Caderno de Debates (Suplementos)

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Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL:

Vol.69 ed.4 de Julho-Agosto em 2003 (da página 23 à 34)

Autor: Dr. Sady Selaimen da Costa

Entrevista

 Entrevista com candidatos à sucessão presidencial da Sociedade Brasileira de Otologia


DR. SADY SELAIMEN DA COSTA


1 - Do ponto de vista científico acadêmico, por que o senhor se lançou candidato à presidência da SOB?

Primeiramente, em meu nome e de todos os integrantes e simpatizantes da chapa Otologia: Trabalho e Futuro, gostaria de exaltar e agradecer a oportunidade e o espaço que o Caderno de Debates da nossa revista está abrindo para a discussão e aprofundamento da plataforma da nossa candidatura. Da mesma forma, cumprimento aos leitores e editores desta revista que, pela sua densidade científica, hoje é um dos tantos motivos de orgulho da otorrinolaringologia brasileira. Quero, especialmente, estender meus cumprimentos ao Marcelo e demais dignos colegas da outra chapa, reiterando que, seja qual for o resultado da eleição, em uma disputa desse nível não há vencidos ou vencedores, mas o engrandecimento da nossa sociedade.

Temos sido testemunhas privilegiadas do enorme crescimento da otorrinolaringologia nestas últimas duas décadas. Esta verdadeira revolução verificada no campo dos conceitos, dos recursos tecnológicos a nas ações terapêuticas catapultou esta ciência a patamares talvez nunca sonhados por seus pioneiros. Hoje a otorrinolaringologia, em constante expansão, lança pseudópodos em direção às mais variadas áreas do conhecimento médico. É notória a nossa capacidade atual de circular com desenvoltura em áreas tão outrora distantes como a neurologia, neurocirurgia, genética e clínica médica. De fato, a otorrinolaringologia contemporânea emerge no século XXI como uma ciência consolidada, reconhecida e pluripotencial.

Ainda que todo este crescimento tenha sido uma legítima construção coletiva, a otologia merece um destaque especial por ter, de certa maneira, historicamente capitaneado este processo. A introdução e popularização das técnicas microcirúrgicas, o microscópio operatório, as brocas de alta rotação, a liderança na pesquisa experimental da orelha interna (que rendeu os dois prêmios Nobel da especialidade), os implantes cocleares, a pavimentação do caminho à cirurgia da base do crânio entre outras tantas conquistas conferem à otologia uma posição maiúscula e de ponta-de-lança dentro da otorrinolaringologia.

Curiosamente, mesmo após estas monumentais conquistas, o seu atual estágio tem sido (mal) interpretado, insinuando-se sinais de decadência ou diminuição do seu próprio horizonte. Tal suposição é inverídica e totalmente descabida de qualquer sentido ou embasamento técnico-científico. Para provar tal equívoco, basta folhear qualquer grande revista da nossa especialidade (inclusive esta) para constatar que os temas relacionados à otologia ainda ocupam a maior parte do seu conteúdo. Da mesma forma, uma rápida consulta ao index médico, à procura de artigos publicados nos últimos cinco anos tendo como palavras-chave otologia, ouvido e audição resulta em impressionantes 30.000 entradas!!! Da mesma forma, em relação ao meio acadêmico, uma vez mais, a influência da otologia é enorme, sendo responsável por 50% das teses apresentadas em todos os programas de pós-graduação nacionais (segundo levantamento do editor da RBO, Dr. Henrique Olival, publicado no Caderno de Debates do mês de maio de 2003).

Assim, o que poder-se-ia tratar de uma crise de identidade ou mercadológica da otologia, é apenas o reflexo de algumas singularidades próprias da otorrinolaringologia atual associadas à evolução extemporânea das outras sub-especialidades.

Timos a firme convicção de que a Otologia vive um rico momento de transição, preparando-se para, novamente, apontar o caminho a seguir, que provavelmente será o da terapia baseada na ação molecular e genética.

