTON LUIZ CERQUEIRA DE ALMEIDA - CHEFE DO DEPTO DE OTORRINOLARINGOLOGIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE FEIRA DE SANTANA - BAHIA, DOUTOR EM OTORRINOLARINGOLOGIA PELA FACULDADE DE MEDICINA NA USP.