A fim de discorrer sobre estas mudanças, um grupo de profissionais identificados com a otologia e afinados científica e filosoficamente vem se reunindo informalmente há mais de três anos. Lima análise mais atenta do histórico das ações deste grupo, revelará que, não de hoje, ele está engajado em uma campanha de valorização da otologia. A publicação de inúmeras teses e trabalhos científicos no país e exterior, a edição de três livros (entre eles o tratado de otologia clínica e cirúrgica mais completo do país), o lançamento do NOA (núcleo de otologia avançada), os incontáveis cursos de dislecção do osso temporal organizados pelo Laércio, que cruzaram este país de norte a sul, a defesa apaixonada da eletrofisiologia da audição pelo Luis Carlos, o monumental trabalho do Orozimbo com os implantes cocleares, são alguns exemplos deste comprometimento e, por que não, desta paixão pela otologia.

Assim, a idéia da apresentação de uma chapa para concorrer à direção da Sociedade Brasileira de Otologia nasceu como uma decorrência natural destes encontros com o objetivo precípuo de discutir a otologia com todo o cuidado, a profundidade e abrangência que ela assim exige e merece. Nosso compromisso firmado é o de difundir todo este monumental avanço da Otologia moderna a todos os colegas interessados em nosso país. Nosso grupo compõe-se de colegas sabidamente identificados com a otologia e que participam ativamente do seu progresso. Além disto, esta equipe mescla colegas de maior experiência com novas lideranças e jovens pesquisadores, procurando, desta maneira, proporcionar o impulso modernizador que sempre caracterizou a Otologia Brasileira. Sinto-me honrado em ter sido indicado o líder desse grupo. Isto aumenta a nossa responsabilidade mas, ao mesmo tempo, torna mais fácil a nossa tarefa.

2 - Quais serão as principais diretrizes científicas de sua administração à frente da Sociedade Brasileira de Otologia?

o Promover um amplo debate com o objetivo de elaborar um programa de ensino básico em otologia no país (realista e coerente com as nossas necessidades) e ao mesmo tempo mapear as atuais condições oferecidas para o seu aprendizado nos serviços de residência médica reconhecidos pela SBORL.

o Comparar o programa idealizado pela SBO/ SBORL com as atuais condições de ensino da otologia no Brasil traçando um inventário técnico-científico da realidade nacional e, durante este processo, identificar possíveis carências e desvios de rota.

o Criar um projeto de qualificação do ensino da otologia (PQEO) em âmbito acadêmico (serviços de residência médica) e assistencial (sociedades afiliadas) a fim de minimizar diferenças regionais e harmonizar programas de treinamento em otologia. A criação do PQEO visa fundamentalmente a difusão do conhecimento através de uma série de atividades-vetores que serão detalhadas a seguir.

o Outorgar poderes às diversas comissões para que trabalhem com liberdade em busca dos interesses maiores da sociedade, definindo critérios rígidos e inflexíveis para concessão de benefícios ou respaldos técnicos, científicos, sociais ou jurídicos da SBO.

o Fiscalizar e monitorar os programas que envolvam políticas de saúde públicas e%u recursos do erário nacional.

o Juntamente com as outras sociedades, pressionar constantemente órgãos públicos e entidades privadas a fim de que estes ofereçam melhores condições à prática da otologia e da medicina como um todo.

o Austeridade financeira, e rígido controle fiscal. Achamos que a SBO pode atuar como uma agência de fomento científico, financiando a alavancagem inicial de alguns eventos notoriamente relevantes. O montante emprestado deverá retornar integralmente à tesouraria da sociedade acrescido de juros contratualmente acertados. Estes contratos, assim como os respectivos balanços, deverão ser de domínio público, podendo ser acessados pelos sócios não envolvidos na negociação.

o Manter ou ampliar todas as iniciativas das diretorias anteriores que provaram-se efetivas como a campanha nacional da surdez: Quem ouve bem, aprende melhor!

o Estimular as comissões de assuntos que envolvam a saúde pública a interagir plenamente com os órgãos competentes exigindo firmemente a aplicação de políticas defendidas pela sociedade.

o Defender o ato médico e a atuação médica em todos os níveis.

o Traduzir todos estes projetos em ações que melhorem a qualidade de vida dos nossos pacientes orientando, curando ou, pelo menos, confortando-os.

3 - E qual estratégia o senhor vai adotar para atingir esses objetivos?

Como o senhor pretende estimular o intercâmbio de informações e a troca de experiências entre os otologistas brasileiros?

Com os avanços tecnológicos verificados nestes últimos anos, a palavra intercâmbio foi completamente rotinizada. A Internet nos permite acessar informações em tempo real no mundo inteiro. Quando em 1988-89, eu fazia meu fellowship em Minneapolis com o professor Paparella, me lembro de aguardar ansioso junto à caixa do correio notícias do Brasil que levavam duas / três semanas para chegar. Hoje o serviço e a rotina do Professor e dos grandes serviços do mundo estão a um clique do meu mouse. Portanto, havendo boa vontade, o intercâmbio é realizado naturalmente não havendo necessidade de uma política institucional para incentivá-lo. Ainda assim, sim, temos projetos que detalharemos a seguir:

1. Elaboração de um programa de educação médica continuada com cursos satélites nas cinco regiões do país. A organização e logística destes eventos ficarão a cargo dos serviços ou das regionais. A intermediação com a SBO necessariamente transitará pela respectiva vice-presidência regional. À SBO caberá a elaboração do programa e a designação do corpo docente.

2. Para cumprir tal compromisso, a SOB pretende recrutar junto aos sócios equipes de orientação permanente em pelo menos sete áreas: (1) Anatomia cirúrgica e dissecção do osso temporal (2) Doenças inflamatórias da orelha média; (3) Audiologia clínica e Eletrofisiologia da audição; (4) Avanços no diagnóstico e tratamento da surdez sensório-neural; (5) Distúrbios do equilíbrio e reabilitação labiríntica; (6) AASI e Implantes cocleares (7) Nervo facial e cirurgia da base do crânio. Estes sete grande módulos serão coordenados por profissionais que realmente ocupam-se destas áreas tanto em nível assistencial quanto acadêmico. A abordagem dos assuntos deverá ser realizada de uma maneira pontual, completa e com graus de profundidade e complexidade crescentes.

3. Em parceria com a SBORL, promover o intercâmbio de médicos-residentes entre serviços de diferentes vocações e estimular junto aos serviços de ponta a abertura de estágios não-remunerados a qualquer sócio da SBORL que deseje atualizar-se ou refinar-se profissionalmente.

4. Transferir know-how entre serviços e regiões através da seleção, recrutamento e co-financiamento de professores-visitantes.

5. Estimular junto à SBORL a criação de grupos de estudos permanentes em tópicos específicos da especialidade a fim de sugerir diretrizes e reorientar condutas.

6. Organizar e supervisionar rigidamente o calendário de eventos da otologia, evitando sobreposições e repetições desnecessárias. Descentralizar a agenda de eventos, prestigiando todas as cinco regiões geográficas do país.

7. Dar continuidade às mudanças profundas no perfil do Congresso Triológico: Desestimular a apresentação de tópicos baseados em experiência pessoal empírica (como eu faço) para um modelo mais científico (baseado em evidências). Enxugar a lista de assuntos (politemático para oligotemático) e diminuir o número de apresentações simultâneas (pulverizado para concentrado em poucas salas). Estimular a apresentação de teses e trabalhos científicos (papers).

8. Transformar o site da sociedade em um fórum de debates científicos e profissionais permanente. Disponibilizar aos sócios protocolos de pesquisa simples e possíveis de serem seguidos mesmo em ambientes não-acadêmicos.

9. Orientar linhas de pesquisa nacionais para estudos multicêntricos que definam o perfil das doenças e sugiram condutas em nosso meio e criar um núcleo de orientação metodológico para auxiliar a preparação de trabalhos científicos. Já conversamos com o Marcelo Hueb, o Otávio Piltcher, o Zé Lubianca e o Henrique Olival para organizarem e, se possível, tocarem este projeto.

10. Criar uma ouvidoria própria da Sociedade de Otologia para elucidação de dúvidas e condutas no dia-a-dia dos colegas em todo o Brasil. Aliás, em se tratando de uma sociedade de otologia nada mais apropriado que a criação de uma "ouvidoria"!! O colega Edson Bastos, da Bahia, está engajado na concepção deste projeto.

11. Formatar e sugerir às disciplinas de graduação um currículo de otologia mínimo e sintonizado com as necessidades do médico generalista.

O senhor pretende criar um programa de incentivo para aproximar a SBO dos jovens profissionais?

Todos os projetos detalhados acima visam naturalmente estimular o interesse dos jovens pela otologia e aproximá-los da sociedade. Esta aproximação é fundamental para a nossa sobrevivência ou, em outras palavras, para manter a "chama acesa". É bem verdade que a diminuição do número de cirurgias para a infecção crônica do ouvido e a pulverização do represamento de casos de otoesclerose, levaram alguns desinformados a afirmar que a otologia estaria agonizante e prestes a morrer. Esta visão caolha encarava a otologia por apenas uma de suas facetas: a patologia inflamatória cirúrgica. Com isso, houve uma migração natural de jovens para a rinologia e laringologia. Nossa intenção é mostrar que as reconstruções das malformações da orelha externa e média, incluindo a plástica do pavilhão, são tarefas da otologia. A reabilitação das deficiências auditivas através das próteses implantáveis (implante coclear e próteses implantadas em osso - BAHA), além do conhecimento e intervenção clínica nas doenças da orelha interna, incluindo a terapia transtimpânica, são também atribuições da otologia moderna. Como já nos referimos anteriormente, a otoneurologia, o entendimento da fisiopatologia e terapêutica do zumbido, a otimização e popularização dos aparelhos de amplificação sonora, a biologia tumoral, a base do crânio, enfim, uma série de oportunidades aguardam o jovem otologista. Se após todo este universo de possibilidades, alguém ousar mencionar que a otologia morreu: que viva a otologia!

A criação de um comitê específico para tratar deste assunto faz parte da nossa pauta de ações. Temos excelentes jovens otologistas que despontam como novas lideranças. O trabalho desenvolvido por estes jovens deve ser exaltado e difundo, criando o que costumo chamar de referências. Estas referências funcionam como verdadeiras iscas, atraindo outros jovens para a prática desta fascinante ciência.

Finalmente, muitos de nós somos professores universitários e partilhamos a convicção de que o convívio diário com jovens médicos, cheios de energia, idéias e mentes inquisitivas é um energizante para as nossas carreiras. Um elixir que nos mantém em forma, balança convicções, chacoalha a preguiça mental e espanta ufanismos descabidos. Uma força pontiaguda que periodicamente alfineta nossos egos insistindo em revelar o óbvio, ou seja, que trilhamos todos um mesmo caminho e a nossa única vantagem é ter iniciado nesta jornada há um pouco mais de tempo.

4 - Como o senhor avalia o atual estágio da Otologia brasileira?

Não somente a otologia, mas a otorrinolaringologia brasileira como um todo está vivendo uma fase de luxo. O monumental trabalho desenvolvido por colegas brasileiros tornou a nossa rinologia, a laringologia e, também, a otologia em referências mundiais. A olhos vistos, a otorrinolaringologia deste país cresceu. E com ela cresceram e amadureceram aqueles que se dedicam à sua prática, como especialistas. Ao se tornar mais científica, refina-se pela eficiência, aprimora-se pela riqueza de recursos e se faz mais corajosa para enfrentar desafios maiores do que aqueles exigidos pela simples rotina. Processos dessa natureza, todavia, não se produzem num dia, num único mês ou ano. Antes, demandam décadas de trabalho, esforço e dedicação. Este salto de qualidade somente foi possível graças ao trabalho de pioneiros da otorrinolaringologia brasileira da estatura de um Ivo Kuhl, de um Hélio Hungria, de um Rudolf Lang, entre inúmeros outros. Para nosso futuro ser ainda mais promissor não podemos perder, em nenhum momento, a dimensão histórica de nossos antecessores e a noção de que, se habitamos hoje os mais altos patamares técnico-científicos, é porque tivemos a felicidade de apoiarmo-nos em ombros de gigantes. Estas conquistas não devem, entretanto, nos ufanar. Acho que a pesquisa básica em otologia ainda é tímida. Temos de seguir o exemplo de Ribeirão Preto e desencadear um processo nacional de estímulo e fomento a pesquisas básicas na especialidade. Neste sentido, sou um entusiasta da pesquisa interdisciplinar. Nossos programas de pós-graduação devem acolher anatomistas, fisiologistas, geneticistas, bioquímicos, enfim, profissionais que analisam um mesmo problema sobre diferentes perspectivas. Acredito que, somente fincando estacas profundas no solo dos fundamentos e das ciências básicas, poderemos edificar construções pomposas, estáveis e duradouras ou, em outras palavras, nosso patrimônio científico.

5 - E qual a projeção o senhor faria para o futuro da especialidade?

Nossa vocação cirúrgica histórica não será abandonada, porém o nosso próprio sucesso encarregar-se-á de tornar obsoletos os procedimentos que caracterizaram a chamada fase áurea desta sub-especialidade. Novamente, este, fato não deve ser traduzido como o epílogo da otologia cirúrgica. Muito antes pelo contrário. Os nossos desafios atuais são mais complexos e formidáveis, incluindo-se aí a otoneurologia cirúrgica, a cirurgia da base do crânio, as próteses implantáveis e a atuação precoce dentro do continuum das otites médias. Por outro lado, a clínica otológica não é menos promissora. A fisiopatologia labiríntica, a farmacologia do zumbido, a ultra-estrutura coclear e, principalmente a genética aplicada no estudo da surdez são capítulos a serem completamente desvendados.

5.1.Qual política o senhor pretende adotar para investir na valorização da Otologia junto aos órgãos públicos, a outras entidades médicas, à sociedade e ao próprio associado da SBO?

A Otologia já é reconhecida pelos órgãos públicos como diferenciada, pois já temos o credenciamento para a execução de procedimentos de alta complexidade, os chamados PAC, com honorários diferenciados pelo SUS e Ministério da Saúde. Precisamos trabalhar com seriedade no sentido de aprimorar o funcionamento desses procedimentos e até mesmo ampliá-los. Ninguém discorda que as reconstruções das malformações congênitas ou adquiridas do osso temporal, os aparelhos implantáveis para correção de perda condutiva (BAHA) e a cirurgia da base do crânio não sejam de alta complexidade.

Temos de criar comitês conjuntos com todas as nossas interfaces: neonatologia, pediatria, cirurgia plástica, neurologia e neurocirurgia, clínica médica entre outras. Acreditamos firmemente que somente através de um trabalho sério e em equipe é que teremos alguma condição de, pelo menos, flertar com a unanimidade.

Já o nosso site também deverá ter uma sessão que vise exclusivamente ao público leigo informando, educando e orientando.

Também, neste sentido, não podemos esquecer de cada vez mais estreitarmos vínculos com sociedades nacionais e internacionais. Por exemplo, a contribuição da Associação William House à otologia brasileira é extraordinária; o programa de especialização e concessão de bolsas de estudo para brasileiros da Fundação Portmann é um dínamo gerador de jovens e brilhantes otologistas; a educação médica continuada, oferecida nos cursos de treinamento em cirurgia otológica da Associação Fisch e nos Orelhões é de altíssima qualidade; o monumental trabalho com as populações carentes desenvolvidos pela Associação Paparella e pela nossa OSO. Todas estas atividades devem ser devidamente identificadas e valorizadas.

6 - Como o senhor pretende estimular a participação do associado nas deliberações da SBO?

Através de uma série de atitudes que deixem bem claro que a SBO não pertence à chapa do Sady ou do Marcelo. Ela é de todos: uma conquista suprapartidária!! O seu sucesso depende do engajamento de todos os otologistas brasileiros. Nossa campanha não é uma bandeira do estado do Rio Grande do Sul ou de uma facção política. Não. Nós temos a pretensão de representar um anseio maior de todos os profissionais identificados com a otologia neste país. Sem sectarismos ou preconceitos. Quem estiver a fim de colaborar conosco, arregace as mangas e venha trabalhar. Havendo a vontade e a motivação nós saberemos encontrar os meios.

7 - Como o senhor pretende se relacionar com os comitês interdisciplinares da SBORL?

Esta é uma questão delicada. Acho que devemos buscar maneiras de trabalhar harmonicamente com os comitês da sociedade mãe. Se possível, inclusive, com as mesmas pessoas. Afinidade talvez seja a palavra-chave nesta questão. Repudiamos a duplicação desnecessária de funções, mas estimulamos que se deleguem atribuições que respeitem a vocação histórica das duas sociedades: a administrativa e representativa (SBORL) e a técnico-científica (SBO).

8 - Qual seu ponto de vista em relação aos programas de implante coclear implantados em centro de saúde autorizados pelo Min. da Saúde e qual o papel a ser desempenhada pela SBO no implante coclear?

Como já comentado, o reconhecimento a esses procedimentos de alta complexidade, com remuneração diferenciada, merecem especial atenção. A SBO pode e deve contribuir para a manutenção do nível de qualidade destes serviços a fim de, não somente, não perder este reconhecimento, mas, se possível, ampliá-lo.

A SBO deve deflagrar uma série de atitudes a fim de tornar o programa de implantes cada vez mais sólido democrático e abrangente. Neste sentido, elegemos algumas prioridades:

o Estabelecer políticas públicas quanto aos programas de Implante Coclear através de
Fórum aberto entre os membros da SOB para discutir e propor recomendações referentes a diferentes assuntos, tais como; demanda, critérios de seleção de paciente, acesso da população, otimização dos recursos públicos etc...

o Propor recomendações para os órgãos públicos quanto à organização de novos programas de IC a serem credenciados pelo SUS;

o Informar aos interessados os detalhes técnicos para a obtenção da autorização;

o Incentivar e intermediar a participação dos profissionais dos Centros já credenciados e com experiência comprovada a:

1) treinar equipe interdisciplinar de centros interessados em iniciar o programa de IC;

2) Promover programa de formação teórico-prática na área do IC: Técnica cirúrgica, critérios de seleção de pacientes, avaliação por imagem, avaliação psicológica, avaliação do serviço social, ativação e mapeamento de eletrodos intraoperatório (neurotelemetria - NRT) etc...

9 - Na questão da triagem auditiva universal que necessita de uma equipe multidisciplinar para sua execução, qual o papel que o senhor atribuiria ao otorrinolaringologista e à SBO neste contexto?

A detecção e o tratamento precoces das perdas auditivas vêm se tornando, nos últimos anos, aspectos de grande importância na prática médica, envolvendo otorrinolaringologistas, pediatras e fonoaudiólogas. Este assunto, que em nossos tempos já povoa a mídia leiga, mobiliza também empresários da indústria médica, administradores hospitalares, educadores e políticos, dentre outros.

Vários são os protocolos propostos com o intuito de identificar uma criança deficiente auditiva (DA) ainda no berçário, ou no mais tardar até o sexto mês de vida. Associa-se para tanto testes comportamentais, imitanciometria, otoemissões acústicas e potenciais evocados auditivos de tronco cerebral (BERA).

Nas últimas décadas, a agregação de vasta quantidade de conhecimento, e de novas tecnologias, proporcionaram um grande desenvolvimento da Medicina e, conseqüentemente, o surgimento de várias outras profissões na área de Saúde. Desta forma, seria previsível a ocorrência de atritos, superposição de funções, meios e modos de atuar. Todas essas novas profissões, e dentre elas a fonoaudiologia, atuantes na arte de curar são dignas, úteis e necessárias, e não surgiram por acaso.

Num contexto cujo objetivo principal é assegurar a melhoria da qualidade de vida do ser humano, é necessário determinar-se a incumbência de médicos, fonoaudiólogas e outros profissionais da saúde no manejo dos pacientes.

A identificação de um possível recém-nascido DA no berçário e a posterior confirmação, do problema trata-se da elaboração de um diagnóstico, prerrogativa exclusiva da profissão médica. Segundo Joffre Rezende, Professor e membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina, o Médico, pela sua formação acadêmica de maior amplitude e abrangência se capacita a ter uma visão global do organismo humano em sua totalidade, desde a sua estrutura anatômica ao funcionamento dos diversos órgãos. Torna-se, portanto, absolutamente coerente, prudente e necessário que a Otorrinolaringologia, representando a sociedade médica, chame para si a responsabilidade de eleger critérios que qualifiquem um grupo de profissionais para desempenhar a nobre missão do diagnóstico precoce da surdez infantil.

Assim, o responsável pelo Serviço tem que ser obrigatoriamente um médico otorrinolaringologista, com vocação à Otologia e aforado com a semiologia armada empregada. Ele poderá contar com os valorosos préstimos de fonoaudiólogas, que poderão estar envolvidos com a realização dos exames. Seria prudente que todos os profissionais que constituíssem o serviço tivessem experiência em audiologia infantil e fluência na realização dos métodos subjetivos e objetivos de avaliação da surdez infantil. A interpretação destes exames, discussão de aspectos clínicos pertinentes e de fatores de risco para a surdez, assim como a elaboração do diagnóstico deverá ficar sob a responsabilidade do Médico Otorrinolaringologista.

10 -A ONG Organização Saúde Otorrino - OSO - que é uma extensão da SBORI, e criada para desenvolvimento e melhoria da saúde na área de otorrinolaringologia, necessita de parcerias para atingir seus objetivos. Como o senhor vê a atuação da SBO nesta parceria?

Dois aspectos são relevantes na avaliação da atuação da SBO com a CISO. Em primeiro lugar, há muita motivação de um grande número de colegas na realização de trabalho assistencial. Além da satisfação pessoal em ajudar o próximo, o aprimoramento da cidadania ajuda o médico a resgatar a sua posição de peça fundamental dentro da nossa sociedade. Ao mesmo tempo em que nos preocupamos com o desenvolvimento científico e com a melhoria das nossas condições de trabalho e remuneração, estamos cônscios de nossa responsabilidade social. Os menos favorecidos merecem receber atendimento médico com a mesma qualidade que aqueles que podem pagar, e dentro da cadeia de dificuldades para que isto se concretize, o médico já é o menor problema, pois ele sempre está disposto a doar. Só precisamos tornar isto mais fácil e explícito para a sociedade. Em segundo lugar, a CISO, tornando-se uma agência social de interesse público, abre um leque muito grande de obtenção de recursos para o financiamento de projetos sociais com base científica. Isto permite a realização de trabalho social e, ao mesmo tempo, financia projetos científicos. Muitos serviços universitários e não universitários com programas de residência e pós-graduação, poderão se beneficiar. Cabe a SBO apresentar projetos e executá-los em parceria com a OSO.

DR. SADY SELAIMEN DA COSTA - PROFESSOR ADJUNTO E CHEFE Do DEPARTAMENTO DE OFTALMO E OTORRINOLARINGOLOGIA;
FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROFESSOR ADJUNTO E CHEFE DA DIVISÃO DE CITOLOGIA DA UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, CANOAS/RS
PRIMEIRO SECRETÁRIO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CITOLOGIA
MESTRE EM OTORRINOLARINGOLOGIA PELA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DOUTOR EM NEUROCIRURGIA PELA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
EX-FELLOW E PESQUISADOR AFILIADO DA INTERNATIONAL HEARING FOUNDATION, MINNEÁPOLIS - EUA
PROFESSOR ORIENTADOR DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIRURGIA E PEDIATRIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
COORDENADOR DO SETOR DE CITOLOGIA E OTONEUROLOGIA DO SISTEMA MÃE DE DEUS - PORTO ALEGRE/RS
FUNDADOR E DIRETOR-CIENTÍFICO DA ASSOCIAÇÃO PAPARELLA DE OTORRINOLARINGOLOGIA - RIBEIRÃO PRETO/SP

 

 

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